Sigurdo I, o rei da Noruega (1103-1130)
Sigurdo Magnusson teria nascido por volta do ano de 1090, em sítio incerto na Noruega. Apesar de ser filho ilegítimo do rei Magnus III, herdou a coroa em 1103 juntamente com os seus irmãos Eystein e Olaf Magnusson. Na altura, contava com cerca de 13 anos de idade.
Até 1123, Sigurdo partilhou a governação com Eystein, este falecido naquele ano. Já o seu irmão mais novo Olaf Magnusson praticamente não chegou a reinar, visto que ele morreria ainda bastante novo no ano de 1115.
Durante o seu reinado (1103-1130), Sigurdo promoveu a construção de catedrais e mosteiros, autorizou a instauração dos dízimos, os quais revelaram ser uma fonte de rendimento importante para a Igreja Norueguesa. Não há dúvidas de que este soberano tomou medidas que fortaleceram o clero da sua nação. É provável que este rei norueguês tivesse seguido ainda a fé católica com sinceridade e convicção. Aliás, nos últimos dois séculos, os vikings haviam abandonado os seus antigos deuses pagãos em favor do monoteísmo cristão.
A Noruega desta era compreendia vários territórios, nomeadamente a Suécia, a Gronelândia e a Islândia. Para além disso, procuraram, nalguns momentos, manter uma influência determinante sobre a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda.
Em 1098, quando nem sequer tinha 10 anos contabilizados, Sigurdo participa na expedição bem-sucedida de seu pai Magnus III que reivindicava o controlo das ilhas de Orkney e Mann (localizadas maioritariamente na zona norte da Britânia). Aí testemunhou, pela primeira vez, as incidências da guerra. Nesse momento, e antes de ainda ser coroado como soberano da Noruega, Sigurdo tornou-se então primeiramente rei das ilhas de Mann e conde de Orkney. Houve igualmente um casamento arranjado entre esta ainda criança norueguesa e a filha do rei da Irlanda - Muirchertach Ua Briain, o qual não foi concretizado pela morte repentina do rei Magnus (este fora alvo duma emboscada quando liderada uma nova campanha). Sigurdo abandonou o sonho irlandês e retornou à sua nação para iniciar um governo conjunto com seus dois irmãos.
Apesar do arquipélago das Hébridas e da ilha de Mann terem entretanto proclamado a independência, o reino da Noruega continuava a ter um número elevado de ilhas sob o seu domínio, para além do seu próprio território extenso. Não faltavam pois recursos económicos e humanos que garantissem um período de alguma estabilidade, cenário que favorecia assim a possibilidade de Sigurdo concretizar o seu voto de cruzada, o que se traduziria numa aventura incerta em terras longínquas.
A Noruega desta era compreendia vários territórios, nomeadamente a Suécia, a Gronelândia e a Islândia. Para além disso, procuraram, nalguns momentos, manter uma influência determinante sobre a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda.
Em 1098, quando nem sequer tinha 10 anos contabilizados, Sigurdo participa na expedição bem-sucedida de seu pai Magnus III que reivindicava o controlo das ilhas de Orkney e Mann (localizadas maioritariamente na zona norte da Britânia). Aí testemunhou, pela primeira vez, as incidências da guerra. Nesse momento, e antes de ainda ser coroado como soberano da Noruega, Sigurdo tornou-se então primeiramente rei das ilhas de Mann e conde de Orkney. Houve igualmente um casamento arranjado entre esta ainda criança norueguesa e a filha do rei da Irlanda - Muirchertach Ua Briain, o qual não foi concretizado pela morte repentina do rei Magnus (este fora alvo duma emboscada quando liderada uma nova campanha). Sigurdo abandonou o sonho irlandês e retornou à sua nação para iniciar um governo conjunto com seus dois irmãos.
Apesar do arquipélago das Hébridas e da ilha de Mann terem entretanto proclamado a independência, o reino da Noruega continuava a ter um número elevado de ilhas sob o seu domínio, para além do seu próprio território extenso. Não faltavam pois recursos económicos e humanos que garantissem um período de alguma estabilidade, cenário que favorecia assim a possibilidade de Sigurdo concretizar o seu voto de cruzada, o que se traduziria numa aventura incerta em terras longínquas.
