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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Leandro Vale, o recatado "Legionário do Teatro"

Leandro Vale nasceu em Travanca de Lagos, freguesia do concelho de Oliveira do Hospital, a 18 de Agosto de 1940. Um vulto que se pautaria pela simplicidade humana, mas que alcançaria feitos prestigiantes no Mundo do Teatro. Foi actor, encenador, radialista, escritor, dramaturgo e jornalista, em suma, um promotor da cultura portuguesa a todos os níveis.
Regressando então à nossa sinopse biográfica, Leandro frequentou o Conservatório de Lisboa, e evidenciou-se posteriormente na promoção nevrálgica da actividade teatral fora dos grandes centros urbanos. Em 1955, seria um dos fundadores do CITAC - Circulo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra. Trabalharia igualmente, durante vários anos, no Teatro Experimental do Porto. Nesta sua vida inteiramente luminosa, Leandro Vale teve um papel determinante no desenvolvimento das artes cénicas na região de Trás-os-Montes (a sua obra foi visível em Bragança e Torre de Moncorvo; por exemplo, aí chegou a dinamizar grupos de idosos para a arte teatral). Depois do 25 de Abril de 1974, esteve ainda nas origens do Centro Cultural de Évora.
Ao longo de meio ano, chegou a servir a televisão portuguesa com um programa semanal difundido na RTP Açores. Participou ainda na produção cinematográfica, nomeadamente na longa metragem "A Sombra dos Abutres" do realizador Leonel Vieira.
Mas foi mais concretamente na vertente do Teatro onde Leandro marcou pela diferença. Ao todo, redigiu 180 peças, das quais 102 chegaram a ser representadas em palco. Uma estatística que distingue bem o seu dinamismo e a vontade de colaborar para o crescimento desta arte da representação. Esteve ainda presente no Festival Internacional de Teatro de Havana dirigindo uma companhia de Holguin, com uma peça de que foi autor – "La Obscuridad Transparente", texto baseado no julgamento dos cinco de Miami. 
Em termos de preferências políticas, Leandro esteve sempre conotado aos ideais do Partido Comunista, revelando-se como um militante de esquerda. Contudo, sempre soube separar as águas quando se tratava do desempenho profissional.
Imagem1Publicou várias obras: "8 Dias nos 80 de Fidel" (crónica de viagem aquando da sua participação como convidado especial nos oitenta anos do então líder histórico cubano Fidel Castro), "Escritos do Palco" (Colectânea de sete textos teatrais), "História do Pouca Terra e da Formiga Rabiga" e "Cuba Meu Amor" (um livro de poemas publicado com o apoio da Embaixada de Cuba em Lisboa)...
A carreira de Leandro Vale nunca se equiparou a uma sede incessante pelo protagonismo, mas traduziu-se sim na missão nobre e altruísta de se aprestar à difusão das artes, isto é, de cultivar nos cidadãos, das mais diversas faixas etárias, um gosto especial pela nossa cultura. Neste âmbito, Leandro sempre defendera que as companhias de teatro deveriam ser mais apoiadas pelo Estado, de modo a alimentar a sua produção intelectual.
Este foi o filme da vida ou até uma longa peça de teatro cujas cortinas se encerraram para os derradeiros aplausos dos seus admiradores no dia 2 de Abril de 2015, data em que Leandro Vale juntamente com Manoel de Oliveira (realizador e cineasta português) fecharam os olhos para o mundo terreno e rumaram aos Campos Elísios. Todavia, ambos deixaram um legado valioso que continuará a iluminar e inspirar muitos que decerto lhes sucederão tanto no cinema como no teatro.
Foram 74 anos de vida, e 60 de carreira... Assim viveu com distinção - Leandro, o "legionário do teatro" no Portugal profundo!








Afirmações Célebres:

 "Emoções...Temos de encarar a situação vista por 2 ângulos: pelo lado profissional que nos dá muito gozo quando vemos o público estar connosco e nós passarmos para o lado do público. Por outro lado temos que dominar as emoções para que o vedetismo não suba à cabeça..."

Leandro Vale


"VIDA... A vida não é tão difícil como por vezes nos parece ser. Não terá grandes complicações se nós pensarmos que é uma passagem bem curta para podermos sonhar. Portanto o melhor será termos os pés bem assentes na Terra e sonharmos através dessa segurança, estando sempre preparados para mudar de caminho em qualquer esquina sem mentirmos a nós próprios"

Leandro Vale


"Por não querermos deixar passar em claro estes dois aniversários, decidimos chamar o Leandro de volta a Coimbra, para lhe agradecermos o facto de num tempo difícil, ele e o pequeno grupo que o acompanhou, ousarem criar na escolástica Academia, um grupo de teatro alternativo vinte anos antes do 25 de Abril (...) Naturalmente que o cidadão, o actor, o dramaturgo, o director de teatro e o amigo, é merecedor de muito mais, mas esta homenagem sendo singela, é organizada com muita amizade, porque a ideia é todos abraçarmos o Leandro e dar-lhe os parabéns pelas muitas lutas que tem travado".

(Carlos d'Abreu no âmbito da homenagem prestada em 2014 pelo CITAC a Leandro Vale, seu co-fundador),



Nota extra - A colaboração de Leandro Vale alcançou inclusive a cidade de Esmoriz (terra onde neste preciso momento é redigido este artigo electrónico), onde manteve uma excelente relação com o Grupo de Teatro Renascer. João Gomes, presidente dessa colectividade teatral fundada em 1992, recorda-nos as notáveis virtudes humanas de Leandro e o seu apoio impulsionador ao teatro na terra da Tanoaria. Ele seria aí patrono de diversos festivais, concedeu ensinamentos aos jovens actores e ainda cedeu bastante material permitindo assim o crescimento daquela modalidade cultural em Esmoriz.



Legendas - A primeira imagem foi directamente extraída  a partir de: http://www.portugalfantastico.com/products/leandro-vale-actor-encenador-radialista-escritor-e-jornalista/. A segunda imagem é um retrato da autoria do pintor Acácio de Carvalho e foi retirada de: http://aviagemdosargonautas.net/2015/04/03/aqui-jaz-o-leandro-vale-por-soares-novais/. A terceira fotografia é da autoria de Paulo Patoleia.



Referências Consultadas:

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