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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Flávio Belisário, o estratega bizantino "esquecido" que vingou Roma


Contexto


No ano de 476 d. C., Roma caía nas mãos dos hérulos, e posteriormente, no poder dos ostrogodos. As invasões bárbaras provenientes do além-Reno destruiriam gradualmente o Império Romano do Ocidente. As ancestrais instituições imperiais caíram na ruína total e o progresso civilizacional aparentava estar comprometido. 
O Império Bizantino (ou Império Romano do Oriente) conseguiu formar alianças estratégicas ou até firmar tréguas (assente no pagamento de tributos) com os povos vizinhos e serviu-se da sua posição estratégica, praticamente inexpugnável, de modo a assegurar a sua sobrevivência. A cadeia de montanhas que caracterizava a topografia oriental, dificultava, ao máximo, qualquer campanha de invasão. Além disso, a localização bem como as estruturas e recursos defensivos da capital - Constantinopla dissuadiam os inimigos mais acérrimos de eventuais expedições contra o soberano basileu. Mas houve ainda outras razões que justificariam a sobrevivência deste estado, nomeadamente a manutenção dos contactos comerciais com a Ásia e a África, a posse de elevados recursos económicos e a habilidade dos governantes bizantinos em introduzir oportunas reformas fiscais que, por vezes, aliviariam os impostos e assim agradariam à classe popular, colocando-a do seu lado.
Nesses tempos, a principal ameaça prendeu-se com a devastadora campanha dos indomáveis hunos que deixaram igualmente a marca das suas depredações macabras nas regiões do leste europeu. Com o desaparecimento desta confederação euro-asiática, alguns sobreviventes da expedição de Átila ingressaram, enquanto mercenários, nas fileiras gregas.
A paz regressou a Bizâncio, não obstante o declínio recente. A glória doutros tempos parecia ser apenas um registo exclusivo das crónicas antigas, as quais degradadas e repletas de pó condiziam com a conjuntura agora dormente e passiva do Império. O futuro aparentava ser imprevisível e a equação para o sucesso dependeria essencialmente do carisma, da competência e da eloquência dos imperadores e generais vindouros.
Dentro deste contexto, e entre os potenciais caminhos de prestígio ou fracasso, um homem subirá ao trono e causará um impacto decisivo no rumo da história. Graças a ele, o orgulho grego seria recuperado e se reergueriam, embora não por muito tempo, os últimos resquícios da cultura romana. 
Efectivamente, com o reinado de Justiniano I (527-565), o estado bizantino reinaugurará um ciclo prestigiante que se repercutirá nos mais diversos domínios. O novo basileu revela ambição e uma elevada dose de cultura e visão política. Assim sendo, reformará e centralizará a administração, aperfeiçoará o cerimonial de corte, submeterá a hierarquia eclesiástica e empreenderá grandes construções (por exemplo, é no seu tempo que será construída a Basílica de Santa Sofia em Constantinopla). 
Um dos sonhos deste imperador radicava no restabelecimento do velho esplendor de Roma que outrora iluminou a Europa Antiga e que agora jazia dormente sobre o domínio bárbaro. Para atingir esse propósito, Justiniano está disposto a promover campanhas militares de grande envergadura em diversos territórios. Todavia, o sucesso bélico requeria a participação de generais experimentados ou versados na arte da guerra. Neste âmbito específico, Flávio Belisário reunirá todos os requisitos necessários para engrandecer o Império agora repensado pelo novo imperador reformista. Apesar do seu nome ser relegado para segundo plano em comparação com outros grandes nomes da História Militar, a verdade é que os seus êxitos atestam a sua elevada capacidade de liderança e de gestão estratégica. A parceria estabelecida entre Justiniano e Flávio seria uma das mais bem sucedidas de sempre.





Imagem nº 1 - Mosaico que espelha o vulto de Justiniano I, o Grande - o imperador bizantino que se propôs a restaurar o apogeu "romano" de outrora.