Mapa nº 1 - As ilhas de Mann, Orkney e o Arquipélago das Hébridas foram disputadas pelos noruegueses. Às ordens de seu pai, Sigurdo realizou a sua primeira campanha militar e foi recompensado com títulos, após os êxitos verificados, embora estes tenham sido apenas temporários.
Retirado do Wikipédia/Wikimedia (Sémhur, Map of British Isles)
O Voto de Cruzada de Sigurdo (1107-1113)
Sigurdo seria o primeiro rei europeu a partir em cruzada rumo ao Oriente. Para além da aparente acalmia que vigorava na Noruega, também é imperioso relembrar que o trono era igualmente repartido harmoniosamente pelos seus dois irmãos (principalmente Eystein, embora o jovem Olaf ainda tivesse vivido até 1115), e por isso, Sigurdo sabia que tinha chegado o momento certo para empreender a sua aventura sem que tal comprometesse o futuro do seu povo.
No ano de 1107, o rei norueguês decide então empreender a sua longa jornada rumo à Terra Santa. A sua frota era composta por 60 embarcações, e talvez fosse tripulada por 5 mil soldados. Pelo caminho, fará diversas paragens: Inglaterra, França, Península Ibérica, Sicília, e por fim, a Palestina.
Durante este trajecto, destacamos os raides que empreendeu contra os mouros da Península Ibérica, embora não seja nada fácil precisar como se revestiu aqui a sua acção. Julga-se que terá apoiado o reino da Galiza nalgumas incursões (suspeita-se que dirigiu ataques furtivos contra Sintra, Lisboa, Alcácer do Sal e outros lugares do litoral hispânico que permitiram assim à tripulação obter alguns despojos generosos; o reino de Portugal ainda não existia sequer, pois só será oficializado em 1143). Durante a sua estadia no Noroeste Peninsular (Inverno de 1108), é possível que Sigurdo tenha testemunhado o fervor religioso em torno de Santiago de Compostela, talvez até tivesse visitado o túmulo que conteria os alegados restos mortais do apóstolo (veja-se artigo que publicamos anteriormente sobre Prisciliano). Posteriormente, e já depois de atravessar o Estreito de Gibraltar, atacou ainda com violência as ilhas Baleares, um dos focos da pirataria muçulmana o que tornava este arquipélago bastante temido pelos cristãos da Península Ibérica.
Ao fim de quase 3 anos (intercalados pela cansativa viagem marítima e por paragens algo duradouras), o rei norueguês chegava finalmente ao Levante, tendo aportado com a sua armada em Acre no Verão de 1110. Foi imediatamente bem recebido por Balduíno I, rei de Jerusalém.
Efectivamente, a Primeira Cruzada (1096-1102) havia sido um grande sucesso com os cruzados a recuperarem vários territórios aos turcos seljúcidas e aos fatímidas: Niceia (devolvida ao Império Bizantino), Edessa, Antioquia e Jerusalém (estes três últimos tornaram-se estados cruzados, aos quais se somou ainda o condado de Tripoli, conquistado gradualmente entre 1102 e 1109). Balduíno era irmão dum dos lendários líderes da Primeira Cruzada e posteriormente Protector do Santo Sepulcro - Godofredo de Bulhão. Com o falecimento deste no ano de 1100, o trono ficaria vacante. Balduíno, na altura conde de Edessa, seria então escolhido como seu sucessor, reinando na Terra Santa até 1118.
A conquista de Jerusalém a 15 de Julho de 1099 por Godofredo de Bulhão representou um marco decisivo para a instauração duma nova era no Levante que se prolongaria por cerca de dois séculos.
Quando ascende ao trono, Balduíno I, como novo soberano de Jerusalém, demonstra a preocupação pelo facto de muitos dos portos litorais ainda estarem na posse dos fatímidas do Egipto, o que claramente era encarado como uma situação preocupante. As suas primeiras vitórias permitirão a captura de Cesareia, Acre e Beirute, todavia a sua missão ainda não estava concluída.
