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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Curiosidades Históricas XLIII-XLIX


Curiosidade Histórica XLIII - O embuste do Dr. Torralba

Eugénio Torralba foi um médico espanhol, natural de Cuenca (ou de Deza – Soria), que terá vivido entre os anos de 1460 e 1538. Ele teria feito os seus primeiros estudos em Salamanca, tendo depois aprofundado Medicina em Itália, nomeadamente na Universidade de Ferrara. No entanto, é certo que ele viria a demonstrar interesse paralelo por disciplinas proibidas do seu tempo como a astrologia e a necromancia. Sabemos ainda que chegaria a servir como médico e consultor do cardeal Raffaelo Sansoni Riario, sobrinho do Papa Sisto IV. Em anos posteriores, tornou-se igualmente médico e consultor do cardeal cismático Bernardino López de Carvajal e do cardeal Francesco Soderini.
Entre 1520 e 1526, viveu e trabalhou em cidades como Valladolid, Cuenca, Roma e Bolonha, como médico e homem de confiança de várias personalidades da corte e da cúria. Até aqui, tudo parecia ser um percurso natural de um profissional de sucesso do seu tempo.
No entanto, e aproveitando-se da falta de cultura e do analfabetismo das povoações que habitavam na sua região, o Dr. Torralba inventou um ardil de forma a ganhar mais dinheiro (ou será que ele acreditava mesmo nas suas visões?). Ele começou por argumentar que tinha uma relação de aproximação privilegiada com um suposto duende que denominou de Zequiel. De acordo com os seus argumentos, este duende mágico lhe tinha ensinado vários segredos, nomeadamente relacionados sobre o uso e propriedades de várias plantas medicinais, cenário que poderia resultar na descoberta das curas para as doenças mais complexas que os seus diversos pacientes apresentavam. Assim, começou a receber somas de dinheiro avultadas porque os seus clientes, desprovidos de espírito crítico, acreditavam cegamente nas lendas em torno da existência dos duendes e dos seus poderes mágicos.
O Dr. Torralba alegara ainda que o duende o havia ajudado a viajar desde Valladolid até Roma para assistir, em primeira mão, ao saque de Roma ocorrido a 6 de Maio de 1527 pelas forças imperiais do rei espanhol Carlos V. De acordo com o seu testemunho (compilado mais tarde pelo Santo Ofício), o duende Zequiel ajudou o médico a subir para cima dum bastão ou de uma cana e aquele teria sido ainda guiado por uma nuvem de fogo, tendo viajado pelos céus até à Cidade Eterna em tempo recorde. Ao fim de duas ou três horas de aventura, regressaram finalmente a Valladolid.
Em inúmeras das aparições narradas, o duende teria ainda anunciado ao médico acontecimentos inéditos que iriam ocorrer no futuro.
No entanto, a história, sendo uma ilusão ou até mesmo um embuste do médico, seria desmascarada. A própria Inquisição não achou qualquer graça a estes relatos, tendo ordenado uma investigação que culminou na detenção de Torralba.
Ele viria a ficar aprisionado em Cuenca. De acordo com um artigo de Eduardo Gil Bera publicado na página da Real Academia da História, o Dr. Torralba sofreu, em 1528, uma audiência de tormento. O processo instruído pelo inquisidor Ruesta, durou até 1531, altura em que o médico sinistro foi admitido à reconciliação e condenado à prisão e ao sambenito. Em 1535, ele seria finalmente perdoado pelo inquisidor Alonso Manrique, com a condição de nunca mais citar ou falar com Zequiel.
No seu final de vida, o Dr. Torralba seria nomeado médico e consultor do almirante de Castela, Fadrique Enriquez. Ele viveria em Medina de Rioseco pelo menos até 1538. Terá falecido nessa altura ou muito pouco tempo depois.





Legenda - O Dr. Torralba afirmava ter entrado em contacto com o duende Zequiel. Ilusão ou embuste?
Direitos da Imagem: Site "En Buena Lid"


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Curiosidade Histórica XLIV - Ford vs Ferrari, uma rivalidade épica na década de 60

