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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Os Astecas e o seu Império

Contexto Temporal e Geográfico

Desconhecem-se as origens exactas dos astecas, mas é certo que esta civilização terá começado a alcançar notoriedade a partir do século XIII, iniciando uma expansão desde o Norte do México em direcção aos territórios localizados mais a sul (chegam inclusive a alcançar o Vale do México). O seu apogeu prologou-se até o século XVI, altura da chegada dos conquistadores espanhóis que ditou o fim do seu ciclo hegemónico. 
Se no caso dos Maias, a utilização do termo império poderá ser algo discutível, não obstante a partilha de tradições religiosas, sociais e culturais semelhantes entre as cidades-estado independentes, o mesmo não podemos dizer dos astecas que criaram indubitavelmente, em termos políticos, um Império com mais de quinhentas cidades, talvez inicialmente habitado por 5 ou 6 milhões de habitantes (embora este número aumentasse talvez até aos 10 milhões no ano de 1500, muito devido às novas conquistas), e quase todo ele sujeito ao controlo inequívoco dum imperador.





Mapa nº 1 - O Império Asteca, cuja capital viria a ser Tenochtitlan, talvez construída no século XIV (em 1325 ou em 1345).



A Sociedade e Economia Asteca

Apesar da clara autonomia de várias cidades, era o soberano de Tenochtitlan, que assumia o maior protagonismo, sendo o seu papel associado ao dum imperador. Era ele que comandava os exércitos confederados de forma a alargar as suas fronteiras e submeter os povos vizinhos. Como a guerra era uma acção constante dos astecas, haveria pois alguma possibilidade de ascensão social para os seus combatentes que mais se distinguissem no palco de batalha. O soberano era pois um chefe político, militar e religioso, e seria eleito por um conselho de nobres (normalmente a escolha recaía sobre um dos familiares mais próximos do rei antecessor).
Para além do tlatoani (soberano ou imperador), tínhamos o cihuacoatl que desempenhava funções semelhantes à dum primeiro ministro e juiz supremo, podendo ainda exercer o ofício de comandante militar e de regente no caso de ausência do imperador. O seu papel poderia também assemelhar-se ao de um conselheiro pessoal do imperador.
Em seguida, destacavam-se os nobres (detinham títulos, cargos e terras) e sacerdotes (reguladores das forças naturais; também se pode falar em nobreza sacerdotal tal como já havíamos feito em relação ao caso dos Maias) enquanto classes privilegiadas. Estes tinham evidentemente mais hipóteses de aceder à cultura sobretudo assente na religião e nas artes. Para além disso, estavam isentos do trabalho agrícola e do pagamento de tributos, tinham direito a tribunais específicos para a sua categoria, podiam frequentar as escolas especiais (calmécac) e ocupar cargos públicos de grande nomeada.
Os comerciantes também detinham uma posição interessante nesta hierarquia, pois abasteciam as regiões com produtos de luxo e ainda realizavam espionagem ao serviço do governo asteca. Levavam as contas aos seus senhores, pagavam elevados impostos e chegaram a adquirir terras próprias. Os mais bem sucedidos chegaram a ingressar na corte, outros foram admitidos na nobreza. Também tinham acesso a tribunais especiais, e podiam ainda trazer insígnias ou adorar uma divindade específica que protegesse a sua actividade que, no caso asteca, se revelou de maior importância.
O estado popular, o núcleo mais numeroso da sociedade asteca, estava sujeito a tributos e corveias, destacando-se neste sector os casos dos camponeses, artesãos, ourives, joalheiros, escultores, lapidadores, escultores, pintores, alfaiates, oleiros, escribas, talhadores de madeira, pedreiros, curtidores, fabricantes de facas...
Na base, estavam novamente os escravos, privados da liberdade por captura em guerra (muitos destes escravos cativos poderiam vir a ser sacrificados em rituais), pela prática de diversos delitos (por exemplo: roubo, traição ou assassinato), dívidas, venda ou rapto. Eram bastante utilizados na lavoura, construção de edifícios, transporte de mercadorias, no artesanato e nos serviços domésticos. 
No âmbito económico, a agricultura tinha um peso determinante, e por isso, devemos destacar o cultivo dos seguintes produtos: milho, legumes, pimentos, cacau, algodão e tomates. Dedicaram-se igualmente à criação de perus e cães, bem como à pesca e caça de aves aquáticas. Os tributos e também o comércio que era realizado permitiam o enriquecimento das trinta e oito províncias do império. O mesmo se podia dizer dos despojos obtidos nas campanhas militares vitoriosas.
A religião era naturalmente, tal como os restantes povos americanos pré-colombianos, de carácter politeísta. Aqui devemos destacar as seguintes divindades que eram alvo de adoração: Quetzalcoatl (Deus cultural e civilizador dos astecas), Huitzilopochtli (Deus do Sol, da Noite, do Estado e da Guerra; padroeiro de Tenochtitlán; era possivelmente a divindade tribal mais preferida),  Tlaloc (Deus da Chuva),  Tlazolteotl (Deusa do Amor), Tezcatlipoca (Deus do Céu Nocturno e das Forças Obscuras), Huehuetéolt (Deus Ancião ou Deus do Fogo), Xipe Teotec (Deus da Fertilidade, da Vegetação e dos Ourives), entre muitos outros... Tal como no caso dos Maias, embora estes adoptassem designações distintas para os seus ídolos, denotamos uma clara associação da religião às forças naturais e evidentemente também, neste contexto, eram oferecidos sacrifícios humanos (até o canibalismo, prática comum destes povos, se poderia considerar uma expressão ritual) o que normalmente acontecia com os cativos de guerra. A vida humana tinha pois o poder e o dever de alimentar a vida das suas divindades, aliás existia o argumento religioso de que os sacrifícios eram necessários para manter a vida do Sol (e demais astros). Também as capacidades de adivinhação ou profecia dos sacerdotes eram bastante apreciadas pela sociedade.



