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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A "Idade de Ouro Georgiana" espelhada por três vultos literários


Contexto


O reino medieval da Geórgia foi fundado no ano de 1008 por Bagrate III, então um dos responsáveis pela fundação da Catedral de Bagrati em Kutaisi (hoje Património Mundial da UNESCO). Durante os séculos XI e XII, o novo estado monárquico, então independente, irá conhecer a sua Idade de Ouro. A partir de épocas distintas, o rei David IV (governou entre 1089-1125) e a rainha Tamara (foi figura central entre 1184-1213) lograram elevar os feitos políticos, militares e económicos georgianos até ao apogeu. De facto, o reino alcançou, no seu expoente máximo, largas dimensões territoriais que aglutinavam o sul da actual Ucrânia, determinadas províncias do norte do Irão, e ainda possessões religiosas na Terra Santa e na Grécia. 
O povo georgiano, à semelhança de hoje, sempre fora fiel ao credo cristão, mais concretamente à vertente ortodoxa. Naturalmente, foi promovida, desde cedo, a criação de igrejas e mosteiros que se disseminariam rapidamente pela região. A arte sacra também conheceu um aprimoramento original, traduzida na implementação de novos moldes arquitectónicos e ainda na produção original de peças religiosas (nomeadamente relicários e trípticos) e de pinturas murais que revestiam as paredes dos templos.
No entanto, as invasões implacáveis dos mongóis, no decurso do século XIII, originariam a queda deste reino até então profícuo. Também a entrada em cena dos turcos nos séculos posteriores trariam mais instabilidade à região do Cáucaso e ao próprio povo georgiano. A queda de Constantinopla em 1453 significara ainda o desaparecimento definitivo do Império Bizantino, até então o tradicional aliado da causa georgiana. Ainda assim, o enclave cristão resistiria, mesmo com elevados custos humanos e materiais, às terríveis depredações turcas e iranianas que se fariam sentir a partir do final da Idade Média.
No entanto, é essencial realçar que os três principais vultos literários que nos propusemos a abordar enquadram-se cronologicamente na Idade de Ouro Georgiana que vigorou com esplendor antes da terrífica expansão mongol.





Mapa nº 1 - O reino georgiano e os seus respectivos estados vassalos entre 1184 e 1230. Foi durante esta altura que aquele estado cristão atingira a sua maior expressão territorial.
Retirado do Wikipédia




Kintsvisi Monastery By Abramia.JPG

Imagem nº 2 - O Mosteiro Ortodoxo de Kintsvisi remonta historicamente ao século XIII, embora incorporasse uma velha igreja (hoje em ruínas) que seria datada do século X.
Créditos da Fotografia - Abramia Giorgi 





Imagem nº 3 - Tríptico de Khakhuli consagrado à Virgem Maria ("Theotokos"). A peça tem a particularidade de congregar esmaltes bizantinos e georgianos datados de entre os séculos VIII e XII.
"Goldschmiedekunst und Toreutin in den Museen Georgiens", Aurora Leningrad, 1986