A Corrida “24 Horas de Le Mans” (França) é ainda hoje considerada como a maior do planeta, tendo em conta que esta prova de resistência prevê mesmo 24 horas de competição (embora os pilotos possam alternar em períodos intercalados de forma a usufruírem de algum tempo de descanso). Esta icónica prova foi criada em 1923, e durante as décadas posteriores de 50, 60 e 70, atingiu o auge.
Entre os anos de 1960 e 1965, os carros potentes e inovadores de Enzo Ferrari (os famosos Ferraris) permitiram à marca italiana acumular várias vitórias esclarecedoras na prova de Le Mans. A Scuderia Ferrari, fundada originalmente pela personalidade em cima citada, estava agora a alcançar os seus primeiros grandes êxitos em corridas, isto depois de uma Segunda Guerra Mundial que condicionou, em muito, os seus progressos.
No entanto, se na Itália se erguia um colosso, nos Estados Unidos da América, a marca Ford (criada em 1903 por Henry Ford) pretendia impor-se igualmente na excelência da produção de veículos, e a participação em corridas prestigiadas poderia conceder a visibilidade desejada para que a super-empresa almejasse a hegemonia no mercado mundial. Em 1963, a direcção da Ford apresentou mesmo uma proposta para tentar comprar a Ferrari que atravessava, na altura, algumas dificuldades financeiras. A empresa norte-americana queria assumir a hegemonia nos carros desportivos. Alguns alegam que uma das condições propostas previa que a Ferrari não pudesse participar nas mesmas provas do que a Ford, não ofuscando assim os seus interesses. Por outro lado, a Ford não se contentava em ser apenas a maior produtora de veículos daquele tempo, ansiando por incutir mais qualidade e excentricidade à sua marca. Por uma questão de prestígio e de honra, e revelando-se claramente insatisfeito ao deparar-se com a proposta que lhe surgiu na frente, Enzo Ferrari não deixou vender o seu legado e manteve a independência da marca (embora tenha depois iniciado em 1965 uma parceria com a FIAT). Por seu turno, Henry Ford II (neto do fundador) não digeriu bem a recusa pelo que jurou vencer a todo o custo a marca italiana em futuras competições, estando disposto a investir muito dinheiro para que tal acontecesse. O embate entre estas duas grandes marcas seria inevitável.
Dentro deste contexto, a Ford iria desafiar o mundo desportivo do automobilismo ao participar, pela primeira vez, na Corrida de Le Mans em 1964. É certo que a Ford se preparou minuciosamente para esse grande evento, no entanto não terá sucesso imediato nas edições de 1964 e 1965. Sabemos que a companhia faria, nestes tempos, um acordo com o já afamado construtor de veículos norte-americano Carrol Shelby tendo em vista o fabrico de um carro inovador capaz de competir com a potência inerente aos Ferraris. Dali sairia o célebre clássico Ford GT40 (produzido entre 1964 e 1969). Em breve, a Ford apostaria também as suas fichas no piloto Ken Miles, um corredor britânico que, embora pouco temperamental, contava já com um currículo de respeito. Sabia-se que era também mecânico e que gostava de participar com os seus carros desportivos em corridas relevantes de pendor regional e nacional, onde tinha obtido já notáveis resultados. Miles era um condutor arrojado e um hábil manobrador, não hesitando em explorar a velocidade dos seus carros. Ainda assim, a escolha que recairia em si não foi consensual. Miles que tinha combatido pelos britânicos na II Grande Guerra Mundial era acusado de não ter propriamente uma postura de classe que se identificasse com os altos padrões da empresa norte-americana, mas a insistência do construtor Carrol Shelby permitiu que ele liderasse a equipa de pilotos da Ford em Le Mans. No ano de 1965, ele participou então na corrida de Le Mans pela Ford, tendo sido obrigado a abandonar juntamente com Bruce McLaren por problemas ocorridos na caixa de velocidades. Todavia, ambos voltariam a ter uma nova oportunidade no ano seguinte, embora correndo agora em carros diferentes da Ford.
Em 1966, a Ferrari partia claramente como favorita para a nova prova de Le Mans, tendo em conta os seus sucessos estonteantes nas edições dos últimos cinco ou seis anos. Contudo, a Ford começa o ano de 1966 com duas vitórias importantes com Ken Miles e o seu colega de corrida, Lloyd Ruby, a levarem a melhor nas corridas norte-americanas das “24 Horas de Daytona” (5/6 de Fevereiro) e das “12 Horas de Sebring” (26 de Março).
Mas a “Corrida de 24 Horas de Le Mans” iria ser o tira-teimas épico de uma Ford em fase crescente contra uma Ferrari que parecia imparável.
Henry Ford II, proprietário da empresa norte-americana, foi o escolhido para dar o tradicional tiro de partida em Le Mans. A prova decorreria na passagem entre os dias 18 e 19 de Junho.
Na primeira volta, a Ford, representada por mais de uma dezena de carros (cada um a cargo de dois condutores responsáveis, embora um destes estivesse sempre na zona de staff para substituir o colega, de forma a gerir os tempos de descanso), parece assumir a liderança, mas logo depois começariam a surgir problemas. Após um embate (e aconteceram, na verdade, algumas colisões logo no início), a porta do carro de Ken Miles ficou seriamente danificada, tendo sido o seu fecho destruído (ou seja, a porta não se encerrava na totalidade, impedindo o foco do condutor na corrida). Parecia que o pesadelo da desistência do ano anterior voltava a pairar no horizonte do piloto britânico, contudo a porta seria logo consertada quando o piloto parou nas boxes. Na verdade, Miles recuperou deste atraso, imprimindo altas velocidades e aproximando-se novamente do grupo de liderança da prova.
Também Dan Gurney da Ford ia bem lançado, contudo o mexicano Pedro Rodriguez (e o seu condutor associado Richie Ginther), à frente de um Ferrari, era quem liderava. A noite trouxe alguns chuviscos e uma acrescida vantagem dos Ferraris, dado que alguns Fords tiveram que trocar as pastilhas de freio. Ainda assim, a Ford perdeu mais quatro ou cinco carros entre a noite e a manhã, devido a problemas nos motores e a um acidente entretanto ocorrido. Todavia, isto não impediu a companhia norte-americana de continuar a disputar o triunfo final na prova, enfrentando a concorrência da Ferrari e da Porsche. No entanto, até a Ferrari seria assolada por desistências e isso acabaria, em breve, por ter um impacto determinante dado que os seus melhores pilotos foram forçados a abandonar. Os carros de Pedro Rodriguez & Richie Ginther e de Lorenzo Bandini & Jean Guichet não conseguiriam completar a corrida, pelo que causaram um terrível impacto nas ambições da companhia italiana.
A partir dum certo momento, a Ford passou a assumir a liderança. Ken Miles evidenciou-se batendo recordes de velocidade a cada volta. Parecia que, nas horas derradeiras, estava encontrado o vencedor. Contudo, Leo Beebe, diretor de corridas da Ford, queria uma vitória pomposa pelo que deu instruções para que Ken Miles abrandasse de forma a cruzar a meta juntamente com os outros dois carros da Ford que já vinham atrás na demanda por um lugar no pódio. No entanto, isto custaria a vitória a Ken Miles, dado que, ao chegarem, em simultâneo, os três veículos à meta, seria utilizado um critério de desempate que viria a favorecer os seus colegas do outro carro da Ford – os neozelandeses Bruce McLaren e Chris Amon que também tinham completado 360 voltas mas que tinham partido poucos metros atrás de Ken Miles (e do seu colega associado Denis Hulme) quando se dera o arranque da corrida. Apesar da vitória indiscutível da Ford na prova, a verdade é que Miles nunca digeriu bem esta injustiça, dado que ele havia sido o melhor piloto da corrida e que só tinha abrandado para obedecer aos caprichos do staff da Ford. Miles perderia a oportunidade histórica de ter sido o primeiro piloto a vencer, no mesmo ano, as “24 Horas de Daytona”, as “12 Horas de Sebring” e a “Corrida das 24 Horas de Le Mans”.
Como se não bastasse, dois meses depois, Ken Miles perderia a vida quando participava num teste interno de preparação que incidia em torno dum novo modelo da Ford GT40. Ao que parece, os travões falharam ou o sistema de transmissão bloqueou, provocando um despiste fatal.
Depois do êxito de 1966, a Ford voltaria a vencer a prova de Le Mans em 1967, 1968 e 1969, perdendo depois, em grande parte, a hegemonia para a Porsche nesta competição que ainda hoje perdura.
Muito recentemente, em 2019 foi lançado o filme “Ford vs Ferrari”, dirigido por James Mangold, o qual reflecte a rivalidade vivida naqueles tempos entre estas duas grandes empresas automobilísticas.






