Até nas épocas mais obscuras da história, a Humanidade foi agraciada pela existência de seres "luminosos", cujas estadias terrenas se traduziram num impacto purificador. A história de São Francisco de Assis revela-nos as peregrinações dum homem que, com vestes modestas e totalmente desinteressado pelo poder, defendeu o primado da paz e do amor nas comunidades que visitava. Pregava a sua fé com uma convicção inabalável.
Os primeiros anos de São Francisco de Assis: a irreverência
Francisco nascera entre 1181-1182, na localidade de Assis (província da Umbria - actual Itália). Era filho de Pietro Bernardone (próspero mercador de tecidos que exercera negócios rentáveis em Provença na França) e Pica Bernardone. Inicialmente, fora baptizado com o nome de João, mas Pietro mudou de ideias e acabou por lhe colocar o nome de Francisco. A criança teve acesso a uma educação cristã sólida, embora na sua juventude, deveras activa, tivesse praticado variados comportamentos mundanos e nem sempre devidamente regrados, isto apesar da sua boa índole que sempre o acompanhara.
De acordo com muitos biógrafos, Francisco era um jovem alegre que adorava música, festas e banquetes. Gostava ainda de cantar serenatas para as damas mais esbeltas da sua cidade. Integrava então um grupo de jovens que adorava bastante a diversão.
Naqueles tempos, a Península Itálica vivia uma grande instabilidade a nível político, e algures entre 1201-1202, Francisco de Assis, incentivado pelo seu pai e talvez pela hipótese de ascensão nobiliárquica, combateu pelo interesses da Comuna de Assis contra as intenções dos senhores feudais da vizinha cidade de Perúgia. Acabou por ser capturado e levado para cativeiro durante um ano em Perúgia. Esta experiência decorrida na prisão terá sido dolorosa, embora Francisco tenha procurado reconfortar e reanimar os seus companheiros de cela.
Depois de libertado, Francisco voltou para a sua terra natal - Assis, onde voltou a usufruir dos entretenimentos típicos da juventude e colaborando ainda nas actividades comerciais de seu pai. Todavia, não seria por muito tempo, pois aquela etapa difícil passada em cativeiro começou a moldar-lhe a visão sobre a realidade. Em breve, e muito provavelmente devido ao enfraquecimento do seu organismo, situação que herdara do clima insalubre da prisão, o jovem, na altura com cerca de 20 anos, é atingido por uma grave enfermidade que o coloca numa situação bastante crítica, acabando por recuperar com muita dificuldade. Nestes tempos de inquietação (situados entre 1203 e 1205), Francisco de Assis começou a ter visões e procederia então a uma grande reflexão, equacionando seguir um novo rumo de vida, cansado já dos vulgarizados prazeres terrenos. Efectivamente, Francisco não nascera santo, mas lutou bastante para o vir a ser.
Imagem nº 1 - São Francisco de Assis, antes de se entregar aos desígnios do Cristianismo Primitivo, teve uma juventude irreverente, onde usufruiu de vários divertimentos.
Retirada de: http://dissertationreviews.org/archives/2353 (Gravura meramente exemplificativa)
Imagem nº 2 - A casa em Assis onde o jovem Francisco nasceu e vivera os seus primeiros anos.
Retirada de: Wikipédia ("Casa-de-sao-francisco" by Tetraktys)
A Fase da Maturidade e da Adopção dum novo estilo de vida
Francisco não escondia agora um grande vazio dentro de si. As festas, bebedeiras e guerras já não lhe satisfaziam. Começou a privilegiar a vertente espiritual procurando a mensagem de Deus. Por isso, dedicar-se-à, cada vez mais, às orações e meditações. Percorrerá ainda florestas e campos, lugares absolutamente tranquilos, completamente afastados dos espaços citadinos repletos de algazarra que outrora frequentava, e naqueles meios verdejantes que agora explorava, ele reflectia incessantemente sobre o sentido da vida.
No ano de 1205, dirigiu-se a Roma para visitar a tumba do Apóstolo São Pedro. Aí compadeceu-se daqueles que viviam na miséria, tendo dispensado várias moedas de ouro para aqueles que mais necessitavam. Além disso, trocou o seu rico traje pelas vestes esfarrapadas dum mendigo. Regressava depois a Assis, seguindo uma postura de pobreza e humildade, até então inéditas no jovem Francisco. O seu pai, um comerciante bem sucedido, e até os seus amigos não se conformavam com os últimos comportamentos de Francisco que eram considerados sinistros, tendo em conta aquilo que sempre fora na juventude.
