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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Suplício de Auschwitz e o Holocausto

Traçar a vida diária dum prisioneiro no campo de concentração nazi de Auschwitz, o qual subsistiu entre 1940 e 1945, poderá ferir as susceptibilidades de muitos leitores. Foram inúmeros os episódios aí verificados que marcaram uma página bastante negra da História Universal. Numa primeira abordagem, é necessário contextualizar o anti-semitismo radicado na ideologia nazi, embora a fobia aos judeus fosse bem mais antiga, cenário que, a título de exemplo, também se observou na Idade Média, durante a era das Cruzadas.
Na Europa, as comunidades judaicas viviam isoladas em bairros, e eram bastante invejadas pela sua capacidade económica acima da média ou pela vocação generalizada para o negócio. Por isso, os seus detractores presumiam a usura e a ganância destas gentes, e ao longo do último milénio, tiraram proveito das suas reduzidas condições de segurança para descarregarem os seus ódios e frustração. Mas na época nazi, o massacre tomou proporções até então inimagináveis.



1- Contexto: A Ascensão do Nazismo e o Início da Perseguição aos Judeus


A Alemanha tinha saído arrasada da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e do humilhante Tratado de Versalhes. Os anos situados entre 1919 e 1923 correspondem a uma fase bastante crítica que é acompanhada de desordens e sublevações, protagonizadas sobretudo pelos grupos da extrema-direita nacionalista. O aumento do défice estatal, a desvalorização da moeda germânica, a inflacção galopante (aumento do custo de vida), o declínio do comércio e da produção agrícola e industrial, a miséria social, o preço a pagar pela derrota na Primeira Grande Guerra, constituíram todos eles ingredientes inseparáveis duma grave crise se verificaria naquele país. No ano de 1923, Hitler tentou mesmo encetar um golpe de Estado em Munique, mas as suas intenções são barradas pelo exército e polícia da República de Weimar. Foi encarcerado, mas por muito pouco tempo. Quanto aos seus planos de ascensão ao poder, somente acabariam por ser materializados dez anos depois.
A situação começa a mudar favoravelmente a partir dos anos de 1924 e 1925, muito devido à injecção de capitais estrangeiros (citamos aqui os apoios anglo-saxónicos e os créditos norte-americanos) que permitem a estabilização da economia germânica. A eleição do marechal Hindenburg para Presidente da República em 1925 atrai mesmo o consenso por parte de vários conservadores e nacionalistas. Conforme nos conta o historiador Luis Palacios Bañuelos, o extremismo parecia ter, naquele momento, os dias contados. Os nacionalistas encabeçados por Hitler apenas conseguem 3,5 % dos votos em 1928, resultado bem inferior àquele registado em 1924.
Todavia, tudo não passaria duma ilusão seriamente comprometida por um pretexto que escapou ao total controlo dos europeus. A célebre crise de 1929 fará com que os Estados Unidos retirem os seus capitais ou créditos de investimento em inúmeras nações europeias. A Alemanha que era dependente desses apoios caiu novamente na desgraça. Sucedem-se falências bancárias, encerramento de indústrias,  paralisações de inúmeras produções, massas de desempregados, fomes...
Neste contexto, os partidos extremistas, à direita e à esquerda, recuperam o impulso anterior e alcançam mais militantes ou simpatizantes. Em 1930, o partido nacional-socialista de Hitler já consegue 18% dos votos, mas a sua ascensão a chanceler ocorre em 1933 (seria nomeado pelo presidente Hindenburg que acabou por facilitar a ascensão do novo regime). Num rumo claramente ascendente, os nazis contam agora com o incondicional apoio dos industriais renanos que temem uma implantação comunista.
