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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A antropofagia como expressão dos povos americanos pré-colombianos

O canibalismo não foi um fenómeno inédito ou originário da América pré-colombiana, aliás registos da sua prática já eram conhecidos para as mais variadas etapas da história da Humanidade, independentemente da localização geográfica.
Reportando-nos ao caso europeu, o canibalismo terá sido frequente no Período do Neolítico. Mas encontramos também testemunhos na Idade Média. Por exemplo, quando os cruzados sitiaram Maarat (1098) no âmbito da Primeira Cruzada também recorreram ao canibalismo, talvez não em jeito de fanatismo religioso (como alguns cronistas árabes tenderam a apontar), mas sim devido à fome que se fazia sentir depois dum longo e penoso trajecto, sem o usufruto de recursos alimentares suficientes. Também a grave fome de 1315-1317 que afectou a Europa, propiciou a existência de actos daquela natureza. Registos de antropofagia prolongam-se ainda até à actualidade, embora com uma incidência bastante reduzida ou até quase nula.



Imagem nº 1 - O canibalismo em Maarat, no decurso da Primeira Cruzada.



No caso das Américas, antes da chegada dos espanhóis que procederam à colonização e aculturação destes povos, podemos afirmar que o canibalismo não se devia apenas à necessidade alimentar. Existiam outras motivações que levavam astecas, maias e incas (e os outros povos de menor dimensão) a enveredar por esta prática.
A sua religião politeísta tinha de ser alimentada, os seus variados deuses naturais deveriam ser adorados e, nesse sentido, sucediam-se inúmeros rituais de sacrifícios humanos, nomeadamente sobre os seus prisioneiros de guerra. O coração das desgraçadas vítimas era extraído à força e depois exibido ao alto de forma a mostrar a nova oferenda aos deuses que assim os poderiam proteger, garantido-lhes dias mais prósperos no futuro. Os corpos seriam posteriormente cozidos e repartidos por todos os participantes presentes no ritual que assim se alimentariam da carne do sacrificado no banquete entretanto realizado. Neste prisma, o cosmos era interpretado como um predador que se alimentava de vidas humanas. Aqui a prática canibalista integrava-se efectivamente num ritual destinado a agradar às múltiplas divindades.
Para além da conotação religiosa, os guerreiros indígenas acreditavam ainda que ao devorar o corpo do inimigo seria uma forma de se apoderar da sua força e do seu espírito, granjeando ao antropófago uma capacidade física e interior (isto é, força, inteligência e bravura) bastante superior. 
É difícil estimar uma média anual de sacrifícios humanos na América pré-colombiana, mas cremos que o número seria bastante elevado, pois a prática era bastante divulgada naquele continente até então desconhecido pela restante população mundial.  Aliás, no Império Asteca há registo de que teriam ocorrido, pelo menos, sacrifícios de milhares de pessoas em cada ano. Existiam inclusive as guerras floridas que eram acordadas entre as cidades mesoamericanas, não com o intuito principal de infligir a morte em batalha, mas sim de deter o maior número de prisioneiros de ambos os lados que seriam posteriormente sacrificados aos deuses.
O canibalismo na América começará a ser combatido com a chegada dos novos colonizadores e missionários espanhóis que ficaram horrorizados perante este costume tão aberrante. O Cristianismo substituirá as crenças politeístas, e repudiará definitivamente o canibalismo. 



Imagem nº 2 - A antropofagia na América pré-colombiana.


Astecas praticavam canibalismo, diz estudo

Imagem nº 3 - O canibalismo era muito frequente no império asteca.




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