Algures entre 1205 e 1206, Francisco abraça e beija, de forma amigável, um leproso nas campinas de Assis, gesto talvez inspirado na seguinte passagem bíblica "Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis”. Como se sabe, os leprosos eram marginalizados pela sociedade medieval, e não podiam aproximar-se sequer das urbes (devido à possibilidade de contágio; os leprosos tinham de levar um pequeno sino para avisar as outras pessoas de forma a que estas se afastassem), seguindo uma vida isolada e sem direito sequer a um mínimo de atenção por parte das comunidades - é como se fossem "mortos" que ainda vagueavam pelas serras ou florestas até finalmente cair para o lado. Naquela era supersticiosa, muitos acreditavam que a lepra era um castigo divino aplicado àqueles que haviam pecado com gravidade, o que reforçava mais a discriminação social. Por isso, a atitude de Francisco não deixava de ser inovadora e corajosa, acudindo àqueles que eram constantemente ignorados e até desprezados pela sociedade do seu tempo.
Entretanto, e sem autorização do seu pai mas talvez motivado por uma visão (surgida a partir do crucifixo de São Damião, do qual alegaria ter ouvido uma voz de Jesus Cristo que o motivava a restaurar a sua igreja), Francisco investe o dinheiro da casa comercial de seu pai na reabilitação da Capela de São Damião (em Assis) que estava num estado bastante degradante. Pietro Bernardone, seu pai, não lhe perdoara tal atrevimento, pois o dinheiro servia para o sustento da família, isto para além de ser o máximo responsável pelos negócios. Francisco acabaria por ser encarcerado num cubículo por debaixo da escada da própria casa paterna, sendo depois libertado pela sua mãe, católica fervorosa e sobretudo movida de compaixão, que o deixou seguir o seu destino.
Todavia, o seu pai exigia explicações e decidiu recorrer ao bispo de Assis, e o julgamento foi mesmo realizado na praça comunal daquela localidade. Pietro exigiu que o filho lhe devolvesse tudo o que havia perdido com o desfalque anterior. Todavia, Francisco citou a seguinte afirmação das Sagradas Escrituras "Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim", e logo de seguida libertou-se das vestes e do dinheiro que caíram aos pés de seu pai, e reiterou que só prestaria contas a partir de agora ao Pai Celeste. O bispo acolheu Francisco, envolvendo-o com seu manto, de forma a cobrir a nudez. Com cerca de 25 anos, tinha acabado de tomar uma decisão irreversível que o acompanharia para o resto da vida. Renunciara aos bens materiais, e em simultâneo, iniciaria oficialmente um caminho de espiritualidade.
Dentro deste contexto, afastou-se da família e dos amigos, e entregou-se amavelmente ao serviço dos leprosos e participou na reconstrução de Capelas e Oratórios. Tinha deixado definitivamente o materialismo e o egoísmo para trás para agora privilegiar os grandes actos de altruísmo e humildade. Francisco tinha mudado bastante nestes últimos tempos, e o exemplo de Jesus Cristo fascinava-o. A pobreza, acompanhada pelo amor, era o caminho para a glória e salvação.
Claro que foi apoiado por alguns que começavam a ver ali alguém que realmente se importava com a vida dos mais carenciados, mas por outro lado, também foi alvo de troça por parte de outros que o achavam louco, por ter abdicado de todas as regalias familiares. Além disso, no Inverno de 1206, enquanto vagueava sozinho pelas matas foi espancado por dois assaltantes que o deixaram em muito mau estado, com muitas feridas e abandonado ao frio implacável. Por sorte, conseguiu reerguer-se e dirigiu-se assim a um mosteiro próximo onde foi tratado.
