Este site foi criado com o intuito de divulgar os feitos mais marcantes no decurso da história mundial

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Suplício de Auschwitz e o Holocausto

Traçar a vida diária dum prisioneiro no campo de concentração nazi de Auschwitz, o qual subsistiu entre 1940 e 1945, poderá ferir as susceptibilidades de muitos leitores. Foram inúmeros os episódios aí verificados que marcaram uma página bastante negra da História Universal. Numa primeira abordagem, é necessário contextualizar o anti-semitismo radicado na ideologia nazi, embora a fobia aos judeus fosse bem mais antiga, cenário que, a título de exemplo, também se observou na Idade Média, durante a era das Cruzadas.
Na Europa, as comunidades judaicas viviam isoladas em bairros, e eram bastante invejadas pela sua capacidade económica acima da média ou pela vocação generalizada para o negócio. Por isso, os seus detractores presumiam a usura e a ganância destas gentes, e ao longo do último milénio, tiraram proveito das suas reduzidas condições de segurança para descarregarem os seus ódios e frustração. Mas na época nazi, o massacre tomou proporções até então inimagináveis.



1- Contexto: A Ascensão do Nazismo e o Início da Perseguição aos Judeus


A Alemanha tinha saído arrasada da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e do humilhante Tratado de Versalhes. Os anos situados entre 1919 e 1923 correspondem a uma fase bastante crítica que é acompanhada de desordens e sublevações, protagonizadas sobretudo pelos grupos da extrema-direita nacionalista. O aumento do défice estatal, a desvalorização da moeda germânica, a inflacção galopante (aumento do custo de vida), o declínio do comércio e da produção agrícola e industrial, a miséria social, o preço a pagar pela derrota na Primeira Grande Guerra, constituíram todos eles ingredientes inseparáveis duma grave crise se verificaria naquele país. No ano de 1923, Hitler tentou mesmo encetar um golpe de Estado em Munique, mas as suas intenções são barradas pelo exército e polícia da República de Weimar. Foi encarcerado, mas por muito pouco tempo. Quanto aos seus planos de ascensão ao poder, somente acabariam por ser materializados dez anos depois.
A situação começa a mudar favoravelmente a partir dos anos de 1924 e 1925, muito devido à injecção de capitais estrangeiros (citamos aqui os apoios anglo-saxónicos e os créditos norte-americanos) que permitem a estabilização da economia germânica. A eleição do marechal Hindenburg para Presidente da República em 1925 atrai mesmo o consenso por parte de vários conservadores e nacionalistas. Conforme nos conta o historiador Luis Palacios Bañuelos, o extremismo parecia ter, naquele momento, os dias contados. Os nacionalistas encabeçados por Hitler apenas conseguem 3,5 % dos votos em 1928, resultado bem inferior àquele registado em 1924.
Todavia, tudo não passaria duma ilusão seriamente comprometida por um pretexto que escapou ao total controlo dos europeus. A célebre crise de 1929 fará com que os Estados Unidos retirem os seus capitais ou créditos de investimento em inúmeras nações europeias. A Alemanha que era dependente desses apoios caiu novamente na desgraça. Sucedem-se falências bancárias, encerramento de indústrias,  paralisações de inúmeras produções, massas de desempregados, fomes...
Neste contexto, os partidos extremistas, à direita e à esquerda, recuperam o impulso anterior e alcançam mais militantes ou simpatizantes. Em 1930, o partido nacional-socialista de Hitler já consegue 18% dos votos, mas a sua ascensão a chanceler ocorre em 1933 (seria nomeado pelo presidente Hindenburg que acabou por facilitar a ascensão do novo regime). Num rumo claramente ascendente, os nazis contam agora com o incondicional apoio dos industriais renanos que temem uma implantação comunista.
Com a chegada de Hitler ao poder, são abolidos os princípios democráticos (ilegalizaram-se os demais partidos; a oposição foi varrida), elaboram-se doutrinas racistas, e aclama-se a superioridade alemã em jeito dum vincado nacionalismo. É instituído um Estado Tolitário, onde o "Deus" dos nazis é Hitler, o homem que se identifica com o Estado e que concentrará em si todos os poderes, e onde o seu "Livro Sagrado" é o Mein Kampf. São criadas estruturas secretas: as SA (Secções de Assalto), as SS (Secções de Protecção - Schutz Staffel) e a Gestapo (polícia secreta que semeava o terror político). Todas estas entidades terão o seu historial manchado de sangue inocente através da concretização de deportações, crimes, chacinas...
Todavia, a política económica nazi, antes da eclosão da Segunda Grande Guerra, apresentou resultados positivos. Entre 1933 e 1936, foi construída uma grande rede de auto-estradas, adoptaram-se medidas que protegeram e estimularam a produção industrial, promoveu-se a construção civil, e como consequência, o desemprego diminuiu drasticamente. Ao fim de quase 20 anos de bancarrotas e dívidas infindáveis, a nação voltaria a recuperar a sua pujança económica, reerguendo-se assim das ruínas. Mas esta terá sido a única contribuição positiva do novo regime que acabava de se instalar na Alemanha e que, mau grado, alimentaria a repressão política e étnica até à exaustão.
Um dos pilares ideológicos do Nazismo assentava teoricamente no primado ou superioridade da raça ariana, desprezando as demais que eram encaradas como biologicamente inferiores ou impuras. Adolf Hitler, Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich, bem como outros mentores que os acompanhavam, acreditavam que era necessário purificar a sociedade alemã, perseguindo as minorias étnicas, consideradas imorais aos olhos do Führer. Até na sua concepção de mundo (os nazis sonhavam com o domínio total do planeta) não haveria sequer lugar para muitos povos que teriam de ser forçosamente extintos. 
Dentro deste contexto, a hostilidade seria, em grande parte, canalizada contra os judeus (um povo sem pátria naquela altura) que foram reprimidos de variadas formas. Esta crescente onda de anti-semitismo convergiu com uma série de leis que colocariam em causa a integridade social daqueles.
Desde logo, os judeus foram proibidos de exercer actividades económicas e laborais, caindo no descrédito popular. As Leis de Nuremberga de 1935 acentuaram o seu drama pois ficariam desprovidos da nacionalidade germânica, além de não poderem agora contrair matrimónio misto com outros alemães que não fossem de etnia judaica. Foi-lhes ainda vedado o exercício de cargos inerentes ou relacionados com a Função Pública. No decurso desta perseguição sem escrúpulos, muitos judeus que trabalhavam por conta de outrem, foram despedidos. Outros caíram na desgraça ao depararem-se com as migalhas dos seus negócios boicotados e arruinados. Mas estas eram apenas as primeiras etapas dum verdadeiro inferno que estava reservado às comunidades judaicas que residiam na Alemanha Nazi.
No dia 9 de Novembro de 1938, dá-se a denominada "Noite dos Cristais" que testemunhou, num ritmo avassalador, a destruição de bairros, sinagogas e propriedades pertencentes a judeus. Centenas de pessoas foram trucidadas sem piedade. O banho de sangue começava a materializar-se a partir de agora. Já não se tratava somente duma tendência maquiavélica de lhes fazer a vida negra que se pautava pelos boicotes ou proibições, mas sim - começava agora a emergir a intenção clara de os eliminar massivamente. 
O povo alemão da altura reagiu com excessiva passividade aos acontecimentos, e poucos seriam aqueles que ousariam ter coragem para afrontar as directivas nazis. 
Este pesadelo profundo das comunidades judaicas ainda estava longe do fim e, ao contrário do que muitos julgavam, agravar-se-ia, e de que maneira, nos próximos tempos.





