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segunda-feira, 29 de junho de 2015

As "revolucionárias" Ferramentas Pré-humanas detectadas no Quénia

Trata-se de mais uma descoberta arqueológica de extrema importância, desta feita, realizada por uma equipa de investigação norte-americana numa zona a oeste do Lago Turkana (Quénia). Nessa área, os investigadores acharam ferramentas em pedra lascada que somam 3,3 milhões de anos de antiguidade, datação que nos remete prontamente para a sua criação e manuseamento por parte de hominídeos. Este é, sem dúvida, um dado relevante para os especialistas da Pré-história, visto que até então o achado mais antigo de ferramentas materializara-se em Gona, na Etiópia, onde se detectaram objectos com 2,6 milhões de anos. Todavia, os resultados surpreendentes das recentes intervenções arqueológicas no Quénia fizeram recuar agora esse marco em 700 mil anos.
Esta nova introspecção arqueológica assume inequivocamente uma especial pertinência, dado que as ferramentas achadas então nas proximidades do Lago Turkana antecedem em 400 mil ou 500 mil anos os primeiros vestígios que assinalam o aparecimento do Género Homo. Por outro lado, atesta igualmente que os hominídeos já possuíam capacidades cognitivas e motoras para assim procederem ao fabrico de ferramentas em pedra, ideia defendida por Sonia Harmand (investigadora da Universidade de Stony Brook dos Estados Unidos que usufruiu da oportunidade de "operar" na área escavada). Em simultâneo, também é confirmada a hipótese de que estes já saberiam talhar a pedra, revelando destreza manual e algum "critério" na selecção de materiais.
De entre as ferramentas agora detectadas incluem-se, por exemplo, lascas afiadas, bigornas, martelos de pedra e percutores. Naturalmente, muitos destes instrumentos eram utilizados com recurso a uma elevada força manual, tornando-se essenciais para cortar e esmagar objectos ou carnes de animais caçados.
As origens inerentes à utilização da mencionada "Tecnologia da Pedra" são bem mais antigas do que se julgava anteriormente, precedendo mesmo o aparecimento dos primeiros humanos que afinal não foram pioneiros no seu aproveitamento.



A arqueóloga Sonia Harmand descobriru ferramentas com 3.3 milhões de anos, provavelmente usadas por uma espécia semelhante ao Australopiteco - mas mais antigo

Imagem nº 1 - A arqueóloga Sonia Harmand destacou-se nas escavações a oeste do Lago Turkana (Quénia). Aí descobriu ferramentas com 3,3 milhões de anos, provavelmente usadas por uma espécie semelhante ao Australopiteco, embora precedente a esta. Esta investigação refuta assim a tese de que o Homo Habilis tenha sido o primeiro fabricante de pedras.
Direitos da Foto - Jason Lewis / Rutgers University





Imagem nº 2 - Instrumento lítico desenterrado pelos investigadores.
Direitos da Foto - MPK-WTAP





Imagem nº 3 - Vista Geral da área das escavações.




Referências Consultadas:

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Apontamentos sobre o Castro de Ovil