As suas pregações atraíram os primeiros seguidores - Bernardo de Quintaval foi um dos mais prestigiados que se rendeu às palavras puras de Francisco e não hesitou em vender todos os bens e repartir o dinheiro pelos mais pobres da cidade de Assis. Seguiram pois rigorosamente os ensinamentos de Jesus Cristo no Evangelho, e procederam à sua divulgação. Sem ter uma verdadeira noção da influência de tais pregações, Francisco desconhece ainda que está a lançar as bases duma nova e grandiosa ordem ou irmandade religiosa que se prolongaria até aos dias hoje. O primeiro sacerdote "franciscano" terá sido Silvestre, um homem já de idade avançada que desejou imitar o estilo de vida dos cristãos primitivos. Muitos outros seguiriam este exemplo nos tempos posteriores. A nova irmandade, liderada por Francisco, era composta por um grupo de mendigos voluntários que oravam, pregavam, cantavam e trabalhavam em prol das comunidades, e que muitas vezes recolhiam-se em choupanas, modestos abrigos e alvos fáceis em caso de alterações climáticas adversas. Mas faltava-lhes ainda o consentimento e a bênção do Sumo Pontífice de Roma para que as suas acções fossem totalmente legitimadas aos olhos da Igreja. Poderia não ser uma tarefa muito acessível visto que o modo de vida radical destes novos "monges" colidiria com a comodidade de outros sectores clericais bem mais influentes daquele tempo. Por outro lado, as linhas que separavam naquela era o catolicismo oficial dos movimentos heréticos poderiam ser bastante ténues. Tudo iria depender do contexto específico e da receptividade (ou não) do sumo pontífice da altura.
No ano de 1209, Francisco e o seus companheiros dirigiram-se até Roma, para obter a autorização e o reconhecimento do Sumo Pontífice Inocêncio III. Por coincidência, o bispo de Assis, o qual era grande admirador do novo grupo de pregadores mendigos, também estava simultaneamente em Roma, e como tal, intercedeu junto do Papa para que os recebesse. Também é justo salientar aqui o papel do cardeal-bispo de Sabina - João de São Paulo (ou Giovanni de San Paolo) que usufruindo duma maior proximidade diante do Papa, tentou igualmente convencer este a conceder uma audiência.
Inocêncio ficou admirado pela firmeza e convicção de Francisco de Assis, e autorizou que ele e o seu grupo pregassem nas igrejas ou fora delas. Não conhecemos todos os detalhes que rodearam esta decisão: a tradição relata que o Papa terá alegadamente tido um sonho favorável à aceitação da nova ordem e da sua regra, outros referem que a sinceridade e a modéstia de Francisco e daqueles missionários mendigos terá causado um impacto bastante positivo em Inocêncio. O que é certo é que o seu paradigma religioso tinha sido aprovado pela Santa Sé.
A partir desse momento, o grupo bem como os seus ideais conhecerão uma difusão rápida, com os seus membros a viajarem por vários territórios, pregando a necessidade de se regressar ao Cristianismo Primitivo e aos ideais de humildade e pobreza. Tudo isto fora possível porque São Francisco acreditava totalmente no projecto que encabeçava.
Imagem nº 8 - Outro quadro que retrata aquele acontecimento no Egipto.
Retirada de: http://www.wikiart.org/nl/tag/st-francis-of-assisi, quadro da autoria de Giotto.
Francisco não escondia agora um grande vazio dentro de si. As festas, bebedeiras e guerras já não lhe satisfaziam. Começou a privilegiar a vertente espiritual procurando a mensagem de Deus. Por isso, dedicar-se-à, cada vez mais, às orações e meditações. Percorrerá ainda florestas e campos, lugares absolutamente tranquilos, completamente afastados dos espaços citadinos repletos de algazarra que outrora frequentava, e naqueles meios verdejantes que agora explorava, ele reflectia incessantemente sobre o sentido da vida.
No ano de 1205, dirigiu-se a Roma para visitar a tumba do Apóstolo São Pedro. Aí compadeceu-se daqueles que viviam na miséria, tendo dispensado várias moedas de ouro para aqueles que mais necessitavam. Além disso, trocou o seu rico traje pelas vestes esfarrapadas dum mendigo. Regressava depois a Assis, seguindo uma postura de pobreza e humildade, até então inéditas no jovem Francisco. O seu pai, um comerciante bem sucedido, e até os seus amigos não se conformavam com os últimos comportamentos de Francisco que eram considerados sinistros, tendo em conta aquilo que sempre fora na juventude.
Algures entre 1205 e 1206, Francisco abraça e beija, de forma amigável, um leproso nas campinas de Assis, gesto talvez inspirado na seguinte passagem bíblica "Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis”. Como se sabe, os leprosos eram marginalizados pela sociedade medieval, e não podiam aproximar-se sequer das urbes (devido à possibilidade de contágio; os leprosos tinham de levar um pequeno sino para avisar as outras pessoas de forma a que estas se afastassem), seguindo uma vida isolada e sem direito sequer a um mínimo de atenção por parte das comunidades - é como se fossem "mortos" que ainda vagueavam pelas serras ou florestas até finalmente cair para o lado. Naquela era supersticiosa, muitos acreditavam que a lepra era um castigo divino aplicado àqueles que haviam pecado com gravidade, o que reforçava mais a discriminação social. Por isso, a atitude de Francisco não deixava de ser inovadora e corajosa, acudindo àqueles que eram constantemente ignorados e até desprezados pela sociedade do seu tempo.