Legenda - Ford e Ferrari protagonizaram uma grande rivalidade na década de 60.
Direitos de Imagem: Filme "Ford vs Ferrari" (Dir. James Mangold)



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Curiosidade Histórica XLV - KFC vs Mcdonald's


Harland David Sanders, também conhecido como Coronel Sanders, viria a ser um dos maiores dinamizadores da gastronomia norte-americana e mundial.
Ele nasceria em Henryville (Indiana), a 9 de Setembro de 1890. Devido ao falecimento prematuro de seu pai, teve de cuidar dos seus irmãos. Desde tenra idade, ele assumiria várias profissões, nomeadamente agricultor, motorista, bombeiro, advogado e vendedor de seguros.
A sua vida foi marcada, nestes primeiros tempos, por momentos turbulentos. Quando fora advogado, ele envolvera-se numa rixa com um cliente em pleno tribunal, e enquanto vendedor de seguros, acabaria por ser expulso por insubordinação.
Apesar dos efeitos dramáticos da Grande Depressão Norte-Americana, Harland Sanders abriria, no ano de 1929, uma estação de serviço em Corbin (Kentucky), onde começou a cozinhar e a servir frango frito. Muitos clientes, nomeadamente viajantes famintos, passariam por lá de forma a satisfazerem os seus paladares.
Um dia, Harland Sanders iria envolver-se num tiroteio com um operador de comida rival por causa de uma disputa em torno de cartazes publicitários na região. Um dos homens de Harland seria morto pelo seu rival Matt Steward (o qual apanhou vários anos de prisão, deixando assim de ser um concorrente local), enquanto Harland Sanders atingiria um dos oponentes, ferindo-o apenas no ombro e escapando assim de uma sentença severa.
Durante quarenta anos, Harland Sanders revelou ser um homem duro e por vezes, agitado.
Ele panaria o frango com diversas ervas e especiarias, usando diversas técnicas. Além disso, teve de acelerar o processo de produção/confecção para que tivesse capacidade de resposta para um número cada vez mais crescente de clientes interessados.
Em breve, ele apostaria na restauração, e em particular, num restaurante de mesas. O restaurante torna-o numa celebridade local. Em 1935, foi mesmo nomeado como “Coronel de Kentucky” pelo governador Ruby Laffoon.
Sanders expandiria o seu negócio através de vários cafés e um motel. No entanto, ele teve de vender o seu restaurante original porque, em 1955, seria introduzida uma nova rodovia inter-estadual alternativa que reduziria drasticamente o tráfego da via que servia então o seu velho espaço de restauração. Vieram dias difíceis. Chegou a estar praticamente falido e a depender de 105 dólares atribuídos pela Segurança Social Norte-Americana.
No entanto, Harland Sanders começou a viajar pelo país, vendendo a sua licença por mais de 200 restaurantes do país. Ficaria acordado que teria direito a 3 ou 4 cêntimos por cada receita de frango sua que fosse vendida nesses espaços. Em contrapartida, os proprietários dos restaurantes teriam direito a comercializar a sua receita original, lucrando com a restante margem das vendas. Mas apesar de receber uma ninharia por cada frango frito vendido, a verdade é que Sanders terá sucesso (a sua receita será muito procurada) e conseguirá embolsar cerca de 300 mil dólares por ano. Um grupo de investimento irá aperceber-se do seu potencial gastronómico e irá comprar o que restava da sua empresa (e dos seus direitos) por 2 milhões de dólares. Os investidores preservarão ainda o papel crucial de Sanders que continuará a ser a cara do negócio, aparecendo mesmo nas televisões. Por outro lado, é assumida a estratégia ambiciosa de se criar uma autêntica cadeia de restaurantes de fast-food denominados de Kentucky Fried Chicken (KFC), cenário que se repercutirá sobretudo a partir da década de 60. Mais de 3.500 restaurantes seriam franqueados.
Sanders continuou a visitar os restaurantes da KFC em todo o mundo, conhecendo cada realidade que se lhe deparava. Chegou também a ter uma divergência judicial com a companhia proprietária dos seus restaurantes, mas tudo acabaria por se revolver.
Ele morreria de leucemia com 90 anos de idade, em 16 de Dezembro de 1980. Nos últimos anos de vida, usou parte da sua fortuna para criar uma instituição de caridade e conceder bolsas de estudo.
A sua cadeia de restaurantes KFC está hoje espalhada pelos quatro cantos do mundo, alcançando lucros exorbitantes.