Demétrio I, o rei-poeta que venerou a Virgem Maria

Demétrio nasceu por volta de 1093. Era filho de um dos reis mais carismáticos da história da Geórgia - David IV, o Construtor. Este último reinara, como já disséramos, entre 1089 e 1125, tendo sido responsável por triunfos decisivos obtidos diante dos turcos seljúcidas, além de ter promovido a emancipação de uma cultura cristã numa Geórgia que, no seu tempo, viria a ser unificada.
De facto, o então príncipe Demétrio lutara a lado de seu pai David IV na célebre batalha de Didgori (ano de 1121), empreendimento bélico que ditaria o início da Idade de Ouro Georgiana e que importa então conhecer através de uma narração detalhada. De facto, as crónicas não deixam de citar o feito miraculoso do exército cristão que teria nas suas fileiras, cerca de 55 mil soldados, um número considerável, é certo, mas bastante inferior àquele que era apresentado pelo seu oponente.
Efectivamente, do outro lado, estava Ilghazi (governador artúquido de Mardin) com um exército turco que integraria, segundo as fontes medievais, mais de 100 mil homens, podendo até ter mesmo chegado aos 200 mil, de acordo com outras contagens propostas. A expedição seljúcida seria justificada pelo ressurgimento de alguns confrontos na região que importunariam os interesses árabes. Antes da batalha de Didgori, as autoridades islamitas controlavam já há quase quatro séculos a cidade de Tbilisi que, apesar de pagar recentemente um tributo considerável ao rei David IV, poderia ser agora o alvo principal dos georgianos que procuravam reunificar definitivamente o seu reino, incorporando uma notável urbe que havia sido fundada no século V pelo então soberano Vakhtang I Gorgasali da Ibéria. Cenário esse que o então mandatado oficial militar turco Ilghazi procurava, a todo o custo, evitar através de uma expedição invasora e claramente punitiva.
Ambas as forças se reencontram a 12 de Agosto de 1121. Os georgianos sabem que estão em inferioridade numérica, e procuram imediatamente recorrer a um movimento ardiloso. Simulam o envio de um pequeno destacamento de homens para uma suposta abordagem diplomática que deveria abrir uma ronda negociativa. Mas tal não passaria de uma manobra engendrada para iludir o adversário. Por detrás das colinas de Didgori (localizada a 40 km da ainda possessão "muçulmana" de Tbilisi), o exército do rei David IV e do príncipe Demétrio aproveitaria aquele curto espaço de tempo para tentar cercar rapidamente o inimigo. O cerco não será total, mas ainda assim o suficiente para infernizar o adversário. Quando o grupo de falsos diplomatas chegou ao local, depois de ter esgotado alguns minutos no referido trajecto (os quais foram valiosos para dar tempo às aspirações tácticas das forças cristãs), não hesitou em sacar das suas espadas para atacar, de surpresa, os comandantes turcos que os aguardavam para um primeiro contacto pacífico. Não foi um golpe limpo, certamente, mas o rei David sabia que teria de causar o pânico e a desorganização num exército que lhe era bem superior. Só assim seria possível o triunfo! Após aquele ataque inesperado, as forças seljúcidas não souberam conter a disciplina táctica.
As forças do rei georgiano e do seu príncipe herdeiro logo se lançaram sobre a retaguarda, e depois, sobre os flancos do adversário turco. Ilghazi sente-se perdido, não conhece o terreno. É ferido tal como o seu filho em combate, mas ambos conseguem escapar a tempo. O exército turco fica assim sem o seu líder, e a desorganização será a partir de agora total. Ao invés disso, os vários destacamentos georgianos mantêm alguma frieza e tiram partido da anarquia verificada no lado oponente. Ainda assim, a vitória não terá um preço fácil - a batalha campal irá durar três horas - milhares perecerão de ambos os lados, mas sem dúvida que a maior parte esmagadora serão turcos que tombariam em batalha diante da cavalaria ou dos arqueiros cristãos, outros acabariam mortos enquanto tentavam fugir. Muitos turcos foram ainda capturados nos dias seguintes à batalha.
A vitória em Didgori permitiu aos georgianos eliminar a ameaça turca durante os próximos tempos, e mais do que isso, proporcionou, no ano seguinte (1122), a reconquista cristã de Tbilisi que se converteria na capital do reino medieval da Geórgia.
Em termos comparativos, a batalha de Didgori foi tão nevrálgica para o rumo histórico da Geórgia, como a conquista de Lisboa (alguns anos depois, em 1147) seria para as ambições do reino medieval português. Aliás, Afonso Henriques de Portugal e David IV da Geórgia foram os primeiros notáveis arquitectos dos seus respectivos reinos, mesmo que os seus territórios se encontrassem separados fisicamente por uma distância enorme. 
Com a morte de David IV em 1125, Demétrio sobe ao trono. O seu reinado irá conhecer uma duração de cerca de 30 anos, mas não será repleto de êxitos políticos tal como fora o de seu pai. Exceptuando uma investida bem-sucedida (mas sem grandes efeitos práticos) sobre a cidade de Ganja (actualmente, a segunda maior cidade do Azerbaijão), a verdade é que Demétrio não terá vida fácil, sobretudo na corte. Na década de 1130, surgiria mesmo uma conspiração planeada por alguns aristocratas que o tentaram derrubar para entregar o poder ao seu meio-irmão Vakhtang. O rei foi avisado a tempo desta movimentação e não hesitou em punir os revoltosos. 
No ano de 1154, seria a vez do seu filho mais velho, David V, forçá-lo a abdicar do trono. Demétrio teve que abraçar a vida de monge no cenóbio de David Gareja onde recebeu o nome monástico de Damião (Damianus). Contudo, David faleceria seis meses depois, o que obrigou o rei a reassumir os destinos do reino até 1156, ano em que abdica a favor de um outro filho seu - George III (este reinou entre 1156-1184 e seria o pai da célebre e futura rainha Tamara). Demétrio regressa ao mosteiro, onde terá morrido entre 1156 e 1158. Seria sepultado no Mosteiro de Gelati, fundado pelo seu pai David IV em 1106 e onde repousam alguns dos reis georgianos medievais.
Apesar de não ter imprimido uma autoridade consensual ou indiscutível, Demétrio I soube, pelo menos, manter intacto o legado de seu pai, preservando a organização feudal e estimulando os sectores económico e cultural.
Em termos de produção literária, Demétrio escreveu poemas de natureza religiosa, quando se encontrava enclausurado no mosteiro David Gareja, onde vivera então os seus dias derradeiros. Um deles, consagrado à Virgem Maria, tornou-se num autêntico hino, o qual procuraremos traduzir de seguida.
Esta sua devoção pelo cristianismo oriental fez com que fosse considerado santo pela Igreja Ortodoxa, sendo o seu dia festivo anual celebrado a 23 de Maio.