Entretanto, e sem autorização do seu pai mas talvez motivado por uma visão (surgida a partir do crucifixo de São Damião, do qual alegaria ter ouvido uma voz de Jesus Cristo que o motivava a restaurar a sua igreja), Francisco investe o dinheiro da casa comercial de seu pai na reabilitação da Capela de São Damião (em Assis) que estava num estado bastante degradante. Pietro Bernardone, seu pai, não lhe perdoara tal atrevimento, pois o dinheiro servia para o sustento da família, isto para além de ser o máximo responsável pelos negócios. Francisco acabaria por ser encarcerado num cubículo por debaixo da escada da própria casa paterna, sendo depois libertado pela sua mãe, católica fervorosa e sobretudo movida de compaixão, que o deixou seguir o seu destino.
Todavia, o seu pai exigia explicações e decidiu recorrer ao bispo de Assis, e o julgamento foi mesmo realizado na praça comunal daquela localidade. Pietro exigiu que o filho lhe devolvesse tudo o que havia perdido com o desfalque anterior. Todavia, Francisco citou a seguinte afirmação das Sagradas Escrituras "Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim", e logo de seguida libertou-se das vestes e do dinheiro que caíram aos pés de seu pai, e reiterou que só prestaria contas a partir de agora ao Pai Celeste. O bispo acolheu Francisco, envolvendo-o com seu manto, de forma a cobrir a nudez. Com cerca de 25 anos, tinha acabado de tomar uma decisão irreversível que o acompanharia para o resto da vida. Renunciara aos bens materiais, e em simultâneo, iniciaria oficialmente um caminho de espiritualidade.
Dentro deste contexto, afastou-se da família e dos amigos, e entregou-se amavelmente ao serviço dos leprosos e participou na reconstrução de Capelas e Oratórios. Tinha deixado definitivamente o materialismo e o egoísmo para trás para agora privilegiar os grandes actos de altruísmo e humildade. Francisco tinha mudado bastante nestes últimos tempos, e o exemplo de Jesus Cristo fascinava-o. A pobreza, acompanhada pelo amor, era o caminho para a glória e salvação.
Claro que foi apoiado por alguns que começavam a ver ali alguém que realmente se importava com a vida dos mais carenciados, mas por outro lado, também foi alvo de troça por parte de outros que o achavam louco, por ter abdicado de todas as regalias familiares. Além disso, no Inverno de 1206, enquanto vagueava sozinho pelas matas foi espancado por dois assaltantes que o deixaram em muito mau estado, com muitas feridas e abandonado ao frio implacável. Por sorte, conseguiu reerguer-se e dirigiu-se assim a um mosteiro próximo onde foi tratado.
As suas pregações atraíram os primeiros seguidores - Bernardo de Quintaval foi um dos mais prestigiados que se rendeu às palavras puras de Francisco e não hesitou em vender todos os bens e repartir o dinheiro pelos mais pobres da cidade de Assis. Seguiram pois rigorosamente os ensinamentos de Jesus Cristo no Evangelho, e procederam à sua divulgação. Sem ter uma verdadeira noção da influência de tais pregações, Francisco desconhece ainda que está a lançar as bases duma nova e grandiosa ordem ou irmandade religiosa que se prolongaria até aos dias hoje. O primeiro sacerdote "franciscano" terá sido Silvestre, um homem já de idade avançada que desejou imitar o estilo de vida dos cristãos primitivos. Muitos outros seguiriam este exemplo nos tempos posteriores. A nova irmandade, liderada por Francisco, era composta por um grupo de mendigos voluntários que oravam, pregavam, cantavam e trabalhavam em prol das comunidades, e que muitas vezes recolhiam-se em choupanas, modestos abrigos e alvos fáceis em caso de alterações climáticas adversas. Mas faltava-lhes ainda o consentimento e a bênção do Sumo Pontífice de Roma para que as suas acções fossem totalmente legitimadas aos olhos da Igreja. Poderia não ser uma tarefa muito acessível visto que o modo de vida radical destes novos "monges" colidiria com a comodidade de outros sectores clericais bem mais influentes daquele tempo. Por outro lado, as linhas que separavam naquela era o catolicismo oficial dos movimentos heréticos poderiam ser bastante ténues. Tudo iria depender do contexto específico e da receptividade (ou não) do sumo pontífice da altura.
