Um pouco sobre a vida de Saladino até 1187
Saladino (ou Ṣalāḥ ad-Dīn Yūsuf ibn Ayyūb) é actualmente catalogado pela historiografia mundial como um dos soberanos mais bem sucedidos de sempre no plano político e militar. Considerado meritoriamente como o "Campeão do Islão", esta personalidade continuaria a guerra santa já iniciada por Zengi e Nur ad-Din (este último seu senhor, com o qual no final manterá uma relação mais fria/azeda).
Pouco se sabe sobre os primeiros anos de vida de Saladino. Supõe-se que teria nascido em 1138, talvez em Tikrit, no seio duma família curda. De resto, só voltamos a encontrar menção clara à sua intervenção nas campanhas do Egipto de forma a defender os interesses zengidas e servindo a Nur ad-Din (emir de Damasco e de Alepo, e como tal, senhor da Síria) contra as invasões do rei Amalrico I de Jerusalém, o qual, entre 1163 e 1169, enviou forças cruzadas para tomar aquele território faraónico. Neste palco, Saladino e o seu tio Shirkuh evidenciaram-se pela sua destreza, frustrando as intenções expansionistas dos cristãos. Como a dinastia fatímida do Egipto se encontrava em evidente decadência, a morte do último califa - al-Adid em 1171, permitiu a ascensão de Saladino (já era vizir desde 1169) que se tornaria sultão do Egipto oficialmente (via coroação) em 1174 (embora o seu domínio já fosse evidente a partir de 1171). Neste processo de afirmação, Nur ad-Din não tolerou que o seu antigo vassalo Saladino tivesse tomado o poder sem o seu consentimento, e a relação final entre ambos será marcada por vários desentendimentos.
Com o falecimento de Nur ad-Din em 1174, foi só uma questão de tempo até Saladino aproveitar novo vazio de poder, e tornar-se senhor de Damasco (ainda em 1174) e de Alepo (mais tarde, em 1183), conquistando gradualmente a Síria e unificando-a ao Egipto, criando assim o Império Aiúbida (este albergava ainda grande parte do Norte da Mesopotâmia).
Saladino havia conseguido reunir um extenso território sob o seu domínio, o que lhe permitiria finalmente dispor de grandiosos exércitos capazes de derrubar qualquer inimigo.
Muçulmano convicto (vertente sunita), o sultão tem a ambição de expulsar os cristãos do Levante. Em 1177, lança uma primeira invasão mas não é bem sucedido sendo travado então pelo jovem rei leproso de Jerusalém - Balduíno IV (ver artigo anterior). Os conflitos perdurarão nos anos seguintes (sem avanços decisivos) até ao assentamento de tréguas. Mas novos acontecimentos fariam despoletar um novo conflito - o rei Guido de Lusignan que ascendeu ao trono na Cidade Santa após o falecimento precoce de Balduíno V, não consegue ser consensual entre os barões cristãos nem impor a sua autoridade sobre os seus vassalos, e o caso mais grave, prender-se-à mesmo com Reinaldo de Châtillon, senhor da Transjordânia e ex-príncipe de Antioquia, cuja constante rebeldia e desrespeito contínuo pelos acordos firmados com os muçulmanos irritaram profundamente Saladino que assim adoptaria este pretexto para programar uma nova invasão ao reino cristão de Jerusalém - dez anos depois do fracasso de Montgisard. A este ponto voltaremos mais à frente com uma descrição detalhada dos acontecimentos.
As mortes de Balduíno IV (em 1185) e de Balduíno V (em 1186) abriram as portas do poder a Guido de Lusignan, casado com Sibila (irmã de Balduíno IV, e curiosamente mãe de Balduíno V que nascera do seu primeiro casamento). Guido, de naturalidade francesa, era um homem que demonstrava algum ímpeto na vertente militar, contudo não dispunha de visão política nem de autoridade incontestável, visto que a sua ascensão não fora consensual.
Nesta década de 1180, começaram a perfilar-se dois partidos no seio dos interesses cristãos do Levante, assim designados pelo historiador medievalista Carlos de Ayala Martínez:
Imagem nº 7 - A rendição cristã em Hattin. Os dois reis (Saladino e Guido) conversam no desfecho da batalha.
Quadro da autoria de Said Tahsine (1904-1985)
Com o falecimento de Nur ad-Din em 1174, foi só uma questão de tempo até Saladino aproveitar novo vazio de poder, e tornar-se senhor de Damasco (ainda em 1174) e de Alepo (mais tarde, em 1183), conquistando gradualmente a Síria e unificando-a ao Egipto, criando assim o Império Aiúbida (este albergava ainda grande parte do Norte da Mesopotâmia).
Saladino havia conseguido reunir um extenso território sob o seu domínio, o que lhe permitiria finalmente dispor de grandiosos exércitos capazes de derrubar qualquer inimigo.
Muçulmano convicto (vertente sunita), o sultão tem a ambição de expulsar os cristãos do Levante. Em 1177, lança uma primeira invasão mas não é bem sucedido sendo travado então pelo jovem rei leproso de Jerusalém - Balduíno IV (ver artigo anterior). Os conflitos perdurarão nos anos seguintes (sem avanços decisivos) até ao assentamento de tréguas. Mas novos acontecimentos fariam despoletar um novo conflito - o rei Guido de Lusignan que ascendeu ao trono na Cidade Santa após o falecimento precoce de Balduíno V, não consegue ser consensual entre os barões cristãos nem impor a sua autoridade sobre os seus vassalos, e o caso mais grave, prender-se-à mesmo com Reinaldo de Châtillon, senhor da Transjordânia e ex-príncipe de Antioquia, cuja constante rebeldia e desrespeito contínuo pelos acordos firmados com os muçulmanos irritaram profundamente Saladino que assim adoptaria este pretexto para programar uma nova invasão ao reino cristão de Jerusalém - dez anos depois do fracasso de Montgisard. A este ponto voltaremos mais à frente com uma descrição detalhada dos acontecimentos.