Os primeiros feitos de vida do general audacioso



Flávio Belisário nasceu no ano de 505 na localidade de Sapareva Banya (actual Bulgária). Desde jovem, se alistou no exército onde iniciaria uma carreira recheada de sucessos até então impensáveis ou de aparente concretização irrealista. Após a morte do imperador Justino em 527, o poder passaria para um novo soberano - o supracitado Justiniano I que inicialmente integraria Flávio na sua guarda imperial, mas que acabaria depois por nomeá-lo general e comandante das forças bizantinas no Oriente. Estas enfrentavam, naquela altura, a difícil tarefa de conter, a todo o custo, a ofensiva do império persa pré-islâmico (também designado de "sassânida"). Em causa estava essencialmente o controlo da Ibéria (reino situado no Cáucaso - actual Geórgia) - região disputada por bizantinos e os mencionados persas. Os primeiros confrontos iniciam-se em 527, mas o engajamento final entre os dois exércitos só ocorreria três anos depois. Durante este período, o general bizantino teve a oportunidade de aprimorar os seus bucellarii - unidade privada de cavalaria pesada superiormente treinada para os desafios bélicos mais exigentes. Esta força especial era normalmente constituída por centenas de cavaleiros, mas em caso de guerra, poderia atingir a fasquia dos milhares.
Efectivamente, em 530, Flávio conhece a sua primeira prova de fogo na batalha de Dara. Os bucellarii integram o sector nevrálgico da armada bizantina, mas também do lado persa existem soldados hábeis e preparados para a frente de combate. O conflito irá arrastar-se por dois longos dias. No primeiro, há provocações e até duelos entre os campeões (cavaleiros/combatentes mais tenazes) bizantinos e persas. Mas o choque colectivo só se materializará no segundo dia. Neste âmbito, os persas tomam então a iniciativa e atacam o flanco esquerdo bizantino. Apesar de terem atravessado algumas trincheiras defensivas, os seus atacantes são repelidos e por conseguinte obrigados a recuar. Mesmo assim, os persas não deixam de acossar o inimigo, e tentam agora aniquilar o flanco direito grego, recorrendo aos "imortais", os seus lanceiros de elite. Agora sim conseguem fazer retroceder o exército bizantino, causando algumas baixas. Contudo, Flávio Belisário reagiu imediatamente, concedendo ordens à sua tropa especial (os bucellarii) para proceder a uma ofensiva contra as linhas persas, as quais acabaram imediatamente por colapsar diante do impacto trucidante e fugaz da cavalaria pesada. De acordo com as estimativas de Tony Bunting, 10 mil persas tombariam nesta batalha, e os planos de expansão sassânida ficaram irremediavelmente comprometidos para o decurso dos próximos anos.
Apesar duma derrota posterior em Callinicum, os gregos acabariam por chegar a um acordo com a Pérsia, à qual tiveram de pagar um tributo, o preço a pagar pela paz e pela defesa dos superiores interesses de ambos os estados. Mesmo assim, nada nos impede de concluir que Flávio tinha prestado as primeiras provas do seu inegável valor, demonstrando total perícia numa campanha adversa em que os próprios persas aparentavam encontrar-se, desde o início, numa fase bélica ascendente.
No ano de 532, dá-se a Revolta de Nika em Constantinopla. Nesta circunstância em particular, a população estava cansada dos elevados impostos e da "contagiante" miséria, e não hesitou em rebelar-se a pretexto duma corrida de cavalos ocorrida no hipódromo. Os rebeldes descarregaram a sua fúria por quase toda a cidade, massacrando a guarda imperial. Justiniano pensou em deixar o trono, mas foi demovido pela sua mulher Teodora. Depois de ponderar sobre o que fazer, o imperador recorreu imediatamente aos serviços do general Flávio Belisário para travar a onda gigantesca de contestação. Este cercou o hipódromo e, sob ordens imperiais expressas, aniquilou cerca de 30 mil revoltosos. A partir deste momento, Justiniano governará sem qualquer oposição à altura o que logicamente se traduzirá na consolidação definitiva do seu poder.





Imagem nº 2 - Flávio Belisário assegurou uma vitória assinalável na Batalha de Dara (530) diante dos persas, e segurou ainda o Imperador Justiniano no poder, aquando da Revolta de Nika (532).




