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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Sidarta Gautama, a luz da consciência do mundo oriental


Nota Introdutória

À primeira vista, o nome do biografado poderá parecer desconhecido ao leitor, mas estamos certamente perante uma das personalidades mais influentes e marcantes da História Mundial. Conhecido popularmente como “Buda”, Sidarta Gautama foi um príncipe da região do Nepal que se dedicaria ao “universo espiritual”, revelando diversos ensinamentos éticos, filosóficos e religiosos.
Actualmente, muitos são os investigadores que duvidam dos feitos que lhe foram imputados, outros chegam inclusive a colocar em causa a sua existência histórica. Neste artigo, propusemo-nos em citar elementos integrantes das biografias tradicionais. Cabe ao leitor, independentemente das suas convicções religiosas, retirar as suas próprias conclusões. Trataremos com imparcialidade e isenção a história de Buda, sintetizando o seu glorioso percurso que o eternizaria nas memórias da Humanidade.




Imagem nº 1 - Uma criança medita diante de uma estrutura representativa de Buda (Sidarta Gautama) situada em Bagan (Myanmar).
Foto da autoria de Joel Santos




Nascimento e Juventude num círculo principesco


É uma missão inglória determinar, com precisão ou rigor, o ano de nascimento de Buda. De acordo com alguns estudos, existem teorias que propõem datações para os séculos VII ou VI a. C. As datas mais conhecidas são as de 623 a. C. e 563 a. C., embora correspondam a meras suposições cronológicas. Quanto ao local do nascimento, registamos um maior consenso entre as fontes primárias. Apontam estas que a sua cidade de berço terá sido Lumbini (actual Nepal; muito perto da fronteira com o Norte da Índia) que, na época, estava integrada no Principado de Kapilavastu. O pai de Buda era o rei Suddhodana, líder do clã Shakya, e a sua mãe era a rainha Maha Maya. 
O então recém-nascido iria chamar-se Sidarta Gautama. A etimologia inerente a estes seus dois nomes é, no mínimo, curiosa. Sidarta quer dizer “aquele que atinge os seus objectivos” enquanto que o vocábulo Gautama alude a um “condutor de gado”. O nosso biografado iria demonstrar, mais tarde, que estava à altura desta atribuição nominal que antevia prodígios e façanhas nunca antes testemunhados. 
Sidarta foi educado pela sua tia Maha Pajapati (irmã mais nova da sua mãe). A criança foi mentalmente preparada para aceitar as mordomias e as responsabilidades de um príncipe. Por isso, tinha três palácios ao seu dispor. O seu pai Suddhodana queria que o seu filho fosse digno de lhe suceder ao trono, tomando precauções para impedir que Sidarta Gautama optasse por outro estilo de vida, já que existiam anciões naquele tempo que previam uma futura santidade do jovem. Dentro deste contexto, o rei Suddhodana tentou poupar o seu filho aos sofrimentos humanos, procurando evitar que este pudesse seguir alguma das tendências religiosas da época. 
Por intermédio de seu pai, Sidarta iria casar-se com uma prima chamada Yashodhara. Tinham ambos 16 anos na altura. Deste matrimónio, resultaria o nascimento de um filho chamado Rahula. 
Sidarta Gautama viveria 29 anos no seu meio principesco, ignorando por completo a penosa realidade exterior. Foi assim até que a curiosidade o fez despertar, e aí sentiu finalmente um desprezo pelos bens materiais.





Imagem nº 2 - Casamento de Sidarta Gautama com Yashodhara, contando ambos com 16 anos na altura. Deste matrimónio, sairia um filho (Rahula).
Pintura Indiana retirada de:seguindopassoshistoria.blogspot.com