Um rival superior - o surgimento da Mcdonald's

Além do espírito empreendedor do Coronel Sanders, é importante referir que, na sua época, uma nova cadeia de restaurantes iria evidenciar-se com notável brio, suplantando quase toda a concorrência.
Em 1940, os irmãos Dick (Richard) e Mac (Maurice) McDonald possuíam uma espécie de restaurante de drive-in ou churrascaria cujas refeições assentavam à base de hambúrgueres, batatas fritas e batidos, procurando dar uma rápida capacidade de resposta aos seus clientes. Começaram a pensar na ideia de colocarem empregadas a servir junto aos carros. Eles reinventariam o seu próprio restaurante e a própria cozinha norte-americana, fazendo do serviço fast-food um sucesso. O novo sistema Speedee garantia uma eficiência nunca antes observada. A automatização, a rapidez e a qualidade do produto passaram a ser as metas a atingir por parte dos novos empresários.
As suas vendas aumentariam em 40%. Os fundadores conseguem lucrar 350 mil dólares ao ano, contudo não pensam em expandir-se. No entanto, Ray Kroc, um empresário norte-americano, iria ingressar na empresa como franqueado em 1955. Ray está disposto a tudo (recorrendo a empréstimos bancários e a grupos de investimento) para tornar este modelo de restaurante num sucesso à escala nacional e internacional, desejando a construção de um império. Em 1961, ele irá comprar as patentes dos dois irmãos por um total de 2,7 milhões de dólares. Ray não só recuperará o investimento avultado que realizou na expansão de novos restaurantes e na aquisição das patentes, como irá enriquecer rapidamente. A empresa irá readaptar-se aos novos tempos, servindo muitos dos produtos originais, mas complementando com outras novidades que permitiram dar uma resposta certeira às necessidades do mercado consumista.
A McDonald’s é actualmente a maior cadeia de restaurantes do mundo, servindo em mais de 37 mil localizações e contando com uma facturação superior a 20 mil milhões ao ano.





Legenda- Harland Sanders, o criador da marca KFC.





Legenda- Os irmãos Dick e Mac McDonald, fundadores do McDonald's que viria a tornar-se num império através da visão de Ray Kroc.
Direitos da Imagem: Filme "Fome de Poder" (Dir. John Lee Hancock, 2016)



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Curiosidade Histórica XLVI - O Sacrifício de Leónidas e dos seus 300 Guerreiros Espartanos


Leónidas foi um dos soberanos-guerreiros mais corajosos da Idade Antiga. Ele havia nascido em Esparta por volta de 540 a. C., sendo fiel à causa da sua cidade-estado. Ele era filho do rei agíada Anaxandridas II.
O Estado Espartano exigia que os seus habitantes servissem de forma incondicional os seus desígnios, mesmo que isso justificasse o sacrifício das suas vidas. Os espartanos chegaram a desenvolver uma força militar de elite que seguia de forma rígida e brutal os padrões de combate da época.
Depois de ter alcançado 7 anos de idade, Leónidas teve, tal como qualquer criança espartana, que deixar o berço familiar e ingressar na cultura belicista predominante, tendo mesmo que enfrentar sucessivos desafios que colocariam em causa a sua sobrevivência. O jovem participaria em duelos com outros adolescentes que poderiam, por vezes, ser letais e até mesmo em digressões em terras inóspitas. Depois de superar tais adversidades e de completada a sua formação, Leónidas estava assim preparado para subir ao trono até porque os seus irmãos mais velhos já tinham falecido.
No entanto, uma nova ameaça irrompeu no horizonte. A poderosa Pérsia governada pelo imperador Xerxes iria invadir a Grécia, de forma a punir Atenas por ter incentivado rebeliões e expedições em épocas anteriores contra o seu território. Além disso, os persas ainda tinham na memória o desaire recente na Batalha de Maratona (490 a. C.), o que constituiu uma primeira tentativa frustrada de invadir a Grécia, isto ainda no reinado de Dário I.
Mas desta vez, os persas, com a presença pessoal de Xerxes, avançarão com uma força terrível composta por mais de 200 mil homens. Neste momento, Atenas começava a experimentar o advento da nascente democracia. Temístocles, político e general ateniense, evidencia-se neste contexto, e convence as elites a reforçar o poder da sua marinha, tendo já ordenado em anos anteriores a construção de diversos barcos de guerra (os célebres trirremes), dado que o controlo dos mares era fundamental para salvaguardar a integridade do território helénico. Todavia, em terra, serão também necessários reforços, e Atenas, sozinha, não terá meios suficientes para resistir ao poderoso adversário. Recorde-se que, nesta altura, a Grécia estava longe de ser uma nação una, dado que existiam diversas cidades-estado independentes e com regimes distintos de governação. Por exemplo, Atenas e Esparta chegaram a manter, no passado, uma rivalidade amarga. Mas agora os governantes atenienses são obrigados a engolir o seu orgulho e a pedir ajuda ao velho estado rival. Inicialmente, os espartanos demonstram alguma renitência, mas por fim, temendo que os persas se apoderassem de todos os domínios gregos, decidiram aderir à causa.
Os espartanos receberam igualmente emissários persas que, de forma sigilosa, demonstraram a intenção de Xerxes invadir de forma implacável a Grécia, exigindo como solução alternativa a submissão pacífica de todos os territórios de forma a evitar-se um massacre, contudo os negociadores não foram bem-sucedidos porque Esparta queria manter a todo o custo a sua independência. Pouco tempo antes do início da guerra, Leónidas, um dos dois reis de Esparta, decidiu consultar o mítico Oráculo de Delfos, sítio profícuo donde emanavam as mais diversas profecias divinas ou premonições terrenas. Aí Leónidas ficará a saber que um rei de Esparta terá de morrer em combate para que o Estado Espartano possa sobreviver à nova ameaça. Mas essa era mesmo a essência desta nação – o sacrifício individual era exigido a todos para que esta não ficasse comprometida. E sabendo deste vaticínio melindroso, Leónidas estava disposto a dar a sua vida pela causa espartana e pela integridade do seu povo.
Em 480 a. C., Xerxes dá início à invasão, liderando uma força heterogénea de 200 mil homens provenientes de todas as regiões da Pérsia. Ele recorre a vários tipos de animais que poderiam ser usados em combate, nomeadamente elefantes, cavalos, tigres e até rinocerontes.
As cidades-estado gregas conseguiram reunir apenas 7 mil homens, sendo que Leónidas liderava um contingente de 300 espartanos que incluía os melhores que tinha à sua disposição e que já tinham sido pais, assegurando assim a descendência do seu nome. Estas forças helénicas enveredarão pela decisão de enfrentar o numeroso exército invasor no desfiladeiro de Termópilas. À frente, estará naturalmente a força espartana, mais habilitada para o combate militar. Todos os outros (téspios, coríntios, arcádios, lócrios, focenses) ficarão na retaguarda.
A ideia de enfrentar os persas num desfiladeiro foi, sem dúvida, uma excelente decisão estratégica, visto que anulava, em grande parte, a superioridade numérica do adversário, forçando-o a lutar por um caminho estreito sem ter grande espaço de manobra e sem poder usar toda a sua força em simultâneo.
A batalha terá acontecido no Verão de 480 a. C. (Agosto ou Setembro) e irá durar por cerca de uma semana, embora contabilizando-se, em termos práticos, três dias de intensos combates. Quando observaram a formação de soldados espartanos a barrarem-lhes o caminho pelo desfiladeiro, os emissários persas terão tentado algum tipo de negociação e pedido àqueles que baixassem as armas, ao que Leónidas retorquiu em forma de grito de guerra: “Vinde cá buscá-las!”. Assim sendo, uma primeira força persa, não muito experiente ou pouco talhada para o combate, avançou para os enfrentar. Os espartanos mantiveram a formação com os seus escudos e lanças e gradualmente varreram esta primeira investida persa que logo se dispersou. Muitos persas caíram no estreito marítimo de Artemísio que, apresentando correntes instáveis, ladeava o desfiladeiro e garantia uma morte praticamente certa a quem caísse nas suas águas. Recorde-se que este estreito era igualmente disputado entre a frota persa e a marinha ateniense, sendo que esta última procurava negar o acesso ao mesmo, de forma a não comprometer a resistência no desfiladeiro.
Após a primeira tentativa fracassada, Xerxes decidiu esperar quatro dias até voltar de novo ao ataque. Desta feita, enviará novos conjuntos de infantaria ligeira constituídos por soldados das regiões da Confederação Meda e do Cuzistão. O enfrentamento será agora um pouco mais equilibrado. Ambas as forças chegam a empurrar-se mutuamente como “muralhas em movimento”, contudo os espartanos estavam dotados de escudos mais resistentes e de lanças muito mais largas e eficazes, beneficiando ainda da sua alta preparação militar. Apesar de já sofrerem algumas baixas, os espartanos voltam a triturar o inimigo que acaba por cair no desespero.
Cansado de ver milhares de homens a cair diante de 300 espartanos, o imperador persa Xerxes ordenará um segundo assalto nesse mesmo dia. Mas desta vez, não lançará soldados inexperientes ou apenas regulares, mas sim a sua força de elite: os “Imortais” (designação assente na ilusão de que quando um soldado deste destacamento caísse, outro estaria logo atrás para o substituir, transmitindo a falsa ilusão de que não morriam; aliás, os “Imortais” constituíam um destacamento de 10 mil homens). Eram homens bem versados na arte das lanças (embora mais curtas), das espadas, das adagas e também dispunham de bons arqueiros.
Os “Imortais” lançaram-se assim sobre os Espartanos, mas Xerxes ficará em breve horrorizado. A sua melhor força de combate não consegue abrir brechas na linha inimiga. Pelo contrário, os “Imortais” sofrem consideráveis baixas e são repelidos por Leónidas e seus companheiros. Não havia dúvidas de que, num prisma de equilíbrio, os espartanos demonstravam um brio militar superior à força de elite rival que, mesmo bem preparada, não conseguiria usufruir dos seus dez mil homens porque não tinha sequer espaço no desfiladeiro para usufruir da vantagem numérica que poderia ser o seu trunfo.
No sexto dia, Xerxes voltou a ordenar cargas de infantaria para forçar a passagem pelo desfiladeiro, esperando que o desgaste acumulado dos defensores começasse a surtir efeito, mas novamente não tem sucesso, sofrendo novamente o seu exército pesadas baixas.
Entretanto, o imperador persa Xerxes recebe a visita de um grego, de seu nome Efialtes, que a troco de uma avultada recompensa, informa o soberano de que há um caminho alternativo e praticamente oculto pelo desfiladeiro que permitirá um ataque pela retaguarda às forças espartanas e restantes destacamentos helénicos, cercando-os por completo. Ao descobrir esse caminho através de um traidor grego, os persas podem agora atacar o adversário, bastante inferior numericamente, por ambos os lados, e rompendo assim o equilíbrio. Tendo consciência de que a batalha pela defesa do desfiladeiro está perdida, Leónidas decide resistir até ao fim com os seus homens, mas convence muitos dos outros destacamentos gregos a abandonarem rapidamente as suas posições de modo a que muitos soldados preservem as suas vidas, podendo assim participar em outras batalhas futuras contra o invasor.
Os persas avançarão pelo tal caminho oculto e não terão muitas dificuldades em colocar em debandada alguns dos defensores focenses que deveriam vigiar essa área.
Os cerca de 300 espartanos estão agora praticamente sós, contando apenas com 700 téspios (representados por Demófilo) e alguns tebanos que recusaram, a todo o custo, abandonar a batalha, preferindo morrer em glória e assegurando a retirada segura dos outros contingentes gregos que acabavam de deixar a batalha.
No sétimo e derradeiro dia da batalha, os espartanos de Leónidas e os seus aliados voltaram a pegar nas suas lanças, escudos e espadas, fazendo custar muito caro cada avanço dos persas que os atacavam de todos os lados. Dois irmãos de Xerxes perecerão na batalha, mas a verdade é que os espartanos começam a sofrer fortes baixas, não conseguindo já manter a sua formação defensiva e organizada. A batalha irá virar a anarquia, o que favorecerá os persas que, em maior número, e controlando já quase todo o desfiladeiro, só têm de eliminar um ou dois focos de resistência. Como já tinham feito em momentos anteriores, os persas recorrerão novamente ao lançamento de autênticas “chuvas de flechas”, eliminando gradualmente os combatentes que ainda se lhes opunham. Leónidas acabará por cair em combate juntamente com muitos dos seus homens que lutaram até ao último suspiro.
Os persas acabariam por vencer a batalha de Termópilas, mas perderam mais de 20 mil homens para conseguirem passar pelo desfiladeiro. Por seu turno, os espartanos perderam todos os seus homens (300), após uma resistência heróica. Terão igualmente falecido cerca de 2 mil aliados gregos durante o confronto que durou por uma semana. Mas a proporção é clara – por cada soldado helénico morto, faleceram 10 persas.
Depois de passarem o desfiladeiro, os persas saquearão e atacarão várias cidades gregas que, desguarnecidas, sofrem as consequências de um invasor irado. Atenas será evacuada e ficará à mercê dos invasores que a pilharão e a incendiarão, não perdoando sequer os seus principais monumentos ou edifícios.
Mas a campanha de Xerxes durará por pouco tempo. Ainda nesse ano de 480 a. C., a sua frota será derrotada na Batalha Naval de Salamina, onde a marinha helénica, comandada pelo general ateniense e democrata Temístocles, afundará 200 navios persas. Finalmente, em 479 a. C., dá-se a batalha de Platea (ou Plateias), onde os persas, já sem Xerxes que havia regressado ao seu território, sofreram dezenas de milhares de baixas diante das ligas helénicas.
A invasão da Grécia terminava após muito sangue derramado, resultando na destruição total ou parcial de várias regiões mas sem hipotecar a sobrevivência das suas principais cidades-estado.
O heroísmo de Leónidas, Demófilo e Temístocles impediu que a cultura helénica se pudesse extinguir, e a nascente democracia, embora para já exclusiva da cidade-estado de Atenas, ficaria também a salvo.