Imagem nº 4 - David IV, rei da Geórgia entre 1089 e 1125, foi responsável pela emancipação da nacionalidade georgiana na Idade Média. Seria o pai de Demétrio, rei-poeta.
Créditos - Wikipédia





Imagem nº 5 - A vitória na batalha de Didgori, travada em 1121, permitiu ao rei David IV e ao seu príncipe herdeiro Demétrio inaugurar um novo caminho que levaria à reconquista cristã de Tbilisi (esta viria a ser a nova capital do reino) e à reunificação da identidade georgiana.
Quadro da autoria de Augusto Ferrer-Dalmau




Demetre I (Matskhvarishi).jpg

Imagem nº 6 - Fresco do Mosteiro Matskhvarishi em Svaneti que ilustra a coroação do rei Demétrio I que sucederia a seu pai David IV, o Construtor.
Pintura mural da autoria de Michael Maglakeli




Hino do rei Demétrio I consagrado à Virgem Maria
(Tradução da nossa autoria a partir de uma versão inglesa da sua epopeia)


Vós sois uma vinha recentemente florescida.
Jovem, bonita, crescendo no Éden,
(Um álamo perfumado rebentando no Paraíso.)
(Que Deus vos adorne, ninguém é mais digno de louvor.)
Vós mesmo sois o sol, refulgindo brilhantemente.





Imagem nº 7 - Mosteiro Ortodoxo David Gareja, local onde o rei Demétrio I viveu os seus derradeiros dias, tendo composto poesia de teor religioso. O soberano viria a ser depois sepultado no Mosteiro de Gelati.




