O Contexto
Após a vitória em Guadalete (711), o que resultou no desaparecimento de Rodrigo (visualizar artigo anterior), os muçulmanos reforçam e consolidam o avanço rumo ao Norte da Península Ibérica. Como já tínhamos vincado, a desunião e a fuga de muitos nobres visigodos dificultavam as tarefas de resistência. As tropas berberes tinham pois caminho aberto para a conquista total (ou melhor, quase total) da antiga Hispânia.
As Astúrias foram inicialmente administradas por Munuza, o governador provincial muçulmano, contudo não tardariam a ocorrer as primeiras rebeliões, com as populações das vilas asturianas a não acatarem a presença dos oficiais muçulmanos.
Este cenário levou Munuza a organizar uma força para repor o controlo sobre esta região que, embora montanhosa e afastada (e sem grande interesse estratégico), recusava-se a render e a pagar novos impostos aos invasores.
Por seu turno, Pelágio é o líder cristão aclamado popularmente desde 718 nas Astúrias, é ele o mentor da nova resistência e o principal responsável pelo afastamento de Munuza. Provavelmente, seria um nobre descendente dos monarcas visigodos.
É neste contexto de disputa pelo domínio da região que decorrerão importantes enfrentamentos.
Por seu turno, Pelágio é o líder cristão aclamado popularmente desde 718 nas Astúrias, é ele o mentor da nova resistência e o principal responsável pelo afastamento de Munuza. Provavelmente, seria um nobre descendente dos monarcas visigodos.
É neste contexto de disputa pelo domínio da região que decorrerão importantes enfrentamentos.
Tabela com as Forças Envolvidas
Local: Picos de
Europa/Covadonga
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Data: 718? 720? 722?
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Forças Beligerantes
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Resistentes Asturianos
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Tropas Omíadas
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Comandantes/Generais
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Pelágio das Astúrias
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Munuza
Al Qama †
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Número de Combatentes
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300
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Entre 800 a 1400
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Baixas Estimadas
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250 a 289?
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600
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Resultado: Uma série de emboscadas dizimou grande parte do exército
muçulmano. Os guerrilheiros cristãos contaram ainda com o auxílio de aldeões
que dificultaram a retirada dos contingentes de Al-Qama (este acaba mesmo por
falecer em combate).
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A Batalha
As forças omíadas contarão com a presença do general Al Qama que procurará abafar qualquer tipo de oposição na região. Os muçulmanos apresentam-se em número claramente superior face às forças de Pelágio que dispõem apenas de poucas centenas de combatentes.
A batalha, travada em data incerta (nem há certeza quanto ao ano da sua ocorrência - 718? 720? 722?), parecia que iria decorrer em proporções desiguais. Todavia, a História Militar também seria feita de surpresas, e efectivamente a bravura e a coragem dos guerreiros cristãos iriam causar sérios dissabores ao exército oponente.
Os combates reiniciam-se então nas Astúrias, e inicialmente são os muçulmanos que levam a melhor, causando baixas e dispersando as forças de Pelágio que encontram refúgio nas zonas montanhosas. Aí o contingente cristão reorganiza-se defensivamente e ocupa ambos os lados dum desfiladeiro aí existente. Para o líder cristão estava fora de questão um ataque frontal em campo aberto, já que as tropas muçulmanas eram numericamente superiores e teoricamente mais disciplinadas. Contudo, os combatentes estão prontos a resistir até à última gota de sangue. Dentro deste contexto, Pelágio recusa os termos de rendição entretanto apresentados pelos muçulmanos.
