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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Curiosidades Históricas XXXVI-XLII


Curiosidade Histórica XXXVI - O Cavalo que (quase) se tornou Cônsul


Calígula foi um dos imperadores mais insanos e depravados de Roma. Com 24 anos de idade, assumiria o poder em 37 d. C., ano em que Tibério faleceria sem deixar grandes saudades.
Ao início, a sua chegada ao trono foi vista como bastante promissora. Ansiava-se por um advento mais estável e harmonioso no coração do Império Romano.
Segundo o Canal História, Calígula libertaria imediatamente muitos dos homens presos injustamente pelo anterior imperador Tibério e devolveu honra (através de enterramentos dignos) à memória da sua mãe (destinada anteriormente a morrer à fome numa ilha) e de dois irmãos mais velhos também vítimas da repressão tiberiana. Eliminou ainda impostos impopulares e patrocinou vários torneios de gladiadores, peças de teatro e corridas de bigas. Tudo parecia correr bem nos primeiros tempos. A prosperidade tinha voltado...
No entanto, a faceta tolerante e popular de Calígula não iria durar por muito tempo. De repente, o imperador romano adoece. Julga-se que terá entrado a partir daí numa espiral de loucura. Os seus actos mudam drasticamente. O imperador romano cede à crueldade e barbaridade: incentivará perseguições múltiplas, promoverá a tortura e execuções horrendas dos prisioneiros, manterá relações incestuosas com as suas irmãs e insultará muitas das instituições prestigiadas de Roma.
Além da sua iniquidade e opressão brutais, Calígula irá troçar do próprio Senado Romano e até de elementos da Guarda Pretoriana que o protegiam (será inclusivamente este destacamento que concretizará mais tarde o seu assassinato).
Na esfera do senado, as críticas dos altos dignitários romanos intensificavam-se contra os devaneios do Imperador. Calígula respondeu da forma mais invulgar, chegando ao ponto de querer nomear o seu cavalo preferido "Incitatus" para o prestigiado cargo de cônsul.
Este cavalo tinha sido um dos dez mil importados anualmente da Hispânia, e parece ter sido alvo de admiração do atormentado imperador que lhe conferiu um tratamento especial, nomeadamente através da colocação de vários serventes ao seu dispor, além de uma alimentação recheada.
Incitatus teve ainda direito a um estábulo de mármore com berços de marfim, cobertores púrpuras dos mais caros e ainda colares de pedras preciosas.
Apesar de o cavalo nunca ter chegado a tomar formalmente posse como cônsul, Calígula provocou claramente a ira dos senadores com esta intenção pública. O imperador romano quis fazer passar a mensagem de que as opiniões dos senadores valiam tanto como a do seu estimado cavalo, isto é, nada. Se calhar, e apesar de louco, Calígula preferia confiar mais depressa nas capacidades do seu animal do que nos outros vultos renomeados da Cidade das Sete Colinas.
Mas Calígula ganhava inimigos em todos os cantos. O seu autoritarismo tresloucado era um mal que tinha de ser cortado pela raiz. Nos bastidores, muitos murmuravam – era necessária a sua eliminação.
Como disséramos, foram os elementos da própria Guarda Pretoriana que, liderados por Cássio Quereia (guarda que era constantemente humilhado pelo imperador que o considerava afeminado), o assassinariam em 41 d. C., ao fim de quase quatro anos de reinado.




Legenda: Estátua Equestre alusiva a Incitatus, o cavalo preferido do imperador romano Calígula.
Foto da autoria de Joe Bankowski in Flickr


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Curiosidade Histórica XXXVII - A Cruz Flamejante de Goa


A Cruz Flamejante de Goa integra, sem dúvida, uma lista restrita de grandes tesouros portugueses que terão desaparecido para sempre sem deixar qualquer rasto!
Talvez datada do século XVI, ela terá adornado a Sé Catedral de Goa então administrada pelos portugueses.
Esta relíquia era feita de ouro maciço e incrustada com diamantes. Pesava 135 kg e só seria possível transportá-la através do esforço conjugado de 3 ou 4 homens.
De acordo com o Canal História, no início do século XVIII, foi necessária a sua trasladação/transferência para a metrópole. Vivia-se uma época de maior turbulência política e militar (guerras com reinos vizinhos e com outras potências europeias marítimas) pelo que a Coroa Portuguesa terá pretendido reaver, com total sigilo, alguns dos bens materiais preciosos que detinha no Oriente.
O navio português que se encarregou de transportar a Cruz Flamejante de Goa e muitos outros tesouros ficou conhecido pelo nome de "Nossa Senhora do Cabo". Ele partirá secretamente em 1721 e será tripulado por membros da Ordem de Cristo (organização descendente dos templários portugueses).
No entanto, um ciclone no Índico forçou os portugueses a libertarem-se dos canhões e de outros equipamentos de artilharia, de forma a aliviar a carga do navio e a evitar um naufrágio. Contudo, o temível pirata francês Oliver Levasseur teve conhecimento dos acontecimentos e abordou prontamente o navio então fragilizado em termos de defesa na Ilha de Reunião, a leste de Madagáscar.
Sem encontrar grande resistência, o pirata apoderou-se do navio e de todo o seu espólio. Nas suas mãos, cairiam a Cruz Flamejante de Goa, muitos lingotes de ouro e prata (que hoje seriam avaliados em centenas de milhões de dólares ou euros), moedas de ouro, diamantes, pedras preciosas e quantidades consideráveis de seda.
Acredita-se que o pirata havia instalado a sua base em Madagáscar, ilha que albergava muitos desses aventureiros odiados. Ali se refugiaria após as suas incursões terríveis no Índico.
Em 1724, Oliver Levasseur tentou negociar uma amnistia com o Governo Francês, mas este exigiu-lhe em troca uma boa parte das riquezas saqueadas ao navio português, condição recusada pelo pirata que, em breve, se arrependeria da sua ganância irredutível.
Em 1730, o pirata é capturado e enforcado pelas autoridades francesas. O paradeiro em torno dos tesouros que havia furtado ainda hoje é uma incógnita. Diz-se que, na forca, Oliver Levasseur havia desafiado a multidão a encontrá-los, lançando um papel com símbolos e códigos, ainda hoje indecifráveis, mas que alegadamente deixavam pistas quanto à sua localização.
Recentemente, uma equipa de arqueólogos e historiadores liderada por Barry Clifford e Scott Wolter realizou investigações em Madagáscar e Goa, teorizando a possibilidade da Cruz Flamejante de Goa e de muitos tesouros portugueses e estrangeiros se encontrarem submersos ao largo da costa de Madagáscar ou na pequena ilha de Sainte-Marie.
Até hoje, já se encontraram ali lingotes, artefactos religiosos provenientes da Índia e destroços de embarcações, contudo a Cruz Flamejante de Goa ainda está por descobrir. Se não foi destruída, é certo que estará algures enterrada em solo firme outrora ocupado por piratas ou talvez submersa ao longo dum imenso Oceano.