No decurso da nossa visita ao Castro de Ovil, ocorrida no dia 13 de Junho de 2015, e que foi exemplarmente conduzida pelo arqueólogo Jorge Salvador, tivemos a oportunidade de recolher algumas anotações sobre a pertinência histórica deste povoado pré-romano. Dada a sua relevância para a história local, consideramos que seria interessante a publicação destes apontamentos. 
Na Idade do Ferro, as povoações do noroeste da Península Ibérica viviam em castros, isto é, aldeias fortificadas e situadas em colinas de onde poderiam usufruir duma vantajosa visibilidade. 
O Castro de Ovil situa-se no lugar do Monte que, por seu turno, se insere na Freguesia de Paramos (Município de Espinho, Distrito de Aveiro). De acordo com as balizas cronológicas avançadas pelo referido arqueólogo, este sítio conhece as suas origens no século IV a. C., e terá sido povoado até ao primeiro quartel do séc. I d. C. Julga-se que o seu abandono poderá estar directamente relacionado com a consolidação da ocupação romana na Hispânia.
No seu próprio sentido de configuração, o povoado estaria protegido a Norte e a Nordeste por fossos profundos (difíceis de trepar ou escalar) e pela ribeira de Rio Maior que, localizada a Sul, constituiria um obstáculo natural a potenciais intrusos. Estas especificidades asseguravam as condições mínimas de defesa, sobretudo na eventualidade de existirem bandos de salteadores que estivessem dispostos a assolar a zona. 
No interior do castro propriamente dito, destacavam-se as estruturas circulares (revestidas de xisto e argamassa) que outrora serviram de habitações indígenas. Algumas possuíam à sua frente um vestíbulo. 
Em termos económicos, esta comunidade pré-romana deveria garantir a sua auto-sustentabilidade através da recolecção, caça, pesca (proximidade de cursos de água tais como a ribeira de Rio Maior, a lagoa de Ovil - actual Barrinha de Esmoriz/Lagoa de Paramos, e o mar), agricultura (embora incipiente) e criação de gado (talvez caprino). 
O seu culto religioso seria essencialmente politeísta, talvez assente na veneração de deuses ou elementos ligados à Natureza (por exemplo, poderia ser o caso do Sol: o arqueólogo Jorge Salvador confidenciou-nos que terão existido gravuras inscritas em pedra que remetiam para uma eventual adoração daquela estrela central e nevrálgica do nosso Sistema Solar; caso se confirme esta leitura, então estaremos perante uma adoração de características animistas). Sabemos ainda que os indígenas recorriam à incineração dos seus mortos. 
Segundo uma estimativa avançada para o local, terão vivido, no auge da sua ocupação, cerca de 200 pessoas. A esperança média de vida deveria rondar, na época, os 35 anos. É evidente que estes números de pendor demográfico carecem de sustentação científica, mas parecem ser, à primeira vista, minimamente realistas.
Naquele espaço arqueológico, foram ainda recolhidos milhares de fragmentos de materiais antigos (cerâmicas indígenas, potes, panelas, talhas, vasos de suspensão, alguidares; cossoiros, pesos de tear, pesos de rede, pedaços de barro, escórias de fundição, mós de vaivém; objectos de adorno pessoal - contas de colar em pasta vítrea ou fíbulas em bronze; ponta de uma lança em ferro para fins bélicos). No entanto, não foram detectados vestígios romanos o que indicia muito provavelmente o abandono do castro numa altura precedente à chegada dos soldados de Roma àquela região em concreto.
Curiosamente, e pese a sua inequívoca antiguidade, o Castro de Ovil só seria finalmente (re)descoberto e identificado pelos investigadores contemporâneos em 1981. 
Situada próxima deste sítio arqueológico, encontramos as ruínas da extinta Fábrica de Papel "Castelo" (fundada em 1836 e desactivada posteriormente em 1975), envolvidas por um espaço verdejante envolvente que tornou agradável e convidativa a nossa digressão.





Imagem nº 1 - O primeiro núcleo habitacional do Castro que tivemos a oportunidade de visitar.
Foto da nossa autoria




Imagem nº 2 - Os alicerces de mais uma estrutura/habitação circular com o seu respectivo vestíbulo.
Foto da nossa autoria




Imagem nº 3 - O Castro de Ovil situa-se numa escarpa e foi erguido na Idade do Ferro.
Foto da nossa autoria




Imagem nº 4 - As ruínas da antiga Fábrica do Papel situam-se nas imediações do Castro de Ovil.
Foto da nossa autoria



Nota-extra - Há outros estudos que remetem as origens do Castro de Ovil para o século II a. C. (ou até para o século III a. C.). Também é importante assinalar que os achados até então recolhidos confirmam a existência dum artesanato autóctone. 



