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sábado, 26 de outubro de 2019

Egas Moniz, o cientista do cérebro

António Caetano de Abreu Freire, mais conhecido por Egas Moniz, nasceu em Avanca a 29 de Novembro de 1874. Era filho de Fernando Pina Resende Abreu Freire e de Maria do Rosário de Almeida de Sousa Abreu.
Os seus estudos seriam frequentados na Primária de Pardilhó, no Colégio de São Fiel dos Jesuítas (Castelo Branco) e depois no liceu de Viseu. Em 1894, conseguiu matricular-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde irá alcançar a licenciatura em 1900 e doutorar-se no ano de 1901. A partir de 1902, entra mesmo no quadro docente daquela universidade. Torna-se ali professor catedrático em 1910.
Egas Moniz sempre demonstrou um interesse especial pela área da Neurologia que estuda o sistema nervoso do corpo humano. Foi assim em Coimbra, e depois, em França, onde trabalhou com grandes neurologistas de Bordéus e Paris.
Em 1911, o conceituado cientista será transferido para a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa de modo a ocupar a cadeira de Neurologia que havia sido criada, de forma inédita, pela Primeira República. Chegou ainda a criar um consultório. Nesta nova fase da sua carreira, realizará investigações nas áreas da Angiografia Cerebral e da Leucotomia Pré-Frontal. Em breve, entrará na Academia de Ciências de Lisboa e se tornará ainda sócio de grandes academias estrangeiras. 
Sabemos também que Egas Moniz se dedicou à vida política, sobretudo na transição dos fôlegos derradeiros da Monarquia Constitucional para o dealbar da Primeira República. Dentro deste contexto, foi deputado de várias legislaturas entre 1903 e 1917, Ministro de Portugal em Madrid em 1917, Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1917-1918 e foi igualmente o primeiro Presidente da Delegação Portuguesa à Conferência da Paz em 1918, onde conseguiu reatar as relações entre a Santa Sé e Portugal, que haviam sido interrompidas em consequência da Lei da Separação. Em 1917, fundou o Partido Centrista Republicano, uma espécie de coligação dos partidos de direita, para fazer face ao governo do Partido Democrático. Resultante de uma dissidência do Partido Evolucionista, este novo partido apregoava uma aliança entre o capital e o trabalho, embora defendendo a introdução de medidas que dignificassem as classes trabalhadoras.
Apesar de ter sido um apoiante da efémera ditadura de Sidónio Pais (num contexto em que se tentava colocar fim à anarquia, à insurreição e à instabilidade da Primeira República), Egas Moniz sempre se revelou, ao longo daqueles anos, um democrata convicto e uma personalidade íntegra, e por isso, a sua vida política terminaria quando a ditadura militar de 1926, e depois, o Estado Novo se instalaram em Portugal.
Egas Moniz voltará ao seu labor de cientista, procurando combater o marasmo que existia nesta área. E aí continuará a deixar grande obra. Foi nomeado director do Hospital Escolar de Lisboa em 1922.
Em 1927, a Angiografia Cerebral, técnica inventada pelo cientista português e que passaria a ser utilizada para a detecção de anomalias nas artérias do cérebro, torna-se numa aposta ganha. Os Neurologistas passarão a usufruir de uma ferramenta importante para a investigação clínica em torno das neoplasias, hemorragias, aneurismas e outras mal-formações no cérebro humano. Assim abriram-se novos caminhos para o diagnóstico de tumores, aneurismas, malformações artério-venosas e traumas do crânio bem como para os futuros procedimentos de cirurgia cerebral. 
Por outro lado, Egas Moniz irá demonstrar interesse em abordar os distúrbios mentais humanos e, em 1935, assumiria a descoberta da técnica da Leucotomia Pré-Frontal (também muitas vezes associada à Lobotomia), que consistia em cortar a substância branca dos hemisférios cerebrais, para fazer o tratamento de certas doenças mentais tais como como esquizofrenia, psicoses, etc. Para a realização desta operação ele próprio criou o "Leucótomo". Apesar da técnica da leucotomia/lobotomia se achar hoje desacreditada devido aos seus efeitos secundários severos, a verdade é que, na primeira metade do século XX, foi uma novidade, dado que a retirada de um pequeno pedaço do cérebro permitia que os pacientes, com graves desequilíbrios mentais, pudessem tornar-se mais dóceis, passivos e fáceis de controlar. No entanto, também havia o risco de estes sofrerem convulsões após a operação, ou até ficarem em estado vegetativo. No entanto, na altura, a leucotomia pré-frontal constituiu um progresso importante dado que os médicos não conheciam ainda outras formas de tratar os doentes com debilidades mentais.
Em 1939, quando já contava com 64 anos, sofreu um atentado no seu consultório, por parte de um doente seu que, em estado paranóico, o tentou alvejar com oito tiros, dos quais cinco o atingiram. Quase por milagre, sobreviveu ao episódio e jubilou-se em 1944.
Egas Moniz receberia dois grandes prémios que atestariam o seu importante legado. Em 1945, recebe o Prémio de Oslo (pelos seus trabalhos sobre Angiografia Cerebral), e em 1949, receberá o Prémio Nobel da Medicina (muito devido à descoberta da Leucotomia Pré-frontal no tratamento de certas doenças mentais). Era o reconhecimento de uma notável carreira ao serviço da ciência.
Egas Moniz também foi coleccionador de artes, e deixou inclusivamente uma casa-museu em Avanca que hoje poderá ser visitada por qualquer um.
Além de alguma contribuição hospitalar, o médico/cientista foi ainda procurado por notáveis figuras do seu tempo tais como os poetas Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro que desejavam ouvir os seus conselhos ou trocar impressões eruditas. O nosso biografado deixou igualmente várias publicações inovadoras.
Egas Moniz viria a falecer, com 81 anos de idade, em Lisboa, a 13 de Dezembro de 1955.