É então no ano de 1110 que tem conhecimento da chegada do soberano nórdico, o qual acolherá na maior das comodidades. Ambos delinearão um ataque à cidade costeira de Sidon. Este acontecimento não é ignorado pelo cronista muçulmano al-Qalânisi que concedeu o seu próprio testemunho:
"Naquele ano [1110], se anunciou que um rei franco [o rei da Noruega - Sigurdo] tinha chegado por mar com mais de sessenta navios carregados de combatentes, para cumprir sua peregrinação e conduzir a guerra nos países do Islão. Como ele se dirigia rumo a Jerusalém, Balduíno veio ao seu encontro, entrou em contacto com ele, e eles decidiram em conjunto atacar os países muçulmanos. Quando eles voltaram de Jerusalém, eles iniciaram o cerco da praça costeira de Sidon [os três rabi' II 504 - 19 de Outubro de 1110] e bloquearam-na por terra e por mar. A frota egípcia estava ancorada em frente da cidade de Tiro, mas não pôde auxiliar Sidon. Os francos construíram uma torre e a utilizaram quando eles se apressavam sobre a cidade. Ela estava coberta de sarmentos de videira, tapetes e peles de carne bovina fresca para assim a proteger contra as pedras e o fogo grego. Depois de estar assegurada a protecção, eles fizeram-na avançar durante vários dias com a ajuda das rodinhas sobre as quais eles a haviam montado. Quando veio o dia da batalha, aproximou-se a torre da muralha, os francos através dela tiraram proveito para o seu ataque, eles tinham colocado lá material de guerra, bem como água e vinagre para se protegerem contra o risco de incêndio.
Quando o povo de Sidon havia constatado estes preparativos, a sua coragem vacilou porque temiam o destino de Beirute. Eles enviaram então aos francos o seu cádi e uma delegação de anciãos da cidade para pedir a Balduíno um salvo-conduto. Ele acedeu ao seu pedido e deu-lhes a garantia, a eles e aos seus soldados, pela sua vida e seus bens, e lhes prometeu deixar partir aqueles que iriam deixar Sidon por Damasco. Eles lhe pediram a sua palavra e depositaram a sua confiança nele. O governador, o controlador das finanças, todas as tropas regulares e auxiliares, e uma grande parte dos habitantes deixaram a cidade e se dirigiram a Damasco (vinte jumada I de 504 - 4 de Dezembro de 1110). O cerca tinha durado 47 dias.
Balduíno resolveu questões pendentes, deixa uma guarnição em Sidon e retorna a Jerusalém. Mas ele voltou a Sidon pouco tempo depois e exigiu daqueles que tinham permanecido um imposto superior a vinte mil dinares, os reduziram assim à miséria; ele levou tudo até ao último centavo e extorquiu todo o dinheiro possível" (Captura de Sidon por Ibn al-Qalânisi)
Em jeito de análise, o receio duma entrada violenta na cidade que se traduzisse num massacre impiedoso (cenário que aconteceu por várias vezes, no âmbito da Primeira Cruzada) terá causado bastante pânico aos líderes e habitantes muçulmanos de Sidon. Para além disso, o avanço gradual da torre móvel que rumava em direcção às muralhas, terá desmoralizado a guarnição daquela praça muçulmana que, desprovida do auxílio exterior, começava a temer um assalto cada vez mais inevitável. Todavia, esse não terá sido o único medo dos responsáveis da urbe, pois ao vislumbrarem a presença de forças nórdicas, tradicionalmente destemidas, violentas e com sede de enveredar pelo saque de valiosos bens e tesouros, sabiam que se estas furassem as estruturas defensivas, causariam o terror e a mortandade. Para evitar este cenário mais fatalista ou trágico, acordou-se então uma rendição pacífica para evitar uma entrada em fúria dos cruzados. Balduíno I, embora tenha voltado mais tarde a esta cidade para exigir impostos pesados (o que era normal porque o ainda "jovem" reino cristão de Jerusalém tinha falta de mão-de-obra e os seus cofres estavam praticamente vazios), cumpriu a sua palavra e poupou a vida aos cidadãos de Sídon, mesmo àqueles que iriam abandoná-la, trocando a sua estadia pela de Damasco.