No ano de 1209, Francisco e o seus companheiros dirigiram-se até Roma, para obter a autorização e o reconhecimento do Sumo Pontífice Inocêncio III. Por coincidência, o bispo de Assis, o qual era grande admirador do novo grupo de pregadores mendigos, também estava simultaneamente em Roma, e como tal, intercedeu junto do Papa para que os recebesse. Também é justo salientar aqui o papel do cardeal-bispo de Sabina - João de São Paulo (ou Giovanni de San Paolo) que usufruindo duma maior proximidade diante do Papa, tentou igualmente convencer este a conceder uma audiência.
Inocêncio ficou admirado pela firmeza e convicção de Francisco de Assis, e autorizou que ele e o seu grupo pregassem nas igrejas ou fora delas. Não conhecemos todos os detalhes que rodearam esta decisão: a tradição relata que o Papa terá alegadamente tido um sonho favorável à aceitação da nova ordem e da sua regra, outros referem que a sinceridade e a modéstia de Francisco e daqueles missionários mendigos terá causado um impacto bastante positivo em Inocêncio. O que é certo é que o seu paradigma religioso tinha sido aprovado pela Santa Sé.
A partir desse momento, o grupo bem como os seus ideais conhecerão uma difusão rápida, com os seus membros a viajarem por vários territórios, pregando a necessidade de se regressar ao Cristianismo Primitivo e aos ideais de humildade e pobreza. Tudo isto fora possível porque São Francisco acreditava totalmente no projecto que encabeçava.
Imagem nº 3 - São Francisco de Assis defendia o regresso ao Cristianismo Primitivo, o qual assentava na simplicidade, solidariedade e total altruísmo.
Retirada de: http://www.cidadaopg.sp.gov.br/escolas/sao_francisco
Imagem nº 4 - São Francisco de Assis e seus seguidores. O Santo admirava ainda a Natureza bem como os animais que a compunham, pois todos faziam parte da Criação Divina.
Retirada de: http://www.guia.heu.nom.br/oracao_s_francisco.htm
Imagem nº 5 - São Francisco beija um leproso. Dedicou-se a sarar muitas das feridas de quem padecia desta doença que era motivo suficiente de discriminação social na Idade Média.
Imagem nº 6 - De acordo com a tradição, o Papa Inocêncio III indeciso sobre a pureza ou posição herética do grupo, terá tido um sonho onde viu Francisco a erguer e a segurar a Catedral de Roma. Numa era supersticiosa, acometida por visões aos quais também Francisco não foi alheio, o factor transcendental era levado muito a sério. Por isso, este sonho ou visão, se efectivamente aconteceu como relatam algumas fontes, poderá também ter contribuído para a aceitação da nova ordem por parte do Sumo Pontífice.
Quadro da autoria de Giotto (1266-1337)
A sua digressão pelo Egipto e Terras do Oriente
Oficializada e reconhecida a irmandade, era necessário divulgá-la pela Cristandade e até por terras mais longínquas. Em breve, os novos franciscanos já não se cingirão apenas às cidades de Assis ou de Perúgia, pois serão empreendidas novas missões dirigidas a outras regiões. Em 1217, dá-se, por exemplo, a primeira viagem além-Alpes com o intuito de procurar novos seguidores que estavam dispostos a curvar-se sob a doutrina pura do Cristianismo Primitivo. Os primeiros capítulos gerais da nova ordem começam a realizar-se já nesta altura, imprimindo assim alguma organização ao movimento cristão nascente.
Nos anos subsequentes, os membros da nova Ordem tentaram atingir vários lugares para além do solo italiano, nomeadamente Espanha, Marrocos e até a Síria, embora estas 3 últimas campanhas de missionação não tenham decorrido duma forma muito produtiva.