Obras da sua autoria:

  • Alterações anátomo-patológicas na difteria, 1900 (Tese de Licenciatura).
  • A Vida Sexual - Fisiologia, 1901 (Tese de Doutoramento).
  • A Neurologia na Guerra,  1917.
  • Clínica Neurológica, 1925.
  • O Padre Faria na História do Hipnotismo, 1925.
  • Diagnostic des Tumeurs Cérébrales et Épreuve de l'Encéphalographie Arthérielle, 1931.
  • L'Angiographie Cérébrale. Sea Applications et Résultats en Anatomie, Physiologie et Clinique, 1934.
  • Tentatives Opératoires dans le Traitement de Certaines Psychoses, 1936.
  • La Leucotomie Préfrontal. Traitement Chirurgical de Certaines Psychoses, 1937.
  • Clínica delle Angiografia Cerebrale, 1938.
  • Die Cerebrale Arteriographie und Phlebographie, 1940.
  • Trombosis Y Otras Obstrucciones de las Carotidas, 1941.
  • Última Lição - Bibliografia, 1944.





Retrato de Egas Moniz, cientista português (1874-1955).
Quadro da autoria de Henrique Medina



Notas-Extra:

1 - António Caetano de Abreu Freire de Resende ficou conhecido como o apelido de Egas Moniz porque o seu tio, o padre Caetano de Pina Resende acreditava que a família Resende descendia, de linha directa, de Egas Moniz, célebre aio de D. Afonso Henriques. 

2 -  António Egas Moniz casou-se a 7 de Fevereiro de 1901 com a brasileira Elvira de Macedo Dias, mas o casal nunca teve filhos. 

3 - Em Lisboa, existe hoje o Hospital Egas Moniz, um dos mais importantes de Portugal.

4 - Além de Egas Moniz, só houve mais uma personalidade portuguesa a ganhar um Prémio Nobel. Trata-se de José Saramago, escritor, que venceu o prémio máximo da Literatura em 1998.



Referências Consultadas:

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