A Invasão ao Norte de África: a destruição do reino vândalo


Após os últimos acontecimentos, Justiniano começou a depositar naturalmente toda a sua confiança neste seu súbdito habilitado na vertente militar, e para iniciar o projecto de renascimento da glória e esplendor "romanos" tem em mente uma meta ambiciosa - apoderar-se do Norte de África, cenário que lhe possibilitaria o controlo duma extensa parte do Mar Mediterrâneo. Para viabilizar o seu sonho, delega novamente a liderança da expedição no seu general Flávio Belisário, cuja lealdade estava acima de qualquer suspeita.
O pretexto é convidativo - o reino vândalo (localizado no Magrebe) encontra-se dividido numa crise interna. O anterior soberano Hilderico tinha abandonado o Cristianismo ariano (encarado pela Santa Sé como uma filosofia ou interpretação teológica herética) para abraçar o Catolicismo. Além disso, Justiniano mantinha relações amigáveis com este rei. Todavia, a sua deposição em 530 pelo nobre ariano Gelimer consumou um virar de página nas relações diplomáticas existentes entre os responsáveis vândalos e bizantinos. Muitos cristãos que seguiam o credo católico (em vez das tendências arianas) lamentaram o desfortúnio do anterior soberano (Hilderico seria morto três anos depois) e fugiram em várias direcções (muitos acabaram por aportar em Constantinopla, capital bizantina) pois temiam que Gelimer, o novo rei de crença ariana, os viesse a perseguir. Efectivamente, este contexto atribulado favorecia os planos ousados de Justiniano que sempre sonhou incorporar aqueles domínios. O momento para a ofensiva era propício e não havia tempo a perder.
Em 533, uma frota de 50 navios comandada por Flávio Belisário aporta em terras actualmente líbias. Ao todo, estima-se que a sua armada é composta por 15 mil homens. Após o desembarque, este exército empreende uma marcha triunfante em direcção às periferias de Cartago, a capital do estado vândalo. Nas proximidades do marco que assinalava as 10 milhas de distância (daí a designação da batalha com Ad Decimum) em relação àquela cidade histórica, os dois exércitos - vândalos e bizantinos - enfrentam-se pelo controlo da região. As forças de Belisário excediam, em termos numéricos, os contingentes liderados pelo rei  Gelimer. Apesar desta vantagem de pendor quantitativo, a batalha não começou nada bem para os invasores gregos que quase foram cercados pelo adversário. Contudo, o soberano vândalo não soube rentabilizar o seu ascendente, optando por pausar as hostilidades em curso, de modo a sepultar o seu irmão Ammatas que havia falecido em combate. Flávio Belisário teve tempo para reagrupar as suas tropas e lançar um feroz contra-ataque, o qual destroçaria o exército vândalo e capturaria Cartago, cuja população, maioritariamente romana, acolheu bem os seus "donos de outrora". O general bizantino somará posteriormente novo sucesso militar ao vencer novamente os vândalos na batalha de Tricamarum travada em Dezembro de 533. As cargas da cavalaria grega voltariam a ser decisivas. Gelimer sofreria novo desgosto, ao deparar-se com outro seu irmão morto (o respeitado general - Tzazon) durante os combates. O soberano vândalo teve novamente que bater em retirada, consciente da superioridade técnica do adversário cuja liderança e disciplina militares imprimiam as bases necessárias para o sucesso. Pouco tempo depois, Gelimer acordou a rendição, salvaguardando algumas condições que lhe seriam benéficas. Assim sendo, ele acabaria por viver o resto da sua existência em terras da Galácia (Anatólia Central) que lhe foram oferecidas para usufruto por parte do imperador bizantino Justiniano.
Mas nunca é demais ressalvar o papel crucial de Flávio Belisário nesta campanha, o homem que tinha desembarcado nas terras áridas do Norte de África, enfrentando realidades (geográficas, climáticas, políticas, culturais...) que estaria provavelmente longe de conhecer. A sua bravura e conhecimento militar abriram-lhe as portas de Cartago.
Efectivamente, estes triunfos bélicos viabilizaram o controlo bizantino sobre uma grande área do Norte de África e a zona ocidental do Mediterrâneo. Uma etapa necessária para o soberano de Constantinopla que ambicionava restaurar o apogeu romano, recriando se possível um novo "Império Romano do Ocidente".
Por outro lado, um dos povos carrascos do antigo Império Romano - os vândalos, aqueles mesmo que em 455 saquearam Roma durante duas semanas terríveis, acabavam agora de ser aniquilados neste ano de 533 por um comandante que tinha devolvido credibilidade e esperança ao povo de Constantinopla. Todavia, a inveja e a intriga não tardariam em principiar nas altas instâncias bizantinas, com personagens influentes a difundirem rumores mal intencionados a respeito de Flávio Belisário - um deles (obviamente falso) era o de que este general ponderou em tornar-se rei dos vândalos, atraído pela eventualidade de recomeçar uma nova dinastia. Uma mentira que, na altura, não surtiu o efeito desejado pelos seus detractores, mas que era um prenúncio do que lhe poderia vir a acontecer num futuro não muito distante.