Francisco desejava partir pessoalmente para o Médio Oriente, passar pela Palestina e visitar os lugares sagrados da Terra Santa que haviam sido percorridos por Jesus Cristo. Todavia, e antes de atingir esse objectivo, desembarca no Egipto, palco da Quinta Cruzada (1217-1221), onde as forças cristãs lideradas por Paio Galvão (cardeal-bispo de Albano) e João de Brienne (rei de Jerusalém) procuram forçar a queda da cidade portuária de Damieta. A brutalidade da guerra terá causado um cenário horripilante, tanto no acampamento cristão como na cidade egípcia, o que seguramente terá marcado negativamente São Francisco que não estava integrado nas hostes. O pregador considerava que a conversão à fé católica não deveria ser feita com recurso à espada, mas pelo caminho do amor e da palavra. Dentro deste contexto, ele e um outro seguidor seu decidem sair do acampamento cristão, mesmo ao serem desaconselhados pelos responsáveis cruzados que falavam em missão suicida e ingénua, e rumam, de forma desprotegida, à presença do sultão do Egipto - al-Kamil (que acabava de suceder ao recém-falecido al-Adil). Pelo caminho, são interceptados por muçulmanos que os levam à presença do líder egípcio, todavia quando aqueles descobrem os verdadeiros intentos de Francisco (que passavam por tentar a conversão de al-Kamil ao Cristianismo) começam a troçar dele e a maltratá-lo, embora o santo tivesse alcançado o seu destino.
Diante do sultão que, acampado nas proximidades de Damieta, intentava defender a sua terra da recente invasão dos cruzados, Francisco de Assis não revela receio nem medo do desafio imprevisível que terá de enfrentar, e por isso, pregará a religião cristã na tenda real egípcia. Logicamente, os mulás, oficiais ou conselheiros religiosos, que aí estavam presentes, começaram imediatamente a pedir a cabeça do missionário, pois estavam indignados pelas suas afirmações teológicas. Mas al-Kamil não atendeu aos protestos veementes, pois demonstrava espanto pela coragem, pureza, humildade e firmeza evidenciadas por Francisco. Sabia que ao executá-lo, estaria a privar o Mundo dum grande valor humano, e além de tudo, aquele pregador, com trapos esfarrapados e rotos, era absolutamente pacífico e inofensivo.
O que se terá passado depois é evidentemente discutível, do ponto de vista científico. De acordo com algumas fontes (embora posteriores à data dos acontecimentos), Francisco esteve mesmo disposto a enfrentar um julgamento pelo fogo (ordália), demonstrando confiança de que ultrapassaria este obstáculo sem ser queimado pelas chamas, o que asseguraria a pureza do seu espírito e da crença cristã. Terá mesmo desafiado os mulás a realizarem também esta prova de risco que assim determinaria qual a religião acertada e de que lado estaria então a razão. Aqueles oficiais muçulmanos recuaram naquele momento, enquanto Francisco insistia em enfrentar o dito julgamento pelo fogo. Todavia, o sultão dispensou-o de tal desafio dramático, relembrando a todos os que estavam presentes que era contra a lei do Corão efectuar tal prática. Mas al-Kamil, que apreciava discussões filosóficas e culturais, tinha ficado agradavelmente surpreendido com a argumentação e a persistência de Francisco. É claro que o líder muçulmano não se converteu ao Cristianismo, fracassando assim a principal intenção do missionário naquele encontro, mas autorizou Francisco a pregar a sua religião nos lugares santos da Palestina (que estavam sob a influência do sultanato do Egipto). Outros manuscritos tardios acrescentam ainda que al-Kamil teria alegadamente solicitado, em privado, a Francisco para que este rezasse à sua maneira pela salvação da sua alma. Contudo, ressalvamos a ideia de que estas duas supostas situações (a prova de fogo de Francisco e o pedido final de al-Kamil) ainda não foram totalmente comprovadas, do ponto de vista histórico.
Certo é que logo após este encontro com o sultão, Francisco regressou, com segurança, às linhas cristãs e depois terá deixado o solo egípcio, embarcando rumo à Terra Santa. Aí terá visitado os lugares sagrados, mas desconhecem-se os resultados da sua pregação nessa região. Sabemos apenas que terá permanecido durante pouco tempo, pois chegaram-lhe entretanto mensagens que veiculavam diferendos internos em Itália no seio da ordem que acabara de criar. Ainda em 1220, Francisco faria então a sua viagem de regresso.