Com a chegada de Hitler ao poder, são abolidos os princípios democráticos (ilegalizaram-se os demais partidos; a oposição foi varrida), elaboram-se doutrinas racistas, e aclama-se a superioridade alemã em jeito dum vincado nacionalismo. É instituído um Estado Tolitário, onde o "Deus" dos nazis é Hitler, o homem que se identifica com o Estado e que concentrará em si todos os poderes, e onde o seu "Livro Sagrado" é o Mein Kampf. São criadas estruturas secretas: as SA (Secções de Assalto), as SS (Secções de Protecção - Schutz Staffel) e a Gestapo (polícia secreta que semeava o terror político). Todas estas entidades terão o seu historial manchado de sangue inocente através da concretização de deportações, crimes, chacinas...
Todavia, a política económica nazi, antes da eclosão da Segunda Grande Guerra, apresentou resultados positivos. Entre 1933 e 1936, foi construída uma grande rede de auto-estradas, adoptaram-se medidas que protegeram e estimularam a produção industrial, promoveu-se a construção civil, e como consequência, o desemprego diminuiu drasticamente. Ao fim de quase 20 anos de bancarrotas e dívidas infindáveis, a nação voltaria a recuperar a sua pujança económica, reerguendo-se assim das ruínas. Mas esta terá sido a única contribuição positiva do novo regime que acabava de se instalar na Alemanha e que, mau grado, alimentaria a repressão política e étnica até à exaustão.
Um dos pilares ideológicos do Nazismo assentava teoricamente no primado ou superioridade da raça ariana, desprezando as demais que eram encaradas como biologicamente inferiores ou impuras. Adolf Hitler, Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich, bem como outros mentores que os acompanhavam, acreditavam que era necessário purificar a sociedade alemã, perseguindo as minorias étnicas, consideradas imorais aos olhos do Führer. Até na sua concepção de mundo (os nazis sonhavam com o domínio total do planeta) não haveria sequer lugar para muitos povos que teriam de ser forçosamente extintos. 
Dentro deste contexto, a hostilidade seria, em grande parte, canalizada contra os judeus (um povo sem pátria naquela altura) que foram reprimidos de variadas formas. Esta crescente onda de anti-semitismo convergiu com uma série de leis que colocariam em causa a integridade social daqueles.
Desde logo, os judeus foram proibidos de exercer actividades económicas e laborais, caindo no descrédito popular. As Leis de Nuremberga de 1935 acentuaram o seu drama pois ficariam desprovidos da nacionalidade germânica, além de não poderem agora contrair matrimónio misto com outros alemães que não fossem de etnia judaica. Foi-lhes ainda vedado o exercício de cargos inerentes ou relacionados com a Função Pública. No decurso desta perseguição sem escrúpulos, muitos judeus que trabalhavam por conta de outrem, foram despedidos. Outros caíram na desgraça ao depararem-se com as migalhas dos seus negócios boicotados e arruinados. Mas estas eram apenas as primeiras etapas dum verdadeiro inferno que estava reservado às comunidades judaicas que residiam na Alemanha Nazi.
No dia 9 de Novembro de 1938, dá-se a denominada "Noite dos Cristais" que testemunhou, num ritmo avassalador, a destruição de bairros, sinagogas e propriedades pertencentes a judeus. Centenas de pessoas foram trucidadas sem piedade. O banho de sangue começava a materializar-se a partir de agora. Já não se tratava somente duma tendência maquiavélica de lhes fazer a vida negra que se pautava pelos boicotes ou proibições, mas sim - começava agora a emergir a intenção clara de os eliminar massivamente. 
O povo alemão da altura reagiu com excessiva passividade aos acontecimentos, e poucos seriam aqueles que ousariam ter coragem para afrontar as directivas nazis. 
Este pesadelo profundo das comunidades judaicas ainda estava longe do fim e, ao contrário do que muitos julgavam, agravar-se-ia, e de que maneira, nos próximos tempos.





Imagem nº 1 - O episódio da "Noite dos Cristais" onde multidões inteiras saíram às ruas para destruir os estabelecimentos e propriedades que abrigavam judeus.




