O reino visigótico assentava numa monarquia electiva, ou seja, eram os barões da alta aristocracia que escolhiam o futuro soberano, sempre que o anterior rei morresse. No ano de 710 (ou em 711, não há certeza quanto às datas), o rei Vitiza terá falecido, desconhecendo-se se morreu de forma natural, ou se foi assassinado pelos partidários de Rodrigo que se tornaria o principal candidato à sucessão. Contudo, Rodrigo teria a rivalidade de Ágila II, presumível filho de Vitiza (embora se suspeite que na altura ainda seria uma criança), que estava igualmente disposto a lutar pelo trono. Neste período, o reino dividiu-se, com ambos os candidatos a recolherem influentes apoios para uma guerra civil que agora se iniciava.
O conflito tornou-se mais acérrimo, e em jeito de desespero, os partidários de Ágila II pediram auxílio militar aos muçulmanos do Norte de África, de forma a conseguirem derrotar a facção de Rodrigo. Tratou-se dum gravíssimo equívoco visto que os muçulmanos, que viriam a ser liderados por Tarik Ibn Ziyad e Musa ibn Nusair (este entra mais tarde em cena), rapidamente transformaram a expedição de auxílio numa larga campanha de conquista.
Para além da crise política do reino visigodo, também há-que ter em conta o descontentamento da população, maioritariamente ibero-romana, que estava farta da tirania, da ausência de direitos e dos elevados impostos. Outro grupo revoltado era constituído pelos judeus que se queixavam da repressão. Em suma, poucos estavam dispostos a defender um Estado, agora moribundo e mais do que nunca descredibilizado, que não satisfazia as suas vontades. O comércio também já andava pelas ruas da amargura, a miséria era enorme. Longe de qualquer tipo de união ou coesão social, o estado visigodo , cada vez mais desagregado, caminhava, a passos largos, para o abismo. Estava construído o cenário ideal para que, não tarda nada, acontecessem novas traições que custariam muito caro...
Para além da crise política do reino visigodo, também há-que ter em conta o descontentamento da população, maioritariamente ibero-romana, que estava farta da tirania, da ausência de direitos e dos elevados impostos. Outro grupo revoltado era constituído pelos judeus que se queixavam da repressão. Em suma, poucos estavam dispostos a defender um Estado, agora moribundo e mais do que nunca descredibilizado, que não satisfazia as suas vontades. O comércio também já andava pelas ruas da amargura, a miséria era enorme. Longe de qualquer tipo de união ou coesão social, o estado visigodo , cada vez mais desagregado, caminhava, a passos largos, para o abismo. Estava construído o cenário ideal para que, não tarda nada, acontecessem novas traições que custariam muito caro...
Imagem nº 1 - O Reino Visigodo estava afundado em lutas internas pelo poder. Rodrigo e Ágila II disputavam acerrimamente o trono.
Retirada de: http://trianguloequidlatere.blogspot.pt/2012/03/los-visigodos-desde-su-origen-hasta-las.html
A Batalha
No final da Primavera de 711, Tarik desembarca com as suas tropas berberes. O seu exército não é muito numeroso, mas encontra-se composto por soldados fanáticos dispostos a lutar até à exaustão. Para além disso, recebem a colaboração ingénua dos informadores "vitizianos" que pensavam estar a ajudar os novos aliados que iriam colocar Ágila II no poder. Assim, os muçulmanos passam a conhecer bem o terreno, evitando, ao máximo, qualquer tipo de emboscada ou armadilha fatal aos seus interesses. Para além disso, já tinham acontecido, nos últimos anos, alguns raides por parte dos muçulmanos do Norte de África que sitiavam as comunidades do litoral hispânico.
Por seu turno, Rodrigo provavelmente não teria ainda conhecimento de que havia uma aliança secreta entre muçulmanos e os apoiantes do seu contendente Ágila. Apesar de ser um soldado experimentado e de procurar conhecer bem o adversário que iria enfrentar, Rodrigo não estava precavido para uma eventual traição.