Francisco desejava partir pessoalmente para o Médio Oriente, passar pela Palestina e visitar os lugares sagrados da Terra Santa que haviam sido percorridos por Jesus Cristo. Todavia, e antes de atingir esse objectivo, desembarca no Egipto, palco da Quinta Cruzada (1217-1221), onde as forças cristãs lideradas por Paio Galvão (cardeal-bispo de Albano) e João de Brienne (rei de Jerusalém) procuram forçar a queda da cidade portuária de Damieta. A brutalidade da guerra terá causado um cenário horripilante, tanto no acampamento cristão como na cidade egípcia, o que seguramente terá marcado negativamente São Francisco que não estava integrado nas hostes. O pregador considerava que a conversão à fé católica não deveria ser feita com recurso à espada, mas pelo caminho do amor e da palavra. Dentro deste contexto, ele e um outro seguidor seu decidem sair do acampamento cristão, mesmo ao serem desaconselhados pelos responsáveis cruzados que falavam em missão suicida e ingénua, e rumam, de forma desprotegida, à presença do sultão do Egipto - al-Kamil (que acabava de suceder ao recém-falecido al-Adil). Pelo caminho, são interceptados por muçulmanos que os levam à presença do líder egípcio, todavia quando aqueles descobrem os verdadeiros intentos de Francisco (que passavam por tentar a conversão de al-Kamil ao Cristianismo) começam a troçar dele e a maltratá-lo, embora o santo tivesse alcançado o seu destino.
Diante do sultão que, acampado nas proximidades de Damieta, intentava defender a sua terra da recente invasão dos cruzados, Francisco de Assis não revela receio nem medo do desafio imprevisível que terá de enfrentar, e por isso, pregará a religião cristã na tenda real egípcia. Logicamente, os mulás, oficiais ou conselheiros religiosos, que aí estavam presentes, começaram imediatamente a pedir a cabeça do missionário, pois estavam indignados pelas suas afirmações teológicas. Mas al-Kamil não atendeu aos protestos veementes, pois demonstrava espanto pela coragem, pureza, humildade e firmeza evidenciadas por Francisco. Sabia que ao executá-lo, estaria a privar o Mundo dum grande valor humano, e além de tudo, aquele pregador, com trapos esfarrapados e rotos, era absolutamente pacífico e inofensivo.
O que se terá passado depois é evidentemente discutível, do ponto de vista científico. De acordo com algumas fontes (embora posteriores à data dos acontecimentos), Francisco esteve mesmo disposto a enfrentar um julgamento pelo fogo (ordália), demonstrando confiança de que ultrapassaria este obstáculo sem ser queimado pelas chamas, o que asseguraria a pureza do seu espírito e da crença cristã. Terá mesmo desafiado os mulás a realizarem também esta prova de risco que assim determinaria qual a religião acertada e de que lado estaria então a razão. Aqueles oficiais muçulmanos recuaram naquele momento, enquanto Francisco insistia em enfrentar o dito julgamento pelo fogo. Todavia, o sultão dispensou-o de tal desafio dramático, relembrando a todos os que estavam presentes que era contra a lei do Corão efectuar tal prática. Mas al-Kamil, que apreciava discussões filosóficas e culturais, tinha ficado agradavelmente surpreendido com a argumentação e a persistência de Francisco. É claro que o líder muçulmano não se converteu ao Cristianismo, fracassando assim a principal intenção do missionário naquele encontro, mas autorizou Francisco a pregar a sua religião nos lugares santos da Palestina (que estavam sob a influência do sultanato do Egipto). Outros manuscritos tardios acrescentam ainda que al-Kamil teria alegadamente solicitado, em privado, a Francisco para que este rezasse à sua maneira pela salvação da sua alma. Contudo, ressalvamos a ideia de que estas duas supostas situações (a prova de fogo de Francisco e o pedido final de al-Kamil) ainda não foram totalmente comprovadas, do ponto de vista histórico.
Certo é que logo após este encontro com o sultão, Francisco regressou, com segurança, às linhas cristãs e depois terá deixado o solo egípcio, embarcando rumo à Terra Santa. Aí terá visitado os lugares sagrados, mas desconhecem-se os resultados da sua pregação nessa região. Sabemos apenas que terá permanecido durante pouco tempo, pois chegaram-lhe entretanto mensagens que veiculavam diferendos internos em Itália no seio da ordem que acabara de criar. Ainda em 1220, Francisco faria então a sua viagem de regresso.
Imagem nº 7 - São Francisco (à direita) e a suposta Prova de Fogo, diante do sultão e dos mulás.
Retirada de: http://www.wikiart.org/nl/tag/st-francis-of-assisi, quadro da autoria de Giotto
Retirada de: http://www.wikiart.org/nl/tag/st-francis-of-assisi, quadro da autoria de Giotto
Imagem nº 8 - Outro quadro que retrata aquele acontecimento no Egipto.
Retirada de: http://www.wikiart.org/nl/tag/st-francis-of-assisi, quadro da autoria de Giotto.
