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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Para uma reabilitação da Idade Média

Como é tradicionalmente aceite, a Idade Média estende-se desde a queda de Roma em 476 d. C. às mãos dos Hérulos (e mais tarde, dos Ostrogodos) até 1453, ano da conquista de Constantinopla (e do restante Império Bizantino) por parte dos turcos otomanos. Trata-se duma era que se prolongou por um milénio repleto de vivências e acontecimentos.
Não me parece gratificante ou sensato referir que o Período Medieval se circunscreveu somente à trilogia negra: guerras, pestes e fome. É evidente que houve várias batalhas sangrentas, e ninguém se esquecerá da razia demográfica causada pela temível Peste Negra (1348). Efectivamente, a "medicina" disponível naquele tempo estava longe de ser eficaz. A superstição, a ignorância, o analfabetismo, a profunda fé religiosa, as relações feudais e a vida dura nos campos também traçaram o perfil do homem medieval integrado numa sociedade hierarquizada (nobreza e clero: classes privilegiadas, povo livre mas com uma vida bastante limitada em termos de direitos).
Todavia, esta era não deve ser catalogada como a Idade das Trevas, pois é uma consideração negativista fruto do senso comum e deveras parcial, visto que nesta época também ocorreram avanços que não podem ser ignorados:

  1. O surgimento das primeiras nacionalidades europeias (Portugal, França, Inglaterra...).
  2. O aparecimento das línguas vernáculas (é o caso do português medieval).
  3. São erguidas as primeiras grandes Universidades, nomeadamente as de Paris, Oxford, Cambridge, Montpellier, Salamanca, Nápoles, Roma e Coimbra. Também foram criadas escolas monásticas e catedráticas. 
  4. Reconstituição da vida urbana e revitalização do comércio.
  5. A criação de inúmeras e grandiosas catedrais (por exemplo: a Catedral de Notre Dame), isto para além de imponentes castelos. 
  6. Ascensão da Banca. 
  7. A realização de várias cópias e traduções de textos antigos que permitirão avanços em múltiplas áreas: Astronomia, Matemática, Filosofia...
  8. Introdução de moinhos eólicos e hidráulicos, isto é, a vento e água.
  9. Colocação de Relógios Mecânicos.
  10. Desenvolvimento da Arte Gótica.
  11. Estabelecimento do Direito Canónico.
  12. Modernização dos estratagemas e mecanismos de assédio militares. 
  13. Afirmação do Cristianismo e surgimento do Islamismo pela mão do profeta Maomé. 
  14. Avanços nos conhecimentos de navegação.  
  15. Destaque para os trovadores laicos com as suas composições poéticas.

Neste período, viveram igualmente grandes figuras que marcaram a história da Humanidade: Carlos Magno, Joana d'Arc, Dante Alighieri, Petrarca, Giotto, Roger Bacon, Tomás de Aquino, São Francisco de Assis, Alcuíno, Godofredo Bulhão, Saladino, Frederico Barbarossa, Gengis Khan, Luís IX, Justiniano, Papas Gregório VII e Inocêncio III, Santo António, Marco Polo, Leif Eriksson, Isidoro de Sevilha, Bento de Núrsia, Boécio, entre muitos outros.
Condenada pelos iluministas, mas reavivada pelos movimentos do Nacionalismo e Romantismo, a Idade Média não é digna de ser epigrafada sobre o signo da obscuridade e ignorância. O seu epitáfio, lavrado por cada historiador, deverá espelhar o legado e o cariz peculiar daqueles tempos.




Imagem nº 1 - Na Idade Média, vários textos foram copiados e traduzidos por monges que tinham acesso à cultura disponível nas bibliotecas monásticas.
Retirada de:



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