Mapa nº 1 - Na batalha de Ad Decimum (533), os vândalos tentaram cercar as forças comandadas por Belisário mas acabariam por fracassar pois os bizantinos reagiriam energicamente, rompendo com as linhas inimigas e motivando assim a sua desorganização fatal.





Imagem nº 2 - A glória dos bizantinos alcançava agora o Norte de África após o triunfo no âmbito da Guerra Vândala.




A Invasão da Península Itálica e a Guerra com os Ostrogodos


Findo o domínio vândalo do Norte de África e garantida a inclusão destes territórios no Império, Justiniano decidiu confiar, mais uma vez, em Flávio Belisário a condução de uma nova campanha - esta ainda mais ambiciosa do que a anterior - tomar a Península Itálica e Roma, a antiga capital do Império Romano. Os ostrogodos  (outro povo de raiz bárbara) tinham instalado o seu próprio reino nessa região, e estavam dispostos a defendê-lo até ao derradeiro suspiro. A guerra iria ser penosa pautada por avanços e recuos. Se o controlo pelo Magrebe ficou logo decidido entre os anos de 533 e 534, o conflito pela posse da Itália da Alta Idade Média começaria em 535 e arrastar-se-ia até 554, totalizando quase 20 anos de hostilidades!
O comandante até então preferido do imperador bizantino começa a sua complexa empresa com uma vitória na Sicília. Segue-se uma entrada em território italiano, mais concretamente em Rhegium (Calábria), e depois coloca cerco à cidade de Nápoles que cairia nas mãos das tropas invasoras durante o Outono de 536.
Entusiasmado pelos recentes êxitos, Belisário dá agora ordem de marcha até Roma, a cidade das sete colinas e, sem dúvida alguma, a urbe mais prestigiante daquela era. Paradoxalmente, a entrada do general em Roma decorre de forma categórica sem sinais de grande resistência no dia 9 de Dezembro de 536. Mas tudo não passava então dum ardil ou esquema concebido pelos ostrogodos que, sabendo da empatia da população romana para com os invasores (que se declaravam herdeiros do Império Romano), permitiram a entrada dos soldados bizantinos naquela cidade, para posteriormente os cercarem. 
Ao ter conhecimento da estratégia de retaliação do inimigo, o general natural da Trácia aprontou os preparativos necessários à sua defesa e mandou inclusive cavar fossos nas zonas imediatamente exteriores às muralhas, de modo a impedir ou, pelo menos, dificultar a aproximação ostrogoda junto das estruturas defensivas de Roma. 
Todavia, o cerco iria ser bastante duro, e pela primeira vez, o conquistador Flávio Belisário teria a obrigação de defender uma grande cidade diante dum exército respeitoso. No imediato, os ostrogodos erguem sete acampamentos/campos em torno de Roma, e destroem os aquedutos que transportavam água fresca. Ao fim de mais de duas semanas, os sitiadores bárbaros recorrem a torres de cerco para tentar o assalto aos muros, mas são forçados a recuar após violentas escaramuças com a guarnição bizantina. 
O comandante das forças imperiais apercebe-se da gravidade da situação, e consegue enviar mensageiros que envidarão esforços no exterior para garantir a afluência de novos reforços que forçassem o exército ostrogodo a levantar o assédio. Além do mais, Belisário projecta algumas sortidas de forma a tentar desmoralizar gradualmente o oponente.  
Após várias semanas de intensos combates, chegaram finalmente as forças de auxílio requeridas pelos bizantinos. Os ostrogodos ainda tentaram a via diplomática, propondo que Roma voltasse às suas mãos a troco de algumas regiões do sul da Itália que seriam oferecidas a Justiniano. Contudo, não houve qualquer espécie de acordo a esse respeito.
Entretanto, o cenário nos sete acampamentos inimigos era caótico devido à proliferação da fome e de pragas. Desesperados, os ostrogodos tentam um grande assalto colectivo às muralhas com uma determinação carregada de brutalidade mas sofrem uma pesada derrota que culminou no registo dum número bastante elevado de baixas. Naquele tempo, uma armada romana comandada por João causou igualmente imensos dissabores aos interesses dos godos. Ao fim de 400 dias de cerco, os últimos contingentes "bárbaros" abandonam finalmente o cerco de Roma. Belisário e os seus homens terão perseguido impiedosamente muitos desses combatentes até à Ponte de Mílvio já no exterior de Roma.
Dotado de sabedoria e dum espírito incansável, Belisário voltaria à ofensiva, tomando Milão e ainda a capital ostrogoda - Ravena, onde aprisionaria o rei godo Vitiges. Os domínios bizantinos tinham aumentado consideravelmente na região itálica. 
Entre os anos de 541 e 542, o general bizantino, atendendo às novas ordens de Justiniano, abandona temporariamente a campanha italiana, para dirigir outra no Oriente de modo a travar nova ofensiva movida pelos Persas. Os resultados desta empresa oriental foram inconclusivos, mas o processo terminaria com um compromisso de não-agressão entre ambas as partes para os próximos cinco anos, o que permitiu a Belisário retornar ao palco anterior.
Quando regressa, os ostrogodos tinham já recuperado alguns territórios importantes entre 540 e 541. O seu novo rei - Totila tinha mesmo conseguido expulsar os bizantinos de Roma, porém não seria por muito tempo, porque Flávio Belisário voltaria a repor em breve o domínio sobre aquela grande cidade. 
Entretanto, crescia a inveja dos seus detractores internos e até o próprio imperador começou a recear o seu excessivo protagonismo. Dentro deste contexto, o comandante deixou de receber o devido apoio imperial, sobretudo ao nível do abastecimento de provisões e de contingentes militares, o que o obrigou a abandonar o seu projecto em solo italiano. Seria substituído no comando pelo eunuco Narsés (com 74 anos na altura), um general igualmente competente, que sairia vitorioso nas batalhas de Taginae (552) e Volturnus (554), o que encerrou definitivamente a conquista bizantina da região itálica.