2- Campos de Concentração


A Segunda Guerra Mundial (1938-1945) deteriorou ainda mais a situação dos judeus que agora passariam a ser isolados em campos de concentração e guetos, onde eram tratados de uma forma desumana e horrenda. 
Os campos de concentração poderiam situar-se na Alemanha ou nos domínios recém-conquistados pelo exército nazi. Os mais mortíferos foram os de: Auschwitz (do qual falaremos aqui; situado na Polónia), Belzec (Polónia), Chelmno (Polónia), Majdanek (Polónia), Sobibór (Polónia), Treblinka (Polónia), Varsóvia (Polónia), Jasenovac (Croácia), Lwów (Ucrânia), Maly Trostenets (Bielorrússia), Sachsenhausen (Alemanha), Ravensbrück (Alemanha), Bergen-Belsen (Alemanha: onde faleceu a jovem Anne Frank que nos deixou um diário comovente), Mauthausen-Gusen (Áustria), entre outros.
Quanto à sua tipologia, esses campos do terror poderiam assumir as finalidades de trabalho forçado, transição (estações de passagem temporária) ou de extermínio (o caso concreto de Auschwitz e também doutros espaços polacos).
Somados todos os números, estima-se que mais de 11 milhões de pessoas (deste conjunto, cerca de 6 milhões seriam de etnia judaica) perderam a vida nesses campos, só pelo "crime" de serem judeus, ciganos, eslavos, comunistas, homossexuais, portadores de deficiências físicas ou perturbações mentais, prisioneiros de guerra (por ex: soviéticos ou poloneses) ou opositores ao Terceiro Reich.
Não havia pois qualquer gesto de tolerância para aqueles que eram encarados como "inimigos do estado nazi".





Mapa nº 1 - A Distribuição dos Campos de Concentração Nazis no Centro e Leste Europeu.