Balduíno conquistava mais um porto importante do litoral, mas este feito é, em muito, devido ao jovem rei Sigurdo (em 1110, teria praticamente 20 anos de idade) e às suas forças que atormentaram as defesas de Sidon. Para garantir o avanço progressivo da torre móvel, o rei de Jerusalém necessitou da bravura destes cavaleiros e soldados provenientes da Escandinávia de forma a desgastar ao máximo a guarnição da cidade sitiada e mantê-la assim ocupada enquanto a torre móvel, devidamente coberta por substâncias anti-incendiárias, avançava ao longo de dias seguramente duros e penosos. O cercou durou cerca de 1 mês e meio, culminando com a rendição da cidade.
Como forma de agradecimento, Balduíno terá talvez entregado uma pequena porção da Vera Cruz (a célebre cruz onde se acreditava que Jesus Cristo havia sido crucificado) ao rei norueguês para que este incrementasse a fé cristã no seu reino. Durante esta estadia no Oriente, Sigurdo teria sido baptizado no rio Jordão e visitaria ainda os lugares sagrados de Jerusalém.
A sua missão estava concluída e era altura de regressar à sua nação que se encontrava agora tão distante, sem que Sigurdo tivesse sequer conhecimento do que lá tinha acontecido nos últimos anos. No retorno, perderá mais 3 anos até chegar à Noruega, só que desta feita terá preferido regressar essencialmente por terra. Durante o trajecto, parou em Constantinopla, onde foi bem recebido pelo imperador Aleixo I. Sigurdo ofereceu-lhe todos os barcos que detinha em troca de cavalos para empreender então o retorno por via terrestre. Alguns cruzados noruegueses, rendidos à magnificência da capital bizantina, decidiram ficar na cidade e servir os interesses do imperador. Posteriormente, Sigurdo teria igualmente passado pela corte de Lotário, duque da Saxónia e futuro imperador do Sacro-Império Romano Germânico.
O rei norueguês tinha conseguido alcançar respeito e prestígio na Cristandade. Fora o primeiro rei europeu a arriscar a sua vida e a partir em cruzada.
Sigurdo regressaria ao seu país sem ter sofrido qualquer derrota, militar ou diplomática, na sua longa aventura. As forças que o serviram eram temidas, pois eram conhecidas pela sua bravura e brutalidade.
No ano de 1107, o rei norueguês decide então empreender a sua longa jornada rumo à Terra Santa. A sua frota era composta por 60 embarcações, e talvez fosse tripulada por 5 mil soldados. Pelo caminho, fará diversas paragens: Inglaterra, França, Península Ibérica, Sicília, e por fim, a Palestina.
Durante este trajecto, destacamos os raides que empreendeu contra os mouros da Península Ibérica, embora não seja nada fácil precisar como se revestiu aqui a sua acção. Julga-se que terá apoiado o reino da Galiza nalgumas incursões (suspeita-se que dirigiu ataques furtivos contra Sintra, Lisboa, Alcácer do Sal e outros lugares do litoral hispânico que permitiram assim à tripulação obter alguns despojos generosos; o reino de Portugal ainda não existia sequer, pois só será oficializado em 1143). Durante a sua estadia no Noroeste Peninsular (Inverno de 1108), é possível que Sigurdo tenha testemunhado o fervor religioso em torno de Santiago de Compostela, talvez até tivesse visitado o túmulo que conteria os alegados restos mortais do apóstolo (veja-se artigo que publicamos anteriormente sobre Prisciliano). Posteriormente, e já depois de atravessar o Estreito de Gibraltar, atacou ainda com violência as ilhas Baleares, um dos focos da pirataria muçulmana o que tornava este arquipélago bastante temido pelos cristãos da Península Ibérica.
Ao fim de quase 3 anos (intercalados pela cansativa viagem marítima e por paragens algo duradouras), o rei norueguês chegava finalmente ao Levante, tendo aportado com a sua armada em Acre no Verão de 1110. Foi imediatamente bem recebido por Balduíno I, rei de Jerusalém.