Shota Rustaveli, o poeta que cantou a epopeia georgiana


Natural de Rustavi (região de Meskheti), Shota Rustaveli teria nascido por volta de 1160-1165. Infelizmente, os dados existentes voltam a ser escassos para determinar com exactidão o seu percurso biográfico. Conhecemos, por isso, melhor a sua obra do que a sua vida. 
No entanto, terá sido um ministro ou estadista (exercendo até o papel de tesoureiro) que esteve ao lado da conceituada rainha Tamara, uma das governantes mais emblemáticas da História da Geórgia que assumiria o poder entre 1184 e 1213. 
De acordo com alguns rumores veiculados, embora não cientificamente comprovados, Rustaveli poderia ter recebido a sua formação nas academias medievais georgianas de Gelati e Ikalto, tendo registado ainda uma passagem posterior pelo Império Bizantino, onde poderá ter estudado as obras mais sonantes da filosofia helénica. Os seus principais trabalhos deverão ter sido compostos entre a década de 1180 e o ano de 1207. Terá alegadamente falecido por volta de 1220, podendo ter passado os seus últimos dias como monge do Mosteiro da Cruz em Jerusalém (de vocação ortodoxa e, ao que se julga, fundado tradicionalmente por georgianos). Apesar de não nos ser possível confirmar cientificamente este seu retiro espiritual, a verdade é que o referido cenóbio integra inclusive um retrato mural pintado do poeta em questão, situação que pode alimentar ainda a tese de que Rustaveli poderá ter sido patrocinador daquele templo cristão sito então na Cidade Santa. Além disso, existem outros estudiosos que colocam em cima a possibilidade (embora esta nos pareça ainda mais difícil de ser comprovada) de Shota Rustaveli ter sido também um notável pintor, tendo alegadamente esboçado alguns dos frescos do mencionado Mosteiro da Cruz.
Em termos literários, a sua principal obra "O Cavaleiro na Pele de Pantera" apresenta-nos um longo poema épico que enaltece, de certa forma, os feitos georgianos da sua era. O contexto não deixava efectivamente de ser inspirador a todos os níveis. Com a rainha Tamara, esta então venerada pelo autor da epopeia, o reino da Geórgia atingiria as máximas dimensões territoriais, frustrando qualquer investida inimiga proveniente do exterior. A ciência medieval progrediria também ali. As caravanas georgianas já chegariam inclusive ao sultanato aiúbida do Egipto, ao principado de Kiev e até ao Império Bizantino, o que revela um claro crescimento económico e comercial. Muitos mosteiros e igrejas foram erguidos durante este período que favorecia igualmente a produção artística. Tal como Luís Vaz de Camões cantara, mais tarde, e com um talento magistral, os feitos dos Portugueses nos Descobrimentos em "Os Lusíadas", Shota Rustaveli haveria de formular, ainda que alguns séculos antes, a sua epopeia para eternizar as proezas medievais georgianas.
A sua vasta obra contém personagens alegóricas ou "virtuais" (e inúmeras metáforas), embora as características de muitas destas nos remetam para personalidades reais do seu tempo. Por exemplo, a personagem da princesa "Tinatin" nasceria a partir do protótipo da rainha Tamara. De acordo com Donald Rayfield, autor de uma obra que incide sobre a literatura medieval georgiana, "Tinatin" solicitara ao seu amado general e cavaleiro "Avtandil" para que este prestasse auxílio ao príncipe indiano "Tariel", encontrado então sob um pranto de lágrimas e vestindo uma pele de pantera negra, a recuperar a sua apaixonada "Nestan-Darejan" que havia sido capturada por usurpadores. Após inúmeras aventuras, naturais e sobrenaturais, o amor e os ideais de cavalaria triunfam, permitindo a ambos os casais alegóricos a prossecução dos respectivos matrimónios e a consequente instauração de governos/reinos profícuos.
Sobre a bela princesa "Tinatin", o poeta georgiano chega então a escrever o seguinte - "radiante como o sol nascente, nascida para iluminar o mundo à sua volta, tão justa que o mais leve dos seus sentimentos faria um homem perder a cabeça; seriam necessárias dez mil léguas e a sabedoria dos sábios para expressar o elogio da filha do rei" (recorde-se que o rei George III havia abdicado em favor da sua filha Tamara, pelo que esta mantém muitas semelhanças com a personagem que acabamos de citar).
Em jeito de balanço, Shota Rustaveli considera, ao longo dos seus versos, as nobres condutas de cavalaria, os sentimentos de amor e amizade, a valentia e a sorte. Valoriza a harmonia, a lealdade e a sinceridade em plena corte, chegando até a defender a igualdade de tratamento entre homens e mulheres, um tema que ainda hoje é actual, mas que para a altura em questão seria considerada certamente uma visão ousada. Recorda ainda alguns heróis, cuja valentia e generosidade não poderá ser esquecida. E ao contrário do que muitos possam pensar, a sua obra não se restringe apenas à Geórgia, fazendo igualmente figurar as regiões da Arábia, China e Índia, o que revela a sua ímpar criatividade.




Um excerto do prólogo
(Tradução da nossa autoria a partir de uma versão inglesa da sua epopeia)


Ao derramarmos lágrimas de sangue, nós louvamos a rainha Tamara
Cujos louvores eu, não mal-escolhido, tenho narrado adiante!
Para a tinta, usei um lago de esguichos, para a pena, um flexível cristal!
Quem quer que escute, uma lança dentada perfurará o seu coração!




Um excerto do epílogo
(Tradução da nossa autoria a partir de uma versão inglesa da sua epopeia)


Deus dos georgianos, David, cujo sol é seu servidor,
E aqui eu escrevi esta poesia para o seu uso,
Aquele que governa no Este e no Oeste
Para queimar os infiéis, e agradar aos devotos.