3 - Auschwitz - O Pesadelo da Humanidade


Para podermos ter noção do martírio perpetrado em Auschwitz II-Birkenau (município de Oświęcim - sul da Polónia, dista 60 km de Cracóvia), considerado o campo de concentração mais terrível e implacável, optamos por citar duas reportagens bem concebidas, uma intitulada "Despojos do Mal"da autoria da jornalista Catarina Pires, e a outra também não menos brilhante designada "Auschwitz, pelo menos uma vez na vida" redigida por José Manuel Fernandes. 
A Casa dos Mortos, expressão utilizada assertivamente pela repórter Catarina Lopes para se referir a Auschwitz, traduz o processo de extermínio que ditou a morte cruel de um milhão e meio de pessoas, entre homens, mulheres, crianças e velhos - todos eles reduzidos a cinzas. Josef Mengele, o Dr. da Morte (do qual falaremos neste artigo), afirmava mesmo que "aqui entra-se pela porta e sai-se pela chaminé" numa analogia clara à cremação dos corpos das vítimas aniquiladas. 
Os escassos sobreviventes deste Holocausto testemunharam os mais diversos horrores, revelando-se impotentes para prestar auxílio aos seus familiares e companheiros que conheciam um final trágico. 
O quotidiano naquele campo de concentração envolvia trabalhos forçados (escravatura; muitos tombavam por exaustão), torturas, maus tratos, execuções por inalação fatal nas câmaras de gás, fuzilamento e forca, cobaias humanas exploradas em experiências científicas (levadas a cabo pelo já referido Dr. Josef Mengele), a fome, a sede, a miséria...
Em média, e segundo cálculos pré-estabelecidos, poderiam ser mortas até 20 mil pessoas por dia em Auschwitz!!! Muitas das quais, iludidas por um falso duche, eram obrigadas a despir-se para entrarem numa câmara que irradiaria gases fatais que, por asfixia, sentenciariam, num relance, as vidas de centenas de pessoas que mal cabiam naquela abominável estrutura fechada.
Os cabelos das vítimas ora eram vendidos pelos nazis à indústria têxtil a meio marco o quilo, ora serviam para fabricar isolantes para submarinos. Também os dentes de ouro, vestes e outros haveres eram arrancados dos cadáveres. Já as cinzas eram utilizadas como fertilizante para a agricultura. As valas comuns estavam ainda repletas de cadáveres que não chegariam a ser cremados.
Não havia misericórdia, compaixão ou compreensão pelos valores da dignidade humana. Nem sequer existia qualquer réstia de esperança para os oprimidos, pois era quase impossível tentar a fuga. A vigilância no local era bastante apertada e as cercas electrificadas dissuadiam todos aqueles que desejavam a todo custo abandonar aquele campo de concentração desumano. A única possibilidade de salvação só se materializaria caso os nazis fossem derrotados pelos russos no leste europeu, o que os obrigaria então a um recuo drástico. E foi isso que viria a acontecer, para que o genocídio, levado a cabo sobretudo nos campos de concentração da Polónia (ocupada até então pelos alemães), conhecesse o seu ponto final num texto longo e hiper-dramático que jamais deveria figurar numa página da história da Humanidade. 
Efectivamente, após 5 anos macabros, no dia 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas abriam as portas de Auschwitz, garantindo a libertação dos poucos prisioneiros que lograram escapar daquela experiência traumatizante. Antes de abandonarem o lugar, os nazis tinham queimado as câmaras de gás e os fornos crematórios, de forma a tentar ocultar a verdade, mas até nisso fracassaram. O escândalo não seria abafado como pretendiam. Aliás, de acordo com informações asseguradas por Catarina Lopes que visitou o local com o supervisionamento dum guia, os aliados já teriam conhecimento prévio da existência de tais campos repugnantes, mas pouco ou nada fizeram no início para romper com a chacina. 
O principal comandante nazi daquele campo de concentração - Rudolf Hoess seria executado posteriormente tal como outros responsáveis que cooperaram para a concretização destas atrocidades. Mas houve quem conseguisse ludibriar a captura. Josef Mengele, apelidado de "Anjo da Morte" (responsável pela extracção de órgãos e amputação de diversas vítimas, pela esterilização de mulheres, injecção de tinta azul nos olhos das crianças, testes de resistência extrema...) chegou a ser detido pelas tropas britânicas, mas como suspeitavam que era somente um membro da infantaria alemã, foi libertado e, sob uma falsa identidade, conseguiu iludir tudo e todos, fugindo para a América do Sul (destino preferido de muitos nazis que eram procurados - Ratlines), onde faleceria em Bertioga (Estado de São Paulo), no ano de 1979, enquanto nadava junto à praia.





Imagem nº 2 - A entrada no Campo de Concentração de Auschwitz II - Birkenau.





Imagem nº 3 - Crianças inocentes vitimadas em Auschwitz.




Imagem nº 4 - Vários prisioneiros (nomeadamente jovens) junto às redes electrificadas.





Imagem nº 5 - As Câmaras de Gás em Auschwitz cúmplices dum genocídio infindável.




Imagem nº 6 - A libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho em 27 de Janeiro de 1945.
Retirada de: https://02varvara.wordpress.com/tag/auschwitz/