Efectivamente, a Primeira Cruzada (1096-1102) havia sido um grande sucesso com os cruzados a recuperarem vários territórios aos turcos seljúcidas e aos fatímidas: Niceia (devolvida ao Império Bizantino), Edessa, Antioquia e Jerusalém (estes três últimos tornaram-se estados cruzados, aos quais se somou ainda o condado de Tripoli, conquistado gradualmente entre 1102 e 1109). Balduíno era irmão dum dos lendários líderes da Primeira Cruzada e posteriormente Protector do Santo Sepulcro - Godofredo de Bulhão. Com o falecimento deste no ano de 1100, o trono ficaria vacante. Balduíno, na altura conde de Edessa, seria então escolhido como seu sucessor, reinando na Terra Santa até 1118.
A conquista de Jerusalém a 15 de Julho de 1099 por Godofredo de Bulhão representou um marco decisivo para a instauração duma nova era no Levante que se prolongaria por cerca de dois séculos.
Quando ascende ao trono, Balduíno I, como novo soberano de Jerusalém, demonstra a preocupação pelo facto de muitos dos portos litorais ainda estarem na posse dos fatímidas do Egipto, o que claramente era encarado como uma situação preocupante. As suas primeiras vitórias permitirão a captura de Cesareia, Acre e Beirute, todavia a sua missão ainda não estava concluída.
É então no ano de 1110 que tem conhecimento da chegada do soberano nórdico, o qual acolherá na maior das comodidades. Ambos delinearão um ataque à cidade costeira de Sidon. Este acontecimento não é ignorado pelo cronista muçulmano al-Qalânisi que concedeu o seu próprio testemunho:
"Naquele ano [1110], se anunciou que um rei franco [o rei da Noruega - Sigurdo] tinha chegado por mar com mais de sessenta navios carregados de combatentes, para cumprir sua peregrinação e conduzir a guerra nos países do Islão. Como ele se dirigia rumo a Jerusalém, Balduíno veio ao seu encontro, entrou em contacto com ele, e eles decidiram em conjunto atacar os países muçulmanos. Quando eles voltaram de Jerusalém, eles iniciaram o cerco da praça costeira de Sidon [os três rabi' II 504 - 19 de Outubro de 1110] e bloquearam-na por terra e por mar. A frota egípcia estava ancorada em frente da cidade de Tiro, mas não pôde auxiliar Sidon. Os francos construíram uma torre e a utilizaram quando eles se apressavam sobre a cidade. Ela estava coberta de sarmentos de videira, tapetes e peles de carne bovina fresca para assim a proteger contra as pedras e o fogo grego. Depois de estar assegurada a protecção, eles fizeram-na avançar durante vários dias com a ajuda das rodinhas sobre as quais eles a haviam montado. Quando veio o dia da batalha, aproximou-se a torre da muralha, os francos através dela tiraram proveito para o seu ataque, eles tinham colocado lá material de guerra, bem como água e vinagre para se protegerem contra o risco de incêndio.
Quando o povo de Sidon havia constatado estes preparativos, a sua coragem vacilou porque temiam o destino de Beirute. Eles enviaram então aos francos o seu cádi e uma delegação de anciãos da cidade para pedir a Balduíno um salvo-conduto. Ele acedeu ao seu pedido e deu-lhes a garantia, a eles e aos seus soldados, pela sua vida e seus bens, e lhes prometeu deixar partir aqueles que iriam deixar Sidon por Damasco. Eles lhe pediram a sua palavra e depositaram a sua confiança nele. O governador, o controlador das finanças, todas as tropas regulares e auxiliares, e uma grande parte dos habitantes deixaram a cidade e se dirigiram a Damasco (vinte jumada I de 504 - 4 de Dezembro de 1110). O cerca tinha durado 47 dias.
