Este site foi criado com o intuito de divulgar os feitos mais marcantes no decurso da história mundial

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A Batalha de Teutoburgo (9 d. C.) e o prenúncio do desastre romano na Germânia


1- O Contexto


Nos primórdios do século I d. C., reinava o imperador Caio Otaviano (governou desde 27 a. C. até 14 d. C.), mais conhecido como Augusto. Uma personalidade que merece figurar nos anais da História pela sua liderança prestigiante que contribuiu indubitavelmente para o apogeu romano.
Foi no seu tempo que se anexou o Egipto, a Dalmácia, a Panónia, a Nórica e Récia, além de avanços relevantes na Hispânia, na Germânia e ainda em África. Excluindo as guerras (de alargamento ou protecção) de fronteiras, o Império Romano até usufruiu momentos de paz e estabilidade internas ("Pax Romana"). Graças a Augusto, desenvolveu-se igualmente uma nova rede de estradas, foi estabelecido um exército permanente, aperfeiçoou-se o Direito Romano (por acção dos magistrados), criou-se a guarda pretoriana, promoveram-se as artes e letras (por exemplo: Caio Mecenas protegeu um notável círculo de intelectuais) e implementaram-se várias construções na capital - Roma, renovando o seu perfil arquitectónico.
A civilização romana, recheada de esplendor e dinamismo, agradecia aos seus deuses pagãos a prosperidade económica e junto deles intercediam por novos progressos, como por exemplo, na vertente militar.
Todavia, se a expansão romana reivindicou um corolário de glória nos tempos de Augusto, a verdade é que um desaire monumental poderia alertar para potenciais perigos vindouros. Neste âmbito, a guerra pelo controlo total ou definitivo da Germânia assumia-se como uma meta difícil de concretizar, dada a confluência de várias tribos ou povos nativos com alguma capacidade autónoma e belicista. Mesmo assim, nos primeiros anos do séc. I d. C., a situação aparentava ser mais pacífica do que era costume, com grande parte da Germânia submetida e pacificada por três poderosas legiões romanas. Mas um episódio iria cambiar esta tendência alegadamente favorável.





Mapa nº 1 - As conquistas no reinado de Caio Otaviano Augusto (a verde). 




2 - A Batalha de Teutoburgo


Os romanos já tinham encetado alguns progressos a leste do Reno, mas a incorporação destas novas terras no Império estava longe de ser um dado adquirido. À frente do governo da Germânia, encontrava-se o general romano Públio Quintílio Varo, um oficial com experiência ao nível de cargos públicos. Do seu "currículo" ressalta-nos à vista uma liderança exercida com mão-de-ferro. Por exemplo, no ano 4 a. C., Varo tinha mandado crucificar 2 mil judeus em Jerusalém que se tinham rebelado contra o domínio romano. Sabe-se que também se destacou na vertente política pois, durante a sua carreira, fora nomeado governador, primeiro da Província de África, e depois da Síria. Mas é na Germânia que viverá os últimos tempos da sua vida, onde como disséramos, tinha sido nomeado governador. 
A relativa acalmia conquistada pelas campanhas anteriores não parecia beliscar os interesses e objectivos do novo responsável romano da região. Contudo, a harmonia não passava duma perigosa ilusão que iria "engolir", sem piedade, todos aqueles que subestimaram aquelas tribos indomáveis.  
Neste contexto bastante incerto, Varo é alertado para uma potencial revolta contra a sua liderança. Quem lhe confidenciou essa informação foi Armínio, chefe do povo "Cherusci" (querusco) que contava com 25 anos de vida. Apesar das suas origens tribais germânicas, este Armínio estava acima de qualquer suspeita. Tinha vivido por alguns anos em Roma, onde gozara duma educação sólida e assimilaria assim diversos conteúdos de natureza militar. Imediatamente, teve direito à cidadania romana e chegou inclusive a integrar, enquanto auxiliar, as legiões romanas.
Contudo, Armínio não era de confiança e, como veio a saber-se mais tarde, estava a preparar uma cilada a Varo, atraindo-o à densa Floresta de Teutoburgo, o lugar ideal para a concretização duma mega-emboscada. De modo a concretizar esse plano, o responsável germânico conseguiu formar uma aliança com as maiores tribos da região, preparando discretamente os contornos do ataque surpresa.
Evidentemente, o governador Varo desconhecia estes planos e decidiu atender às instruções de Armínio. No Outono do ano 9 d. C., o general romano deixa a sua base, próxima de Minden (a noroeste da Germânia), e marchou com as três legiões para reprimir a rebelião. Ao todo são 36 mil homens que se deslocam para repor a ordem. Armínio seguia com eles, mas aquando da travessia na Floresta de Teotuburgo, consegue escapulir-se e juntar-se à sua armada que aguardava agora pelo sinal para o choque final. Quando este se deu, um número elevadíssimo de guerreiros bárbaros (até então privilegiadamente posicionados em cima duma colina) caiu em cima da extensa coluna romana que foi apanhada desprevenida, sem haver lugar a tempo para se colocar em formação militar. Em simultâneo, dardos e flechas sobrevoam impiedosamente o céu, surpreendendo as forças romanas. Muitos soldados tombam sem sequer enxergar o que realmente estava a acontecer. Nesta emboscada inicial, estima-se que metade das tropas romanas tivesse sido exterminada. Em jeito de guerrilha, os combatentes germânicos muniam-se de lanças, escudos e dardos, e recorreram sistematicamente a ataques relâmpagos nos dias seguintes para causar o terror e o pânico nas linhas defensivas romanas que ainda restavam.
Já os sobreviventes "latinos" marcharam, no dia seguinte, em direcção a sul mas depararam-se com uma muralha de madeira erguida pelos germanos (onde fica hoje Kalkriese). Aí os romanos passaram ao ataque, mas acabaram por ser repelidos, dada a ferocidade e resiliência do oponente. A cavalaria romana dispersou-se e acabou por ser gradualmente aniquilada pelas emboscadas constantes que se sucederam na floresta no decurso dos dias seguintes. O próprio general Varo decidiu suicidar-se para não ser capturado ou morto pelos germanos. Outros oficiais imitaram-no nesse comportamento fatídico. Os que foram capturados por estas tribos, seriam maioritariamente destinados à escravatura, enquanto uma minoria foi sacrificada em honras consagradas aos deuses germânicos. 
Apenas um grupo de sobreviventes, talvez na ordem das centenas, logrou escapar da floresta da mortandade, alcançando a fortaleza de Aliso, onde puderam juntar-se à guarnição existente. Aí permaneceram até ao irromper do Inverno, estação que obrigou os germanos a retornarem aos seus lares, permitindo assim o regresso dos primeiros ao território romano que tiveram a prontidão de comunicar o sucedido às altas patentes do Império.
O resultado não deixava sombra para dúvidas. Armínio tinha planeado uma traição sangrenta, mas não podemos retirar-lhe algum mérito na forma como conseguiu derrotar três legiões bem armadas. Ele conhecia as tácticas militares romanas (a sua educação permitiu-lhe assimilar as estratégias bélicas que estavam em voga naquela era) tal como a natureza da sua mobilização. E soube tirar máximo proveito da principal desvantagem que os romanos manifestaram naquele momento: o desconhecimento do terreno. Por outro lado, o factor surpresa inerente a qualquer emboscada de grande envergadura também foi um elemento decisivo que tramou o exército romano de Varo. 
De acordo com a tradição, o imperador Augusto, ao saber do desaire, terá lamentado bastante a ocorrência, acabando por repetir várias vezes este desabafo:



"Varo, dá-me as minhas legiões de volta!"




Local: Floresta de Teutoburgo
Data: Outono de 9 d. C. (Setembro?)
Forças Beligerantes

 

Império Romano
(Três Legiões)

 

Tribos Germânicas
Comandantes/Generais
Públio Quintílio Varo
Armínio
Número de Combatentes
36 000
25 000
Baixas Estimadas
35 000 (entre mortos e escravos)
Reduzidas – (1 000, 2 000?)
Resultado:  As três legiões romanas foram atraídas por Armínio a uma emboscada fatal na Floresta de Teutoburgo, o que causaria o seu aniquilamento. Públio Quintílio Varo preferiu suicidar-se com a sua espada em vez de cair eventualmente nas mãos do inimigo.
Tabela nº 1 - As estatísticas estimadas para o desfecho da Batalha de Teutoburgo.



Imagem nº 1 - A Batalha na Floresta de Teutoburgo culminou na destruição das três legiões romanas que controlavam a Germânia e no suicídio do seu governador - Públio Varo.




Epitaph des Marcus Caelius.JPG

Imagem nº 2 - Cenotáfio de Marco Caélio/Célio (Marcus Caelius), um oficial romano que também sucumbiu às emboscadas germânicas lançadas na Floresta de Teutoburgo.





Imagem nº 3 - Monumento a Armínio, o vencedor da batalha da Floresta de Teutoburgo.
Foto de Klaus Beermann (www.fotos.sc)




3 - Consequências


A derrota foi parcialmente abafada pelas altas instâncias imperiais de forma a não preocupar a plebe romana que vivia um período de considerável crescimento. Não obstante as baixas verificadas, o Império ainda não enfrentaria uma fase crítica ou ameaçadora à sua segurança interna. Contudo, a derrota de Teutoburgo colocaria para sempre em causa as pretensões de domínio romano na Germânia, sobretudo no que diz respeito aos objectivos de expansão a leste ou nas terras do além-Reno. Quase quatro séculos depois começariam as invasões bárbaras que dali partiriam para destruir o Império Romano do Ocidente. 
Mesmo assim, não podemos ignorar que decorreram nos anos vindouros campanhas que almejariam alguns êxitos. Atento às derradeiras ocorrências, o imperador Tibério (que sucedeu a Augusto) depositou confiança nas qualidades militares do seu sobrinho - Júlio César Claudiano (que ganharia o epíteto de "Germânico") que promoveu assim diversas expedições na Germânia contra os intentos libertadores de Armínio. Varo e os seus oficiais foram mesmo vingados na Batalha de Idistaviso (16 d. C.), embora Armínio tivesse conseguido escapar, deixando 15 mil dos seus guerreiros mortos para trás. O líder querusco tinha perdido apoios, e veria a sua autoridade a ser disputada. Seria assassinado por opositores que supostamente viviam no seu meio (é possível que Segestes estivesse envolvido no conluio). Apesar do fim fatídico, o seu vulto seria engrandecido, na posterioridade, pela corrente do nacionalismo alemão.
Apesar destes sucessos imediatamente posteriores, os romanos jamais se empossariam da totalidade da Germânia, e o desastre em Teutoburgo manifestou-se nas décadas e séculos seguintes como uma experiência traumática, ou melhor, espelhou uma das maiores derrotas militares até então testemunhadas no Império Romano.





Imagem nº 4 - Destacamento romano em formação "tartaruga" de forma a garantir a sua protecção mediante eventuais projécteis arremessados pelo inimigo.




Referências Consultadas:

Sem comentários:

Enviar um comentário