Imagem nº 1 - Saladino apodera-se do Egipto e da Síria, tornando-se no soberano muçulmano mais poderoso do seu tempo.
Retirada de: http://pixgood.com/saladin-the-great.html, (Amoxes).
Perfil de Saladino
As crónicas medievais muçulmanas traçam a imagem dum sultão cavaleiresco que respeitava demasiado os seus inimigos, e que não hesitava em elogiar as suas capacidades e façanhas no campo de batalha. Não será pois estranha a admiração que Saladino viria a nutrir pela bravura evidenciada por Ricardo Coração de Leão, rei de Inglaterra, no decurso da Terceira Cruzada.
Além do modelo de excelência de soberano que imprimia, Saladino era caracterizado como um homem piedoso e generoso. De acordo com o seu biógrafo Bahaeddin (ou Bahā' al-Dīn; 1145-1234), antes de falecer, o tesouro real estaria vazio, visto que o sultão havia investido todo o dinheiro na caridade, auxiliando assim os mais carenciados.
É evidente que as fontes árabes, com a sua parcial conotação, tendem a exagerar nas virtudes veiculadas a Saladino, todavia o seu nome circulou pela Europa, tendo sido igualmente respeitado, de certa forma, pela Cristandade.
O sultão revelou ainda uma genialidade política e militar. Só assim podemos perceber como é que Saladino se tornou senhor do Egipto, da Síria e, mais tarde, de Jerusalém e doutras terras. Soube manusear estrategicamente os seus interesses ou objectivos nas mais diversas áreas de actuação. Por exemplo, se procedeu inicialmente a uma conduta agressiva contra a temível Ordem dos Assassinos, a verdade é que as ameaças sérias desta fizeram-no ponderar bastante, acabando por recuar nas hostilidades contra aquela organização perigosa. Assim, evitou que a sua vida fosse colocada desnecessariamente em risco por causa dum atrito com uma sociedade secreta implacável.
Em suma, o sultão soube pois ler e interpretar os sinais do seu tempo.
É evidente que as fontes árabes, com a sua parcial conotação, tendem a exagerar nas virtudes veiculadas a Saladino, todavia o seu nome circulou pela Europa, tendo sido igualmente respeitado, de certa forma, pela Cristandade.
O sultão revelou ainda uma genialidade política e militar. Só assim podemos perceber como é que Saladino se tornou senhor do Egipto, da Síria e, mais tarde, de Jerusalém e doutras terras. Soube manusear estrategicamente os seus interesses ou objectivos nas mais diversas áreas de actuação. Por exemplo, se procedeu inicialmente a uma conduta agressiva contra a temível Ordem dos Assassinos, a verdade é que as ameaças sérias desta fizeram-no ponderar bastante, acabando por recuar nas hostilidades contra aquela organização perigosa. Assim, evitou que a sua vida fosse colocada desnecessariamente em risco por causa dum atrito com uma sociedade secreta implacável.
Em suma, o sultão soube pois ler e interpretar os sinais do seu tempo.
Imagem nº 2 - As descrições sobre Saladino nas crónicas muçulmanas apresentam-nos um soberano que revelou vários comportamentos de tolerância e generosidade.
O contexto da Batalha de Hattin: as desavenças do reino cristão de Jerusalém
Nesta década de 1180, começaram a perfilar-se dois partidos no seio dos interesses cristãos do Levante, assim designados pelo historiador medievalista Carlos de Ayala Martínez:
- O Partido dos Barões Nativos - Os elementos deste grupo defendiam a necessidade de manter boas relações com o Império Bizantino (mesmo que fossem cristãos orientais) e de pactuar, sempre que fora aconselhável, com os muçulmanos. Neste partido moderado, estavam incluídos: Raimundo III (conde de Tripoli, senhor da Galileia e ex-regente de Jerusalém), Guilherme de Tiro (o arcebispo e antigo tutor de Balduíno IV), o clã dos Ibelin e Roger des Moulins (Grão-Mestre da Ordem do Hospital) além dos restantes membros desta ordem religiosa-militar.
- O Partido da Corte - Os membros deste grupo começaram a instalar os seus ideais na corte já no reinado de Balduíno IV. De acordo com estes, não era aceitável qualquer forma de entendimento com o Islão, aliás tal seria visto como uma traição. Não aceitavam igualmente colaborar com o Império Bizantino, talvez por desconfianças passadas face a este, e porque os despojos conquistados em potenciais vitórias deveriam possibilitar aos cruzados todas as benesses económicas, pelo que não digeriam bem a hipótese de partilharem a recompensa com Bizâncio. Neste sector, destacamos Joscelino III de Edessa, Reinaldo de Châtillon (antigo príncipe de Antioquia e senhor da Transjordânia), Heráclio (arcebispo de Cesareia e posteriormente, patriarca de Jerusalém) e Gerard Ridefort (Grão-Mestre da Ordem dos Templários que se tornará declarado inimigo de Raimundo - conde de Tripoli). O próprio rei Guido acabará por pender para esta facção mais radical e belicista.
Estes dois grupos começaram a acusar-se mutuamente, fazendo da intriga um elemento permanente. Todavia, o pior viria a acontecer quando as tréguas recentemente firmadas com Saladino foram rompidas duma forma inacreditável.