Balduíno resolveu questões pendentes, deixa uma guarnição em Sidon e retorna a Jerusalém. Mas ele voltou a Sidon pouco tempo depois e exigiu daqueles que tinham permanecido um imposto superior a vinte mil dinares, os reduziram assim à miséria; ele levou tudo até ao último centavo e extorquiu todo o dinheiro possível" (Captura de Sidon por Ibn al-Qalânisi)
Em jeito de análise, o receio duma entrada violenta na cidade que se traduzisse num massacre impiedoso (cenário que aconteceu por várias vezes, no âmbito da Primeira Cruzada) terá causado bastante pânico aos líderes e habitantes muçulmanos de Sidon. Para além disso, o avanço gradual da torre móvel que rumava em direcção às muralhas, terá desmoralizado a guarnição daquela praça muçulmana que, desprovida do auxílio exterior, começava a temer um assalto cada vez mais inevitável. Todavia, esse não terá sido o único medo dos responsáveis da urbe, pois ao vislumbrarem a presença de forças nórdicas, tradicionalmente destemidas, violentas e com sede de enveredar pelo saque de valiosos bens e tesouros, sabiam que se estas furassem as estruturas defensivas, causariam o terror e a mortandade. Para evitar este cenário mais fatalista ou trágico, acordou-se então uma rendição pacífica para evitar uma entrada em fúria dos cruzados. Balduíno I, embora tenha voltado mais tarde a esta cidade para exigir impostos pesados (o que era normal porque o ainda "jovem" reino cristão de Jerusalém tinha falta de mão-de-obra e os seus cofres estavam praticamente vazios), cumpriu a sua palavra e poupou a vida aos cidadãos de Sídon, mesmo àqueles que iriam abandoná-la, trocando a sua estadia pela de Damasco.
Balduíno conquistava mais um porto importante do litoral, mas este feito é, em muito, devido ao jovem rei Sigurdo (em 1110, teria praticamente 20 anos de idade) e às suas forças que atormentaram as defesas de Sidon. Para garantir o avanço progressivo da torre móvel, o rei de Jerusalém necessitou da bravura destes cavaleiros e soldados provenientes da Escandinávia de forma a desgastar ao máximo a guarnição da cidade sitiada e mantê-la assim ocupada enquanto a torre móvel, devidamente coberta por substâncias anti-incendiárias, avançava ao longo de dias seguramente duros e penosos. O cercou durou cerca de 1 mês e meio, culminando com a rendição da cidade.
Como forma de agradecimento, Balduíno terá talvez entregado uma pequena porção da Vera Cruz (a célebre cruz onde se acreditava que Jesus Cristo havia sido crucificado) ao rei norueguês para que este incrementasse a fé cristã no seu reino. Durante esta estadia no Oriente, Sigurdo teria sido baptizado no rio Jordão e visitaria ainda os lugares sagrados de Jerusalém.
A sua missão estava concluída e era altura de regressar à sua nação que se encontrava agora tão distante, sem que Sigurdo tivesse sequer conhecimento do que lá tinha acontecido nos últimos anos. No retorno, perderá mais 3 anos até chegar à Noruega, só que desta feita terá preferido regressar essencialmente por terra. Durante o trajecto, parou em Constantinopla, onde foi bem recebido pelo imperador Aleixo I. Sigurdo ofereceu-lhe todos os barcos que detinha em troca de cavalos para empreender então o retorno por via terrestre. Alguns cruzados noruegueses, rendidos à magnificência da capital bizantina, decidiram ficar na cidade e servir os interesses do imperador. Posteriormente, Sigurdo teria igualmente passado pela corte de Lotário, duque da Saxónia e futuro imperador do Sacro-Império Romano Germânico.
O rei norueguês tinha conseguido alcançar respeito e prestígio na Cristandade. Fora o primeiro rei europeu a arriscar a sua vida e a partir em cruzada.
Sigurdo regressaria ao seu país sem ter sofrido qualquer derrota, militar ou diplomática, na sua longa aventura. As forças que o serviram eram temidas, pois eram conhecidas pela sua bravura e brutalidade.
Mapa nº 2 - O presumível trajecto de Sigurdo. A linha vermelha representa a viagem de ida (e ainda o início do retorno - passando pelo Chipre até Constantinopla), já a de regresso está marcada parcialmente com a cor a verde.
Retirada do Wikipédia/Wikimedia, (Gabagool, SigurdNorwegianCrusade1107-1111OldNorse)
Retirada do Wikipédia/Wikimedia, (Gabagool, SigurdNorwegianCrusade1107-1111OldNorse)
Imagem nº 1 - A chegada de frotas norueguesas ou vikings atormentavam sempre os povos das zonas costeiras.
Retirada de: http://rehtwogunraconteur.com/?p=11191
Imagem nº 2 - Sigurdo, rei da Noruega, e Balduíno I, rei de Jerusalém cavalgam sobre o Rio Jordão.