Imagem nº 1 - Quetzalcoatl, importante divindade asteca, simbolizado ainda com a presença duma serpente emplumada. 


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Imagem nº 2 - Os astecas realizavam com frequência sacrifícios humanos de forma a agradarem aos seus deuses.



Imagem nº 3 - A civilização asteca conseguiu incrementar a actividade comercial, obtendo maior destaque neste sector comparativamente com os Maias que menos se evidenciaram nesta iniciativa económica.
Foto: Wikipédia



Imperadores Astecas

No século XIV, e após a fundação de algumas importantes cidades, houve a necessidade de se eleger um chefe único (o tlatoani) que se destacaria entre quatro chefes principais. É evidente que as cidades-estado tinham o seu próprio soberano, contudo a personalidade do tlatoani confere-lhe um estatuto próximo do imperial. O primeiro imperador, embora seja evidente que devemos ter o máximo de cautela quando utilizamos esta terminologia dada a autonomia de algumas regiões, terá sido Acamapichtli que assumiu o poder em 1372. Todos estes imperadores tiveram a necessidade de expandir os seus domínios, conquistando gradualmente vários territórios.
Em 1428, é firmada a Tríplice Aliança, uma aliança entre três dos principais estados astecas: Tenochtitlán (a cidade mais importante), Texcoco e Tlacopan, alcançando um domínio bastante abrangente na região central do México, cenário que favoreceu ainda mais as ambições imperiais.
O Império asteca contava ainda com uma vasta rede de agentes tributários e companhias militares, os primeiros garantiam a canalização das verbas destinadas ao Estado, os segundos garantiam a ordem e procuravam alargar as fronteiras, derrotando os povos vizinhos.
Sobre a complexidade desta entidade imperial, destacamos ainda a seguinte leitura de Ángel Sanz Tapia:

 "O controlo político dum império tão extenso como este não era uniforme, pois existiam zonas não submetidas aos Astecas (Tlaxcala, Teotitlán, Yopitzinco) e em muitas outras a pressão asteca variava entre a simples aliança e a total dominação. Em zonas fronteiriças ou turbulentas, mantinham-se guarnições permanentes, postos estratégicos militares, enquanto as regiões que aceitavam o poder de Tenochtitlán conservavam a sua forma de governo, as suas dinastias locais, e a sua própria estrutura social, ainda que tenham tolerado a presença de funcionários astecas, administrativos, fiscais ou militares. Além disso, todos os territórios do império sujeitavam a  sua política exterior às directrizes astecas, em obrigados a aceitar o culto ao deus Huitzilopochtli e, sobretudo, contribuíam para o enriquecimento da capital asteca (Tenochtitlán) mediante o pagamento de tributos".