Ao saber do fracasso das negociações, Al Qama ordena um ataque final, confiando cegamente no sucesso inevitável da sua tropa de elite, rumando ao lugar onde estariam concentrados os resistentes cristãos. Todavia, serão surpreendidos no desfiladeiro, com várias setas a serem lançadas de ambos os lados, o que causará a morte de vários soldados muçulmanos. De imediato, e tirando o máximo de proveito da situação, Pelágio ordena um contra-ataque repentino que faz recuar o contingente de Al-Qama. As forças islâmicas são obrigadas a bater em retirada, e quando o fazem, voltam novamente a ser atacadas, desta feita, pelos habitantes asturianos que começaram a acreditar numa potencial vitória. O cenário de batalha tornou-se num autêntico e surpreendente pesadelo para as intenções muçulmanas, sendo que os poucos sobreviventes tiveram bastantes dificuldades em conseguir retirar-se preservando a sua vida, visto que as imprevisíveis e ferozes emboscadas traduziam-se em baixas constantes. Nem o seu principal comandante militar (Al-Qama) conseguiria sobreviver à batalha, desconhecendo-se ainda se Munuza (anterior governador provincial mouro) pereceu nesta batalha ou noutra posterior (talvez em Proaza). O que é certo é que Pelágio, que também teve conhecimento de pesadas baixas na sua hoste, assegurava o seu título de rei cristão das Astúrias, evitando que os muçulmanos fossem donos de toda a Península Ibérica. Devido à vitória lograda, o líder cristão mandou mesmo construir um santuário nas grutas em honra de Maria (mais concretamente na gruta onde tiveram de se refugiar para enfrentar o inimigo), de forma a agradecer a sua protecção.
Com a permanência deste reino cristão no Noroeste Peninsular, estava aberto o caminho para o processo da Reconquista Cristã que se desenvolveria nos séculos seguintes.
Imagem nº 1 - Os muçulmanos são surpreendidos pelas forças cristãs no desfiladeiro. Mais tarde, naquele lugar iria ser construído um santuário de forma a recordar o feito.
Imagem nº 2 - Estátua de D. Pelágio em Cangas de Onis (Espanha).
Retirada de: http://www.wikitree.com/wiki/Asturias-8
Imagem nº 3 - Túmulo do rei Pelágio das Astúrias, falecido em 737.
Retirada de: http://fotosin.blogs.sapo.pt/48941.html
Imagem nº 4 - O Santuário "Santa Cova de Covadonga" provavelmente erguido às ordens de Pelágio, 1º rei das Astúrias, no lugar que tinha servido de "quartel" ou refúgio para os guerrilheiros cristãos durante aquela impiedosa batalha.
Imagem nº 5 - A Vista do exterior do Santuário e da zona montanhosa.
Referências Consultadas:
- BUNTING, Tony - Covadonga (c.720) in 1001 Battles that changed the Course of History. Ed. R. G. Graham. Londres: Quintessence Editions, 2011.
- ESPARZA, Javier - La gran aventura del reino de Asturias: Así comenzó la Reconquista. Madrid: La Esfera de los Libros, 2009.
- http://montalvoeascinciasdonossotempo.blogspot.pt/2014/02/batalha-de-covadonga-reconquista-crista.html, (consultado em: 26-07-2014).
- http://tacticaguerilla.blogspot.pt/2008/12/covadonga-christian-resistance-to.html, (consultado em: 26-07-2014).
- http://pt.scribd.com/doc/189682799/Battle-of-Covadonga-TRADUCCION, (consultado em: 26-07-2014).
Notas Extra:
1 - Os números que apresentamos em relação às forças envolvidas não são ainda totalmente consensuais, visto que há discordância entre as fontes e demais bibliografia, mas optamos pela estimativa que nos parece ser mais realista.
2- O Símbolo do Reino Cristão das Astúrias foi retirado do Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Covadonga) apenas para efeitos de preenchimento da nossa tabela. Já a bandeira, alegadamente representativa do al-Andalus (não encontramos nenhum imagem para o califado omíada), foi extraída a partir de: http://althistory.wikia.com/wiki/Al-Andalus_(Muslim_World).
curiosidade,quem vive neste santuário? Heloisa
ResponderEliminarQue história maravilhosa! Sem esse sacrifício e essa batalha, talvez nao existisse América, Brasil, nada. Alguns poucos fizeram este ato de heroísmo e salvaram toda uma cultura que deve prevalecer. Parabéns pelo post.
ResponderEliminarDepois de ler o livro de Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero fiquei curiosa em saber mais sobre a reconquista cristã a partir da batalha de Covadonga e como já lá estive algumas vezes gostei muito de conhecer esta parte da História tão interessante com mais pormenores. Graças a esta importante batalha existe a Península Ibérica com Portugal e Espanha, 2 países cristãos e livres do Islão
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