Imagem nº 1 - O episódio da "Noite dos Cristais" onde multidões inteiras saíram às ruas para destruir os estabelecimentos e propriedades que abrigavam judeus.




2- Campos de Concentração


A Segunda Guerra Mundial (1938-1945) deteriorou ainda mais a situação dos judeus que agora passariam a ser isolados em campos de concentração e guetos, onde eram tratados de uma forma desumana e horrenda. 
Os campos de concentração poderiam situar-se na Alemanha ou nos domínios recém-conquistados pelo exército nazi. Os mais mortíferos foram os de: Auschwitz (do qual falaremos aqui; situado na Polónia), Belzec (Polónia), Chelmno (Polónia), Majdanek (Polónia), Sobibór (Polónia), Treblinka (Polónia), Varsóvia (Polónia), Jasenovac (Croácia), Lwów (Ucrânia), Maly Trostenets (Bielorrússia), Sachsenhausen (Alemanha), Ravensbrück (Alemanha), Bergen-Belsen (Alemanha: onde faleceu a jovem Anne Frank que nos deixou um diário comovente), Mauthausen-Gusen (Áustria), entre outros.
Quanto à sua tipologia, esses campos do terror poderiam assumir as finalidades de trabalho forçado, transição (estações de passagem temporária) ou de extermínio (o caso concreto de Auschwitz e também doutros espaços polacos).
Somados todos os números, estima-se que mais de 11 milhões de pessoas (deste conjunto, cerca de 6 milhões seriam de etnia judaica) perderam a vida nesses campos, só pelo "crime" de serem judeus, ciganos, eslavos, comunistas, homossexuais, portadores de deficiências físicas ou perturbações mentais, prisioneiros de guerra (por ex: soviéticos ou poloneses) ou opositores ao Terceiro Reich.
Não havia pois qualquer gesto de tolerância para aqueles que eram encarados como "inimigos do estado nazi".





Mapa nº 1 - A Distribuição dos Campos de Concentração Nazis no Centro e Leste Europeu.




3 - Auschwitz - O Pesadelo da Humanidade


Para podermos ter noção do martírio perpetrado em Auschwitz II-Birkenau (município de Oświęcim - sul da Polónia, dista 60 km de Cracóvia), considerado o campo de concentração mais terrível e implacável, optamos por citar duas reportagens bem concebidas, uma intitulada "Despojos do Mal"da autoria da jornalista Catarina Pires, e a outra também não menos brilhante designada "Auschwitz, pelo menos uma vez na vida" redigida por José Manuel Fernandes. 
A Casa dos Mortos, expressão utilizada assertivamente pela repórter Catarina Lopes para se referir a Auschwitz, traduz o processo de extermínio que ditou a morte cruel de um milhão e meio de pessoas, entre homens, mulheres, crianças e velhos - todos eles reduzidos a cinzas. Josef Mengele, o Dr. da Morte (do qual falaremos neste artigo), afirmava mesmo que "aqui entra-se pela porta e sai-se pela chaminé" numa analogia clara à cremação dos corpos das vítimas aniquiladas. 
Os escassos sobreviventes deste Holocausto testemunharam os mais diversos horrores, revelando-se impotentes para prestar auxílio aos seus familiares e companheiros que conheciam um final trágico. 
O quotidiano naquele campo de concentração envolvia trabalhos forçados (escravatura; muitos tombavam por exaustão), torturas, maus tratos, execuções por inalação fatal nas câmaras de gás, fuzilamento e forca, cobaias humanas exploradas em experiências científicas (levadas a cabo pelo já referido Dr. Josef Mengele), a fome, a sede, a miséria...
Em média, e segundo cálculos pré-estabelecidos, poderiam ser mortas até 20 mil pessoas por dia em Auschwitz!!! Muitas das quais, iludidas por um falso duche, eram obrigadas a despir-se para entrarem numa câmara que irradiaria gases fatais que, por asfixia, sentenciariam, num relance, as vidas de centenas de pessoas que mal cabiam naquela abominável estrutura fechada.
Os cabelos das vítimas ora eram vendidos pelos nazis à indústria têxtil a meio marco o quilo, ora serviam para fabricar isolantes para submarinos. Também os dentes de ouro, vestes e outros haveres eram arrancados dos cadáveres. Já as cinzas eram utilizadas como fertilizante para a agricultura. As valas comuns estavam ainda repletas de cadáveres que não chegariam a ser cremados.
Não havia misericórdia, compaixão ou compreensão pelos valores da dignidade humana. Nem sequer existia qualquer réstia de esperança para os oprimidos, pois era quase impossível tentar a fuga. A vigilância no local era bastante apertada e as cercas electrificadas dissuadiam todos aqueles que desejavam a todo custo abandonar aquele campo de concentração desumano. A única possibilidade de salvação só se materializaria caso os nazis fossem derrotados pelos russos no leste europeu, o que os obrigaria então a um recuo drástico. E foi isso que viria a acontecer, para que o genocídio, levado a cabo sobretudo nos campos de concentração da Polónia (ocupada até então pelos alemães), conhecesse o seu ponto final num texto longo e hiper-dramático que jamais deveria figurar numa página da história da Humanidade. 
Efectivamente, após 5 anos macabros, no dia 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas abriam as portas de Auschwitz, garantindo a libertação dos poucos prisioneiros que lograram escapar daquela experiência traumatizante. Antes de abandonarem o lugar, os nazis tinham queimado as câmaras de gás e os fornos crematórios, de forma a tentar ocultar a verdade, mas até nisso fracassaram. O escândalo não seria abafado como pretendiam. Aliás, de acordo com informações asseguradas por Catarina Lopes que visitou o local com o supervisionamento dum guia, os aliados já teriam conhecimento prévio da existência de tais campos repugnantes, mas pouco ou nada fizeram no início para romper com a chacina. 
O principal comandante nazi daquele campo de concentração - Rudolf Hoess seria executado posteriormente tal como outros responsáveis que cooperaram para a concretização destas atrocidades. Mas houve quem conseguisse ludibriar a captura. Josef Mengele, apelidado de "Anjo da Morte" (responsável pela extracção de órgãos e amputação de diversas vítimas, pela esterilização de mulheres, injecção de tinta azul nos olhos das crianças, testes de resistência extrema...) chegou a ser detido pelas tropas britânicas, mas como suspeitavam que era somente um membro da infantaria alemã, foi libertado e, sob uma falsa identidade, conseguiu iludir tudo e todos, fugindo para a América do Sul (destino preferido de muitos nazis que eram procurados - Ratlines), onde faleceria em Bertioga (Estado de São Paulo), no ano de 1979, enquanto nadava junto à praia.





Imagem nº 2 - A entrada no Campo de Concentração de Auschwitz II - Birkenau.