Mapa nº 2 - A Campanha de Belisário em solo italiano.
Retirada de Wikipédia (http://en.wikipedia.org/wiki/Belisarius)





Imagem nº 3 - Flávio Belisário chega triunfantemente a Roma, um episódio marcante no âmbito da Guerra Gótica.




Os últimos anos de vida em Constantinopla


Em 559, Belisário voltará a exercer um papel militar relevante ao enfrentar uma armada de eslavos e búlgaros que cruzaram o Danúbio, semeando infindáveis medos nos responsáveis de Constantinopla e nas populações das terras em redor. Recorrendo a uma força de veteranos, o general volta a evidenciar-se, contribuindo para a anulação daquela séria ameaça. Foi o último suspiro de glória deste general agora cinquentenário. 
O fim de vida não lhe reservaria o devido reconhecimento pelos seus serviços prestados ao Império Bizantino. No ano de 563, Flávio Belisário foi acusado de corrupção ou até de eventual conspiração contra Justiniano, tendo sido condenado em Constantinopla num julgamento aparentemente realizado pelo prefeito e historiador Procópio de Cesareia (este mantinha na altura uma relação azeda com Belisário, apesar de ter sido no passado seu assessor ou conselheiro). Cumpriu pena de prisão por algum tempo, mas foi perdoado pelo Imperador que ordenou a sua libertação. Não parece conter qualquer fundamento a lenda (então falsa) de que o imperador bizantino teria mandado cegar Belisário, o qual, segundo esta narração pouco credível, teria passado os seus últimos dias a pedir esmola nas ruas. Mesmo assim, este mito, desprovido então de qualquer fundo verídico, tende-nos a transmitir a ideia de que o comandante não teve direito ao tratamento que justificou merecer pelos serviços que cedeu ao Império. Se por um lado é (quase) certo que Flávio não encerrou a sua existência na condição precária dum marginal ignorado pela sociedade, por outro, não podemos negar a sua passagem pela prisão, momento que comprovadamente aconteceu e que terá sido bastante humilhante para um homem que deu tudo de si para concretizar vários dos sonhos do seu chefe máximo - o basileu. É certo que acabaria por ser libertado em breve, mas o crédito de que outrora gozava já não parecia ser o mesmo.
O imperador Justiniano e o seu leal general Flávio Belisário faleceriam ambos em 565, talvez separados por poucas semanas. Os dois tinham aumentado em 45% a extensão territorial do Império Bizantino. O empenho de ambos resultou no ressurgimento dum novo apogeu digno do saudosismo romano.