Reinaldo de Châtillon, de naturalidade francesa, era um barão que já se encontrava há décadas no Levante. Tinha integrado a fracassada Segunda Cruzada (1147-1149). Destacou-se imediatamente no plano político, tornando-se Príncipe de Antioquia desde 1153 até 1160. Neste último ano, foi capturado pelos muçulmanos, tendo ficado 16 anos no cativeiro em Alepo sob a atenção de Nur ad-Din. Depois de libertado, Reinaldo não tinha ainda deixado de lado o seu fanatismo, não conseguindo assimilar qualquer conjuntura de paz ou tréguas com os muçulmanos. Pelo que as tréguas firmadas não foram respeitadas por este barão que voltara, depois de preso na Síria, a exercer uma influência decisiva nos estados cristãos do Levante. Todavia, Reinaldo não imaginava que estava a cavar a sua própria sepultura e a hipotecar a sobrevivência da Terra Santa nas mãos dos cristãos.
Efectivamente, veremos este barão francês a promover razias contra o tráfico caravaneiro que circulava desde o Cairo até Damasco, ora matando ora saqueando. Supervisiona ainda ataques contra peregrinos que rumavam às duas cidades santas do Islamismo: Meca e Medina. Julga-se que ainda terá arquitectado violentas incursões no Mar Vermelho. Estes actos de pirataria que pareciam deliciar Reinaldo, o seu mentor, irritaram profundamente Saladino que exigiu explicações imediatas ao rei de Jerusalém Guido. Este sem autoridade política para colocar na ordem o seu vassalo, não impede que as tréguas sejam oficialmente violadas.
É evidente que Saladino nunca escondera a intenção de invadir as possessões cristãs e de recuperar Jerusalém para o Islão, mas a verdade é que a acção frequente e impune de Reinaldo de Châtillon havia sido a gota de água, ou melhor, o pretexto final, para desencadear uma operação de grande envergadura.
Imagem nº 3 - Guido (ou Guy) de Lusignan, rei de Jerusalém desde 1186, não consegue impor a sua autoridade, nem terminar com as intrigas entre os barões cristãos.
Quadro da autoria de François-Édouard Picot em 1843
Quadro da autoria de François-Édouard Picot em 1843
A Batalha de Hattin (1187)
Saladino recolocou em prática os seus planos expansionistas. O desastre de Montgisard (1177) já fazia parte do passado. O reino cristão de Jerusalém estava mais fraccionado e debilitado pelas disputas internas. O regime aiúbida começou então a encetar propaganda em torno do ideal de jihad. Curiosamente, Saladino mantinha boas relações com Raimundo III, conde de Tripoli e senhor da Galileia, com o qual firmou uma trégua para que a integridade territorial deste não fosse violada, o que não viria a suceder-se devido a várias incidências que acabariam por ocorrer.
O sultão pede autorização a Raimundo para que as suas forças pudessem atravessar Tiberíades (a Galileia pertencia ao senhorio do actual titular do condado de Tripoli), prometendo que não inquietaria as povoações instaladas na região, solicitação que foi aceite pelo conde cristão. Todavia, as ordens militares (templários e hospitalários) representadas pelos seus grão-mestres então instalados numa fortaleza das cercanias, não apreciaram, de modo algum, o gesto ousado de Raimundo, pelo que foram logo ao encontro da armada inimiga, formulando um plano de ataque. Todavia, a força conjugada pelos referidos hospitalários e templários não passava da ordem das centenas, pelo que foi trucidada na batalha de Cresson (perto de Nazaré; este conflito bélico foi travado no dia 1 de Maio de 1187), por um contingente aiúbida que integrava 7 mil ginetes. Apenas 3 cavaleiros cristãos lograram escapar com vida, incluindo o próprio Gerard de Ridefort, Grão-mestre dos Templários, embora este tivesse saído com sérios ferimentos. A mesma sorte não teve o Grão-mestre dos Hospitalários, Roger des Moulins, que pereceu em combate, tal como quase todos os outros freires que se engajaram nesta batalha desproporcionalmente inglória. Após esta incidência, as críticas ao posicionamento até então adoptado por Raimundo foram renovadas e acentuadas. Muitos não lhe perdoavam a cumplicidade que mantinha com Saladino, censurando o seu mais recente comportamento de alheamento, visto que o conde não partira com os seus cavaleiros em socorro das forças que viriam a ser esmagadas na batalha desigual de Cresson. Acusado de traição e de envolvimento numa conspiração com Saladino, e até alvo de ameaças de excomunhão por parte do patriarca, Raimundo, talvez de consciência pesada, pediu autorização ao sultão para que pudesse combater contra a sua armada (expirando assim a trégua firmada), o que Saladino, compreendendo a difícil posição do barão, nobremente deferiu.
Após esta primeira vitória moralizadora (e encarada como um claro prenúncio dum futuro promissor) nas proximidades de Tiberíades, o sultão muçulmano acabaria por lograr reunir uma força poderosa de 30 mil homens, entre os quais 12 mil cavaleiros. Encabeçava pois um projecto militar deveras ambicioso. O primeiro objectivo, dado o rompimento forçado da trégua com o conde de Tripoli, passaria pela conquista formal de Tiberíades, processo que já se encontrava visivelmente em marcha.