A morte e o seu legado para posterioridade
Aquando do seu regresso a Itália, deparou-se com uma crise de identidade no grupo que havia fundado. Alguns dos irmãos aderentes começaram a cair na tentação da luxúria, da não-observação da castidade, da compra de livros (objectos de luxo para aquela época), o que terá desagradado a Francisco que desejava uma entrega totalmente espiritual, renegando os bens materiais. Mas as divisões internas não eram fáceis de resolver. O rigor exigido pelo mentor não agradava a muitos dos irmãos franciscanos. A muito custo e após várias conversações, Francisco teve de aceitar a reforma da Ordem que, embora respeitando o ideal de pobreza, distanciava-se agora do radicalismo inicial.
Entretanto, Francisco adoeceria, com alguma gravidade, a partir de 1224. As melhorias são praticamente nulas, e os tempos que iam passando comprometiam-se a esgotar ainda mais as suas débeis energias. O seu sofrimento prolongou-se até 3 de Outubro de 1226, data do seu falecimento em Porciúncula (Perúgia). Foi sepultado na Igreja de São Jorge, em Assis. Em 16 de Julho de 1228, seria canonizado pela Santa Sé.
Após a sua morte, o reconhecimento da sua imensa obra pastoral foi inegável, o que contribuiu para que fosse universalmente admirado. Francisco tinha abdicado duma vida faustosa que usufruíra na sua juventude para se dedicar ao próximo com humildade e simplicidade. Ficou conhecido pela compaixão que nutria pelos mais pobres, leprosos e até pelos animais que muitas vezes encontrara no seu longo e árduo caminho de peregrino. Francisco aprendeu a amar a paz, a harmonia, a justiça e o altruísmo. Defendia que a mensagem de Jesus deveria ser seguida nos moldes originais, repudiando qualquer relaxamento ou extravagância no modelo de religiosidade que pretendia aplicar.
A sua áurea motivou o alastramento da ordem por todos os cantos do mundo, desenvolvendo mesmo, por exemplo, um papel determinante na conversão dos gentios da América aquando das descobertas da Era Moderna. A ordem franciscana, que ainda hoje perdura, contou com muitos santos que tentaram seguir as pisadas do seu mentor: Santo António de Lisboa, Frei Galvão, Santa Clara de Assis, os cinco frades mártires de Marrocos (perecidos numa missão em 1220), São Francisco Solano, entre outros.
São Francisco de Assis deixou-nos há quase 800 anos, mas a sua obra continua hoje bem viva, tendo inspirado inclusive o actual papa argentino - Jorge Bergoglio que adoptou a sua designação nominal e que tenta impor as ideias humildes daquele santo na liderança da Igreja.
São Francisco de Assis deixou-nos há quase 800 anos, mas a sua obra continua hoje bem viva, tendo inspirado inclusive o actual papa argentino - Jorge Bergoglio que adoptou a sua designação nominal e que tenta impor as ideias humildes daquele santo na liderança da Igreja.
Imagem nº 9 - São Francisco de Assis a meditar.
Quadro da autoria de Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682).
Imagem nº 10 - Os últimos momentos de vida de São Francisco de Assis.
Retirada de: http://nobility.org/2013/10/03/st-francis-of-assisi/, (quadro da escola flamenga - séc. XVI).
Imagem nº 11 - Painel da morte do santo na Igreja de São Francisco em Évora.
Retirada de: http://nobility.org/2013/10/03/st-francis-of-assisi/
Referências Consultadas:
- CAMPELO, Alexandre - Francisco, o grande yogi de Assis. Editora Urbana, 2011.
- THOMPSON, Augustine - São Francisco de Assis: o homem por detrás da lenda. Alfragide: Casa das Letras, 2012.
- http://franciscanos.org.br/?page_id=1089#sthash.IS70aBdR.dpuf, (Consultado em: 19-09-2014).
- http://franciscodeassis.no.sapo.pt/vida.htm, (Consultado em: 19-09-2014).
- http://www.cruzterrasanta.com.br/historia/sao-francisco-de-assis, (Consultado em: 19-09-2014).
- http://www.infoescola.com/biografias/sao-francisco-de-assis/, (Consultado em: 19-09-2014).
- http://www.franciscanosconventuais.com/quem-somos/120-sao-francisco-de-assis-o-nosso-fundador, (Consultado em: 19-09-2014).
- http://regisaeculorumimmortali.wordpress.com/2013/09/26/sao-francisco-e-as-cruzadas/, (Consultado em: 19-09-2014).
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