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terça-feira, 5 de maio de 2015

A Queda dum Colosso Futebolístico em Superga

A história também se constrói em torno de notáveis instituições que marcaram uma página de ouro no Desporto Mundial. O Torino Football Club faz seguramente parte da lista restrita de clubes de futebol que ainda hoje se podem dar ao luxo de afirmar que já tiveram ao seu dispor uma das melhores equipas de todos os tempos. Esta colectividade desportiva italiana só não prolongou por mais tempo os seus feitos incríveis, porque uma tragédia se abateria sobre os seus jogadores que até então tinham recebido o elogioso epíteto de "invencíveis".
O Torino Football Club foi fundado em 1906 na cidade de Turim. O seu nascimento deveu-se, em muito, à dissidência de alguns adeptos que até então apoiavam a Juventus, o principal clube daquela urbe. Como prova flagrante desta ocorrência, temos conhecimento de que o fundador do Torino, o empreendedor suíço Alfred Dick, tinha abandonado a presidência da Juventus para viabilizar a criação deste novo projecto desportivo. Não foi seguramente em vão! O Torino ainda hoje existe, e ostenta no seu palmarés: 7 Campeonatos de Itália, 5 Taças de Itália e 1 Copa Mitropa (dados actualizados para o ano de 2015). 
Este clube, cujo logotipo oficial privilegia a representação dum touro, conheceria os seus tempos áureos na década de 1940, onde conquistariam 5 dos seus 7 campeonatos. As épocas de 1942–43, 1945–46, 1946–47, 1947–48 e 1948–49 trouxeram glória ao Torino que, na altura, contava com a base da poderosa selecção italiana. Nessa temível equipa pontificavam atletas de elevada categoria tais como Valentino Mazzola (capitão, goleador da equipa e ainda um dos melhores da sua geração), Aldo Ballarin, Danilo Martelli, Mario Rigamonti, Guglielmo Gabetto, Ezio Loik, entre outros. As goleadas aos adversários sucediam-se, e a equipa granjeava méritos atrás de méritos dentro das quatro linhas. Apenas o Céu parecia ser o limite para estes jogadores que perfumavam com classe os campos de futebol, levando assim multidões ao delírio. Contudo, uma trágica e inesperada ocorrência colocaria um ponto final em todo este clima de progresso e euforia.
No dia 27 de Fevereiro de 1949, a selecção italiana (com seis jogadores do Torino no onze inicial) derrotou a portuguesa por 4-1 num particular realizado em Génova. Os capitães de Portugal, Francisco Ferreira (atleta do Sport Lisboa e Benfica), e de Itália, Valentino Mazzola (a estrela do Torino FC), desenvolveram mesmo uma grande amizade aquando deste encontro desportivo. Neste contexto de mútua harmonia, o Torino seria convidado a participar posteriormente num jogo amigável em Portugal, onde defrontaria o Benfica, clube que pretendia homenagear o seu célebre jogador Francisco Ferreira. Entre avanços e recuos, a data do jogo foi definida para o dia 3 de Maio, e os italianos aterrarão em Lisboa a 1 de Maio.
A partida realizou-se no Jamor e contou com uma assistência total de 40 mil pessoas. O jogo foi emocionante, terminando a vitória por sorrir à equipa portuguesa nuns renhidos 4-3. Houve ainda tempo para confraternização entre ambas as equipas no Parque Mayer, o que evidenciava um bom relacionamento entre todos os intervenientes.
Todavia, a viagem de regresso assumiria um desfecho dramático. No dia 4 de Maio, a aeronave Fiat G.212, que transportava a comitiva do Torino de regresso a casa, embateria estrondosamente contra uma das torres da Basílica de Superga (arredores de Turim), causando a morte dos 31 tripulantes (18 jogadores, 5 dirigentes/técnicos, 1 organizador, 3 jornalistas e 4 tripulantes). Acredita-se que a fraca visibilidade, motivada pelo forte nevoeiro, terá estado por detrás do acidente fatal. A equipa dos magníficos resultados, o Grande Torino (como era assim apelidado) conhecia o fim da sua hegemonia da forma mais cruel e ingrata.
No dia do funeral, mais de 500 mil pessoas encheram as ruas de Turim para prestar a sua última homenagem aos jogadores atraiçoados pelo destino bem como aos restantes membros que seguiam na aeronave.
O Torino foi imediatamente proclamado pela Federação Italiana como o campeão da temporada de 1948-1949. Era oficialmente o seu pentacampeonato (recordamos que as épocas de 1943/44 e de 1944/45 não foram disputadas devido à Segunda Guerra Mundial, e por isso, são omitidas da sequência). A equipa recorreu às camadas jovens para se apresentar em campo nas últimas quatro jornadas, gesto que também foi imitado, em jeito de fair-play, pelas restantes equipas da sua liga.  
O clube dos "touros" só voltaria a ser campeão na época de 1975/1976, curiosamente o seu último campeonato alcançado (designado especificamente em Itália como "scudetto"). Como registo de mera curiosidade, a sua primeira liga foi conquistada na temporada de 1927-1928.
Onde teria ido esta equipa do Torino se não tivesse sofrido o maior dos azares naquele voo fatídico?





Imagem nº 1 - O Grande Torino - a equipa de futebol que "reinou" em Itália no decurso da década de 1940, e que assistira a um final trágico no dia 4 de Maio de 1949.





Imagem nº 2 - O embate da aeronave na Basílica de Superga (4 de Maio de 1949) causou a morte de todos aqueles que integravam a delegação do Torino FC que havia previamente participado num jogo amigável com o Benfica em Portugal.





Imagem nº 3 - O Funeral ou o Último Adeus prestado às vítimas, momento que motivou a comparência de milhares de pessoas.





Imagem nº 4 - Memorial com o nome das vítimas do trágico acidente de Superga.



Nomes das 31 vítimas do desastre - Valerio Bacigalupo, Aldo Ballarin, Dino Ballarin, Emile Bongiorni, Eusebio Castigliano, Rubens Fadini, Guglielmo Gabetto, Ruggero Grava, Giuseppe Grezar, Ezio Loik, Virgilio Maroso, Danilo Martelli, Valentino Mazzola, Romeo Menti, Piero Operto, Franco Ossola, Mario Rigamonti, Giulio Schubert (18 jogadores do Torino FC); Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Egri Erbstein, Leslie Lievesley (treinador)e Ottavio Corina  (5 técnicos/funcionários do Torino FC); Andrea Bonaiuti (1 organizador) Renato Casalbore, Renato Tosatti, Luigi Cavallero (3 jornalistas); Pierluigi Meroni, Celestino D 'Inca, Cesare Biancardi, Antonio Pangrazi (4 membros da tripulação)



Nota-extra - Francisco Ferreira, jogador homenageado pelo Benfica naquela partida amigável, guardaria remorsos da posterior tragédia para sempre. O atleta que até tinha sido alvo de cobiça do Torino que o desejava contratar (embora esse interesse tivesse ficado sem efeito com tudo o que acontecera entretanto), tentou aliviar a sua consciência enviando 50 contos às famílias das vítimas, e colocou ainda na sua sala pessoal de troféus uma imagem da equipa sensacional do Torino num quadro preto.


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