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terça-feira, 25 de novembro de 2014

As origens "primitivas" do Halloween

O Halloween, também designado popularmente nos dias de hoje como o Dia das Bruxas, é uma tradição festiva anualmente festejada no dia 31 de Outubro. Normalmente, são os mais jovens que se aprestam à diversão e entretenimento durante uma longa noite em que o frenesim e a adrenalina estão garantidos naquilo que se traduzirá definitivamente numa procura incessante pelo pavor e cenários sombrios.
Todavia, as raízes deste complexo hábito aparentam ser bastante ancestrais e devem mesmo remontar à remota era dos celtas, civilização milenar que habitara a Grã-Bretanha, o Norte da França (além da Germânia e da zona central europeia) e que viria a alojar-se igualmente na Península Ibérica.
A religião céltica assentava numa base politeísta, e augurava que cada ano oficial terminava em 31 de Outubro, sendo que o posterior iniciava-se em 1 de Novembro (isto correspondendo às concepções actuais do nosso calendário).
Efectivamente, o dia 31 de Outubro não era uma data qualquer na mitologia celta. Naquele dia, os celtas celebravam o Samhain - a épica noite, na qual acreditavam que os espíritos dos seus entes falecidos retornariam fugazmente à dimensão terrestre. Por outras palavras, eles admitiam que era nesta passagem de ano que as cortinas do outro mundo estariam excepcionalmente abertas, permitindo assim a conexão imediata e especial entre vivos e mortos.
O Samhain era pois um marco do calendário pagão e representava então a Festa dos Mortos. Ao contrário do que se possa julgar, a festa não continha tons mórbidos, porque o paganismo não costumava interpretar a morte com tons essencialmente dramáticos, aceitando-a como uma parte do destino da vida humana. Aliás, as comemorações visavam recordar os seus antepassados e homenageá-los, além de convidarem os seus espíritos a comparecer ao evento. Havia igualmente lugar à prática de jogos tradicionais, assegurando assim uma determinada dose de entretenimento. Também não é menos verdade que estaríamos perante um dia importante de reflexão, onde se discutiam inúmeros temas sobre o passado da civilização tribal e as escolhas a tomar nos tempos vindouros.
Os sacerdotes wiccas, autênticos druidas, assumiam notável protagonismo nestas festividades espirituais, julgando inclusive que a presença dos espíritos naquela noite os ajudariam a lançar prognósticos ou vaticínios mais eficazes em relação ao futuro que estava aí à porta. Estes druidas ordenavam ainda que se fizessem fogueiras sagradas (em honra dos mortos e com o intuito de os ajudar na sua viagem ou aventura transcendental), além de se procederem a autênticos banquetes com diversos alimentos, além do visionamento de sacrifícios de animais.
Durante a celebração, os celtas usavam trajes específicos, nomeadamente cabeças de animais e peles.
Naquele derradeiro dia do calendário celta, uma variedade de seres, entre os quais fantasmas/espíritos, fadas e demónios estariam à solta, no entender dos responsáveis espirituais daquele povo.
Esta tradição pagã, embora sofrendo claras alterações com o decorrer dos tempos, não seria extinguida pelas sociedades cristãs, sendo que inspiraria algumas festividades que seriam instauradas posteriormente. Parecem ser os casos dos seguintes marcos especiais:


  • O Halloween - Embora este momento festivo tenha actualmente as suas próprias nuances, não podemos negar o paralelo que encontramos em torno das fantasias supersticiosas, com uma forte componente de espiritismo (espíritos ou fantasmas). É celebrado também na mesma data do Samhain - 31 de Outubro. Apesar desta tradição não ser evidentemente aprovada pela Igreja e pelo teor do Cristianismo, é actualmente encarada como uma tradição inofensiva, e como tal, bastante adoptada por vários cristãos que procuram apenas sobressair-se naquela onda de divertimento.
  • O Dia de Todos os Santos (ou Mártires) - Solenidade religiosa do dia 1 de Novembro, destinado a homenagear todos aqueles que pereceram pela fé cristã, ou que a honraram com a sua santidade. Foi instituída inicialmente no dia 13 de Maio de 609 d. C. pelo Papa Bonifácio IV que dedicou um Panteão em Roma em honra de todos os mártires cristãos. Contudo, o Papa Gregório III (731-741) decidiu incluir igualmente os santos, e alterou a data para 1 de Novembro, curiosamente um dia após o Samhain que igualmente dedicava o seu tributo às deidades da religião céltica. Durante o século IX, o Cristianismo ainda se deparava com uma inegável proeminência dos ritos celtas em algumas regiões (nomeadamente no Norte da Britânia). De acordo com alguns investigadores, julga-se ainda que a celebração do Dia de Todos os Santos era igualmente apelidada de "All-hallows" ou "All-hallowmas", e a noite anterior a esta data, a célebre noite de Samhain, era designada como "All-hallows Eve" e posteriormente, como Halloween.
  • O Dia dos Fiéis Defuntos (ou de todas as Almas) - Evento religioso do dia 2 de Novembro que honra os mortos. Os cristãos visitam os túmulos dos seus entes queridos já falecidos, recordando nostalgicamente as antigas experiências passadas em família e orando pela salvação das suas almas. Em termos históricos, este marco foi instituído pela Igreja por volta do ano 1000, talvez com o intuito de substituir definitivamente o festival céltico da morte em favor dum novo evento cristão promovido e controlado directamente pela Santa Sé. Inicialmente, não havia grandes diferenças deste evento cristão em relação ao Samhain, com grandes fogueiras e paradas, além da reclamada presença de santos, anjos e demónios. Mais uma vez, a data estabelecida é próxima ao marco celta. Em suma, este evento religioso, embora tenha cultivado as suas próprias especificidades inspiradas no modelo cristão, parece conhecer as suas origens primitivas no Festival dedicado aos mortos pela cultura céltica.


É certo que cada um destes eventos reivindica as suas características distintivas, e a sua celebração segue determinados princípios, todavia parece-nos evidente que subsiste alguma relação entre todos estes eventos, e como já puderam constatar, as semelhanças não se baseiam apenas nas datações próximas...
De qualquer das formas, e se o nosso raciocínio não estiver errado (pois aceitamos que esta temática possa ser muito discutível aos olhos de muitos historiadores), não podemos deixar de reconhecer o mérito à Igreja Cristã pois soube tirar proveito duma tradição nativa e moldá-la para representar a sua causa, e não nos podemos esquecer que os celtas constituíam uma civilização com uma cultura avançada para o seu tempo. Na Britânia, o Cristianismo Céltico foi igualmente uma evidência na Alta Idade Média, onde a religião cristã chegou a ser adorada através de práticas exclusivamente típicas da região e diferenciadas na generalidade face aos ritos romanos que vigoravam em grande parte da Cristandade.
Por fim, resta-me salientar que além do seu festival - o Samhain e da sua inseparável mitologia, os celtas marcaram a cultura universal com a sua música e poesia, através da presença de trovadores.





Imagem nº 1 - O Samhain assinalava a passagem do Verão para o penoso Inverno celta, mas mais do que isso, veiculava o ideal mitológico dum reencontro especial entre os vivos e os mortos.
Retirada de: http://www.irish-genealogy-toolkit.com/origin-of-Halloween.html



“IMBOLC” © Hamish Burgess 2011

Imagem nº 2 - A civilização celta evidenciou a sua cultura em vários territórios: Germânia (e zona central europeia), Britânia, Norte da Gália, Península Ibérica...
Retirada de: http://www.mauiceltic.com/celtic-beliefs.htm



Referências Consultadas:

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