Imagem nº 3 - Crianças inocentes vitimadas em Auschwitz.




Imagem nº 4 - Vários prisioneiros (nomeadamente jovens) junto às redes electrificadas.





Imagem nº 5 - As Câmaras de Gás em Auschwitz cúmplices dum genocídio infindável.




Imagem nº 6 - A libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho em 27 de Janeiro de 1945.
Retirada de: https://02varvara.wordpress.com/tag/auschwitz/




4 - O Excepcional Heroísmo


No seio desta tenebrosa e hedionda escuridão, também cintilaram discretamente pequenos laivos de luz atribuídos aos heróis que, mediante a sua louvável coragem, não hesitaram em colocar a sua carreira (ou até a vida) em perigo para salvar vários judeus duma deportação cruel para os campos de concentração.
Maria von Maltzan e Marie Therese von Hammerstein, aristocratas, conseguiram reunir papéis para que alguns judeus conseguissem fugir da Alemanha.
Elisabeth Von Thadden, directora duma escola feminina privada, recusou obedecer a ordens oficiais superiores e continuou a incluir jovens judias na sua escola até Maio de 1941, data em que foi demitida, sendo posteriormente executada em 1944 por alegado (bastante improvável pelo que se apurou entretanto) envolvimento numa conspiração que pretendia derrubar Adolf Hitler.
Heinrich Gruber, pastor protestante, recorreu a um sistema de contrabando para facilitar a fuga doutros judeus desesperados.
Mas neste processo de auxílio aos judeus temos de reconhecer, com maior precisão, os incansáveis esforços envidados por três personalidades sonantes que se evidenciaram com grandeza ímpar: Oskar Schindler, Aristides de Sousa Mendes e Raoul Wallenberg.
O primeiro era um empresário alemão, dedicado à produção de esmaltes e munições em Cracóvia, que até não simpatizara de início com a causa judaica, concentrado-se apenas na busca incessante do lucro. Schindler mantinha mesmo ligações íntimas com o Partido Nazi (chegou até a ser espião!), contudo ficaria, ao fim de algum tempo, chocado com a perseguição feroz que era feita aos judeus. Neste âmbito, e de acordo com a tradição, é narrado um pequeno episódio, cujo grau de veracidade desconhecemos mas que se encontra impregnado no filme "A lista de Schindler" de Steven Spielberg. Segundo a película cinematográfica, o empresário terá vislumbrado uma menina de 3 anos que ostentava um casaco vermelho e que porteava um olhar angelical, inocente e inofensivo, e que estava a ser naquele momento deportada para um campo de concentração, sendo que, mais tarde - numa circunstância distinta, Schindler reconheceria o seu corpo bem como o seu pequeno manto, quando se deparou com vários cadáveres empilhados. Não sabemos se esta história é realmente verídica, mas o que é certo é que Schindler começou a lamentar a situação deplorável dos judeus. O industrialista protegerá, a partir de agora, os seus trabalhadores de etnia judaica, convencendo e subornando as SS nesse sentido. Empregou ainda crianças, domésticas e advogados de forma a protegê-los. Em 1944, conseguiu movimentar 1200 judeus para trabalhar na sua fábrica em Brunnlitz, salvando-os de uma morte certa nos campos de concentração de Gross-Rosen e Auschwitz. Esbanjou fortunas para tentar convencer os responsáveis da SS e da Gestapo a não agir contra a integridade dos seus operários.
Por seu turno, Aristides de Sousa Mendes foi um cônsul português em Bordéus que, no ano em que a França foi invadida pela Alemanha, terá salvo, através de inúmeros vistos atribuídos, pelo menos, 10 mil judeus. Outras fontes referem 30 mil. De qualquer das formas, não deixam de ser estatísticas assinaláveis. Como se sabe, o diplomata não atendeu às ordens expressas de António de Oliveira Salazar, e concedeu então milhares de vistos de entrada em Portugal a vários refugiados que procuravam desesperadamente fugir de França em 1940.
Raoul Wallenberg, arquitecto e diplomata, tornou-se secretário da delegação sueca em Budapeste (a Hungria estava naquela altura ocupada pelos nazis) a partir de Julho de 1944. Usufruindo da imunidade do seu novo estatuto, expediu passaportes especiais para cidadãos judeus, os quais eram designados como cidadãos suecos à espera de repatriamento. Além disso, alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca. Dois dias antes da chegada do Exército Vermelho a Budapeste, Wallenberg ameaçou, através dum bilhete assinado por Pál Szalay, os oficiais nazis com um eventual processo judicial por crimes de guerra, gesto que intimidou aqueles, e que foi suficiente para impedir que 70 mil judeus fossem deportados para os campos de extermínio da Alemanha. Como resultado de todas as suas acções, este sueco poderá ter salvo cerca de 100 mil judeus.
Seguramente existiram outras individualidades que também se destacaram no apoio prestado às vítimas desta perseguição implacável e atroz que vigorou nos tempos do nazismo. De facto, é-nos impossível fazer menção a todos aqueles que procuraram atenuar as consequências desta tragédia mundial, ora os que tiveram uma contribuição mais abrangente, ora os que desempenharam um papel mais particular ou discreto.
Como pudemos observar, o impacto benévolo de uma pessoa em prol da Humanidade pode cifrar-se na salvação de milhares de vidas inocentes. Por outro lado, a ignorância, a indiferença e a passividade consentidas (ou o fechar de olhos por opção) andam invariavelmente de mãos dadas nos capítulos mais tenebrosos da evolução humana.





Imagem nº 7 - Oskar Schindler salvou mais de mil judeus dos campos de concentração, e protegeu os seus funcionários, esbanjando fortunas destinadas a subornar oficiais nazis.





Imagem nº 8 - A rapariga de 3 anos que teria conquistado a compaixão de Schindler. De acordo com a película, o seu cadáver seria depois encontrado pelo mencionado empresário que ficou chocado com a atrocidade.
(A foto é parte produzida do filme "A lista de Schindler" de Steven Spielberg)





Imagem nº 9 - Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português de Bordéus, concedeu inúmeros vistos de entrada em Portugal, o que permitiu a fuga de milhares de judeus.




Imagem nº 10 - Raoul Wallenberg, diplomata sueco em Budapeste, que se tornaria também num dos vultos responsáveis pela protecção de vários judeus.




