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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

São Nicolau de Mira - um exemplo de altruísmo

Nicolau de Mira nasceu por volta do ano de 270 d. C. na Ásia Menor, mais concretamente na localidade de Patara (actual Turquia, embora outrora integrante dos domínios e da herança da Grécia Antiga). Presumivelmente, seria filho de nobres com consideráveis recursos económicos.
Desde cedo, isto é, no decurso da sua juventude, Nicolau evidenciara um claro fervor religioso, praticando jejuns voluntários, e desprezando, em simultâneo, os divertimentos e a luxúria material. Frequentava ainda com elevada regularidade os espaços presumivelmente clandestinos de culto cristão.
A sua singular generosidade ficou registada na História, visto que Nicolau de Mira, ao ser proveniente duma família com elevadas posses, começou a praticar actos de caridade que visavam os mais necessitados. Dentro deste contexto, e através dum pretenso anonimato, assegurava doações de moedas de ouro, roupas e alimentos aos pobres e às viúvas. O nosso biografado nutriria ainda uma especial afeição pelas crianças, envolvendo as prendas dedicadas a estas em sacos que eram depois despejados por si pelas chaminés das casas seleccionadas (isto de acordo com as narrações lendárias), durante a noite. Estes gestos solidários eternizariam o nome de São Nicolau enquanto símbolo mundial do altruísmo e da fraternidade, e por isso, o seu nome acabaria por ser naturalmente associado à época natalícia.  
É certo que não podemos adiantar uma descrição detalhada sobre as suas vivências porque estas se localizam numa era que, embora extensa, nos deixou ínfimos registos escritos, além da sua história se encontrar irremediavelmente conotada com narrações lendárias. 
Sabemos que, em data incerta, foi consagrado bispo de Mira (moderna Turquia) e desenvolveu ainda algum apostolado na Palestina e no Egipto. Todavia, foi detido aquando das perseguições ordenadas pelo imperador Diocleciano, mas a mudança ocorrida com o Édito de Milão do imperador Constantino em 313 d. C., permitiu finalmente a liberdade de culto aos cristãos, pelo que Nicolau terá prosseguido com a sua missão pastoral sem ser incomodado.
No ano de 325 d. C., terá participado no Primeiro Concílio de Niceia, o qual abordaria várias questões doutrinais, essenciais para a afirmação da Igreja Cristã no início dum período em que passaria a gozar de liberdade e tolerância totais. Foi nesse mesmo concílio que se condenou o arianismo (esta filosofia baseava-se na doutrina do presbítero Ário, o qual não via Jesus Cristo como um ser divino, mas antes como um instrumento de Deus sem carácter eterno ou transcendental) e se aplicaram algumas regras morais destinadas ao clero. Mas sobre a actuação concreta de Nicolau neste concílio não conseguimos apurar muitos pormenores, embora se acredite que tenha repudiado igualmente o arianismo, abraçado o Cristianismo Ortodoxo e ainda assinado o Credo de Niceia.
De acordo com outras narrações, São Nicolau terá igualmente participado em vários debates internos com os líderes eclesiásticos mais influentes do seu tempo, e reza a história, de que uma vez, perdeu as estribeiras, e se levantou do seu lugar, esbofeteando um dos seus antagonistas. Este episódio, se é que efectivamente aconteceu como alguns tendem a inferir, terá feito com que o seu estatuto fosse, embora temporariamente, abalado no seio das instâncias clericais.
Mesmo assim, o bispo de Mira nunca desistiu de ajudar os mais necessitados, e a sua popularidade social continuava a ser considerável. Por exemplo, há uma lenda que nos conta a história de um pai que não tinha dinheiro para constituir o dote das suas três filhas e assegurar os seus respectivos casamentos além do seu inevitável sustento, e que estava então decidido a enviá-las para a prostituição, contudo Nicolau, ao inteirar-se daquela situação desesperante, encheu três sacos com moedas de ouro para assim assegurar a pureza daquelas e evitar aquele destino fatídico. Noutra instância, Nicolau conseguiu evitar que três generais fossem executados, após uma condenação injusta.
É pois verosímil que este bispo generoso tivesse conquistado várias gentes do Oriente para a Igreja Cristã, desviando-as da adoração pagã. As suas práticas credíveis e sinceras devem ter sido suficientes para atrair a admiração de multidões. Além do mais, foi-lhe atribuído a fama de taumaturgo ou milagreiro. Aliás, a sua popularidade actual ainda se encontra nos píncaros em diversas regiões do globo.
Desconhece-se o ano e o local do seu falecimento (326, 342, 343, 350 ou 352? Mira?), todavia sabe-se que o seu túmulo seria alvo de culto nos tempos posteriores. Em 1087, o mesmo terá sido trasladado à força por marinheiros e soldados italianos que trouxeram os seus restos mortais para Bari, onde foi acolhido de forma triunfal por parte da população. Este marco fará com que o seu culto atinja igualmente um nível de veneração bastante elevado no panorama europeu.
Assim sendo, o carismático São Nicolau, além de ser padroeiro das terras de Mira e Bari, também o é da Rússia, Grécia e Noruega. É ainda o padroeiro das crianças, moças solteiras, marinheiros, cativos e lojistas.
O seu nome foi ainda associado, de forma directa, às comemorações do nascimento de Jesus Cristo, sendo personificado pela figura do Pai Natal. Mas Nicolau jamais utilizou as vestes avermelhadas que hoje estão na moda nem nunca demonstrou qualquer sede de protagonismo (muitos dos seus actos de caridade eram concretizados de forma discreta e anónima), era sim um homem de convicções e que em nome de Deus, e tirando proveito do seu estatuto social afortunado (recebera uma herança abastada dos seus pais, e depois ainda alcançou o cargo prestigiante de bispo), transmitiu grandes gestos de compaixão e solidariedade às crianças e aos pobres.



Imagens: Na primeira imagem, encontramos um retrato de São Nicolau que foi retirado a partir do seguinte site: http://www.tvimaculada.org.br/sao-nicolau-sagrado-bispo-de-mira/. Já a segunda gravura ilustra a intervenção crucial de São Nicolau que evitou a execução de três inocentes; a mesma é da autoria de Iliá Repin e encontra-se datada para o ano de 1889.


Notas-extra:


1- Apesar de não se conhecer ao certo o ano do seu falecimento (terá ocorrido algures no século IV), paradoxalmente adianta-se que São Nicolau de Mira teria falecido no dia 6 de Dezembro, pelo que este dia corresponde à sua festa litúrgica. Ressalvamos ainda a sua inclusão nos ritos natalícios do dia 25 de Dezembro, o que atesta a sua enorme popularidade entre os cristãos. Em Bari, o dia 9 de Maio reveste-se de semelhante importância, porque foi o dia designado para comemorar a trasladação das relíquias e restos mortais do Santo provenientes de Mira.

2- Há fontes que equacionam a possibilidade de São Nicolau ter afinal agredido Ário, defensor do Arianismo (visão que colocava em causa a divindade de Cristo). Este gesto isolado de Nicolau de Mira, a ter realmente acontecido, talvez seja justificado pela excessiva intensidade das discussões teológicas. De qualquer das formas, esta história sobre uma potencial reacção mais intempestiva por parte de Nicolau de Mira (seja contra quem fosse!) carece ainda duma base solidamente fundamentada. Aliás, as informações existentes sobre a sua vida pecam por ser irremediavelmente escassas e nem sempre as mais credíveis. Mesmo assim, procuramos aqui fazer um esboço sobre a sua história de vida. 



Referências Consultadas:

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