4 - O Excepcional Heroísmo


No seio desta tenebrosa e hedionda escuridão, também cintilaram discretamente pequenos laivos de luz atribuídos aos heróis que, mediante a sua louvável coragem, não hesitaram em colocar a sua carreira (ou até a vida) em perigo para salvar vários judeus duma deportação cruel para os campos de concentração.
Maria von Maltzan e Marie Therese von Hammerstein, aristocratas, conseguiram reunir papéis para que alguns judeus conseguissem fugir da Alemanha.
Elisabeth Von Thadden, directora duma escola feminina privada, recusou obedecer a ordens oficiais superiores e continuou a incluir jovens judias na sua escola até Maio de 1941, data em que foi demitida, sendo posteriormente executada em 1944 por alegado (bastante improvável pelo que se apurou entretanto) envolvimento numa conspiração que pretendia derrubar Adolf Hitler.
Heinrich Gruber, pastor protestante, recorreu a um sistema de contrabando para facilitar a fuga doutros judeus desesperados.
Mas neste processo de auxílio aos judeus temos de reconhecer, com maior precisão, os incansáveis esforços envidados por três personalidades sonantes que se evidenciaram com grandeza ímpar: Oskar Schindler, Aristides de Sousa Mendes e Raoul Wallenberg.
O primeiro era um empresário alemão, dedicado à produção de esmaltes e munições em Cracóvia, que até não simpatizara de início com a causa judaica, concentrado-se apenas na busca incessante do lucro. Schindler mantinha mesmo ligações íntimas com o Partido Nazi (chegou até a ser espião!), contudo ficaria, ao fim de algum tempo, chocado com a perseguição feroz que era feita aos judeus. Neste âmbito, e de acordo com a tradição, é narrado um pequeno episódio, cujo grau de veracidade desconhecemos mas que se encontra impregnado no filme "A lista de Schindler" de Steven Spielberg. Segundo a película cinematográfica, o empresário terá vislumbrado uma menina de 3 anos que ostentava um casaco vermelho e que porteava um olhar angelical, inocente e inofensivo, e que estava a ser naquele momento deportada para um campo de concentração, sendo que, mais tarde - numa circunstância distinta, Schindler reconheceria o seu corpo bem como o seu pequeno manto, quando se deparou com vários cadáveres empilhados. Não sabemos se esta história é realmente verídica, mas o que é certo é que Schindler começou a lamentar a situação deplorável dos judeus. O industrialista protegerá, a partir de agora, os seus trabalhadores de etnia judaica, convencendo e subornando as SS nesse sentido. Empregou ainda crianças, domésticas e advogados de forma a protegê-los. Em 1944, conseguiu movimentar 1200 judeus para trabalhar na sua fábrica em Brunnlitz, salvando-os de uma morte certa nos campos de concentração de Gross-Rosen e Auschwitz. Esbanjou fortunas para tentar convencer os responsáveis da SS e da Gestapo a não agir contra a integridade dos seus operários.
Por seu turno, Aristides de Sousa Mendes foi um cônsul português em Bordéus que, no ano em que a França foi invadida pela Alemanha, terá salvo, através de inúmeros vistos atribuídos, pelo menos, 10 mil judeus. Outras fontes referem 30 mil. De qualquer das formas, não deixam de ser estatísticas assinaláveis. Como se sabe, o diplomata não atendeu às ordens expressas de António de Oliveira Salazar, e concedeu então milhares de vistos de entrada em Portugal a vários refugiados que procuravam desesperadamente fugir de França em 1940.
Raoul Wallenberg, arquitecto e diplomata, tornou-se secretário da delegação sueca em Budapeste (a Hungria estava naquela altura ocupada pelos nazis) a partir de Julho de 1944. Usufruindo da imunidade do seu novo estatuto, expediu passaportes especiais para cidadãos judeus, os quais eram designados como cidadãos suecos à espera de repatriamento. Além disso, alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca. Dois dias antes da chegada do Exército Vermelho a Budapeste, Wallenberg ameaçou, através dum bilhete assinado por Pál Szalay, os oficiais nazis com um eventual processo judicial por crimes de guerra, gesto que intimidou aqueles, e que foi suficiente para impedir que 70 mil judeus fossem deportados para os campos de extermínio da Alemanha. Como resultado de todas as suas acções, este sueco poderá ter salvo cerca de 100 mil judeus.
Seguramente existiram outras individualidades que também se destacaram no apoio prestado às vítimas desta perseguição implacável e atroz que vigorou nos tempos do nazismo. De facto, é-nos impossível fazer menção a todos aqueles que procuraram atenuar as consequências desta tragédia mundial, ora os que tiveram uma contribuição mais abrangente, ora os que desempenharam um papel mais particular ou discreto.
Como pudemos observar, o impacto benévolo de uma pessoa em prol da Humanidade pode cifrar-se na salvação de milhares de vidas inocentes. Por outro lado, a ignorância, a indiferença e a passividade consentidas (ou o fechar de olhos por opção) andam invariavelmente de mãos dadas nos capítulos mais tenebrosos da evolução humana.