A capital Tenochtitlán, construída sobre uma ilhota localizada a oeste do lago Texcoco, era uma cidade rica. Existiam ruas, canais, um aqueduto (onde se recolhia a água), diques (para evitar inundações por parte das águas do lago), pontes, um centro cerimonial com templos dedicados a vários deuses, um mercado, casas familiares, os palácios do imperador e as mansões dos nobres. Recorde-se que o Palácio de Moctezuma II correspondia a uma planta quadrada com 200 metros de lado e reunindo à sua volta: edifícios diversos (nomeadamente as propriedades dos mais influentes aristocratas), jardins, pátios e mesmo uma espécie de jardim zoológico.
De seguida, apresentamos uma tabela com o nome dos imperadores astecas:



Imperador (tlatoani)
Era de Governação
Feitos/Acontecimentos
Acamapichtli
1376-1395
Era provavelmente oriundo de Culhuacán. Submeteu várias tribos do Vale do México, após campanhas militares bem-sucedidas. São conquistadas várias terras, nomeadamente Tenayuca, Culhuacán, Xoch Milco e Cuauhnáhuac.
Huitzilíhuitl

1396-1417
Prossegue com a política expansionista: toma Chalco e Cuautitlán. Ditou a aplicação de novas leis.
Chimalpopoca

1417-1427
O seu reinado foi débil e pouco consensual. Foi mesmo morto na sequência duma rebelião.
Itzcóatl 
1427-1440
Responsável pela formação da tripla aliança. Tenochtitlán consegue obter o auxílio de Texcoco (liderado por Nezahuatlcóyotl) e de Tlacopán (cidade tepaneca dissidente governada por Totoquilhuaztli) para assim derrotar os tepanecas de Azcapotzalco. Esta última acaba saqueada e destruída, com alguns dos sobreviventes a seguirem o destino da escravatura.
Conquistou ainda as cidades-estado de Mixcoac, Atlacohuayan, Huitzillopochco, Teotihuacan, Otompan, Coyohuacan, Míxquic , Culhuacán, Cuitláhuac...
Empreendeu uma importante reforma religiosa, onde, por exemplo, valorizou a promoção dos rituais sanguíneos.
Mandou erguer um aqueduto de forma a abastecer com água os habitantes de Tenochtitlán.
Moctezuma I
1440-1469
O grande soberano por excelência. Fortaleceu o seu poder enquanto “tlatoani” e “tlacatecuhtli”, imperador e chefe supremo respectivamente. Impõe-se face às cidades-estado de Chalco e Tepeaca, e ainda apodera-se das zonas de Guerrero, Hidalgo, Puebla, Oaxaca e uma boa parte de Veracruz.
Teve ainda de enfrentar uma grave crise económica (que se traduziu numa grande fome vivida entre 1450-1454) motivada por catástrofes naturais.
Aumento o território da Tripla Aliança e aplicou novos impostos nas regiões recém-conquistadas, o que favoreceu um crescimento mais notável de Tenochtitlán.
A construção do Templo Maior foi iniciada ainda no seu reinado.
Axayácatl

1469-1481
Ocupou terras no vale de Toluca e as zonas de Cacaxtla, Tlatelolco. Mandou talhar a pedra do Sol.
Tízoc
1481-1486
Demasiado dedicado à vida religiosa, não se destacando no plano militar. Procurou educar as terras conquistadas, e não conquistar novas cidades. Morreu provavelmente envenenado, cessando um curto mandato sem grande prestígio.
Ahuízotl
1486-1502
Grande conquistador. Tomou a região zapoteca, Veracruz, Tehauantepec, alcançando os limites do Guatemala. Favoreceu o crescimento da capital Tenochtitlán, urbanizando a cidade, construindo grandes palácios e templos, muito graças às riquezas e produtos que aí afluíam.
Foi a ele que se deveram as cerimónias mais sangrentas da era asteca, em que foram sacrificados muitos milhares de prisioneiros de guerra (só no primeiro ano de reinado, mandou sacrificar entre 20 mil a 80 mil homens), oferecendo-os a várias divindades como forma de as adorar e comemorar as suas vitórias.
Moctezuma II
(Xocoyotzin)
1502-1520
Venceu os Mixtecas de Oaxaca e apoderou-se do vale de Puebla.
Detido pelos recém-chegados conquistadores espanhóis, nos quais confiou ingenuamente, acabaria poucos dias depois por morrer em condições ainda pouco precisas (talvez vítima da indignação do seu próprio povo que não lidou bem com a intimidade que demonstrara perante os novos invasores).
Cuitláhuac
1520
Depois do massacre de vários nobres astecas no Templo Maior de Tenochtitlán perpetrado cruelmente pelos espanhóis, encabeçará o levantamento contra os invasores, e procura a todo o custo defender a capital Tenochtitlán.
É um dos responsáveis pelo célebre episódio da “Noite Triste” que causou a morte de centenas de espanhóis, também eles surpreendidos quando se procuravam retirar da cidade para reorganizar as suas forças.
O seu reinado durou talvez 80 dias, pois morreria devido a varíola, doença introduzida pelos colonizadores europeus e desconhecida na América de até então.
Possuía a coragem que o seu antecessor não tinha revelado. Com ele, desapareceriam as já remotas esperanças de conseguir resistir a um inimigo tão bem preparado.
Cuauhtémoc
1520-1521
Último soberano asteca. Tinha apenas 18 anos quando subiu ao trono. Foi capturado pelos espanhóis. Ofereceu a sua faca para que Hernan Cortés o matasse. Mas acabaria antes por ser torturado, com os seus pés a serem mesmo queimados. Foi mais tarde enforcado através da acusação dum alegado envolvimento seu numa conspiração contra os espanhóis.