Referências Consultadas:

segunda-feira, 15 de junho de 2015

al-Mansur, o Grande Califa dos Almóadas


O Contexto


Durante quase todo o século XII, o processo da Reconquista Cristã alcançaria avanços determinantes que gradualmente reduziriam as posses territoriais dos muçulmanos na Península Ibérica. Reis como D. Afonso Henriques (Portugal), Afonso I (Aragão) e Afonso VII (Leão e Castela) haviam arrecadado vitórias fundamentais que empurravam, cada vez mais, para sul os seguidores de Maomé. O espírito de cruzada estava bem patente na Hispânia, e contava ainda com o patrocínio papal que encarava a presença muçulmana em solo europeu como uma ameaça. 
O declínio do al-Andalus (designação árabe para as posses que os islamitas detinham naquela região) era confirmado pelas acentuadas divisões internas vividas entre os responsáveis muçulmanos, sobretudo aquando da era desagregadora dos reinos taifas. 
Os almóadas emanciparam-se na região do Magreb (Norte de África) no decurso do século XII, contrariando o relaxamento, o decadentismo e a passividade dos almorávidas. Esta nova dinastia de origem berbere irá estender-se desde 1147 até 1269, tanto no Norte de África como na Península Ibérica. Nesta última frente, o seu objectivo visaria então a anulação do ascendente cristão no âmbito belicista.
Na última década do século XII, muitos dos propósitos teóricos desta nova linhagem materializariam-se através da acção dum califa enérgico e determinado: Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur, aquele que viria mesmo a ser o mais bem sucedido entre os almoádas que intentaram inaugurar um período mais luzidio ou criativo no al-Andalus. A sua entrada em cena será suficiente para fazer cessar os progressos cristãos, e obrigar inclusive alguns reis peninsulares a recorrer à guerra defensiva.





Mapa nº 1 - A realidade do al-Andalus em 1157. Os almoádas herdaram o legado crítico dos reinos taifas, tentando agora resistir às recorrentes investidas cristãs.




Mapa nº 2 - O Império Almóada (1147-1269), preenchido/delimitado a azul escuro neste exemplar cartográfico digital, albergava a região do Magreb/Marrocos e ainda o sul da Hispânia (ou a parte "sobrevivente" do al-Andalus).




A vida de al-Mansur até a batalha de Alarcos


al-Mansur nasce em 1160. Era filho de Yusuf I (1163-1184), segundo califa dos almóadas que havia convertido Sevilha na capital do al-Andalus, além de ter procedido a construções fundamentais nesta notável urbe. Em 1184, o seu pai é morto aquando do cerco frustrado de Santarém, episódio em que se terá deparado com as tropas cristãs de D. Afonso Henriques de Portugal e de D. Fernando II de Leão. Como consequência natural, al-Mansur sobe automaticamente ao trono, e encontra-se logo disposto a vingar a morte de seu pai e a romper com o auge cristão na Península Ibérica.
O terceiro califa dos almóadas é um homem com relevante grau de cultura e visão estatal. Por exemplo, sabemos que escrevia em bom estilo árabe. O novo soberano entendia que era imperioso imprimir uma reforma vasta no seu império, de forma a combater a mediocridade, a incompetência ou a corrupção internas. Neste preciso contexto, não hesitará em repudiar o luxo e a relaxação de costumes, e reforçará igualmente o seu poder militar e a importância do capítulo disciplinar na sociedade.
A primeira demonstração bélica do seu califado acontece em 1187, ano em que aplica uma derrota estrondosa à dinastia almorávida dos Banú Ganiyah de Maiorca que governava as ilhas Baleares e que patrocinava a pirataria bem como acções militares que lesavam recorrentemente os interesses dos almóadas do Norte de África. Nos seus empreendimentos iniciais, al-Mansur teve então de viabilizar alguma estabilidade no Magreb, para assim mais tarde poder finalmente ingressar com as suas tropas na Península Ibérica, de forma a projectar uma campanha ambiciosa que, desde a morte de seu pai, motivaria o seu desejo de vingança mas também de glória e de restituição dos tempos áureos do al-Andalus que se haviam esfumado nas últimas décadas.
Entre 1190 e 1191, al-Mansur realiza a sua primeira campanha na Península Ibérica. Os resultados são logo evidentes - o califa almóada recupera várias praças para o Islão: Alcácer do Sal, Palmela, Almada, Torres Novas, Abrantes e Silves. Apodera-se ainda do castelo de Paderne. Évora tornou-se praticamente no único bastião cristão na região do Alentejo. Todavia, e no âmbito desta expedição, temos também de reconhecer a resistência heróica dos templários em Tomar que, liderados pelo experiente e reputado D. Gualdim Pais (cruzado português que outrora combatera na Palestina), souberam suportar uma terrível pressão exercida pelas forças muçulmanas que certamente compreenderiam um elevado número de soldados.
D. Sancho I não imprimiria o mesmo legado vitorioso que o seu pai D. Afonso Henriques evidenciara perante os seguidores do Islão. Como já podemos constatar, o reinado do Povoador (1185-1211) coincidiu, em boa parte, com a subida de al-Mansur ao trono dos almóadas. O soberano português que até então tinha "saboreado" a conquista de Silves e Alvor em 1189 (com a ajuda de cruzados nórdicos, flamengos, frísios e germânicos), acabou por perder, nos anos seguintes, estas duas praças e muitas outras terras a sul do seu reino, e não teve outra oportunidade senão "jogar à defesa" diante dum adversário que conseguiu unificar, centralizar e reforçar o seu próprio poder, organizando um exército poderoso e coeso que estava à altura dos desafios militares mais exigentes.
Entretanto, seria assinado um armistício, de curta duração, entre os principais intervenientes, o que permitiu a al-Mansur regressar triunfantemente ao Norte de África, mais concretamente aos seus aposentos em Marraquexe. 