O sultão pede autorização a Raimundo para que as suas forças pudessem atravessar Tiberíades (a Galileia pertencia ao senhorio do actual titular do condado de Tripoli), prometendo que não inquietaria as povoações instaladas na região, solicitação que foi aceite pelo conde cristão. Todavia, as ordens militares (templários e hospitalários) representadas pelos seus grão-mestres então instalados numa fortaleza das cercanias, não apreciaram, de modo algum, o gesto ousado de Raimundo, pelo que foram logo ao encontro da armada inimiga, formulando um plano de ataque. Todavia, a força conjugada pelos referidos hospitalários e templários não passava da ordem das centenas, pelo que foi trucidada na batalha de Cresson (perto de Nazaré; este conflito bélico foi travado no dia 1 de Maio de 1187), por um contingente aiúbida que integrava 7 mil ginetes. Apenas 3 cavaleiros cristãos lograram escapar com vida, incluindo o próprio Gerard de Ridefort, Grão-mestre dos Templários, embora este tivesse saído com sérios ferimentos. A mesma sorte não teve o Grão-mestre dos Hospitalários, Roger des Moulins, que pereceu em combate, tal como quase todos os outros freires que se engajaram nesta batalha desproporcionalmente inglória. Após esta incidência, as críticas ao posicionamento até então adoptado por Raimundo foram renovadas e acentuadas. Muitos não lhe perdoavam a cumplicidade que mantinha com Saladino, censurando o seu mais recente comportamento de alheamento, visto que o conde não partira com os seus cavaleiros em socorro das forças que viriam a ser esmagadas na batalha desigual de Cresson. Acusado de traição e de envolvimento numa conspiração com Saladino, e até alvo de ameaças de excomunhão por parte do patriarca, Raimundo, talvez de consciência pesada, pediu autorização ao sultão para que pudesse combater contra a sua armada (expirando assim a trégua firmada), o que Saladino, compreendendo a difícil posição do barão, nobremente deferiu.
Imagem nº 4 - Os destacamentos templários e hospitalários foram arrasados na Batalha de Cresson (1 de Maio de 1187). O grão-mestre templário Gerard de Ridefort foi excessivamente impetuoso e insistiu num ataque inglório contra um exército bastante superior em termos numéricos. Por uma unha negra, conseguiu escapar com vida, e se tal o fez, foi muito graças ao marechal do Templo - James de Mailly (ou Jakelin de Mailly) e ao grão-mestre hospitalário Roger des Moulins que morreram heróicamente em combate, abrindo espaço à retirada penosa de Gerard. Depois da batalha, as culpas foram curiosamente atribuídas a Raimundo, conde de Tripoli, o qual, de consciência pesada, quebrou a trégua com Saladino.
Retirada de: http://www.thefearlessknights.com/cresson-springs/
Por sua vez, Guido de Lusignan, soberano de Jerusalém, começou a preparar a defesa do reino cristão, e não se pode dizer que tenha sido mal sucedido neste primeiro capítulo destinado a agregar o maior número de combatentes para a sua causa. Com a ajuda do conde Raimundo de Tripoli (houve pois uma recente aproximação entre ambos, dados os acontecimentos dos últimos meses), Guido conseguiu reunir um total de 20 mil homens, entre os quais, podemos destacar 1 200 cavaleiros, 4 mil turcópolos (cavalaria ligeira mercenária integrada por cristãos e muçulmanos nativos) e 14 mil peões (aqui também se incluíram membros do campesinato mobilizado) e ainda alguns elementos das ordens militares. Apesar da relativa inferioridade numérica, as tropas cristãs confiavam o seu sucesso na preparação das suas hostes e nas suas armas que acreditavam ser mais sofisticadas. Além disso, era o maior exército cristão que alguma vez um rei de Jerusalém havia conseguido reunir na Terra Santa.
No dia 1 de Julho de 1187, Saladino já é praticamente senhor de Tiberíades (só o castelo e a cidadela resistem ainda), que era considerada a capital do senhorio da Galileia, pertencente então, como já havíamos referido, aos domínios de Raimundo, conde de Tripoli.
Esta provocação bélica constituiu o principal motivo que desencadeou a marcha do rei de Jerusalém e das suas forças que rumaram assim em direcção às posições do invasor, mesmo com a renitência de Raimundo, o qual senhor da terra ocupada, recomendou que aquele não era o momento ideal para ir ao encontro do sultão, recordando que o calor sufocante do Verão Galileu iria desgastar totalmente o exército durante o percurso penoso que lhe estaria reservado, mesmo que este viesse a durar apenas um punhado de horas. O conde de Tripoli alegava ainda que a sua mulher poderia ainda segurar o castelo de Tiberíades, que ainda não havia caído em mãos muçulmanas, pelo que o mais aconselhável era manter uma importante posição defensiva em Sephoria. Todavia, Raimundo não foi levado a sério e foi inclusive acusado pelos seus detractores de demonstrar novamente uma postura cobarde. Reinaldo de Châtillon, esse mesmo - o responsável pelo fim das tréguas e acérrimo defensor da visão belicista, utilizou toda a sua pressão e agressividade para que o rei Guido fosse imediatamente a correr em direcção ao inimigo. Além disso, Reinaldo contou com o apoio dos templários para convencer o soberano cristão. A facção belicista, mais uma vez, levaria a melhor sobre os barões mais moderados que não tiveram outra hipótese senão acompanhar toda aquela marcha imprudente.
Esta provocação bélica constituiu o principal motivo que desencadeou a marcha do rei de Jerusalém e das suas forças que rumaram assim em direcção às posições do invasor, mesmo com a renitência de Raimundo, o qual senhor da terra ocupada, recomendou que aquele não era o momento ideal para ir ao encontro do sultão, recordando que o calor sufocante do Verão Galileu iria desgastar totalmente o exército durante o percurso penoso que lhe estaria reservado, mesmo que este viesse a durar apenas um punhado de horas. O conde de Tripoli alegava ainda que a sua mulher poderia ainda segurar o castelo de Tiberíades, que ainda não havia caído em mãos muçulmanas, pelo que o mais aconselhável era manter uma importante posição defensiva em Sephoria. Todavia, Raimundo não foi levado a sério e foi inclusive acusado pelos seus detractores de demonstrar novamente uma postura cobarde. Reinaldo de Châtillon, esse mesmo - o responsável pelo fim das tréguas e acérrimo defensor da visão belicista, utilizou toda a sua pressão e agressividade para que o rei Guido fosse imediatamente a correr em direcção ao inimigo. Além disso, Reinaldo contou com o apoio dos templários para convencer o soberano cristão. A facção belicista, mais uma vez, levaria a melhor sobre os barões mais moderados que não tiveram outra hipótese senão acompanhar toda aquela marcha imprudente.