"A vida continuava no seu ritmo normal, e na Primavera que se seguiu à morte do sr. Heim, festejou-se a festa de tiro, no parque público da cidade. A banda de música tocava alegremente e as pessoas enganchavam os braços (...). O pai, feliz de viver, girava com as raparigas na pista de dança enquanto a minha mãe conversava com Lilli e o actor Brent (...) Vejo o meu pai voltar à mesa com a cara afogueada depois de uma valsa. Ouço uma voz gritar: "Seu judeu porco". Era a voz do inspector que impedira o namoro do filho com Raquel e que quase levara a rapariga à morte. O meu pai enfrentou-o, os olhos flamejavam-lhe: "Retire o que disse!". O outro soltou uma gargalhada: "Não retiro nada. Repito: seu judeu pouco!". Então o meu pai, sempre pacífico e que não gostava de discutir, pegou na caneca de cerveja e despejou o conteúdo na cara do inspector. No mesmo momento braços seguraram o meu pai e outros o inspector (...) Não foi naquele dia em que a minha mãe disse "és agora uma verdadeira mulher" que eu deixei de ser criança. Isso só aconteceu quando o meu pai foi insultado com tanta injustiça (...) O anti-semitismo aumentava, o nome de Adolf Hitler estava na ordem do dia. Circulavam jornais com caricaturas de judeus de monstruosos narizes em cavalete, olhos esbugalhados, cobiçosos, expressão brutal ou lasciva e mãos papudas, carregadas de anéis descomunais. Publicavam-se artigos aterradores sobre o culto religioso nas sinagogas e nas casas judaicas. Chegava a afirmar-se que os judeus matavam crianças na noite de Passah em que esperavam o Messias (...) Os desempregados enchiam as cervejarias e exaltavam Hitler, que lhes prometia trabalho e lhes afirmava serem os judeus os maiores culpados da desgraça económica do país. O nome "judeu" cada vez se tornava mais injurioso"


Excerto do Testemunho de Ilse Losa (1913-2006)



"Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o meu coração! Ao escrever sei esclarecer tudo, os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias"

Anne Frank
(1929-1945)



Referências Consultadas:




Nota-Extra: Este artigo foi redigido entre os dias 27 e 29 de Janeiro de 2015, o qual se insere então nas comemorações dos 70 anos da libertação de Auschwitz pelas forças soviéticas (27 de Janeiro de 1945).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O "santinho" popular de Beire

Num dos artigos anteriores, analisamos com rigor o percurso de vida de Maria Adelaide adorada como santa pelo povo de Arcozelo. Foi um artigo que não foi difícil de elaborar visto que conhecemos de perto o seu passado através de alguns recursos informativos que permitiram, ao menos, reconstituir, embora que sinteticamente, a sua biografia e o célebre fenómeno posterior da incorrupção do seu corpo. Infelizmente, em relação ao dossier que iremos abordar de seguida, assumimos, desde já, que a recolha de elementos a nível bibliográfico e de pesquisa cibernáutica não se traduziu numa escala bastante produtiva, pelo que demonstramos, desde já, algumas ressalvas quanto às conclusões das nossas modestas averiguações. Aliás, recorreremos somente a um testemunho (já citado electronicamente num site) por parte duma seguidora do culto sito em Beire que então abordaremos em seguida. A sua versão informativa, embora num molde abreviado, é-nos bastante útil, apesar de não termos conseguido corroborar estes elementos com outras fontes orais. De qualquer das formas, não hesitaremos em elencar o que conseguimos recolher.
Hoje "viajamos" até ao concelho de Paredes, conhecido pelos lugares que integram a rota do românico, pela tradição na indústria do mobiliário e ainda pela interessante gastronomia e vinhos verdes. O município encontra-se repartido por 18 de freguesias, uma delas é a de Beire, de cariz essencialmente rural e que conta com pouco mais do que 2 mil habitantes, de acordo com os dados do INE para 2011. Possui apenas uma área de 3,38 km². O seu orago é São Miguel. Além disso, ostenta uma natureza verdejante, com um arvoredo tipicamente frondoso. Beire é uma localidade agrícola que produz vinho, milho, centeio, feijão e melões, e que também se dedica à criação de gado. A sua comunidade é caracterizada pelo seu espírito solidário e acolhedor. Realçamos ainda a existência dum cruzeiro datado para o ano de 1624 que reivindica memórias ainda mais antigas.
Nesta humilde terra do Norte de Portugal, detectamos menção de que um corpo incorrupto é alvo de veneração pública, embora a dimensão do culto seja inferior em relação àquele que se regista em Arcozelo diante do corpo de Maria Adelaide. Talvez, por causa disso, não seja possível obter tantos elementos descritivos sobre a pessoa que se encontra exposta num túmulo de vidro em Beire.
O nome do defunto é António Moreira Lopes, falecido no ano de 1907 (supõe-se que terá nascido em 1823). O seu corpo foi exumado em 1972 ou em 1978 (segundo elementos informativos díspares), sendo que o mesmo estaria bastante bem conservado, o que fez o povo acreditar que se tratava dum novo caso de "Santo em Carne", embora António nunca tenha sido sequer beatificado (tal como no caso de Maria Adelaide que é apenas venerada popularmente). É curioso constatar que esta personalidade nunca exerceu qualquer ofício religioso, isto é, nunca foi padre, freire ou clérigo, pelo que torna singular o seu relato de vida. Mesmo assim, seria revestido no seu lugar do repouso com traje de frade ou de hábito religioso.
De acordo com o testemunho de Rosa Ribeiro, a qual revela um enorme apreço pelo "santinho", António era um homem repleto de boas qualidades. Às escondidas, cozinhava pão de noite para distribuir pelos mais pobres, num tempo em que a fome e a miséria, provocadas pela instabilidade e agitação sociais, sufocavam impiedosamente os sectores mais frágeis ou vulneráveis. De facto, Portugal viveu várias atribulações e crises no século XIX, realidade igualmente espelhada nos inícios do século seguinte, com o declínio da Monarquia e a instauração iminente da Primeira República que viria igualmente a fracassar. Terá sido neste contexto conturbado que António Moreira Lopes teria procurado auxiliar os mais carenciados, oferecendo-lhes o alimento essencial para as vivências diárias. Um gesto nobre que nos induz a considerar que esta personalidade constituiu presumivelmente mais um assinalável exemplo de altruísmo. Contudo, voltamos a alertar o leitor para a escassez de informações a respeito da citada pessoa. Necessitávamos de mais testemunhos para elaborar uma descrição histórica concisa e rigorosa. Evidentemente, seria bastante proveitoso que algum historiador pudesse realizar, no futuro, um levantamento mais pormenorizado sobre a vida do "Santinho" de Beire, cuja vida e potencial legado social, em abono da verdade, são ainda pouco conhecidos.
Tal como no já mencionado caso de Arcozelo, o seu corpo encontra-se em exposição numa capela, e ainda há um pequeno museu dedicado a esta personalidade. Tornou-se evidentemente num dos cartões-de-visita da freguesia de Beire e do concelho de Paredes, merecedor da adoração e curiosidade de diversos populares.
Quanto ao fenómeno dos corpos incorruptos é óbvio que a questão está longe de ser efectivamente esclarecida pois as teses ou opiniões divergem naturalmente entre religiosos, crentes e cientistas, e por isso, não é uma temática que ousaremos discutir aqui, independentemente das várias visões que possam existir sobre estes casos. Este dossier depende das crenças e convicções pessoais de cada cidadão, pelo que não pretendemos alimentar um debate que é inteiramente subjectivo. 
O que é certo é que o número de corpos encontrados incorruptos ou inteiros em Portugal e em condições ambientais equilibradas, após várias décadas contadas a partir do precedente sepultamento, contam-se apenas pelos dedos duma mão, pois são extremamente raros. Em condições normais, um corpo pode levar, no mínimo, alguns meses, ou no máximo, 3 anos para decompor-se na totalidade. 