Imagem nº 7 - Oskar Schindler salvou mais de mil judeus dos campos de concentração, e protegeu os seus funcionários, esbanjando fortunas destinadas a subornar oficiais nazis.





Imagem nº 8 - A rapariga de 3 anos que teria conquistado a compaixão de Schindler. De acordo com a película, o seu cadáver seria depois encontrado pelo mencionado empresário que ficou chocado com a atrocidade.
(A foto é parte produzida do filme "A lista de Schindler" de Steven Spielberg)





Imagem nº 9 - Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português de Bordéus, concedeu inúmeros vistos de entrada em Portugal, o que permitiu a fuga de milhares de judeus.




Imagem nº 10 - Raoul Wallenberg, diplomata sueco em Budapeste, que se tornaria também num dos vultos responsáveis pela protecção de vários judeus.




"A vida continuava no seu ritmo normal, e na Primavera que se seguiu à morte do sr. Heim, festejou-se a festa de tiro, no parque público da cidade. A banda de música tocava alegremente e as pessoas enganchavam os braços (...). O pai, feliz de viver, girava com as raparigas na pista de dança enquanto a minha mãe conversava com Lilli e o actor Brent (...) Vejo o meu pai voltar à mesa com a cara afogueada depois de uma valsa. Ouço uma voz gritar: "Seu judeu porco". Era a voz do inspector que impedira o namoro do filho com Raquel e que quase levara a rapariga à morte. O meu pai enfrentou-o, os olhos flamejavam-lhe: "Retire o que disse!". O outro soltou uma gargalhada: "Não retiro nada. Repito: seu judeu pouco!". Então o meu pai, sempre pacífico e que não gostava de discutir, pegou na caneca de cerveja e despejou o conteúdo na cara do inspector. No mesmo momento braços seguraram o meu pai e outros o inspector (...) Não foi naquele dia em que a minha mãe disse "és agora uma verdadeira mulher" que eu deixei de ser criança. Isso só aconteceu quando o meu pai foi insultado com tanta injustiça (...) O anti-semitismo aumentava, o nome de Adolf Hitler estava na ordem do dia. Circulavam jornais com caricaturas de judeus de monstruosos narizes em cavalete, olhos esbugalhados, cobiçosos, expressão brutal ou lasciva e mãos papudas, carregadas de anéis descomunais. Publicavam-se artigos aterradores sobre o culto religioso nas sinagogas e nas casas judaicas. Chegava a afirmar-se que os judeus matavam crianças na noite de Passah em que esperavam o Messias (...) Os desempregados enchiam as cervejarias e exaltavam Hitler, que lhes prometia trabalho e lhes afirmava serem os judeus os maiores culpados da desgraça económica do país. O nome "judeu" cada vez se tornava mais injurioso"


Excerto do Testemunho de Ilse Losa (1913-2006)



"Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o meu coração! Ao escrever sei esclarecer tudo, os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias"

Anne Frank
(1929-1945)



Referências Consultadas:




Nota-Extra: Este artigo foi redigido entre os dias 27 e 29 de Janeiro de 2015, o qual se insere então nas comemorações dos 70 anos da libertação de Auschwitz pelas forças soviéticas (27 de Janeiro de 1945).

2 comentários:

  1. Excelente, texto bem concebido. A História do Nazismo, sucinta mas bem explícita!
    Nazismo - A vergonha da História Mundial.

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  2. Excelente, texto bem concebido. A História do Nazismo, sucinta mas bem explícita!
    Nazismo - A vergonha da História Mundial.

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