No dia 3 de Julho, o exército cruzado deixou então Sephoria, onde estava estacionado, e partiu em direcção às linhas inimigas, e alcançaria, ao fim de algumas horas, uma planície rochosa em Hattin, onde não havia qualquer fonte de água. Os cristãos, sedentos e cansados devido à marcha pautada pelo clima tremendamente exigente e pela travessia por terrenos totalmente áridos, decidiram acampar mesmo ali, mas no dia 4 de Julho, são imediatamente cercados pelas forças de Saladino. Estas começam a atear fogos em redor das posições cristãs, gerando uma cortina de fumo asfixiante no acampamento cruzado. Além disso, cortam qualquer tentativa de abastecimento de água às forças agora sitiadas. De seguida, os francos serão visados pela saraivada de flechas, estas lançadas, de forma contínua, por arqueiros muçulmanos montados. Muitos cruzados tombam nesse preciso momento, outros tentam desertar (mas só poucos conseguem escapar) e ainda houve aqueles que, em número considerável (sobretudo peões), subiram ao cume da colina, sem que tivessem recebido qualquer ordem superior nesse sentido. Aliás, o rei Guido ordena para que eles desçam e constituam uma formação em bloco para avançar em direcção às tropas muçulmanas, mas nem neste momento decisivo, a presumível autoridade do soberano de Jerusalém é atendida, porque os infantes recusam-se a descer do topo da colina, onde talvez se sentiriam mais protegidos das flechas inimigas, mas não era menos verdade que aí não tinham qualquer acesso à essencial água.
Entretanto, 2 mil cavaleiros cristãos, acompanhados por outros homens de armas, tomam uma primeira acção concreta, conseguindo efectuar uma carga finalmente bem sucedida que faz com que os arqueiros muçulmanos montados recuassem, embora este procedimento militar não tivesse sido suficiente para romper o cerco rígido arquitectado pelos muçulmanos. Após esta carga, outras se seguiriam desesperadamente. Os cruzados sedentos queriam a todo custo, romper as linhas árabes e alcançar o Lago de Tiberíades, de forma a conseguirem finalmente molharem os seus lábios quase "moribundos". Estas tentativas prolongaram-se pelo dia inteiro. É certo que estas cargas, efectuadas com bravura, e mesmo sem o apoio de grande parte da infantaria (refugiada no topo da colina), geraram certamente baixas no lado muçulmano, mas só poucos grupos de cruzados (onde por exemplo, se integrava o Conde de Tripoli - Raimundo III) conseguiram furar o cerco e aceder aos víveres de que tanto necessitavam, mas não se atreveram pois a regressar para tentar inverter uma batalha quase perdida. Também houve alguns cruzados que conseguiram pôr-se em fuga graças ao ar mais fresco da noite (contrastando com o dia tórrido) e à sua inseparável escuridão que debilitava a visibilidade do exército muçulmano que procurava controlar as operações, e que até ver o fizera, com o mínimo de sucesso, seguindo assim as ordens claras de seu conceituado líder - Saladino.
De madrugada, a batalha recomeçara, mas os cruzados estavam exaustos e praticamente perto de colapsar devido à enorme sede que sentiam. O Bispo de Acre é um dos que tenta animar os seus soldados, ergue a Vera Cruz sob a sua cabeça, de forma a liderar uma nova carga. O fracasso voltou a acompanhar a iniciativa, e desta feita, nem o corajoso bispo conseguiria escapar à morte, além daquela venerada relíquia sagrada para os cristãos ter caído nas mãos dos muçulmanos. É provável que este episódio tivesse desmoralizado definitivamente as forças cristãs. O rei Guido acabou depois por se render, juntamente com outros barões e um número considerável de soldados que não conseguiram fugir.
As baixas do lado cristão terão alcançado os 17 mil, entre mortos e capturados, e além do Bispo de Acre, morto na batalha, também Reinaldo de Châtillon foi executado (via decapitação) por Saladino que não perdoou os seus actos odiosos de pirataria, motivo pelo qual a trégua anterior tinha sido quebrada. O rei Guido de Jerusalém foi poupado e tratado duma forma digna enquanto cativo (por exemplo, quando fora detido, Saladino mandou-lhe trazer imediatamente água fresca para saciar a sua gritante sede), porque o sultão aiúbida defendia o seguinte lema: "os verdadeiros reis não se matam uns aos outros". O mesmo aconteceu com outros barões cruzados aprisionados que detinham algum prestígio e que acompanhavam o soberano cristão. Outros cavaleiros tiveram ainda a sua vida poupada, embora a sua sorte dependesse do seu nível social (uns foram libertados mais tarde, outros, com menos sorte, vieram a ser transaccionados como escravos). O pior destino ficou reservado aos cavaleiros templários (excepto ao seu grão-mestre Gerard de Ridefort que foi poupado), hospitalários (estas duas ordens militares "fanáticas" daquele tempo eram vistas como verdadeiras ameaças ao Islão) e turcópolos (estes encarados como mercenários que haviam traído ou vendido as suas próprias convicções) foram sumariamente executados. No lado muçulmano, não temos conhecimento duma estimativa de baixas concretas, mas cremos, embora sem base científica, que o número não seria tão expressivo, mas também este não seria praticamente nulo porque houve lugar a combates violentos durante mais de um dia, pelo que aceitamos que o número de baixas do lado aiúbida tivesse sido inferior (talvez não muito inferior) a 5 mil, entre mortos e feridos com alguma gravidade.