Legendas das fotos: Na primeira foto, encontramos a avenida onde se situa a Casa do Gaiato de Beire enquadrada num meio rural convidativo e onde se enaltece o legado do Padre Américo (fundou o Calvário de Beire em 1954). A autoria da mesma pertence a Miguel Carneiro e foi retirada do site do Panoramio (http://www.panoramio.com/photo/45753054). Já a segunda foto, exibe o corpo venerado do "Santinho" de Beire - António Moreira Lopes. Foi extraída a partir de: http://santinhodebeire.blogspot.pt/, (blog de Lúcia Neto).



Referências Consultadas:


domingo, 18 de janeiro de 2015

Monstro de Loch Ness - Realidade ou Ficção?

A lenda do Monstro de Loch Ness constitui talvez o principal mistério com o qual os escoceses se têm debruçado ao longo dos últimos tempos, tentando encontrar respostas para solucionar um dilema que ainda continua a ser motivo de inúmeras discussões.
O Lago Ness evidencia-se pela sua ampla dimensão, constituindo mesmo a maior extensão de água doce do Reino Unido. Localiza-se a sudoeste da importante cidade escocesa de Inverness. As suas águas são turvas e escuras, além de naturalmente frias. O lago alberga uma área de cerca de 56,4 km2, e detém uma profundidade de 226 metros. É nesse curso de água que se presume a "estadia" duma eventual criatura predadora, de tipologia singular, que se terá fixado nas suas profundezas, segundo a versão daqueles que encaram o lago como um guardião de segredos até então não revelados pela Ciência. Contudo, a comunidade científica não obteve ainda, até hoje, dados indiscutíveis que confirmassem a presença actual ou, pelo menos, recente duma espécie extraordinária.
Mas as raízes da narração lendária aparentam ser bem mais antigas do que muitos possam julgar. São Columba, um monge irlandês do século VI que converteu inúmeras multidões ao Cristianismo, alega que se teria deparado, no ano de 565 d. C., com um monstro nesse dito lago, enfrentando-o com coragem e conseguindo assim acalmar os seus instintos assassinos. Teria supostamente salvo ainda uma pessoa dos instintos mais maquiavélicos da criatura. Infelizmente, estas fontes medievais não se reportam às características físicas da referida criatura, o que nos leva a interrogar se a imagem que acabamos por exibir agora de lado, corresponde aproximadamente à visão testemunhada por São Columba, isto se o dito acontecimento relatado contiver algum fundo de veracidade.
Foi necessário aguardar vários séculos para o dossier renascer com forte intensidade o que gerou inclusive a impressão de infindáveis páginas em jornais, revistas, romances... Além do mais, a existência ou não de tal criatura motivou um elevado fluxo turístico, traduzido pela curiosidade de muitos investigadores, biólogos, amantes da Natureza e pessoas comuns.
Em 1880, Duncan MacDonald, um mergulhador profissional, participou na busca dum navio de carga que se havia afundado nas profundezas do lago. Quando descortinou o navio naufragado, passou imediatamente à fase das examinações. Foi nesse instante e já nas imediações que terá observado uma enorme e sinistra criatura deitada sobre uma rocha, a qual segundo o seu testemunho, se assemelharia a um réptil marinho de proporções assombrosas (talvez algo parecido, segundo a sua descrição, com um "sapo gigante"). Aterrado pela descoberta, fez logo sinal para ser içado pela sua equipa que assim o recolheu à superfície. Depois daquela experiência traumatizante e inesquecível, Duncan jamais voltaria a evidenciar a coragem necessária para se aventurar novamente nas águas sombrias daquele lago.
A história ressurgirá igualmente através duma fotografia controversa atribuída alegadamente ao médico londrino Robert Kenneth Wilson, o qual se encontraria a passar férias junto àquele lugar, no ano de 1934. Segundo a tradição então veiculada, ao tirar fotos a uma distância de 200 ou 300 metros, a referida personalidade terá conseguido captar a aduzida presença dum animal estranho que possuiria um corpo espesso e um pescoço longo. Em jeito de reacção, houve quem tivesse vindo a público defender de que se poderia tratar dum plesiossauro, espécie extinta há 70 milhões de anos. Contudo, o debate em torno desta fotografia, talvez a mais endémica/célebre nos meios de comunicação social, ficou seriamente manchado ou comprometido, quando em 1994 Christian Spurling (um homem já perto da casa dos 90 anos) confessou que tudo não passou dum embuste arquitectado que o envolveu a si bem como a Marmaduke Wetherell  (outrora freelancer do Daily Mail) e o médico/físico (também ginecologista) Robert Kenneth Wilson cuja reputação foi "instrumentalizada" para conferir mais credibilidade à reportagem sensacionalista. Julga-se ainda que o médico londrino, antes de morrer, terá supostamente redigido uma carta na qual confirmaria que afinal a mediática foto não exibia mais do que um submarino de brincar com um pescoço de plástico montado em cima. Era assim colocada de parte a pertinência daquela fotografia que até tinha corrido o mundo. Contudo, e como assinala o investigador Jerome Clark, registaram-se outros relatos de avistamentos de estranhas incidências ocorridas no supra-citado lago para essa década preenchida de 1930.
Em 1951, o guarda-florestal Lachlan Stuart argumentou ter constatado uma agitação irregular e sinistra nas águas calmas do lago, e garantiu ainda que ao aproximar-se do mesmo, teria visualizado três bossas de uma massa que rumava, em linha recta, em direcção à margem. Não hesitou em tirar a sua própria fotografia o que gerou mais controvérsia. Todavia, e de acordo com Jornal The Telegraph, o escritor Richard Frere alegou mais tarde que Stuart lhe tinha confidenciado que as três bossas não seriam então mais do que três inofensivas bolas de feno.
Infelizmente, uma grande parte das fotos inerentes a este fenómeno foram, de algum modo, falsificadas ou deturpadas, o que não favorece a veracidade dos relatos. Mesmo assim, há igualmente testemunhos que, embora integrando uma minoria ínfima, teriam sido, pelo menos, autênticos e não arquitectados de forma propositada.
Em 1969, foi descoberta uma grande caverna submarina e zonas bastante profundas, ainda por explorar, no lago. As décadas de 70 e 80 corresponderam igualmente à divulgação de mais fotografias e relatos sobre a problemática.
Em 2007, Gordon Holmes, técnico de laboratório, filmou uma criatura preta com cerca de 45 pés de comprimento, movendo-se repentinamente na água. A filmagem foi classificada como original, e acabou mesmo por ser transmitida pela BBC da Escócia.
Exibimos de lado, parte da gravação recente que, embora seja intrigante, não nos permite retirar conclusões precisas sobre o que efectivamente se movimentava debaixo daquele lago.
A difusão deste vídeo veio alterar o rumo decadente da lenda, até porque quatro anos antes, a 29 de Maio de 2003, o Governo da Escócia tinha emitido uma declaração a negar a existência de tal monstro, alegando que tudo não seria mais do que fruto da imaginação ou especulação das pessoas. Além disso, e como já mencionamos, a descoberta de algumas fraudes, sobretudo em testemunhos que haviam sido decisivos para alimentar a causa, ameaçava votar ao descrédito todos os rumores então difundidos, pelo que este trabalho de Gordon Holmes suscitou uma nova discussão sobre a temática.
Satellite pictures have picked up on something very strange in Scotland's famous Loch Ness.Mais recentemente, em 2013, uma imagem de satélite publicada pelo Daily News (artigo também citado pela TSF) ocasionou nova etapa em todo este processo de investigação. A foto foi estudada durante 6 meses, e aparenta estar isenta de manipulação. Os cépticos argumentam que se tratará dum barco, mas os entusiastas acreditam que é mais um indício de que a criatura pode mesmo existir.
Em jeito de resumo derradeiro, podemos concluir que várias fotografias e testemunhos geraram um enorme frenesim social, sendo que muitos arguiam que Nessie (designação amistosa da suposta criatura por parte dos escoceses) não era apenas uma lenda, mas sim algo mais do que isso. O que é certo é que indústria turística cresceu vertiginosamente em torno daquela região. Milhões de olhos começaram a circundar o lago, na esperança de detectar um movimento de relance aparentemente sinistro, mas só muito poucos é que acreditam ter usufruído desse alegado privilégio. Mas a acumulação de fotografias e testemunhos falsos sobre o alegado monstro acabaram por descredibilizar inevitavelmente a existência de tal fenómeno. 
É certo que há quase 1500 anos que separam as narrações antigas das mais recentes, o que nos permite atestar que é praticamente impossível tratar-se do mesmo animal, se é que a vivência actual desta espécie é efectivamente real. Os defensores da sua existência alimentam a ideia de que terá existido mais do que uma criatura daquela espécie, o que terá viabilizado, no seu entender, a sua sobrevivência ou permanência através da reprodução até aos dias de hoje. Contudo, é uma hipótese que, a nosso ver, não se coloca, como argumentaremos de seguida.
No plano científico, o mito está longe de merecer qualquer crédito, até porque já foram encetadas diversas investigações no respectivo lago que culminaram invariavelmente em resultados praticamente nulos. Há ainda a hipótese do referido "animal" avistado se tratar afinal duma enguia, cobra, foca ou baleia de dimensões gigantescas. Refutada parece estar, pelo menos, para já, a teoria exótica de se tratar dum plesiossauro (oriundo do período do  Mezosóico) ou doutro semelhante predador pré-histórico que se tivesse mantido em actividade até aos dias de hoje. Aliás, o lago, apesar da respeitada área abrangente, nunca possuiria os meios ou recursos necessários para comportar, durante infindáveis milénios, um animal (muito menos, um grupo!) de enormes dimensões. Além disso, insistimos na ideia de que muitos dos avistamentos partilhados poderiam ser facilmente influenciados por pequenas ondas do lago, por troncos de árvore, lontras, peixes ou répteis de consideráveis dimensões.
A nossa opinião não diverge pois muito desta concepção. Sem provas inequívocas, não é possível atestar definitivamente a existência de algum fenómeno, sobretudo quando o mesmo releva ser um claro contra-senso à evolução natural da espécie animal. Contudo, é imperioso que continuem a desenrolar-se as investigações necessárias em torno da temática, até porque ainda há testemunhos e novos dados autênticos (mesmo que sejam poucos) dignos de motivar novas abordagens que pretendam esclarecer definitivamente todo este mistério.




Legenda das imagens: A primeira fotografia exibe o mítico Lago de Loch Ness na Escócia e foi retirada a partir de: http://expresso.sapo.pt/de-que-lado-esta-o-monstro-de-loch-ness=f889829, ( Foto de Jeff J Mitchell/Getty). Na segunda gravura, vemos São Columba a salvar um dos seus discípulos no século VI, ao confrontrar o monstro, fazendo o sinal da cruz, o que segundo a lenda, terá acalmado a dita criatura que teria colocado de parte os seus instintos terríveis. Esta imagem foi retirada a partir de: http://www.sofadasala.com/misterios/lochness00.htm. A terceira foto é de 1934, e é da presumível autoria do médico londrino Robert Kenneth Wilson. Nesta fotografia antiga, podemos observar um animal indefinido com um pescoço largo, apesar da mesma ter caído em descrédito devido às fortes suspeitas de embuste. A mesma foi retirada a partir de: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2483379/Has-Loch-Ness-Monster-left-Scotland-Down-Under-Nessie-like-creature-spotted-Australias-Magnetic-Island.html, (Maclaurin Comm Ltd). A quarta foto é da autoria de Lachlan Stuart e foi tirada em 1951. Também se desconfia da sua veracidade. A mesma foi retirada a partir do seguinte site: http://www.lochnessinvestigation.com/lachlanstuartexamined.html. A quinta imagem (em movimento) acaba por ser parte dum excerto do vídeo de Gordon Holmes em 2007, apresentando um alegado animal de enormes proporções a mover-se nas águas do Lago de Loch Ness. Foi extraída a partir de: http://cryptomundo.com/cryptozoo-news/holmes-nessie-3/, (direitos atribuídos - Bill Appleton, Chief Technology Officer, DreamFactory Software, Inc. of Mountain View, CA). A sexta imagem é uma fotografia de satélite de 2013 publicada pelo Daily News que veio desencadear mais discussão em torno do assunto e foi retirada de: http://www.nydailynews.com/news/world/loch-ness-monster-satellite-pic-sighting-stirs-controversy-article-1.1761909. A sétima gravura apresenta-nos um plesiossauro pré-histórico, a tipologia de espécie que alguns atribuem à suposta criatura do lago, e a mesma foi extraída a partir de: http://www.megacurioso.com.br/mito-ou-verdade/37803-uma-nova-aparicao-do-monstro-do-lago-ness-video-.htm



Referências Consultadas:

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Ibn Abdun de Évora, poeta e secretário da prosa rimada

É com agrado que apresentamos mais um intelectual muçulmano que residiu no al-Andalus. Ibn Abdun terá nascido em Évora em meados do século XI. Embora seja bastante difícil redesenhar o seu trajecto de vida (pois encontramos poucos dados a seu respeito), a verdade é que se tratou de mais uma individualidade que se destacou na poesia e na prosa, além de ter usufruído de vivências cortesãs que lhe conferiram um protagonismo político relevante.  
A sua formação terá sido desenvolvida em Badajoz e Córdova, o que lhe permitiu dotar do enriquecimento imaterial veiculado nesses pólos culturais. Desde cedo, revelou bom domínio da língua árabe, além de deter uma considerável capacidade de memória. 
Durante a sua carreira, terá servido com máxima lealdade o príncipe de Évora e depois soberano do reino taifa de Badajoz - Omar al-Mutawakkil. Ibn Abdun foi mesmo encarregado de criar uma corte paralela em Évora, retornando depois à capital Badajoz para exercer os papéis de secretário pessoal, vizir e de ministro de confiança. Todavia, a história reservaria um final negro à Dinastia Aftássida que reinava em Badajoz. Omar até então um líder culto, o qual se dedicou por exemplo à construção de vários jardins de recreio, onde se reuniam círculos de erudição que promoviam a literatura (essencialmente a poesia) muçulmana, acabou por ser derrubado pelos conquistadores almorávidas, sendo mesmo morto por aqueles. Ibn Abdun não deverá ter digerido bem o processo de deposição do seu senhor, tendo inclusive redigido um poema de nostalgia ou lamentação dedicado à dinastia que caiu barbaramente. 
Apesar deste desgosto, Ibn Abdun resignou-se à nova realidade, e até acabaria por servir os novos senhores almorávidas, nomeadamente o general Abu Bakr, o emir Yusuf ibn Tashfin e seu filho e igualmente sucessor Ali ibn Yusuf. 
O seu elevado valor político e cultural deverá ter justificado a sua permanência na transição entre as duas dinastias mencionadas. A sua utilidade foi pois tida em conta.
Sabemos ainda que compilou o seu diwan, isto é, uma colecção de poemas da sua autoria. De acordo com Maria Ávalos, Ibn Abdun versava sobre as suas vivências do quotidiano e diversos estados de alma, a sátira, o amor, elegias...
Mas esta personalidade que aqui abordamos inseriu-se igualmente na designada prosa dos secretários, lavrando em nome dos senhores que serviu, várias cartas oficiais e outros documentos de chancelaria. De forma a agradar aos soberanos do seu tempo, Ibn Abdun redigia em forma de prosa rimada. Recorria constantemente à utilização de sábias metáforas e respeitava rigorosamente as regras gramaticais.
Por volta dos anos de 1134-1135, Ibn Abdun teria perecido na sua terra natal - Évora. 



Poema de Ibn Abdun


BEM CEDO o destino nos fustiga...
E para trás rastos vão ficando.
Esconjuro-te! Deixa que te diga:
Não chores por sombras, tudo é ilusão.
Ai de quem com quimeras vai sonhando
Entre as garras e os dentes do leão!
Que a vida não te iluda e entorpeça já.
Para a vigília são teus olhos feitos.
Ó noite, que do teu ócio nos afaste Alá.
E dos que ao teu feitiço estão sujeitos!
Teu prazer engana, víbora escondida
Detrás da flor: morde quem a quer colher.
Quanta geração foi de Alá querida!
O que ficou? - Poderá a memória responder?
Quem pode a menor coisa pretender.
E talentoso ou bom, deveras, ser?
Quem pode dar recompensa ou castigar?
Quem põe fim ao sopro da desgraça?
Quem é que a Danação pode afastar
Ou a tragédia que o Destino traça?
Ó vã generosidade, ó vão valor!
Quem me defenderá do opressor
- Calamidade em noite sem aurora -
Quem? Se já não há regra a respeitar
E o que resta é um silêncio imposto?
Quem é que apagará o amargo gosto
Que nunca ninguém pode apagar?

(Tradução proposta por Adalberto Alves)



patience...

Imagem nº 1 - A criatividade artística constituiu uma realidade permanente do al-Andalus, reunindo-se mesmo grupos de cariz cultural que assim se cingiam a várias temáticas.



Referências Consultadas:




Notas-Extra:


1- Tal como Santarém (referido no artigo anterior, a propósito do caso de Ibn Sara), também Évora pertencia ao reino taifa de Badajoz.

2- A poesia encontrava-se bastante divulgada no al-Andalus, contudo os poetas procuravam o mecenato ou a protecção debaixo dum emir ou governador muçulmano poderoso ou influente, de forma a conseguir driblar uma vida de miséria. Ibn Abdun parece ter contado com alguma sorte neste capítulo, todavia também chegou, por exemplo, a ser desconsiderado pelo afamado e também genial rei-poeta de Sevilha - al-Mutâmid que não parece ter demonstrado grande interesse nos seus talentos de escrita.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Ibn Sara - o poeta muçulmano de Santarém

Além do majestoso al-Mutâmid (rei-poeta de Sevilha nascido na Beja muçulmana) sobre o qual já traçamos aqui a sua criatividade cultural, partilhamos agora com os nossos leitores o nome de mais um vulto que revelou ser uma fonte de erudição notável nos tempos do al-Andalus (designação conferida ao conjunto dos domínios muçulmanos da Península Ibérica).
Ibn Sara As-Santarini nasceu em Santarém em data aparentemente incerta (embora algumas teorias proponham o ano de 1043). Devido à intervenção bélica dos almorávidas, abandonou a sua terra natal para se refugiar em Sevilha, mas terá igualmente passado por Córdova, Granada, Múrcia, e finalmente, Almeria. Ao longo da sua vida algo atribulada, tentou alimentar a sua sobrevivência exercendo os ofícios pouco rentáveis de copista e gramático, embora procurando igualmente o potencial reconhecimento por parte de personalidades mais poderosas ou influentes. Demonstrou ainda as suas inequívocas qualidades de prosador e poeta. Os estudiosos modernos afirmam que Ibn Sara foi um homem bastante culto, não hesitando em servir-se da crítica e da sátira como meio de expressão artística.
Foi efectivamente na poesia que alcançou maior protagonismo, sendo que alguns dos seus poemas são ainda bastante actuais, o que confere uma riqueza ímpar à sua obra.
Este intelectual mourisco faleceria provavelmente em Almeria (porém outros alegam que teria chegado a perecer na terra que o viu nascer - Santarém) no ano de 1123, ao que parece com cerca (ou até mais) de 80 anos de idade. 
Para a história da literatura muçulmana ficou essencialmente a sua obra "Poemas do Fogo e outros Casidas" que foi publicada ou editada por Teresa Garulo da Universidade Complutense de Madrid, sendo que ainda há a destacar os estudos efectuados nesta área por António Borges Coelho.



LARANJEIRA
(Poema da autoria de Ibn Sara)

São as laranjas brasas que mostram sobre os ramos
a suas cores vivas
ou rostos que assomam
entre as verdes cortinas dos palanquins?
São os ramos que se balouçam ou formas delicadas
por cujo amor sofro o que sofro?
Vejo a laranjeira que nos mostra os seus frutos:
parecem lágrimas coloridas de vermelho
pelos tormentos do amor.
Estão congeladas mas se fundissem seriam vinho.
Mãos mágicas moldaram a terra para as formar.
São como bolas de cornalina sobre ramos de topázio
e na mão de zéfiro há martelos para as golpear.
Umas vezes beijamos os frutos
outras cheiramos o seu olor
e assim são alternadamente
rostos de donzelas ou pomos de perfume.



Este poema encontra-se inserido na edição monumental "Portugal na Espanha Árabe" (vol. IV, 1975) da autoria de António Borges Coelho. 
O mesmo é igualmente citado por Eduardo Raposo no seu trabalho "Fundamentos Históricos da Poesia Luso-Árabe (No século de Al-Mutâmide) na Nova Música Portuguesa, o Amor e o Vinho ", cuja versão pode ser consultada digitalmente.