Imagem nº 4 - Mosaico na Basílica de São Vital em Ravena que apresenta as principais figuras do reinado de Justiniano (527-565). O imperador encontra-se obviamente no centro. O homem imediatamente ao seu lado direito é Flávio Belisário (isto visto a partir da perspectiva da posição ocupada pelo imperador, mas para quem visualiza a imagem a partir do prisma exterior como aqui no nosso blog, Flávio encontra-se logicamente logo ao lado esquerdo de Justiniano, ostentando cabelo e barba compridos).






Imagem nº 5 - Flávio Belisário (já de idade avançada) é reconhecido por um soldado que lhe presta reconhecimento. Nesta gravura, o pintor François-André Vincent alimenta o mito (erróneo) do conquistador ter sido cegado pelo imperador, vivendo os últimos dias na miséria.
Quadro de François-André Vincent (1776)





Mapa nº 3 - O Império Bizantino atinge a sua máxima extensão no reinado de Justiniano que deve muito deste mérito ao seu general Flávio Belisário.
Retirada de: http://www.preceden.com/timelines/6605-edad-media-i--bizancio-y-el-imperio-carolingio, (F. Javier Villalba Ruiz de Toledo - Universidad Autónoma de Madrid)




"Nenhum General desde César conquistou tantas vitórias com recursos tão limitados de homens e fundos; poucos o superaram na estratégia ou táctica, na popularidade com os seus homens e misericórdia para com os seus inimigos; talvez os seus méritos façam notar que os maiores generais - Alexandre, César, Belisário, Saladino, Napoleão - encontraram clemência num poderoso motor de guerra" (Will Durant citado em: http://www.ancient.eu/Belisarius/)



"Esquecido pela História e traído pelas pessoas mais próximas, fez renascer o sonho romano de reconquistar as terras perdidas para os Bárbaros. Dono de uma das carreiras militares mais respeitáveis de todos os tempos, Flávio Belisário foi o responsável pela expansão do Império Romano do Oriente em meados do século VI. Apagado dos livros de história, seu nome foi temido e celebrado do Oriente Próximo até ao norte da Itália. Suas tácticas de guerra levaram-no a bater inimigos numericamente superiores" (Beto Gomes in http://guiadoestudante.abril.com.br/)




Referências Consultadas:





Nota-extra: O apogeu logrado nos tempos do laureado e formidável imperador Justiniano não se prolongaria por muito tempo. Por volta de 570, isto é, 5 anos depois do falecimento do basileu e do seu general), terá nascido em Meca - Maomé, um profeta com elevado carisma e notável oratória, que estará na génese do Islamismo. A idade de ouro muçulmana irá iniciar-se entre os séculos VII e VIII vislumbrando-se inúmeras conquistas, espalhando assim os princípios do Alcorão pelas regiões submetidas. Os seguidores de Maomé obterão várias vitórias no Médio Oriente, Norte de África e inclusive se apoderarão da Península Ibérica (invasão ocorrida em 711), onde o decadente e dividido reino visigodo tombará facilmente. Essa era culminará evidentemente na acumulação de derrotas por parte dos bizantinos que perderão assim muitos dos seus territórios, ficando confinado o império a uma extensão bem mais modesta do que aquela que fora produto do reinado de Justiniano, o Grande e do seu célebre general destemido Flávio Belisário.

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