O que é certo é que Saladino conquistaria a principal vitória da sua carreira militar. Acabava de destroçar um exército cristão de grande envergadura, o que lhe abriria caminho para a conquista futura de novas terras, dado que o rei de Jerusalém estava agora preso em Damasco (para onde foi cambiado) e que já não existia outro exército cristão na Terra Santa capaz de o enfrentar. A vitória em Hattin deveu-se, em muito, à astúcia militar de Saladino que, conhecendo bem o terreno em que se movia, soube ainda avaliar as fragilidades do adversário que se tinha submetido a uma marcha penosa, e o sultão soube jogar com o clima atormentador e o estado de carência do inimigo a seu favor, vencendo-o pela escassez de víveres, sobretudo pela sede.
Hattin seria uma das batalhas que mudaria o curso da História, e o seu vencedor - Saladino seria eternizado mundialmente pelo feito.
Entretanto, 2 mil cavaleiros cristãos, acompanhados por outros homens de armas, tomam uma primeira acção concreta, conseguindo efectuar uma carga finalmente bem sucedida que faz com que os arqueiros muçulmanos montados recuassem, embora este procedimento militar não tivesse sido suficiente para romper o cerco rígido arquitectado pelos muçulmanos. Após esta carga, outras se seguiriam desesperadamente. Os cruzados sedentos queriam a todo custo, romper as linhas árabes e alcançar o Lago de Tiberíades, de forma a conseguirem finalmente molharem os seus lábios quase "moribundos". Estas tentativas prolongaram-se pelo dia inteiro. É certo que estas cargas, efectuadas com bravura, e mesmo sem o apoio de grande parte da infantaria (refugiada no topo da colina), geraram certamente baixas no lado muçulmano, mas só poucos grupos de cruzados (onde por exemplo, se integrava o Conde de Tripoli - Raimundo III) conseguiram furar o cerco e aceder aos víveres de que tanto necessitavam, mas não se atreveram pois a regressar para tentar inverter uma batalha quase perdida. Também houve alguns cruzados que conseguiram pôr-se em fuga graças ao ar mais fresco da noite (contrastando com o dia tórrido) e à sua inseparável escuridão que debilitava a visibilidade do exército muçulmano que procurava controlar as operações, e que até ver o fizera, com o mínimo de sucesso, seguindo assim as ordens claras de seu conceituado líder - Saladino.
De madrugada, a batalha recomeçara, mas os cruzados estavam exaustos e praticamente perto de colapsar devido à enorme sede que sentiam. O Bispo de Acre é um dos que tenta animar os seus soldados, ergue a Vera Cruz sob a sua cabeça, de forma a liderar uma nova carga. O fracasso voltou a acompanhar a iniciativa, e desta feita, nem o corajoso bispo conseguiria escapar à morte, além daquela venerada relíquia sagrada para os cristãos ter caído nas mãos dos muçulmanos. É provável que este episódio tivesse desmoralizado definitivamente as forças cristãs. O rei Guido acabou depois por se render, juntamente com outros barões e um número considerável de soldados que não conseguiram fugir.
As baixas do lado cristão terão alcançado os 17 mil, entre mortos e capturados, e além do Bispo de Acre, morto na batalha, também Reinaldo de Châtillon foi executado (via decapitação) por Saladino que não perdoou os seus actos odiosos de pirataria, motivo pelo qual a trégua anterior tinha sido quebrada. O rei Guido de Jerusalém foi poupado e tratado duma forma digna enquanto cativo (por exemplo, quando fora detido, Saladino mandou-lhe trazer imediatamente água fresca para saciar a sua gritante sede), porque o sultão aiúbida defendia o seguinte lema: "os verdadeiros reis não se matam uns aos outros". O mesmo aconteceu com outros barões cruzados aprisionados que detinham algum prestígio e que acompanhavam o soberano cristão. Outros cavaleiros tiveram ainda a sua vida poupada, embora a sua sorte dependesse do seu nível social (uns foram libertados mais tarde, outros, com menos sorte, vieram a ser transaccionados como escravos). O pior destino ficou reservado aos cavaleiros templários (excepto ao seu grão-mestre Gerard de Ridefort que foi poupado), hospitalários (estas duas ordens militares "fanáticas" daquele tempo eram vistas como verdadeiras ameaças ao Islão) e turcópolos (estes encarados como mercenários que haviam traído ou vendido as suas próprias convicções) foram sumariamente executados. No lado muçulmano, não temos conhecimento duma estimativa de baixas concretas, mas cremos, embora sem base científica, que o número não seria tão expressivo, mas também este não seria praticamente nulo porque houve lugar a combates violentos durante mais de um dia, pelo que aceitamos que o número de baixas do lado aiúbida tivesse sido inferior (talvez não muito inferior) a 5 mil, entre mortos e feridos com alguma gravidade.
O que é certo é que Saladino conquistaria a principal vitória da sua carreira militar. Acabava de destroçar um exército cristão de grande envergadura, o que lhe abriria caminho para a conquista futura de novas terras, dado que o rei de Jerusalém estava agora preso em Damasco (para onde foi cambiado) e que já não existia outro exército cristão na Terra Santa capaz de o enfrentar. A vitória em Hattin deveu-se, em muito, à astúcia militar de Saladino que, conhecendo bem o terreno em que se movia, soube ainda avaliar as fragilidades do adversário que se tinha submetido a uma marcha penosa, e o sultão soube jogar com o clima atormentador e o estado de carência do inimigo a seu favor, vencendo-o pela escassez de víveres, sobretudo pela sede.
Hattin seria uma das batalhas que mudaria o curso da História, e o seu vencedor - Saladino seria eternizado mundialmente pelo feito.