A adesão ao ascetismo


Aos 29 anos, Sidarta decidiu sair recorrentemente do seu palácio de forma a conhecer melhor o mundo que o rodeava. O seu pai tentava ocultar as verdades mais duras a Sidarta, e por isso, efectuou esforços ou diligências no sentido de evitar que o seu filho pudesse visionar pessoas doentes, moribundas ou em estado de sofrimento. No entanto, as suas tentativas foram em vão.
Nos seus encontros exteriores à vida palaciana, Sidarta deparou-se com homens doentes e até cadáveres em decomposição, além de ascetas que procuravam a perfeição espiritual. Estas visões deixariam em si uma marca muito profunda. Se até então tinha vivido num ciclo de fantasia e ingenuidade, o jovem constataria agora os processos inerentes ao envelhecimento e morte humana que antes desconhecia. Diante deste contexto inesperado, o príncipe começou mesmo a acreditar que o ascetismo seria o único caminho possível para resistir à doença, à velhice e até à morte. Dentro deste contexto, Sidarta deixará o conforto e a luxúria material dos seus palácios e tomará a vida de um mendicante.
Inicia o seu percurso ascético em Rajagaha, terra onde pedirá esmolas. Aí será reconhecido pelos homens do rei Bimbisara, o qual estava disposto a oferecer-lhe o trono, mas Sidarta não se sentia tentado pelo poder, e por isso, declinou a oferta, prometendo em contrapartida que visitaria este reino, depois de alcançar a “iluminação” (isto é, a suprema consciência/harmonia espiritual).
Após ter deixado Rajagaha, conheceria dois professores eremitas que, a título individual, lhe cederam diversos ensinamentos: Alara Kalama e Udaka Ramaputta. Através destas experiências, Sidarta terá conseguido alcançar elevados níveis de consciência meditativa, mas ainda assim almejava aprimorar mais as suas capacidades, e por isso, recusou suceder a estes dois professores que lhe convidaram também a tomar os seus lugares.
Posteriormente, Sidarta irá juntar-se a um grupo de cinco companheiros, encabeçados por Kaundinya, que abraçavam práticas yogicas de extrema austeridade. No entender de todos eles, a busca pela suprema “iluminação” não era compatível com a presença de bens materiais, e os sacrifícios chegavam ao ponto de hipotecar a própria alimentação diária. Durante cerca de seis anos, Sidarta irá aceitar a fome, ingerindo apenas uma folha por dia. Um dia, Buda quase se afogaria num rio devido às fraquezas do seu corpo. Através dessa experiência perigosa que lhe poderia ter custado a vida, Sidarta finalmente reconheceu que o caminho para a “iluminação” não poderia ser tão radical ou penoso. E aí lembrou-se de ter observado o seu pai, durante a sua infância, a arar o campo. Além disso, uma jovem rapariga compadeceu-se do seu estado, tendo acabado por lhe oferecer leite e uma porção de arroz, de modo a recompor as suas energias. Em breve, alcançaria um novo estado – o jhana, onde se sentiria mais abençoado e feliz.
A partir de então, Buda tentará seguir o Caminho do Meio, imbuído de maior moderação e afastado dos extremismos da auto-mortificação. Kaundinya e os outros seus companheiros acabaram por abandoná-lo porque achavam que ele se tinha tornado num indisciplinado, visto que então havia renegado as fórmulas radicais de ascetismo.
Entretanto, o nosso biografado decidiu um dia sentar-se debaixo de uma árvore (uma figueira de Bodhi) em Bodh Gaya (Norte da Índia) e jurou a si mesmo nunca mais se levantar até encontrar a verdade. Com 35 anos, e após 49 dias de meditação, Sidarta Gautama teria atingido nesse lugar a “iluminação espiritual”. É a partir desta altura que receberá a denominação de “Buda”, isto é, termo que significa aquele que é “desperto, iluminado, o que compreendeu, o que sabe”. De acordo com as narrações tradicionais, o nosso biografado teria assimilado as causas do sofrimento e os caminhos necessários para solucionar as adversidades da vida. Daí nascerão as célebres “Quatro Nobre Verdades” que perfilariam a doutrina budista, a saber:

1. A nobre verdade do sofrimento (Dukkha). “A vida é um sofrimento”. Por exemplo, o nascimento e o envelhecimento são sofrimento. A enfermidade, a lamentação, a ilusão, o desespero e a angústia também são dores que atingem constantemente o ser humano.

2. A nobre verdade sobre a origem do sofrimento (Samudaya). O orgulho, o prazer e o desejo/cobiça de bens materiais causam o sofrimento humano.

3. A nobre verdade sobre a cessação do sofrimento (Nirodha). O sofrimento só desaparece quando os desejos materiais e demais formas de apego forem prontamente abandonados.

4. A nobre verdade do caminho para a cessação do sofrimento (Magga). Tudo passa pelo entendimento, pensamento, linguagem, acções, esforços, modo de vida, atenção e concentração correctos (o célebre “nobre caminho óctuplo”). As seis perfeições budistas incluiriam a generosidade, a paciência, a ética, o esforço entusiástico, a concentração e a sabedoria.


De acordo com o entendimento de Sidarta, todos aqueles que tivessem em especial consideração estas “quatro verdades” poderiam alcançar o Nirvana, estado perfeito de harmonia mental, onde não haveria lugar a qualquer sentimento negativo de inveja, orgulho, ódio, ignorância ou aflição. Aí não existiria qualquer identidade pessoal ou limites de mente, contudo a paz espiritual seria total. Este novo conjunto de princípios preconizava ainda a não-violência (ahimsa) e o não-eu (anatman).