  



Imagem nº 1 - Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur assegura uma entrada vitoriosa na Península Ibérica, conquistando várias praças. Apenas fracassa em Tomar, onde os cavaleiros templários, liderados por D. Gualdim Pais, resistem com heroicidade a um assédio implacável.
Retirada de: http://passoapasso-abt.blogspot.pt/2012_09_17_archive.html, (III Festival de Estátuas Vivas de Tomar).




A Batalha de Alarcos (1195)



Com a expiração das tréguas, Afonso VIII, rei de Castela, voltou à carga e monitorizou uma campanha na província nevrálgica de Sevilha. Os governadores do al-Andalus imediatamente suplicaram por auxílio militar da parte do califa. Atendendo a esta urgente solicitação, al-Mansur sai logo de Marraquexe e atravessa novamente o Estreito de Gibraltar, liderando uma segunda expedição contra os cristãos.
O califa almóada desembarca em Tarifa a 1 de Junho de 1195. Nas semanas seguintes, consegue adquirir mais reforços, nomeadamente ao nível de tropas cedidas pelos governadores locais. Contou ainda com o apoio surpreendente de Pedro Fernandes de Castro, um nobre castelhano que se havia rebelado contra o seu próprio rei.
Por seu turno, D. Afonso VIII reúne o seu exército em Toledo e marcha em direcção a Alarcos, espaço situado nas proximidades do rio Guadiana. O rei de Castela temia o acesso imediato do inimigo ao vale do Tejo, e por isso, decidiu não esperar pelas tropas de auxílio dos reis Afonso IX de Leão e de Sancho VII de Navarra. Um erro do qual se arrependeria amargamente, e que só inverteria em 1212 na célebre Batalha de Navas Tolosa.
A 16 de Julho de 1195 as duas forças oponentes encontraram-se finalmente em Alarcos. Nesse momento, o rei cristão apercebe-se do real poderio do inimigo, mas mesmo assim recusa-se a fazer marcha atrás, opção que lhe permitiria aguardar pela chegada de novas tropas cristãs provenientes doutros reinos peninsulares. Por seu turno, al-Mansur recusou travar a batalha nesse mesmo dia porque denotava algum desgaste nos seus homens que haviam sido sujeitos a uma marcha penosa e atormentada pelos calores veraneantes. Por isso, conseguiu oferecer algum repouso aos seus homens antes do episódio bélico que decorreria a 18 de Julho.
Contando com uma cavalaria pesada, estimada em 8 mil homens, Afonso VIII é o primeiro soberano a tomar a iniciativa, ordenando uma carga assombrosa sobre as linhas almóadas. Os primeiros capítulos da batalha até são favoráveis aos cristãos que arrasam ou fazem dispersar algumas tribos berberes. O renomeado vizir Abu Yahya é mesmo morto em combate. O ascendente das tropas castelhanas parecia ser irreversível, mas tal fora uma ilusão que não perduraria por muito mais tempo.
De facto, a reacção muçulmana não se fez esperar. Os arqueiros almóadas começaram a causar baixas significativas nas forças de Afonso VIII, e a elite do exército árabe estava já preparada em partir para a ofensiva com o próprio califa à vista nas fileiras.