Local: Hattin, perto de
Tiberíades
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Data: 4 de Julho 1187
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Forças Beligerantes
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Reino Cristão de Jerusalém
Ordens militares
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Império Aiúbida
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Comandantes/Generais
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Rei Guido de Jerusalém (PG)
Gerard de Ridefort (PG)
Reinaldo de Châtillon †
Raimundo III de Tripoli
Balian de Ibelin
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Saladino
Al-Adil
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Número de Combatentes
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20 000
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30 000
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Baixas Estimadas
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17 000 (entre mortos e capturados)
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Não muito elevadas (talvez inferiores a 5 000)
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Resultado: Depois duma marcha penosa até às proximidades de Tiberíades, com um clima
que revelou ser um dos seus principais inimigos, os cruzados são cercados em
Hattin, e massacrados pelas tropas de Saladino, cuja astúcia militar foi
determinante. A derrota em Hattin originaria a queda em breve de Jerusalém e
de muitas outras praças cristãs.
PG = Prisioneiro de Guerra
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Tabela nº 1 - As estatísticas inerentes à batalha de Hattin.
Imagem nº 5 - A marcha penosa dos cruzados no Verão escaldante da Galileia degastou fisicamente as forças cristãs que perderam todos os seus argumentos militares aquando do confronto decisivo em Hattin, perto de Tiberíades.
Ilustração dum manuscrito medieval (in Wikipédia)
Imagem nº 6 - As forças cruzadas tentaram resistir em vão ao poderoso exército de Saladino, cuja genialidade militar seria decisiva para o triunfo muçulmano. As flechas dos arqueiros aiúbidas causaram uma evidente mortandade no lado cristão.
Retirada de: http://miranteparaverstellen.blogspot.pt/
Imagem nº 7 - A rendição cristã em Hattin. Os dois reis (Saladino e Guido) conversam no desfecho da batalha.
Quadro da autoria de Said Tahsine (1904-1985)
Imagem nº 8 - A decapitação de Reinaldo de Châtillon às mãos do sultão Saladino.
Iluminura do século XV (in Wikipédia)
A Queda de Jerusalém
Nos dois meses que se seguiram à batalha de Hattin, Saladino e os seus emires não param de conquistar novas terras: Acre, Nablus, Sidon, Beirut, Ascalona, Gaza, Napsula, Haifa, Nazaré, Belém, Jaffa, Beirute, Jbail... Praticamente ninguém se atrevia a fazer frente ao novo sultão que começava a tornar-se num verdadeiro herói para o Mundo muçulmano. Os estados cruzados encontravam-se consequentemente, cada vez mais, diminuídos e desmembrados. Mas o pior ainda estava para vir: Saladino desejava tomar a Cidade Santa, a terceira terra mais importante para o Islamismo depois de Meca e Medina. É provável que os imãs o tivessem pressionado bastante na ambição de recuperar Jerusalém.
Saladino começa por enviar uma mensagem aos habitantes da Cidade Santa de forma a que estes procedam à rendição pacífica daquela, estando disposto a deixá-los partir acompanhados com os respectivos bens móveis que detinham, bem como não hesita em respeitar a integridade dos lugares cristãos aí sitos. A resposta dos francos é negativa. Mesmo desprovidos do seu rei (Guido encontrava-se em cativeiro) e do seu exército (aniquilado em Hattin), os cristãos estão dispostos a tentar a sua sorte e resistir. A defesa será assegurada por Balian de Ibelin, senhor de Ramleh, um barão valente e respeitado que havia conseguido escapar da batalha de Hattin. O capítulo mais recente da sua história é curioso. Ele havia acordado com Saladino uma licença que lhe permitiria trazer a sua mulher que estava em Jerusalém e que só passaria uma noite naquela cidade. Todavia, mal entrou na Cidade Santa, muitos habitantes consultaram-no e até suplicaram para que ele dirigisse a defesa contra o futuro assédio muçulmano. Pressionado, Balian solicitou a Saladino autorização para que pudesse zelar pela protecção de Jerusalém, ao que o sultão consentiu, desligando-o de qualquer compromisso. Segundo Amin Maalouf, Saladino ao ver Balian demasiado atarefado em organizar a defesa de Jerusalém, proporcionou uma escolta à sua mulher para que esta fosse conduzida para um lugar seguro. Um gesto magnânimo do sultão.
Saladino e o seu poderoso exército promovem um duro cerco a Jerusalém que se inicia em 20 de Setembro de 1187. Trata-se duma batalha desigual. As muralhas são sólidas, mas a verdade é que os defensores cristãos, embora esforçados, limitavam-se a um punhado de cavaleiros e algumas centenas de burgueses recrutados de urgência e sem qualquer experiência militar. No dia 29 de Setembro, os sapadores muçulmanos conseguem abrir uma brecha no norte da fortificação, e a qualquer instante, preparam o assalto final. Por seu turno, Balian consciencializa-se que a batalha está definitivamente perdida, pelo que solicita um salvo-conduto para todos os habitantes de Jerusalém. Saladino não se mostra inicialmente bastante receptivo, estando disposto a tomar a cidade pela força, depois dos francos terem recusado a proposta primitiva de rendição pacífica. Todavia, Balian soube jogar no campo diplomático, ameaçando destruir o Rochedo Sagrado, a mesquita al-Aqsa e muitos outros lugares islâmicos, além de estar disposto a mandar executar os cinco mil prisioneiros muçulmanos que estavam em cativeiro na Cidade Santa: era isto que aconteceria se a recente proposta cristã de rendição pacífica não fosse firmada.