Imagem nº 1 - O al-Andalus deixou um legado cultural vasto, em termos de poetas, músicos, filósofos, médicos, historiadores...
Gravura andaluza do século XIII retirada de: http://www.trazegnies.arrakis.es/andalusi.html



Referências Consultadas:



Nota extra - O seu apelido de Santarini está relacionado com o facto de ter nascido em Santarém que, na altura, estava incluído no extenso reino taifa de Badajoz.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A Lenda do Preste João

A Idade Média foi uma era que também se pautou pelas profecias, superstições e lendas prontamente difundidas pelas mais diversas comunidades. Neste extenso manancial de relatos, há seguramente aqueles que mais se popularizaram, assegurando a transmissão do mito para as gerações vindouras, durante tempo indeterminado.
A lenda do Preste João insere-se pois nesse contexto específico, e as suas origens remontam à Idade Média, como constataremos minuciosamente em seguida.
Sabe-se que este mito foi citado por Marco Polo no seu diário de viagens e já seria igualmente veiculado na época das cruzadas. De acordo com Eduardo Amarante, é mesmo possível elencar uma lista de algumas fontes medievais que se referem à existência mítica deste ser teocrático, um soberano altamente prestigiado que conseguiria concentrar em si os poderes temporal e espiritual.
Neste âmbito, comecemos pela Crónica de Otão de Freising lavrada em 1145, cujo autor se refere a João como "um rei sacerdote que vivia para além da Arménia e da Pérsia no Extremo Oriente". Também o cronista Alberico das Três Nascentes (também designado como Aubry de Trois-Fontaines) em 1165 acusa nos seus escritos uma carta do suposto Preste João endereçada a Manuel I Comneno, imperador bizantino. Por seu turno, o imperador germânico Frederico Barbarossa terá sido igualmente agraciado por misteriosas mensagens provenientes algures do Oriente. Os arquivos do Vaticano também guardam sigilosamente alguma desta correspondência. Em 1177, o Papa Alexandre III enviou mesmo uma carta "ao ilustre e magnífico rei das Índias" (o termo Índias era, neste altura, abstracto dados os escassos conhecimentos cartográficos) dirigindo a sua bênção apostólica. Não sabemos como se processou a entrega da carta pontifícia, pois o Mestre Filipe, encarregado de o fazer, partiu de forma célere mas nunca mais deu notícias.
Em alguns dos mapas medievais, é mesmo assinalada a existência deste Reino do Preste João, embora a sua localização variasse consoante a descrição geográfica proposta. Por exemplo, veremos este lendário estado a ocupar o Turquestão, o Tibete e os Himalaias, incluindo-se ainda o deserto de Gobi (nos primeiros tempos associaram-se muito estas terras da Ásia Central à incessante e inglória busca pelo rei que se julgava ser um fervoroso cristão e cujo poder não conhecia barreiras).
Logicamente, o mito foi facilmente alimentado pela fantasia. E para demonstrarmos esse facto, basta citarmos dois parágrafos da autoria do já mencionado historiador Eduardo Amarante que dedicou um alargado estudo à história dos templários, embora não tenha ficado indiferente a esta lenda:

"O reino mítico de Preste João assemelha-se muito às descrições feitas sobre Shambhala do Norte: Dragões voadores que circulam nos ares levando pessoas para fora dos limites terrestres ou a grandes distâncias. Possuía a Fonte da Eterna Juventude e, graças a ela, diz-se que Preste João viveu 562 anos. 
Este era um reino de sabedoria e paz que possuía outras maravilhas dignas da ciência-ficção. A Pedra Mágica, que também se incluía entre os seus pertences, ofuscava a vista do alto da torre em que se encontrava"


Pelo que se especulou ainda, Preste João seria soberano dum reino cristão poderoso (o qual incluía numerosos exércitos) que conseguiria subsistir diante duma área envolvente fortemente islamizada, pelo que o mesmo estaria aparentemente circundado ou pressionado por estados muçulmanos. Uns situariam tal senhor cristão nestoriano bem como o seu território na Ásia, outros o colocariam em África. Todavia, as tentativas de contacto com este alegado rei-sacerdote do Oriente saíram todas frustradas. 
A história chegou intacta até à época moderna dos Descobrimentos, e tomou parte activa na expansão portuguesa, fazendo com que muitos navegadores portugueses procurassem tal aliado estratégico sobretudo no âmbito das guerras travadas contra os muçulmanos. Além disso, esperava-se que o afamado Preste João pudesse fornecer informações privilegiadas sobre a cosmografia, potencialidades económicas e demais realidades daqueles lugares mais distanciados.  
É certo que a figura mítica do Preste João poderá ter sido associada ou atribuída, de acordo com inúmeras interpretações ao longo dos tempos, a algumas personalidades que reivindicaram protagonismo em espaços mais longínquos, apenas explorados pelos aventureiros mais audaciosos. Mas não é menos verdade que o mito nunca visou na realidade um soberano em concreto, e por isso, como este não existia na realidade, certamente nunca seria encontrado, independentemente das múltiplas interpretações que foram então efectuadas.
Mesmo assim, a sua história é muitas vezes associada, talvez devido às semelhanças derivadas da narração lendária, aos soberanos da Dinastia Salomónica da Etiópia (ou Abissínia) que reivindicavam na sua génese uma descendência directa/linear a partir de Salomão, considerado biblicamente o terceiro rei de Jerusalém, e da rainha de Sabá. Efectivamente, os etíopes que seguiam o Cristianismo Ortodoxo sofriam ataques constantes por parte de forças muçulmanas provenientes de sultanatos vizinhos, além do Mar Vermelho ser alvo duma intensa e sangrenta disputa. A guerra pela sobrevivência do Império da Etiópia constituía uma realidade crítica, como acabou por testemunhar o diplomata e navegador português Pêro da Covilhã que aí residiu, enquanto conselheiro dos imperadores etíopes, entre os anos de 1494 e 1530. Em abono da verdade, este português tinha sido enviado por D. João II para encontrar a referida personagem lendária da qual tanto se falava naquela época, e assim ele, depois duma longa viagem, acabará por aportar na Etiópia, talvez julgando de que teria encontrado a chave do mito até então reproduzido incessantemente pelos mercadores e exploradores europeus. Mas a verdade é que esta foi só mais uma interpretação, esta de teor português, que visava identificar e revestir de feitos heróicos a personalidade lendária que, na realidade, estava completamente vazia de fundamento.
A lenda do Preste João circulou por bastante tempo no imaginário das populações, estando bem presente, pelo menos, até meados do século XVI. 


Imagens: A primeira gravura retrata o mítico soberano e pertence a um atlas português de Diogo Homem concretizado no século XVI. Por seu turno, a segunda imagem encontra-se inserida num atlas catalão de 1375, o qual também procura representar aquela figura lendária. Esta derradeira gravura foi extraída a partir de: http://www.infopedia.pt/$preste-joao.



Referências Consultadas:

  • AMARANTE, Eduardo - Templários. De Milícia Cristã a Sociedade Secreta. Vol. IV - Do Portugal Atávico ao Segredo do Quinto Império. Portimão: Apeiron Edições, 2014.
  • CLIFF, Nigel - Guerra Santa: As Viagens Épicas de Vasco da Gama e o Ponto de Viragem em Séculos de Confrontos entre Civilizações. Alfragide: Texto Editores Lda, 2011.
  • THOMAZ, Luís Filipe - De Ceuta a Timor. 2º ed. Algés: DIFEL, 1994.
  • http://www.infopedia.pt/$preste-joao, (Artigo do Infopédia, consultado em: 31-12-2014).
  • http://www.aast.ipt.pt/pt/index.php?s=white&pid=271, (Artigo da autoria de Samuel Schwarz, consultado em: 01-01-2015).