Legenda: Soldados Espartanos formam uma linha defensiva com escudos e lanças, sendo liderados pelo seu rei Leónidas.


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Curiosidade Histórica XLVII - Quando Mao Tsé-Tung cometeu o erro de ordenar o extermínio de pardais


Desde o fim da Guerra Civil Chinesa (1927-1937 e com uma segunda fase entre 1945-1947) que a China estava sob a égide do comunismo. A partir de 1949, o carismático Mao Tsé-Tung tornou-se oficialmente no rosto do novo regime. Mais de 90% da população era composta por camponeses, e o país ainda estava atrasado a todos níveis. Mao Tsé-Tung sonhava em dar melhores condições de vida ao seu povo, contudo continuava a insistir na repressão política e no isolamento económico do seu país, evitando ainda a entrada de capital e tecnologia estrangeiras. Visão diferente haveria de ter Deng Xiaoping que chegou a ser secretário-geral do partido e que, na qualidade de político eminente, abriria, mais tarde, o caminho para o advento de uma China moderna com um regime misto (ou dualista), comunista politicamente, mas capitalista no prisma económico (mais conectada comercialmente com o mundo exterior).
Porém, voltemos aos tempos em que a China pretendia o seu renascimento, embora o contexto interno não fosse o mais favorável porque a miséria social abundava.
Entre 1958 e 1960, Mao Tsé-Tung começou a ensaiar uma estratégia que permitisse dar o “Grande Salto em Frente”, apostando tudo no ideal de uma nação desenvolvida e socialmente igualitária e incidindo, em particular, na colectivização do campo através de uma Reforma Agrária forçada e em planos de industrialização urbana. Contudo, tal estratégia culminaria em resultados desastrosos.
Uma das iniciativas mais nefastas deste período foi a “Campanha das Quatro Pragas” que, iniciada em 1958, visava a eliminação de quatro espécies de animais que poderiam colocar em causa a economia agrícola. Assim sendo, o regime determinou que deveriam ser exterminados os mosquitos, as moscas, os ratos e os pardais (nomeadamente o pardal montês) porque prejudicavam as colheitas. No entanto, por um lado, era impossível eliminar toda a imensidão de insectos, mas em relação aos pardais, as medidas surtiram mais efeito. Durante cerca de três anos, um bilião de pardais foram mortos devido ao facto de comerem os grãos e as sementes. Para fazer desaparecer esta espécie dos seus céus, os agricultores chineses batiam panelas e frigideiras, ou até tambores, para assustar as aves, impedindo-as de pousar. Muitos pardais, cansados de voar, acabariam por tombar de exaustão. Os chineses mais novos recorreram a figas, e outros, mais equipados, usaram armas de fogo para os alvejar. Inúmeros ninhos foram destruídos. As aves quase desapareceram do mapa.
O problema é que os pardais, além de comerem grãos (o que prejudicava a produção agrícola), também digeriam inúmeros insectos e contribuíam decisivamente para o equilíbrio ecológico. Com poucas aves nos céus da China, mosquitos e moscas irromperam pelas colheitas, provocando o caos nos campos e aproveitando-se do facto de não existirem predadores. De repente, surgiram também terríveis pragas de gafanhotos. A produção baixaria ainda mais...
Quando os responsáveis políticos se aperceberam do erro que haviam cometido, já era tarde demais, embora tenham cancelado a caça desenfreada àquela espécie.
O abate desmesurado de pardais seria, sem dúvida, uma das causas que originou a Grande Fome Chinesa (1959-1961), a qual provocou, pelo menos, cerca de 30 milhões de mortes.




Legenda - Cartaz Propagandístico do Regime Chinês contra os pardais.
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Curiosidade Histórica XLVIII - Arquimedes, o Génio de Siracusa