O rei castelhano Afonso VIII responde na mesma moeda e avançaria então com todas as forças para o engajamento derradeiro, mas os almóadas revelavam uma invejável coesão e continuavam a tirar máximo proveito da sua arquearia exímia, além de conquistarem novas posições nos flancos. Assolado por quase todos os lados, o soberano cristão, então envolvido na luta corpo-a-corpo, compreende imediatamente que tinha subestimado as capacidades reais do adversário, e contra a sua vontade, teve mesmo de se retirar da batalha em direcção a Toledo, acabando assim por ceder aos prudentes conselhos dos nobres cristãos mais experimentados que o acompanhavam. Para trás, ficaram a sua infantaria e um número considerável de cavaleiros de ordens militares que seriam irremediavelmente esmagados pelo impetuoso exército berbere que já sentia o sabor da vitória. Muitos soldados cristãos que não se retiraram com Afonso rumo a Toledo, tentaram encontrar refúgio numa fortaleza inacabada de Alarcos. Os fugitivos atropelam-se mortalmente uns aos outros só para conseguir a entrada no seu interior claramente congestionado, outros são mortos pelos ginetes que os perseguiam impiedosamente. Para acentuar ainda mais o drama, os cerca de 5 mil soldados que lograram entrincheirar-se na modesta fortificação não dispõem sequer de qualquer acesso aos víveres necessários (água e alimentos), e ao serem prontamente cercados pelas forças almóadas, não têm outra hipótese senão negociar a sua própria rendição. López de Haro, o líder da vanguarda do exército cristão, garantirá a sua própria liberdade tal como outros cavaleiros influentes, mas em contrapartida, deixará para trás alguns reféns e a promessa do pagamento dum elevado resgate aos vitoriosos.
Em jeito de balanço final deste episódio bélico, al-Mansur tinha alcançado o feito mais importante da sua carreira, ao derrotar um exército de proporções respeitáveis que ameaçava desferir já o golpe fatal na sobrevivência do al-Andalus. Naqueles anos, a fama do califa generalizou-se pelo mundo muçulmano, e o medo tomou mesmo conta dos líderes cristãos ibéricos. Há quanto tempo eles não enfrentavam um governante muçulmano tão determinado e enérgico no seu dever de protecção dos seus territórios?
Nos dois anos seguintes à batalha de Alarcos, al-Mansur promoverá incursões devastadoras na Estremadura, no Vale do Tejo, em La Mancha e até nas proximidades de Toledo. Alguns castelos destas regiões renderam-se ou foram mesmo abandonados. A estabilidade do reino de Castela foi inclusive ameaçada, contudo o califa acabaria por dar ênfase a outras prioridades, retirando-se para o Norte de África, mas sem antes firmar tréguas com os reinos de Leão, Navarra e Portugal.




Local: Alarcos (terra localizada a sul de Toledo; pertence à província de Ciudad Real)
Data: 18 de Julho de 1195
Forças Beligerantes
Kingdom of Castile Arms.svg

Reino de Castela


 Flag of Almohad Dynasty.svg


Império Almóada
Comandantes/Generais
D. Afonso VIII
Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur
Número de Combatentes
25 000
30 000
Baixas Estimadas
Estatística não apurada, mas o número de mortos e de prisioneiros caídos nas mãos do adversário deve ter sido deveras elevado.
Estatística não apurada, embora o exército almóada tenha sofrido algumas baixas, sobretudo nos primeiros momentos da batalha.
Resultado: Os almóadas derrotam as forças cristãs, forçando o rei castelhano D. Afonso VIII a retirar-se da batalha. al-Mansur consolidava assim a sua “fama” de califa imparável no campo de batalha.


Tabela nº 1 - As estatísticas inerentes à batalha de Alarcos (1195).