Saladino, ao saber das intenções deste barão cristão, ponderou e acabou por viabilizar a rendição junto dos seus conselheiros, os quais, preocupados com a situação financeira do Império Aiúbida (grande parte do tesouro estatal tinha sido canalizado para as campanhas militares), exigiram que cada cristão, enquanto refém virtual, pagasse o seu próprio resgate. Cada homem pagaria 10 dinares pela sua liberdade, cada mulher 5, e as crianças 1 dinar. O próprio sultão, o seu irmão al-Adil e o barão cristão Balian de Ibelin comprometeram-se em investir alguns milhares de dinares, de forma a salvar muitos civis pobres que não tinham condições para pagar a sua saída livre. É claro que, para azar dos seus tesoureiros, o próprio Saladino deixou ainda sair centenas de cristãos (pessoas idosas, mulheres enviuvadas, órfãos...) sem pagar qualquer tipo de resgate, demonstrando mais uma vez a sua generosidade e tolerância. Mesmo assim, nem todos os cidadãos foram resgatados, pelo que houve ainda um número considerável de habitantes que, sem condições económicas e sem serem abrangidos pela solidariedade dos mais poderosos, seguiram a sua vida na escravidão.
Àqueles que lograram sair com os seus bens móveis, Saladino teve o cuidado de garantir a sua protecção, concedendo ordens a alguns dos seus destacamentos para que os escoltassem até ao destino, de forma a evitar que estes pudessem ser emboscados ao longo do trajecto. Além disso, impediu que alguns fanáticos ousassem destruir a Igreja do Santo Sepulcro na Cidade Santa, demonstrando ainda uma visão tolerante em relação a futuras peregrinações cristãs.
A entrada triunfante das forças lideradas por Saladino em Jerusalém, no dia 2 de Outubro de 1187, foi festejada exaustivamente pelo Mundo Muçulmano. A popularidade de Saladino tinha alcançado o seu clímax. Era pois o herói incontestável do Islão. Todavia, o ano de ouro de 1187 estava prestes a findar, e a reacção cristã, proveniente dos reinos europeus, era inevitável, pelo que os anos vindouros se avizinhavam como tremendamente exigentes.
Imagem nº 9 - Saladino estava imparável. As conquistas sucediam-se freneticamente após a batalha de Hattin, e muitos dos bastiões francos no Levante estavam agora em perigo.
Retirada de:
Nota adicional - Não concluímos neste artigo a biografia de Saladino que acabaria por falecer em 1193. Todavia, os detalhes da restante vida serão traçados de certa forma nos próximos dois artigos que ainda iremos elaborar e que se prendem com a reacção cristã face a estes feitos militares de Saladino.
Referências Consultadas:
- AYALA MARTÍNEZ, Carlos de - Las Cruzadas. Madrid: Sílex, 2004.
- Chroniques arabes des Croisades. Ed. Francesco Gabrieli. 4ª Ed. Trad. Viviana Pâques. Sindbad - Actes Sud, 1996.
- MAALOUF, Amin - As Cruzadas vistas pelos árabes. 15ª ed. Lisboa: Difel, 2008.
- MATTHEWS, Rupert - Hattin (1187) in 1001 Battles that changed the Course of History. Londres: Quintessence Editions, 2011.
- MAYER, Hans Eberhard - Historia de las Cruzadas. Madrid: ISTMO, 2001.
- http://virgiliocamposhistoriaantiga.blogspot.pt/search?q=Saladino, (Artigo da autoria de Vírgilio Campos, consultado em: 30/10/2014).
- http://www.biographyonline.net/military/saladin.html, (Consultado em: 30/10/2014).
- http://www.historyofwar.org/articles/battles_hattin.html, (Consultado em: 30/10/2014).
- http://weaponsandwarfare.com/?p=2879, (Consultado em: 30/10/2014).
- http://www.britannica.com/EBchecked/topic/256944/Battle-of-Hattin, (Consultado em: 30/10/2014).
- http://www.history.com/topics/saladin, (Artigo e vídeos sobre a vida de Saladino do Canal História, consultado em: 30/10/2014).
- As bandeiras/banners colocadas na tabela foram retiradas do Wikipédia.
Bem, salaDino era competente! Mas essa batalha, com certeza, foi perdida pela incompetência dos comandantes cruzados.
ResponderEliminarDesede o início faltou um princípio básico de guerra, a unidade de comando, ordens não eram cumpridas porque o comando nao era bem difinido e isso é inaceitável para qualquer exército, porque fraciona as tropas e divide as forças! Além do que o mais básico do planejamento militar, o que seria feito por qualquer aspirante formado em uma academia militar, foi ignorado!!!!
Nenhum asp recém formado colocaria uma tropa para marchar em condições desérticas por cerca de 32km ( tropa pesada em deserto, cerca de 10 ou 12 hs de marcha) durante O DIA ( o IMBECIL escolheu fazer marcha em período diurno,não foi capaz de fazer o mínimo, que seria uma marcha noturna se aproveitando do sigilo da noite e de melhores condições climáticas), NÃO PENSOU EM RESSUPRIMENTO DE ÁGUA!!! (POR DEUS, esse Cmt merecia ser queimado vivo!) e nem em racao para as tropas!!!
Os Cmt cruzados simplesmente ignotaram o básico do básico, nao enviaram tropas para reconhecer e balizar o itinerário, pontos de agua ,areas de reagrupamento, acamapamento e manter a observacao sobre inimigo, simplismente ignoraram o terreno, condições meteorológicas e necessidades fisiológicas, a questão tática então não dá pra comentar, pois a tática do momento foi sobreviver, no.combate eram animais lutando pela sobrevivência, e não soldados constituindo um exército!
SalaDino fez o óbvio, que foi atacar os cruzados enquanto estavam cansados e desorganizados, sitia-Los e deixar que sua própria incompetência os matasse!
Se esses benditos Cmt cruzados tivessem levado em consideração o mais óbvio do combate esse verdadeiro DESASTRE não teria ocorrido!
E realmente uma pena que um exército tão grande e motivado tenha se perdido pela incompetência de alguns!
E para isso que temos a história. Por desastres como esses que surgiram as academias militares, profissionais militares de carreira, etc, para que nobres afogados no próprio entendimento não suicidassem exércitos inteiros!
Deus Vult!!!