Arquimedes (287-212 a. C.) foi um dos principais matemáticos, físicos e inventores gregos da Antiguidade. Ele faria grande parte da sua vida em Siracusa (cidade-estado ou bastião helénico que era parte integrante da Ilha da Sicília), embora tenha alegadamente estudado na Escola de Matemática de Alexandria, onde terá convivido com Eratóstenes de Cirene, o matemático que fez o primeiro cálculo da circunferência da Terra.
A contribuição de Arquimedes foi transversal a vários campos. Por exemplo, ele viria a ser pioneiro da ideia da “gravidade específica” directamente associada ao Princípio de Arquimedes, onde “qualquer corpo mais denso que um fluido, ao ser mergulhado neste, perderia peso correspondente ao volume do fluido deslocado". Na geometria, o erudito viria a demonstrar um interesse particular pelo estudo das esferas e dos cilindros.
Ao nível das invenções, criou o “Parafuso de Arquimedes”, uma espécie de mola espiral que permitia elevar a água, através de um cilindro ou tubo, para uma posição mais alta ou sólida no exterior. Ou seja, esta máquina hidráulica antiga permitiria extrair água ou bombear/drenar lamas e resíduos.
Mas Arquimedes também fez com que os seus conhecimentos chegassem ao sector militar, como veremos já de seguida. No ano de 216 a. C., morre o rei de Siracusa - Híeron II, o qual seria supostamente seu aparentado. Pouco tempo depois, e no âmbito da Segunda Guerra Púnica, os romanos aproveitam o contexto para tentar afirmar o seu domínio no Mar Mediterrâneo e, entre outras campanhas, lançam-se à conquista da cidade-estado costeira de influência helénica de Siracusa com o objectivo de garantir controlo total da Sicília enquanto província insular romana.
No entanto, os romanos liderados pelo general Marco Cláudio Marcelo não vão ter vida fácil, dado que o cerco de Siracusa se arrastará por muito tempo. Os siracusanos, sob a liderança do soberano sucessor Epícides, vão dar luta e pedirão mesmo ao seu conterrâneo Arquimedes para ajudar com as suas invenções.
O inventor grego aperfeiçoará e desenvolverá alavancas que aplicadas nas catapultas serão fundamentais para bombardear, com boa eficácia, a frota invasora, recorrerá a um enorme gancho operado por guindaste (“A Garra de Arquimedes”) que levantaria e derrubaria os navios inimigos que se aproximassem demasiado das muralhas, e por fim, terá criado vários espelhos gigantes que, exibidos no alto das linhas fortificadas de Siracusa, projectariam os poderosos raios solares contra as embarcações inimigas, incendiando-as.
Por seu turno, os romanos procuravam tomar a cidade através de escadas de assalto, do poder de fogo dos seus barcos e de uma torre de cerco (movida por roldanas), mas encontravam sempre forte resistência da guarnição. Durante o bloqueio, as forças de Marco Cláudio Marcelo tiveram ainda que aniquilar uma frota de socorro enviada pelos cartagineses que tentou, em vão, libertar Siracusa do cerco.
No entanto, os siracusanos, talvez demasiado confiantes, caíram no erro de subestimar o poder emergente de Roma e decidiram realizar o Festival Anual consagrado à sua Deusa Artémis. Assim sendo, um pequeno grupo de soldados romanos aproximou-se da cidade (com a população agora mais relaxada e distraída) durante uma noite e conseguiu escalar os muros, tendo conseguido furar as defesas.
O General Romano Marco Cláudio Marcelo ordenou que Arquimedes fosse poupado porque queria conhecer a brilhante mente que estava por detrás da criação daqueles dispositivos inovadores de defesa. No entanto, o inventor helénico continuou a realizar os seus trabalhos, mesmo quando os romanos já estavam no interior da cidade, violentando todos aqueles que encontravam nas ruas. Entretanto, Arquimedes foi perturbado por um soldado romano. O sábio protestou contra essa interrupção do seu trabalho e disse grosseiramente ao soldado para sair; o soldado, sem saber quem ele era (ou talvez ciente de sua identidade como criador de máquinas de guerra que tinham causado a morte de centenas de romanos), matou Arquimedes no local, desobedecendo às normas superiores.
Apesar de terem conquistado a parte externa da cidade, a verdade é que, só oito meses depois, os romanos entravam, através de um conluio acordado com um traidor que abriu as portas, na cidadela fortificada interior de Siracusa, para onde muitos cidadãos se tinham refugiado. Os romanos saquearam, mataram e escravizaram muitos siracusanos, não lhes perdoando a resistência ousada que tinham encetado.
Cícero, filósofo romano, visitaria, mais tarde, o túmulo de Arquimedes, descrevendo que este era encimado por uma esfera inscrita em um cilindro, as duas formas que ele mais apreciara.





Legenda - Arquimedes inovou os dispositivos militares defensivos de Siracusa, durante o cerco romano que seria concretizado essencialmente através de uma abordagem naval contra as muralhas desta cidade costeira. 


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Curiosidade Histórica XLIX - Heron de Alexandria


Heron viveu entre 10 a 80 d. C., tendo sido um génio que encetou descobertas determinantes. Ele viria a ser um engenheiro dotado de Alexandria, cidade que, na época, se encontrava munida da maior biblioteca mundial, conjugando todo o conhecimento herdado até então.
Da sua vida, pouco sabemos, mas ao nível das suas contribuições científicas, ele apuraria a fórmula que determinaria o cálculo da área do triângulo e utilizaria métodos iterativos para se aproximar da decifração da raiz quadrada. Desvendaria igualmente que o ar poderia ser usado para fazer pressão sobre objectos e corpos, visão que foi inovadora para a época. Dentro deste contexto, ele criaria o primeiro motor a vapor documentado, a eolípila, embora a sua finalidade na época fosse apenas para lazer ou entretenimento, não conhecendo ainda um efeito prático relevante. Tratava-se de uma esfera oca que se ligava a um par de tubos que, por seu turno, eram conectados a um caldeirão que, se encontrando fechado, era aquecido por debaixo por uma pequena fogueira. O vapor entrava na esfera pela caldeira através dos tubos e escapava através de dois tubos dobrados projectando-se do equador da esfera, fazendo com que ela girasse. No entanto, e apesar da utilidade social da eolípila ser muito discutível, certo é que esta descoberta permitiria alargar horizontes nos séculos posteriores.
Heron foi ainda responsável pela regra do paralelogramo, ao nível da composição de velocidades. Ele viria a concentrar os seus esforços no estudo dos pequenos centros de gravidade e das engrenagens.
Sabemos também que desenvolveu as teorias do movimento e do equilíbrio, bem como métodos de elevação e transporte de objectos pesados com recurso a dispositivos mecânicos.
O trabalho geométrico mais importante de Heron denominava-se de “Métrica”, contudo o mesmo não foi preservado até aos dias de hoje. Julga-se que neste livro terá reunido regras e fórmulas geométricas provenientes de várias fontes (algumas originárias da antiga Babilónia), além de ter estudado áreas e volumes de figuras planas e sólidas.
Por fim, e em jeito de curiosidade, Heron inventou ainda um mecanismo que terá sido um percursor das máquinas de vendas automáticas. Ele criaria um equipamento em que quem depositasse uma moeda no orifício, o peso infligido sobre a mesma permitira fazer sair água benta tão procurada pelos cidadãos nos templos antigos. Nessa máquina de venda, a moeda inserida na ranhura, caía numa extremidade da viga funcionando como a alavanca que era pressionada para puxar a descarga.
Heron viria a ser um dos mais proeminentes inventores helénicos.




Legenda - Heron criou a primeira máquina a vapor - a eolípila, embora esta não tivesse grandes efeitos práticos.
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