Imagem nº 3 - Sidarta Gautama alcança a iluminação espiritual junto à árvore ou figueira de Bodhi (Norte da Índia), tendo resistido às tentações exteriores.





Imagem nº 4 - Templo Budista de Borobudur (Java, Indonésia).
Foto da autoria de Joel Santos




Ensinamento da sua Doutrina (Darma) até ao final da vida

Buda demonstrou inicialmente alguma relutância em partilhar os seus ensinamentos com as comunidades, visto que temia ser incompreendido. No entanto, e talvez motivado pelo Brahma Sahampati, teria mudado de ideias, iniciando uma peregrinação pela região da Índia durante 45 anos. Logo granjeou uma elevada aceitação popular, com muitos professores de outras linhas religiosas a aceitarem a sua doutrina. Todavia, nem tudo seria um mar de rosas, visto que os brâmanes, membros da casta sacerdotal hindu e preconizadores de uma religião bem enraizada naquela área geográfica, não aceitaram de bom grado o aparecimento de uma nova corrente, e por isso, tentaram dificultar a sua projecção.
De acordo com as fontes tradicionais, Sidarta morreu com 80 anos de idade na Cidade de Kushinagar (actual Índia). A data de 483 a. C. é atribuída por alguns estudiosos para o seu falecimento, embora tal proposta suscite escassa fundamentação. O seu corpo seria cremado pelos seus amigos. Devido à “santidade” a que foi votado, as suas cinzas foram repartidas por vários governantes, tornando-se assim em relíquias de adoração. Dois ou três séculos depois, surgiriam as primeiras fontes que relatariam a sua vida e descreveriam os seus ensinamentos. Surgiriam novos mosteiros, e a religião budista atrairia a devoção de inúmeras multidões no Oriente (continente asiático).
Em suma, a vida de Sidarta Gautama compreendeu passagens pelas regiões do actual Nepal e da Índia (pelas áreas nortenhas e centrais). Ninguém pode negar que esta personalidade ampliou o conhecimento sobre a consciência humana, promovendo o bem e a purificação da mente. A sua religião tolerante foi bem aceite pela estrutura social dominante das regiões envolventes que lamentavam as restricções até então impostas pelos brâmanes. Muitos mestres seguiriam e difundiriam as palavras deste sábio nos séculos vindouros. Daí se aceitar que além do Buda Shakyamuni (nome diferenciador atribuído a Sidarta, e certamente relacionado com a tribo Shakya de onde era originário), existiram também outros budas no passado que elevaram o conhecimento desta doutrina a novos campos da mente e espiritualidade humanas.






Imagem nº 5 - Escultura de Buda Shakyamuni na China. (Huehang)



Pensamentos Alegadamente Atribuídos a Sidarta Gautama (Supremo Buda)


"A paz vem de dentro de você mesmo. Não a procure à sua volta".

"Persistir na raiva é como apanhar um pedaço de carvão quente com a intenção de o atirar em alguém. É sempre quem levanta a pedra que se queima".

"O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sábia e seriamente o presente".

"Existem três classes de pessoas que são infelizes: a que não sabe e não pergunta, a que sabe e não ensina e a que ensina e não faz".

"Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo".




 

 Imagem nº 6 - A vida de Buda exibida em panorama numa ilustração extraída dum livro presumivelmente existente em Myanmar.




Referências Consultadas: 



    Notas-extra:

    1. O seu nome também aparece vulgarmente nos meios de pesquisa como Siddhartha Gautama.

    2. Aparentemente Buda nunca fez qualquer referência directa à existência (ou não) de um Deus Supremo e Criador, ou até mesmo a uma eventual reencarnação das “almas” (embora os budistas veiculem a hipótese de um "renascimento" que assume uma conotação e natureza distintas). No entanto, este é um ponto que continua a ser alvo de inúmeros debates. Aceita-se que, nos primeiros tempos, o legado do budismo teria sido essencialmente ético e moral em detrimento da componente religiosa que terá sido apenas aprimorada e detalhada mais tarde.

    3. Segundo o conteúdo das fontes tradicionais dos séculos posteriores, e durante o processo de iluminação ocorrido junto à figueira de Bodh Gaya, Buda terá sido testado pelas artimanhas da “divindade” indiana Mara, tendo resistido às suas “investidas”.

    4. No que diz respeito às fontes tradicionais, as mais importantes são:Buddhacarita, o Lalitavistara Sūtra, o Mahāvastu e o Nidānakathā. Os primeiros testemunhos são posteriores à sua existência. No entanto, tornam-se indispensáveis para a recolha de dados biográficos.

    5. O portefólio fotográfico de Joel Santos sobre as tradições orientais é, no mínimo, fascinante e sensacional. Aconselho vivamente a visualização da sua obra.