Tabela nº 1 - Os 11 tlatoanis que dominaram o Império Asteca.






Mapa nº 2 - A cidade de Tenochtitlán situava-se numa ilha do lago Texcoco, sendo que alguns canais percorriam o seu interior, assemelhando-se a uma Veneza mexicana.
Mapa retirado do Wikipédia




Imagem nº 4 - A grande cidade de Tenochtitlán.
Quadro da autoria de Diego Rivera (1886-1957)




Imagem nº 5 - Itzcóatl (1427-1440), grande imperador asteca, responsável pela criação da Tripla Aliança e por muitas conquistas territoriais.
Retirada de: http://gabrielherrera.deviantart.com/art/Itzcoatl-159515941, (desenho da autoria de Gabriel Herrera).




Imagem nº 6 - Cuitláhuac, penúltimo tlatoani (1520). Apesar de ter governado apenas 3 meses, ficou conhecido pela resistência corajosa que empreendeu perante os poderosos invasores espanhóis, procurando defender Tenochtitlán e combatendo pelo seu povo.
Retirada de: http://www.taringa.net/posts/apuntes-y-monografias/15254501/Cuitlahuac.html



A Cultura Asteca


Os traços culturais desta civilização pautaram-se pela/o:

  • Desenvolvimento da arquitectura, esta espelhada na construção de edifícios de elevadas proporções. 
  • Divulgação da escultura em pedra caracterizada pelo seu simbolismo e ainda relacionada com as necessidades religiosas (produziram-se imagens de divindades), embora não tenham conseguido, nesta área, alcançar o nível de estrelato dos Maias.
  • Aplicação da pintura mural.
  • Confecção de tecidos e adornos de plumas (escudos, coroas e diademas).
  • Estabelecimento do mosaico de pedras miúdas.
  • Aposta no comércio. Os mercados existentes permitiam a troca de produtos exóticos, fossem eles bens materiais ou géneros alimentares. Em relação aos primeiros, podemos destacar o algodão, a borracha, peles de jaguar e veado e plumas de quetzal, tabaco, copal, ouro, jade, turquesas, armas, vestidos, jóias... No que diz respeito aos segundos, não podemos deixar de mencionar o milho, cacau, tomate, baunilha, mel, sal, entre outros. Nesta vertente económica, os astecas parecem ter sido mais avançados em relação aos maias. Desta forma, também se promoveu o intercâmbio de ideias e informações entre as diferentes regiões do Império.
  • Disposição duma organização militar. Era prática comum o recurso a companhias de combatentes constituídas por uma força que habitualmente compreendia entre 200 a 400 homens, liderados por chefes militares especializados. Destaque para a formação dos cuacuauhtin, composta pelos cavaleiros-águias e tigres, constituindo uma elite habilmente treinada e talhada para o palco de batalha. Contudo, a existência deste grupo não nos permite afirmar que o exército seria, na sua totalidade, profissionalizado. Aliás, muitas vezes tinham que ser convocados vários membros do povo para determinadas expedições, às quais não estavam, de todo, habituados.
  • Prática habitual do Jogo da Péla que integrava rituais de sacrifícios humanos para os derrotados.
  • Presença da dança, canto, poesia e música que conheceram uma notável difusão social.
  • Criação do seu próprio calendário, dum sistema de numeração vigesimal e duma escrita pictográfica (com o desenho de episódios nos códices).
  • Pensamento pessimista e fatalista: a iminência da morte está sempre presente.



Imagem nº 7 - Pirâmides astecas em Teotihuacán
Retirada de: https://www.flickr.com/photos/sandracappuccio/2666382862/, (foto da autoria de Sandra Cappuccio).



Imagem nº 8 - A Pedra do Sol asteca, um exemplar artístico.



Imagem nº 9 - A civilização afirmou-se na zona norte e central do México.



aztec knight of the jaguar

Imagem nº 10 - O guerreiro-tigre/jaguar asteca que se destacava nas elites de combate.
Retirada de: http://www.pinterest.com/pin/426434658438917400/ (Lutin Tamarh).





Imagem nº 11 - Estatueta dedica a uma divindade asteca - Coatlicue (Deusa da Vida e da Morte, e considerada mãe dos deuses).




A Queda do Império Asteca


Em 1492, Cristóvão Colombo atingiria as Antilhas. A partir desse ano, intensificaram-se naturalmente as explorações e as expedições destinadas a controlar os novos espaços recém-descobertos deste continente até então desconhecido pela população europeia.
A 18 de Fevereiro de 1519, a armada espanhola deixava Cuba e rumaria em direcção à parte continental. Após o desembarque, o primeiro confronto guerreiro dá-se em Tabasco onde os índios locais são derrotados mediante a superioridade técnica espanhola. Hernan Cortés era o responsável pelo comando, um general autoritário que já tinha precavido os seus soldados para eventuais emboscadas, para além de defender a utilização de roupas de algodão acolchoado (para evitar ou atenuar, ao máximo, a penetração das flechas inimigas no corpo dos seus militares) e o recurso à artilharia, espingardas e balestas de forma a aterrorizar e dispersar os seus inimigos. Entretanto, dois dos seus destacamentos, lançados para reconhecer ou explorar totalmente aquela região, são atacados. Contudo, os espanhóis, com recurso à cavalaria, conseguiram voltar a repor a ordem, forçando os nativos a reconhecerem a sua hegemonia.
Pouco tempo depois, a armada de Cortés chegava a São João de Ulúa, onde se depararam com os primeiros embaixadores enviados pelo imperador asteca Moctezuma II. O general espanhol mandou dizer que o seu rei, o mais poderoso do mundo, tinha a intenção de fazer as pazes com o soberano daquela terra. Houve inclusive, nesta altura, troca de presentes.
Contudo este cenário amistoso não perduraria por muito mais tempo. Cortés começou a encetar íntimos contactos com os povos submetidos à força pelos astecas (foi por exemplo o que aconteceu com os totonacos de Cempoala). Mas o general e capitão espanhol era hábil, e procurava não dar muito nas vistas, esperando que a sua discrição fosse suficiente para não irritar Moctezuma II que poderia recusar-se a recebê-lo, caso tivesse conhecimento dos seus jogos políticos.
A 16 de Agosto de 1519, os hispânicos saem de Cempoala com 400 peões, 15 ou 16 ginetes e 6 peças de artilharia. Em Vila Rica, deixariam uma guarnição de 150 homens, de forma a controlar os totonacos que já haviam reconhecido a soberania espanhola.
Cortés não cessa de procurar novos aliados, até porque o seu exército, embora bem equipado, estava longe de ser suficiente, em termos numéricos, para conseguir derrubar e anexar o Império Asteca. Nesse sentido, e apesar de alguns imprevistos, consegue empreender contactos com as tribos de Tlaxcala, célebres inimigos dos mexicas. Ao mesmo tempo, sucedem-se as embaixadas enviadas pelo soberano asteca que tenta oferecer novos presentes ao general espanhol e que ainda revela a disposição de pagar um tributo ao rei de Castela.
Com a ajuda preciosa dos seus novos aliados Tlaxcaltecas e Cempoalenses submete a cidade de Cholula, localizada já não muito longe da capital Tenochtitlán. Milhares de indígenas morreriam neste episódio sangrento da conquista espanhola. Cortés já poderia seguir triunfantemente até à capital, sem encontrar grande resistência pelo caminho.
Moctezuma II prosseguia com as suas acções ingénuas, insistindo no envio de embaixadas de luxo para presentear e impressionar o general espanhol, cujos feitos recentes (talvez ainda não conhecidos na totalidade pelo imperador asteca) indiciavam o fim do ciclo hegemónico daquela civilização.
Tenochtitlán possuía ruas de terra, mas igualmente canais que percorriam o seu interior. No seu centro, continha palácios reais e casas dos nobres. Havia abundância de árvores e jardins. O comércio era visível, com mais de 60 mil pessoas a frequentarem o seu importante mercado. Nas periferias, vivia o povo que estava sujeito às zonas mais pantanosas junto ao Lago Texcoco que circundava a cidade.
Os primeiros contactos entre Moctezuma e Cortés são pacíficos, procedendo-se a nova troca de presentes. O tlatoani acredita mesmo que tinham acabado de chegar os "deuses brancos" (acreditava-se que Cortés seria Quetzacoatl cujo regresso era anunciado há anos pelos sacerdotes mexicanos) e por isso, tinham de ser tratados com a maior das honras. Este imperador asteca revelaria indecisão e fragilidade nos momentos fulcrais, deixando iludir-se facilmente pelas aparências. Como já disséramos, não hesitará em reconhecer a soberania do rei de Espanha, estando disposto a pagar tributos a este. Os espanhóis presentes já na capital não hesitarão em apoderar-se dos tesouros (peças de ouro e prata, plumas, pedras..) que esta região armazenava. Um quinto (o quinhão) seria entregue ao rei de Espanha, outro seria para Cortés, e ainda sua hoste seria contemplada com uma pequena parte.
Cortés decide ir mais longe, e agora tem a intenção de acabar com a idolatria asteca, destruindo as imagens de Huitzilopochtli e Tlaloc no templo maior, e colocando no seu lugar a figura de Nossa Senhora e um retábulo de São Cristóvão. Evidentemente que este episódio causou bastante confusão e indignação nos indígenas que, surpreendidos e aterrados, assistiram a esta ousadia dos espanhóis.
Moctezuma, também ele descontente, consulta os seus sacerdotes que reprovam o acto e exige a Cortés e aos seus homens para que se retirem de Tenochtitlán. Aquele líder espanhol teve mesmo de se ausentar com uma parte do seu contingente, mas sobretudo por causa dum diferendo que mantinha com Diego Velázquez (Governador espanhol de Cuba) que enviara ao seu encontro uma expedição comandada por Pánfilo de Narváez com o intuito de o prender e levar a Cuba. Cortés levará a melhor e consegue mesmo aumentar a sua armada, regressando posteriormente a Tenochtitlán.
Quando aí retorna, depara-se com as ruas desertas e um enorme silêncio. Efectivamente, a situação descontrolara-se. A revolta popular já tinha sido iniciada. Pedro de Alvarado, oficial espanhol que aí ficaria temporariamente a comandar até ao regresso de Cortés, foi responsável pelo episódio da Matança do Templo Maior (20 de Maio de 1520), onde vários nobres, sacerdotes e veteranos de guerra astecas foram surpreendidos por um ataque espanhol que se traduziu num autêntico banho de sangue, quando decorria um importante cerimonial de culto aos deuses mexicanos. Os espanhóis fecharam as portas do templo, e lançaram-se com fúria contra os senhores mexicanos que aí dançavam totalmente desarmados. Neste episódio, terão perecido milhares, e até o imperador Moctezuma foi detido, com o estatuto de refém estratégico que seria utilizado para procurar acalmar o cenário de rebeldia, o que era essencial para a própria protecção da armada espanhola. Contudo, a população revoltou-se perante tal acto aleivoso que vitimou sobretudo a classe dirigente asteca. A capital passou a um autêntico estado de sítio. O pequeno destacamento comandado por Pedro de Alvarado começou a sentir na pele a ira dos nativos.
Entretanto, Cortés, reassumindo a liderança no seu retorno, pediu a Moctezuma que falasse novamente ao seu povo para o apaziguar. Terá sido neste momento que o imperador asteca foi vaiado e apedrejado pelos seus súbditos que não compreendiam a intimidade e a complacência deste para com os invasores europeus, cujos abusos estavam a horrorizar a população local. Outras teorias, embora menos credíveis, referem que ele foi morto pelos espanhóis, enquanto estava detido.
A morte de Moctezuma, cuja ingenuidade havia sido fatal, abriu uma nova vaga para a sucessão. Os espanhóis tentam interferir na nomeação e exigem, sob pena de destruição da capital asteca, a nomeação dum primo do anterior imperador, o qual já se deixara influenciar pelas directrizes dos invasores. Evidentemente, os astecas não fizeram a vontade a Cortés (não caíram na armadilha!), e nomearam antes um irmão do imperador falecido - Cuitláhuac que agora era seguido pelo seu povo, tomando o partido da resistência total face aos novos conquistadores. Este estava disposto a combater pela sua causa, não confiando nas alegadas intenções amistosas ou diplomáticas dos espanhóis. A sua missão passaria por expulsá-los definitivamente daquela região, procurando proteger Tenochtitlán. Um objectivo exigente, já que os astecas não possuíam o poderio militar dos espanhóis que ainda contavam com o apoio de importantes exércitos indígenas que estavam ansiosos por derrubar a hegemonia daquela civilização. Aliás, muitos dos nobres da capital asteca já haviam falecido no massacre do templo maior. Cuitláhuac não tinha pois grandes apoios no âmbito militar, excepto a numerosa população civil que estava disposta a lutar contra a conjuntura nefasta que estava a abater-se sobre o seu território. Mesmo assim, nada demoverá o novo imperador de planear a vingança de forma a punir os abusos já cometidos pelos invasores contra o seu povo.
Os espanhóis, com escassos recursos alimentares, são atacados por todos os lados, e retiram-se da capital asteca (abandonam o palácio de Axayácatl pela calada da noite, onde se haviam refugiado nos últimos dias) isto sem antes sofrerem consideráveis dissabores, pois daí resultará o episódio da Noite Triste (30 de Junho de 1520), no qual tombaram, pelo menos, quatro a oito centenas de soldados espanhóis e 2 000 dos seus aliados nativos. A maior parte dos tesouros acumulados que transportavam perderam-se irremediavelmente. Hernan Cortés tinha sofrido uma estrondosa derrota e, segundo alguns autores, teria mesmo chorado a morte de muitos dos seus companheiros que não conseguiram ser bem sucedidos no inglório esforço de retirada. Por seu turno, Cuitláhuac e os contingentes que lhe eram fiéis poderiam ter somado uma vitória moralizadora e decisiva, não fosse o azar do imperador ter morrido pouco tempo depois devido à propagação da varíola, introduzida involuntariamente pelos conquistadores europeus neste novo continente. Para além do imperador, milhares de astecas terão perecido por causa desta praga que acabou por se transformar numa aliada incondicional de Hernan Cortés.
Depois da retirada penosa em Tenochtitlán, o maltratado exército hispânico chega ao ponto de se alimentar dum cavalo morto, o que revela a sua nova situação confrangedora. Mesmo assim, as tropas recuperam a sua motivação quando no dia 7 de Julho derrotam um grande exército asteca, tendo sido morto o seu cihuacóatl - Matlatzincátzin  às mãos de Cortés e de João de Salamanca. Após terem conhecimento da morte deste alto responsável militar, as restantes tropas indígenas decidiram retirar-se, em vez de prosseguir com a ofensiva, aproveitando a sua superioridade numérica e o desgaste do adversário - tal fora um grave erro estratégico, pois apesar da bravura e superioridade em termos de artilharia, os espanhóis e seus aliados tribais estavam em número bastante inferior. Apenas não se tinham rendido inicialmente porque sabiam que se o fizessem, a sua vida não seria poupada pois seriam alvo de sacrifícios humanos (o que por exemplo, tinha acontecido a alguns dos seus compatriotas que não conseguiram escapar de Tenochtitlán) e por isso, preferiram combater até à exaustão, e acabaram por ser premiados pela sua coragem e conhecimento superior da táctica militar.
Cortés voltará a Tlaxcala, agindo diplomaticamente de forma a reunir novamente o apoio militar deste povo. Nos inícios de Setembro, já ocupa Tepeaca e outros territórios à volta. No dia 31 de Dezembro de 1520, toma Texcoco, uma das três cidades da confederação asteca, sem encontrar resistência. O capitão espanhol ordena ainda a construção de bergantins (navios de guerra) de forma a assegurar o domínio da lagoa de Texcoco que albergava a ilha onde estava inserida a cidade de Tenochtitlán. Por outro lado, os espanhóis recebem, a partir de navios europeus que aportavam na costa mexicana, novos reforços e materiais (peões, besteiros, espingardeiros, ginetes e ainda peças de artilharia) para empreender o ataque final. Cortés soubera ainda fomentar o ódio aos astecas e por isso, conseguiu contar com a ajuda de vários combatentes das tribos indígenas inimigas do império.
Dentro deste contexto, começava a fechar-se o cerco à capital asteca. A partir do dia 26 de Maio, as provisões deixariam praticamente de entrar na cidade, enfraquecendo assim os nativos locais que nunca tinham lidado com uma situação semelhante (a guerra de cerco era talvez desconhecida, ou pelo menos, não tão apurada ou desenvolvida na América pré-colombiana). Os astecas começaram a sentir-se abatidos física e psicologicamente, e finalmente a 13 de Agosto de 1521, o último imperador, o jovem Cuauhtémoc, é capturado e acabaria mesmo por ser torturado pelos espanhóis sedentos de tesouros e do maior bem material - o ouro. Seria executado a mando de Cortés em 1525, sob a acusação infundada de ter conspirado entretanto contra a liderança dele. Os novos governadores de Tenochtitlán passariam a ser nomeados pelos espanhóis que controlariam agora os acontecimentos na região a seu belo prazer.
Durante o cerco de Tenochtitlán, é necessário mencionar que terão perecido cerca de 200 mil astecas, entre guerreiros e civis, vítimas dos combates sangrentos, das pestes (nomeadamente a varíola) e da fome. Os espanhóis também sofreram algumas baixas, terão perdido entre 450 a 860 soldados (alguns foram mesmo capturados e imediatamente ceifados em rituais de sacrifícios humanos), isto para além dos seus aliados indígenas de Tlaxcala, talvez mais expostos nos momentos da ofensiva, terem sofrido cerca de 20 000 baixas.
Em suma e para o processo de conquista do Império ser bem sucedido, Cortés teve de recorrer a informadores indígenas e a intérpretes para conhecer os truques, os segredos e os caminhos mais seguros do novo território, soube manejar e motivar as suas tropas nos momentos mais adversos, utilizou tácticas de combate modernas, usufruiu da diplomacia para fomentar as divisões entre os indígenas, lançando-os uns contra os outros, e impôs o seu carisma autoritário.
A região que correspondia ao actual México passaria assim para o domínio espanhol (algo que perdurará até aos inícios do século XIX), nos seus primeiros tempos conotado com a Lenda Negra. Muitos índios seriam mortos pela avidez de muitos conquistadores espanhóis que esqueceram os ensinamentos cristãos, promovendo a escravatura e honrando a nova divindade do Ouro. Evidentemente, nem tudo foi negativo. Através da miscigenação, promoveu-se o intercâmbio cultural e económico (assente na troca de novos produtos exóticos, uns desconhecidos por europeus, outros pelos americanos). O Cristianismo na América Espanhola expandiu-se, muito devido a missionários fiéis à sua religião e à defesa que encetaram corajosamente em prol dos direitos dos índios. Foram os casos de António de Montesiños ou até do célebre Bartolomé de Las Casas que denunciaram mesmo vários dos abusos cometidos sobre estes povos humildes e inocentes que tinham de ser cristianizados, pelo amor e pela paz, nunca pelo ódio, pela ganância ou pela violência.





Imagem nº 12 - A matança perpetrada no Templo Maior, ordenada pelo oficial Pedro de Alvarado. Os soldados espanhóis bloquearam as saídas do templo e massacraram a desarmada elite dirigente asteca de Tenochtitlán que aí dançava nos rituais de adoração aos seus deuses.





Imagem nº 13 - A reacção asteca ao episódio do massacre foi imediato, culminando na retirada sangrenta dos espanhóis na célebre "Noche Triste". Várias flechas sobrevoaram os destacamentos de Cortés que desesperadamente fugiam da capital - Tenochtitlán, recorrendo à construção duma ponte móvel.




Imagem nº 14 - Os últimos dias do cerco espanhol a Tenochtitlán, célebre capital do império asteca (1521). A cidade "lagunar" transformara-se agora num cemitério de elevadas dimensões.
Quadro da autoria de William de Leftwich Dodge (1867–1935)



Imagem nº 15 - A tortura empreendida sobre Cauhtemoc, último imperador asteca, perante o olhar atento de Hernán Cortés.
Quadro da autoria de Leandro Izaguirre (1867 - 1941)





Referências Consultadas:



4 comentários:

  1. perfeito!! Excelente Trabalho, me ajudou e está ótimo, muito bem organizado e com informações pouco conhecidas. Muito bom *-*

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    1. Muito obrigado pelos elogios, Thamires. Visite-nos sempre que possa ;) Os melhores cumprimentos

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  2. Excelente trabalho, parabéns aos organizadores.
    Foi muito útil para a realização de um trabalho escolar. Obrigada!!!

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