Retirada de: "Magnussonnenes saga 3 - G. Munthe" by Gerhard Munthe (1899) in Wikipédia
Imagem nº 3 - O antigo castelo cruzado de Sidon (actualmente, Sidon é a 3ª cidade mais importante do Líbano). Nesta cidade, escorreu sangue escandinavo nos tempos da chamada "Cruzada Norueguesa".
Retirada de: https://www.triposo.com/loc/Sidon
Imagem nº 4 - O castelo marítimo de Sídon foi construído pelos cruzados em 1228, mas a cidade fora inicialmente tomada em 1110 por Balduíno e Sigurdo.
Retirada de: http://zelechowski.wordpress.com/2014/07/07/lebanon/
Imagem nº 5 - Na sua viagem de regresso, Sigurdo é bem recebido em Constantinopla pelo imperador Aleixo I.
Retirada de: "Magnussonnenes saga 4 - G. Munthe" by Gerhard Munthe (1899) in Wikipédia
O regresso e últimos anos
Em 1113, concretiza definitivamente o retorno e é recebido pelo seu irmão Eystein que demonstrara ter dado conta do recado na sua ausência que se prolongou por cerca de 6 anos. Assim, se explica como estes irmãos conseguiram alcançar o reino partilhado mais extenso da história da Noruega. Demonstraram provavelmente ser um caso raro de entendimento entre soberanos.
Sigurdo instituirá a sua corte em Kungalv (actual Suécia). Todavia, durante todo o seu reinado preocupou-se em expandir a fé cristã, zelando pelo crescimento da Igreja.
Em 1123 (ano do falecimento de seu irmão Eystein por doença), Sigurdo voltou a sentir a necessidade de impor o seu espírito de cruzada, embora desta feita no seu próprio território, forçando agora os habitantes de Småland, que haviam renunciado ao credo cristão e recuperado temporariamente o culto dos antigos deuses pagãos, a aceitar de volta o catolicismo.
No ano de 1130, o rei norueguês faleceria com cerca de 40 anos somados. Foi sepultado na Igreja de Hallvard em Oslo.
A sua morte provocou uma grave crise de sucessão, porque só havia gerado filhas e filhos ilegítimos, o que motivou disputas acérrimas pelo poder nas décadas que se seguiram.
Sigurdo representava o típico modelo de guerreiro viking - desde a sua infância, teve de conviver com a guerra e empreender várias viagens marítimas e terrestres. A sua fama chegou a vários territórios então longínquos, lutando por aquilo em que acreditava de acordo com o pensamento que vigorava naquela época e que engrandecia a guerra santa travada entre cristãos e muçulmanos. A sua aventura permitiu-lhe conhecer várias terras, populações e os soberanos mais notáveis daquele tempo.
O rei norueguês soube ainda promover uma liderança sólida e estável, não hesitando em partilhar o poder com seus irmãos Eystein (principalmente) e Olaf.
O rei norueguês soube ainda promover uma liderança sólida e estável, não hesitando em partilhar o poder com seus irmãos Eystein (principalmente) e Olaf.
Imagem nº 6 - Uma igreja norueguesa apresentada como meramente exemplificativa.
Sigurdo promoveu nos inícios do século XII o crescimento daquela instituição na Noruega.
Sigurdo promoveu nos inícios do século XII o crescimento daquela instituição na Noruega.
Retirada de: https://foaminglattes.wordpress.com/tag/norway/, (Hosse Liknes - 2007).
Referências Consultadas:
- Chroniques arabes des Croisades. Ed. Francesco Gabrieli. 4ª Ed. Trad. Viviana Pâques. Sindbad - Actes Sud, 1996. A tradução para português do relato de Ibn al-Qalânisi é da nossa autoria, embora tenha partido da versão francesa de Viviana Pâques.
- http://www.britannica.com/EBchecked/topic/543843/Sigurd-I-Magnusson, (Consultado em: 08-09-2014).
- http://thedailybeagle.net/2013/06/08/sigurd-the-norwegian-crusader-king/, (Consultado em: 08-09-2014).
- http://oaks.nvg.org/an6ra13.html, (Consultado em: 08-09-2014).
- http://www.sacred-texts.com/neu/heim/13sigurd.htm, (Consultado em: 08-09-2014).
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