(Nota-Extra - David Soslan era o rei consorte da rainha Tamara, sendo que ambos foram assim contemplados pela poesia de Shota Rustaveli, embora o corpo da obra albergue então as referidas personagens fictícias mas cuja associação discreta a determinadas personalidades reais não terá sido certamente acidental. No último verso que citamos do epílogo, está bem patente o fanatismo religioso que, na época, se vislumbrava)





Imagem nº 8 - Fresco no Mosteiro da Cruz em Jerusalém que retrata o poeta e pintor georgiano Shota Rustaveli.
Créditos - Wikipédia





Imagem nº 9 - Shota Rustaveli viveu possivelmente entre 1160/65 e 1220, tendo engrandecido os feitos do povo georgianos durante a sua era dourada. Como registo adicional de curiosidade, o prémio mais alto da actual República Independente da Geórgia nos campos da arte e literatura é designado como "Prémio Nacional Shota Rustaveli".
Retrato da autoria de Irakli Toidze (1902-1985)





Imagem nº 10 - Shota Rustaveli apresenta o seu poema épico à rainha Tamara, cuja beleza, inteligência e habilidades diplomáticas atraíram a admiração de vários poetas e escritores orientais.
Quadro do pintor húngaro Mihály Zichy (1826-1907)




Ioane Shavteli, o poeta dos panegíricos 


Este é talvez o erudito menos conhecido de entre os três que nos propusemos a abordar neste artigo. Por isso mesmo, as informações a seu respeito são muito escassas. Sabe-se que terá vivido entre os finais do século XII e os inícios do século XIII.
Desconhecem-se factos mais concretos sobre a sua existência. Teorias entretanto propostas procuram incutir-lhe alguma filiação clerical (os seus poemas assumiam uma tendência patrística - isto é, visavam a filosofia cristã) ou até mesmo uma determinada proximidade para com a rainha Tamara (1184-1213), podendo inclusive ter acompanhado esta nos seus diversos empreendimentos militares ou diplomáticos.
Ioane Shavteli deixou-nos poemas essencialmente laudatórios, e apesar de não citar directamente os nomes das duas personalidades então glorificadas pelos seus versos, tudo indica de que se tratem então de sinceras homenagens prestadas aos dois soberanos mais notáveis da Geórgia Medieval - ao rei David IV, o Construtor (1089-1125) e à rainha Tamara (1184-1213), cujas virtudes cristãs seriam então enobrecidas. 
Em relação aos versos presumivelmente dedicados ao rei David IV, reconhece os seus feitos militares para o renascimento georgiano. Apesar de não referir o seu nome, o poeta Ioane Shavteli faz alusão ao seu homónimo bíblico (trata-se muito provavelmente do profeta e rei de Israel - David), recordando o combate deste contra os antigos "pagãos", papel que supostamente seria também atribuído ao rei georgiano, então conquistador de Tbilisi. Aliás, não podemos deixar de relevar que a Dinastia Bagrationi, então no poder da Geórgia Medieval, sempre reivindicara ser originária do círculo familiar daquela figura carismática então engrandecida nos textos sagrados cristãos e judaicos.
Em relação à rainha Tamara, o escritor georgiano enaltece a sua beleza e a vontade de fazer o bem de uma forma simples e discreta. A esta dedicou então, inúmeras estrofes, sendo que procuramos destacar uma em concreto:




Tu és o olho dos cegos, a tutora dos jovens, o pão para os esfomeados, o abrigo para os sem-lar.
"Pai" para os órfãos, protectora das viúvas, destinada a cobrir os desnudados,
Um esteio de força para os idosos, desgastados pelo trabalho, com que se pode contar.
Tu distribuis sabedoria entre nós, divulgadora da graça, tu nos mostras a profundidade das palavras escritas!






Imagem nº 11 - A Rainha Tamara (1184-1213; em inglês - "Queen Tamar") foi fonte de inspiração para os vultos culturais do seu tempo. Embora sem mencionar o seu nome, o poeta georgiano Ioane Shavteli eternizou até à exaustão as suas qualidades humanas.




Nota adicional - Um quarto poeta georgiano foi, por exemplo, Chakhrukhadze. Talvez não tão importante como os anteriores, também dedicou várias odes à rainha Tamara. Viveu entre os séculos XII e XIII. Terá sido ainda secretário daquela soberana amada pelo seu povo.



Referências Consultadas

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