Imagem nº 2 - A reconstituição do posicionamento táctico inicial das duas forças no terreno.
Veja-se ainda: http://www.balawat.com/




Imagem nº 3 - O momento em que as forças almóadas começam a cercar o adversário, e a controlar assim as operações na batalha de Alarcos.
Veja-se ainda: http://www.balawat.com/





Imagem nº 4 - Os arqueiros muçulmanos desempenharam um papel decisivo na batalha de Alarcos, causando significativas baixas no exército cristão.




Final de Vida e Posterior Legado


O final da sua existência irá pautar-se por uma condição enferma extenuante, talvez já herdada da derradeira campanha conduzida em território hispânico, e que se agravaria gradualmente, quando já se encontrava em Marrocos. Nos derradeiros momentos da sua vida, entregou-se à devoção religiosa, delegando os assuntos de estado no seu filho Muhammad an-Nasir que seria o seu sucessor. No ano de 1199, a vida de al-Mansur expiraria em Marraquexe (Marrocos), após 39 anos de vida e 15 anos de sólido califado. O seu falecimento seria um alívio para os soberanos cristãos ibéricos que, muito em breve, voltariam à ofensiva, desta feita, para serem inteiramente bem sucedidos, invertendo o resultado verificado em Alarcos. A batalha de Navas Tolosa (16 de Julho de 1212) devolverá o ascendente decisivo aos cristãos que, comandados pelos reis Afonso VIII (Castela), Sancho VII (Navarra) e Pedro II (Aragão), derrotarão o filho de al-Mansur nesse confronto crucial. A estabilidade política que fora consubstanciada no tempo de al-Mansur iria ruir nos anos seguintes, e o al-Andalus voltaria a caminhar para um cenário de extinção que parecia certo e inevitável.
Consideramos redutor analisar o governo de al-Mansur (1184-1199) apenas pelo prisma político, pelo que enunciaremos agora determinadas iniciativas levadas a cabo noutros sectores de actuação. No âmbito social e cultural, o califa almóada promoveu actividades religiosas nos meios sociais e intelectuais. Ordenou a construção de numerosos edifícios civis e religiosos no al-Andalus e em Marrocos. Por exemplo, ele mandou construir as mesquitas de Koutoubia e El Mansouria em Marraquexe, e desempenhou papel importante na reconstrução do Casbá dos Oudaias, sito em Rabat. Já em Sevilha, seria erguido o célebre e altivo minarete junto à respectiva mesquita (espaço que corresponde à actual Giralda, esta já adequada à posterior ocupação cristã) que, sob a direcção prévia do arquitecto Ahmad Ben Baso, conheceria um impulso definitivo na sequência moralizadora gerada pela vitória árabe em Alarcos. Com uma altura inicial de 82 metros, esta estrutura tornou-se no edifício mais alto da Europa daquele tempo. Pouco tempo depois, e inspirada neste mesmo modelo arquitectónico, seria também erguida a Torre Hassan em Rabat.
Mas nem tudo foi um mar de rosas. O filósofo e médico Averróis (1126-1198), especialista na interpretação do pensamento aristotélico e seguidor duma visão essencialmente racionalista, foi banido por al-Mansur, cujo carisma era conservador e ortodoxo e ainda defensor acérrimo dos princípios do Corão. Os escritos daquele erudito foram queimados, apesar do seu legado cultural ter sido preservado à posteriori.
Em suma, al-Mansur conseguiu imprimir a estabilidade necessária e revelar, em simultâneo, uma visão admirável que produziu frutos no âmbito político, militar e cultural. O califa almóada travou, durante o seu governo, o ímpeto da Reconquista, e promoveu uma vasta obra material, porém o cenário acabaria por mudar nos anos posteriores à sua morte.




La Giralda August 2012 Seville Spain.jpg

Imagem nº 5 - A Giralda de Sevilha (Património da Humanidade) conhece as suas verdadeiras origens no imponente minarete construído em finais do século XII, aquando do califado de al-Mansur. Com a ocupação cristã a partir de 1248, a mesquita será transformada em catedral, e o minarete acabará por ser designado como Giralda (é nesta fase que o terço superior da torre será implantado para albergar os sinos e conferir uma identidade cristã). 
Retirada do Wikipédia





Imagem nº 6 - A Torre Hassan começou a ser construída na cidade de Rabat em 1195.




Referências Consultadas: