Contexto Temporal e Geográfico
Os Maias, os Incas e os Astecas constituem as três grandes civilizações pré-colombianas (ou seja, já existiam antes da chegada de Cristóvão Colombo) que atingiram o maior grau de desenvolvimento no Continente Americano. Apesar de terem partilhado muitas práticas semelhantes, a verdade é que pretenderemos agora abordar o caso concreto dos Maias.
As origens deste misterioso povo remontariam a 500 a. C. e o término do seu império situar-se-á talvez nos séculos VIII ou IX. Estamos perante uma baliza cronológica de quase 1500 anos. Os seus domínios alastravam-se desde o Guatemala até uma grande parte do sul do México, destacando-se assim na região que praticamente corresponde hoje à América Central.
As principais cidades-estado maias eram: Piedras Negras, Palenque, Tikal, Yaxchilán, Copán, Chichen Itzá, Uxmal e Labná.
Imagem nº 1 - Mapa onde se pode ver a tracejado vermelho a região onde estava concentrada a civilização maia. Actualmente, esta extensão incorpora o Guatemala, Honduras, Belize, El Salvador e Sul do México.
A Sociedade e Economia Maia
Os Maias possuíam a sua própria estratificação social. No topo, estavam evidentemente o soberano e sua família que tutelavam os destinos de cada cidade independente. O monarca era divinizado visto que a sua personalidade era parte integrante do cosmos universal e, por isso, tornava-se num senhor absoluto, para além de ser visto como um emissário do espaço celestial (era um mediador junto dos deuses) e dono dos homens e das terras. O seu cargo era transmitido hereditariamente por sucessão masculina directa.
Seguiam-se depois as linhagens nobiliárquicas que detiveram o prestígio sacerdotal, impuseram ainda a sua autoridade sobre núcleos residenciais (ou centros menores) e revelaram assim a sua vocação dirigente. Por outras palavras, a nobreza-sacerdotal contribuía para a manutenção da ordem e zelava ainda pela faceta religiosa. Normalmente, era constituída por familiares do monarca que acumulavam neste sector aristocrata os principais cargos administrativos, políticos, militares ou religiosos na cidade-estado. Eram eleitos pelo rei. Conhecem-se alguns dos cargos ocupados: Batah (chefe local de designação real), Ah Cuch Cab (regedor que cobrava tributos e prestações de serviços), Halpop (delegado do poder real para conselho nas assembleias locais e encarregado das relações com centros vizinhos), Tupil (polícia vigilante da ordem nos povoados), Nacom (chefe temporário do exército), Ahau cati (sacerdote principal - cargo hereditário), Chilam (espécie de sacerdote popular que profetizava). Para além destes ofícios, também os mercadores (transmitiam sempre o cargo aos seus descendentes) integravam a linhagem nobre, sendo que esta tinha ainda acesso aos estudos astronómicos, médicos e científicos em geral.
O povo, correspondente à maior parte esmagadora da população total, tinha que se submeter a esta ordem social e religiosa. Aqui estavam inseridos os camponeses, oleiros, escultores, pedreiros, carpinteiros, pintores, tecelões, escribas e até muitos dos guerreiros que participavam em acções de conquista ou nos confrontos entre as cidades independentes.
Por fim, e no fundo desta hierarquia, estariam os escravos (domésticos, ao serviço das principais famílias; ou reduzidos a esta posição através duma pena firmada por delitos cometidos; ou capturados em guerra) que constituíam uma mão-de-obra a ter em conta.
A ascensão social era diminuta ou quase inexistente, tal como constatamos nas restantes civilizações das eras antiga e medieval. A hereditariedade ditava o futuro de qualquer pessoa. Por exemplo, o filho dum agricultor seguiria pois mais tarde as pisadas do seu progenitor.
A propriedade da terra maia era comunitária, e seria o chefe da aldeia que determinaria a parcela que seria atribuída a cada família que, normalmente, dispunha da sua pequena horta.
Efectivamente, em termos agrícolas, conheceram-se algumas plantações estáveis de algodão, cacau, tabaco, milho, feijão, cabaça, juca, pimento, tomate, sapota, pasto, frutos vários, sementes e tubérculos silvestres. Os Maias recorriam ainda à caça, pesca e exploração de colmeias.
O comércio era rudimentar, e por isso, não existiam praticamente grandes mercados locais. Por isso, o intercâmbio de produtos parecia ser bastante limitado.
Em termos religiosos, a sociedade maia acreditava numa ordem superior, valorizava o estudo e a interpretação do cosmos, nomeadamente o movimento dos astros, e debruçava-se sobre as artes de adivinhação e profecia. Os principais deuses adorados eram: Itzam Na (Deus criador do céu e da terra, ora representado como um réptil ora na sua forma humana como ancião), Kinich Ahau (Deus do Sol), Ix Chel (Deusa da Lua e protectora das relações sexuais, da procriação e dos partos), Chac (Deus da Chuva) Ah Mun (Deus do Milho), Ah Puch (Deus da Morte representado como um esqueleto com manchas negras e amarelas, de influência maligna), Tox (Deus da Guerra), entre outros. Decorriam mesmo sacrifícios humanos de forma a agradar a estas divindades superiores, muitas delas conotadas com a Natureza.
Imagem nº 2 - O Deus Criador do Céu e da Terra, na perspectiva dos Maias.
Retirada de: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Itzamna-Lawrie-Highsmith.jpeg, a escultura foi da autoria do artista Lee Lawrie (1877–1963).
Imagem nº 3 - A Civilização Maia obedecia a uma hierarquia social rígida.
Cultura Maia
A civilização maia evidenciou-se, de entre as culturas do Novo Mundo (ou do continente até então escondido aos olhos dos europeus), em variadas vertentes:
- Desenvolveram a Escrita Hieroglífica que assentaria em relevos, pinturas e códices. Esta estaria mais conotada com o contexto sagrado.
- Instauraram um Calendário rigoroso de 365 dias que resultava da vasta experiência na observação dos astros, demonstrando assim, nesta área, uma interpretação avançada em comparação com outros povos antigos.
- Promoção duma Arquitectura que proporcionou a existência de grandes edifícios. Foram erguidos templos piramidais, palácios, residências para as elites, altares sobre plataformas e outras estruturas curiosas,
- Construíram-se ainda aquedutos, reservatórios, saunas, calçadas de pedra em plena floresta, fossas e trincheiras.
- Dinamizou-se a Escultura que servia de veículo para a glorificação do monarca e expressão da sacralidade. Encontramos estelas, altares, lápides, dintéis, planos verticais, jambas, tronos, estatuetas de divindades e figuras humanas/animais, e imagens zoomórficas.
- Estimularam a Pintura que dispunha de variados cenários murais em palácios e pirâmides.
- Mantiveram a Cerâmica com grande diversidade formal. Foram encontradas peças de quatro pés, pratos, taças e vasos cilíndricos. Estava frequentemente conotada com o culto real.
- Aplicaram a música (foram achados instrumentos de sopro e percussão), os cantos religioso e festivo, e a dança.
- Desenvolveram um sistema de numeração que já incluía o conceito "zero".
- Praticaram jogos de bola, nomeadamente o jogo da péla. O objectivo passaria pela utilização duma bola de borracha que teria de atingir o aro ou os marcadores do jogo. Caso o participante fracassasse, seria executado. Muitas cabeças foram decapitadas em jeito de ritual de sacrifício humano, e estas até chegaram a ser utilizadas para substituir a bola de borracha no decurso da partida.
A civilização maia evidenciou-se, de entre as culturas do Novo Mundo (ou do continente até então escondido aos olhos dos europeus), em variadas vertentes:
- Desenvolveram a Escrita Hieroglífica que assentaria em relevos, pinturas e códices. Esta estaria mais conotada com o contexto sagrado.
- Instauraram um Calendário rigoroso de 365 dias que resultava da vasta experiência na observação dos astros, demonstrando assim, nesta área, uma interpretação avançada em comparação com outros povos antigos.
- Promoção duma Arquitectura que proporcionou a existência de grandes edifícios. Foram erguidos templos piramidais, palácios, residências para as elites, altares sobre plataformas e outras estruturas curiosas,
- Construíram-se ainda aquedutos, reservatórios, saunas, calçadas de pedra em plena floresta, fossas e trincheiras.
- Dinamizou-se a Escultura que servia de veículo para a glorificação do monarca e expressão da sacralidade. Encontramos estelas, altares, lápides, dintéis, planos verticais, jambas, tronos, estatuetas de divindades e figuras humanas/animais, e imagens zoomórficas.
- Estimularam a Pintura que dispunha de variados cenários murais em palácios e pirâmides.
- Mantiveram a Cerâmica com grande diversidade formal. Foram encontradas peças de quatro pés, pratos, taças e vasos cilíndricos. Estava frequentemente conotada com o culto real.
- Aplicaram a música (foram achados instrumentos de sopro e percussão), os cantos religioso e festivo, e a dança.
- Desenvolveram um sistema de numeração que já incluía o conceito "zero".
- Praticaram jogos de bola, nomeadamente o jogo da péla. O objectivo passaria pela utilização duma bola de borracha que teria de atingir o aro ou os marcadores do jogo. Caso o participante fracassasse, seria executado. Muitas cabeças foram decapitadas em jeito de ritual de sacrifício humano, e estas até chegaram a ser utilizadas para substituir a bola de borracha no decurso da partida.
Imagem nº 4 - Os Maias possuíam a sua própria escrita que se pautava pelo seu simbolismo. Esta placa encontra-se no Museu das Ruínas de Palenque - Chiapas (México).
Retirada de: http://historiasylvio.blogspot.pt/2012/11/maias.html, (Imagem: 1000dias.com)
Imagem nº 5 - Códice Maia guardado no Museu Nacional de Antropologia - Cidade do México (México).
Retirada de: http://historiasylvio.blogspot.pt/2012/11/maias.html, (Imagem: 1000dias.com)
Imagem nº 6 - Estelas Maias situadas nas Ruínas de Copan, quase na fronteira entre as Honduras e o Guatemala.
Imagem nº 7 - O aro lateral ou anel de pedra do jogo da péla. A bola tinha de entrar no meio para que o participante fosse pontuado. Este jogo de bola mesoamericano estava associado ao ritual religioso.
Imagem nº 8 - O jogo de bola maia determinou o destino de várias vidas.
Imagem nº 9 - Pirâmide Maia de Chichen Itza (estado de Yucatán - México).
Retirada de: http://beautifulplacestovisit.com/ruins/chichen-itza-yucatan-mexico/, (foto da autoria de Raúl López/Tony Shuck).
Imagem nº 10 - Cidade Maia de Tikal (Guatemala).
Fim do Império Maia
Corria o século IX, quando, em pouco tempo, todas as cidades-estado maias foram abandonadas, excepto as da região norte de Yucatán. Ao contrário do que muitos possam julgar, a civilização maia não desapareceu totalmente, até porque ainda hoje existem tribos descendentes. Mas o Império Maia, esse sim, sumiu de vez.
Ainda hoje se debatem as causas reais que levaram ao declínio imediato e misterioso desta civilização. Podemos avançar algumas hipóteses para o sucedido (cremos que até poderá ter sido a conjugação de todas elas):
Os Maias, apesar do término do seu auge, deixariam um marco incontornável na História Mundial. Os seus monumentos atestam o esplendor doutros tempos.
Corria o século IX, quando, em pouco tempo, todas as cidades-estado maias foram abandonadas, excepto as da região norte de Yucatán. Ao contrário do que muitos possam julgar, a civilização maia não desapareceu totalmente, até porque ainda hoje existem tribos descendentes. Mas o Império Maia, esse sim, sumiu de vez.
Ainda hoje se debatem as causas reais que levaram ao declínio imediato e misterioso desta civilização. Podemos avançar algumas hipóteses para o sucedido (cremos que até poderá ter sido a conjugação de todas elas):
- Uma longa e destrutiva Seca - Esta teria arrasado facilmente com a maior parte das colheitas, gerando a miséria, fome e grande descontentamento nas comunidades.
- Doenças e Pestes - Com a vulnerabilidade no campo alimentar, seria imediata a propagação de enfermidades. A medicina maia era ainda pouco avançada.
- Guerras Internas Sangrentas - O descontentamento popular e a ausência da capacidade de resposta, terá propiciado várias revoltas contra os grupos dirigentes. As premissas sociais, outrora intocáveis, começaram a ser colocadas em causa.
- Invasões Estrangeiras - Tirando proveito do declínio maia, os povos vizinhos e inimigos avançaram para ocupar novas terras.
- Abandono voluntários de muitos maias. Estes tentam escapar ao destino obscuro que possivelmente até teria sido "anunciado" pelos ciclos temporais.
- Explosão demográfica resultante dos séculos anteriores. Poderá ter levado ao esgotamento das terras e recursos, e motivado ainda conflitos civis nesta fase atribulada.
- A prática da antropofagia (canibalismo) e sacrifícios humanos. Embora este factor não seja por si só suficiente para determinar a decadência dos maias (até é, a nosso ver, um dos factores que teria menor impacto), a verdade é que, mesmo assim, poderá ter tido algum peso. Estas práticas poderão ter aumentado consideravelmente nos tempos mais críticos, de forma a que conseguissem atrair desesperadamente a ajuda divina para contornar a conjuntura cada vez mais nefasta. Para além disso, as guerras internas pareciam ter-se tornado numa prática constante, o que favorece a utilização de prisioneiros para tais fins.
Os Maias, apesar do término do seu auge, deixariam um marco incontornável na História Mundial. Os seus monumentos atestam o esplendor doutros tempos.
Imagem nº 11 - Os períodos de instabilidade vividos por volta de 900 d. C. (séc. IX d. C.) determinaram o desaparecimento do Império Maia.
Retirada de: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2252051/Forget-Mayan-Apocalypse-new-date-doomsday-January-1-2017-claim-Sword-God-cult.html, (Foto EPA).
Referências Consultadas:
- HENRIQUES, Pedro - A profecia dos Maias: Existem razões para temer uma catástrofe? in Jornal A Voz de Esmoriz. Edição de 1 de Março. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, 2012.
- KIRKWOOD, J. Burton - The History of Mexico. 2º ed, Greenwood Publishing Group, 2010.
- SANZ TAPIA, Ángel - O Período Clássico in Grande História Universal. Direcção de Carlos Moretón Abón. Vol. XII. Cap. 3. Alfragide: Ediclube, [2006].
- http://www.historiadomundo.com.br/maia/maias.htm, (Consultado em: 30-07-2014).
- http://www.infoescola.com/civilizacoes-antigas/imperio-maia/, (artigo da autoria de Emerson Santiago, consultado em: 30-07-2014).
- http://www.historiadomundo.com.br/maia/, (artigo da autoria de Rainer Sousa, consultado em: 30-07-2014).
- http://hypescience.com/21479-10-incriveis-fatos-sobre-a-civilizacao-maia/, (Consultado em: 30-07-2014).
- http://www.publico.pt/ciencia/noticia/o-fim-da-civilizacao-maia-ligado-a-longo-periodo-de-seca-extrema-1571742, (artigo da autoria de Maria do Céu Pereira in jornal "O Público", consultado em: 30-07-2014).
- http://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/os-maias.html, (artigo da autoria de Juliana Miranda, consultado em: 30-07-2014).
- http://www.infopedia.pt/$maias, (Site do Infopédia consultado em: 30-07-2014).
- http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pesquisadores-afirmam-destruicao-da-civilizacao-maia-foi-soma-de-mudancas-climaticas-desmatamento-e-colapso-do-comercio, (consultado em: 30-07-2014).
Notas Extra:
1- As balizas cronológicas adoptadas para a existência da civilização e império maias motivam ainda várias discussões. Também encontramos autores que situam as origens dos maias algures no decurso do segundo milénio a. C. e que prolongam ainda a sobrevivência de algumas tribos maias até à chegada dos espanhóis. Ou seja, ainda há muito para descobrir em relação a esta civilização.
2- Apesar de utilizarmos o termo "Império", é certo que cada cidade-estado maia era independente e possuía o seu próprio soberano, todavia ao utilizarmos o vocábulo em cima mencionado, estamos efectivamente a referir-mo-nos a todos os aglomerados maias que existiam naquela região da América Central e que partilhavam assim costumes e tradições idênticas. Foi efectivamente este largo conjunto de cidades autónomas que fez perdurar, por muito tempo, esta cultura enigmática.
Tal como outros artigos este também é interessante. Continue que vale sempre a pena lê-lo. Obrigado.
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