As primeiras escaramuças acontecem logo após o desembarque muçulmano - há algumas baixas de ambos os lados, mas nenhum dos embates ainda é suficientemente decisivo. Tarik reconhece alguma resistência, embora não muita, do inimigo, e pede reforços a Musa que trata de viabilizar a sua solicitação.
A batalha decisiva seria travada nas margens do rio Guadalete, na província de Cádiz. Dum lado está Rodrigo, principal pretendente ao trono visigótico, e do outro encontra-se Tarik, general do exército invasor. Há muitas divergências ou disparidades quanto ao número total de efectivos de ambos os exércitos, e o mesmo se pode deduzir quanto às baixas posteriores. Por isso mesmo, não avançaremos nenhum número específico, pois as fontes não clarificam esta questão. Aliás, não temos sequer informações claras sobre a descrição pormenorizada da batalha, até há mesmo dúvidas quanto ao dia da sua ocorrência (embora saibamos que ocorrera algures no mês de Julho de 711).
Sabemos sim que as tropas de Rodrigo dirigiram-se para sul, de forma a enfrentar a invasão muçulmana que tinha partido do Estreito de Gibraltar. Aquele tinha procurado reunir apoios dos seus clãs rivais, pensando que eles estariam consigo nesta hora difícil para o reino. Por seu turno, Tarik lidera uma armada que dependia muito da cavalaria berbere que estava pronta para fazer estragos no campo de batalha.
Contudo, as forças visigóticas estavam longe de garantir a unidade para enfrentar um adversário organizado e disciplinado. Rodrigo é mesmo traído por muitos comandantes e soldados vitizianos ou pró-Ágila que o abandonam na hora da verdade, deixando-o isolado perante um exército impiedoso. Rodrigo e alguns dos seus seguidores leais desaparecem nesta batalha (provavelmente tombaram todos em combate). A derrota dos visigodos é estrondosa.
O exército cristão está agora fragmentado por causa das divisões políticas, e nem a morte trágica de Rodrigo, será suficiente para acordar um Estado preso à inércia e instabilidade. A capital do reino - Toledo acaba por cair muito pouco tempo depois. Muitos nobres visigodos fogem para o Norte da Península Ibérica, procurando refúgio na Galécia, Cantabria e noutras regiões. Não havia qualquer tipo de coordenação entre os líderes da resistência que estava destinada a desaparecer quase na totalidade (excepto nas Astúrias e na região basca).
Efectivamente iniciar-se-ia, em 711, um longo período de domínio muçulmano na Península Ibérica, que será bastante evidente nos próximos 400 anos, e que se prolongará até 1492, ano da queda do Reino de Granada.
Imagem nº 2 - A cavalaria berbere destroça os visigodos em Guadalete, aproveitando a traição impiedosa de que fora alvo o líder adversário - Rodrigo.
Retirada de: http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=37
Imagem nº 3 - A vitória em Guadalete permitiu aos muçulmanos avançar triunfantemente para a conquista quase total da antiga Hispânia.
Retirada de: http://www.nucleomilitarblog.com/2014/01/imagem-do-dia_6.html, (Quadro da autoria de Mariano Barbasán Langueruela - 1864-1924).
Referências Consultadas:
- BUNTING, Tony - Guadalete - 711 in 1001 Battles that changed the course of history. Dir. R. G. Grant. Londres: Quintessence Editions, 2011.
- LAGO, José; RODRÍGUEZ, José - Los Visigodos: El fin del reino visigodo in: http://www.historialago.com/leg_visig_0215.htm, (Consultado em: 25-07-2014).
- http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=37, (Consultado em: 25-07-2014).
- http://www.causamerita.com/hist_7.htm, (Consultado em: 25-07-2014).
Fantástico!
ResponderEliminarParabéns e obrigado pela bela explicação! Vou passar adiante essas informações e o seu contato.