Legenda da Imagem: Uma Caravela Portuguesa
(Direitos do Quadro - A. Machado)


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Curiosidade Histórica XXXVIII - Confúcio, a esperança que emergiu do caos


A civilização da China Antiga foi uma das mais avançadas do seu tempo. Invenções como a bússola, o papel, a impressão e a pólvora imortalizaram esta sociedade asiática logo nos seus primeiros tempos de glória. Contudo, as guerras internas entre estados/principados chineses marcariam várias gerações. Presenciaram-se eras de repressão e de crueldade. A anarquia tornou-se ainda mais recorrente no período dos Reinos Combatentes (século V a. C. - 221 A. C.; embora existam propostas cronológicas que estendem as suas origens até aos séculos VIII e IX a. C.). Até um certo momento, parecia não haver uma luz ao fundo do túnel.
No meio da conjuntura turbulenta surgiria um homem que se propunha a fornecer uma visão diferente sobre a realidade. Ele não desejava criar uma religião (nem se achava sequer santo ou profeta), indicando apenas um caminho diferente para uma sociedade praticamente desprovida de princípios morais.
O seu nome era Confúcio (ou K’ung Fu-tsu). Ele havia nascido em 551 a. C. em Tsou (Estado Feudal de Lu, na China), talvez oriundo de uma família da baixa aristocracia. O seu pai, Shu-Liang He havia sido magistrado e guerreiro, enquanto a sua mãe Yen Cheng Tsai seria descendente de Po Ch’in, filho mais velho do duque de Chou. Dos onze filhos contraídos pelo casal, Confúcio era o mais novo. A morte prematura do seu pai forçou-o a trabalhar para garantir o sustento da família. Seria pastor, vaqueiro, funcionário público e guarda-livros. Viria também a assumir um cargo administrativo no seu próprio estado ou província, exercendo-o com rigor e zelo. Sabemos ainda que, com 19 anos, contrairia matrimónio com Chi-Kuan, da qual teve um filho – K’ung Li.
No que alude à sua juventude, apuramos ainda que este autodidacta apreciava história, poesia, música, sabendo cantar e tocar alaúde e cítara.
A morte da sua mãe chocou-o ainda mais. Diz-se que Confúcio chorou intensamente a partida da sua progenitora durante 2 anos e 3 meses, retirando-se mesmo da vida pública durante esses tempos.
Em termos de pensamento, Confúcio defendia um sistema que valorizasse as virtudes sociais, a moralidade, o altruísmo, a lealdade familiar, a veneração dos antigos, o respeito pelos idosos, a integridade, a sinceridade desinteressada, a caridade, o espírito de justiça e a importância da família no seio social. Confúcio apregoava ainda outros valores nomeadamente a coragem, a ética, o respeito, a coerência, a necessidade de acesso à educação/sabedoria para formar um povo capaz, a honradez… Tudo deveria desembocar no bem-estar comum. O seu código de conduta social foi uma lufada de ar fresco num território arrasado por conflitos e massacres hediondos. No entanto, e apesar de algumas viagens empreendidas ao longo de 13 anos, nenhum soberano chinês decidiu abraçar directamente as suas ideias porque encaravam as mesmas como perigosas para a realidade vigente que radicava na cultura militar.
Confúcio faleceria em 479 a. C., talvez com o desgosto de nunca ter conseguido mudar verdadeiramente a sociedade do seu tempo que continuava atolada nos conflitos bélicos. Nos seus fôlegos derradeiros, ele acreditava que a sua pregação tinha sido inútil. Ainda assim, ele teve vários discípulos que o seguiram durante a vida, nunca descartando ou escolhendo os mesmos com base na sua classe social. Aliás, alunos ricos e pobres tiveram a oportunidade de beber da sua fonte de conhecimento. A sua escola de pensamento chegaria a ter três mil alunos e isso garantiria a sobrevivência dos seus ensinamentos no futuro.
Ainda assim, as suas ideias viriam a ser reprimidas nos próximos tempos. Qin Shi Huang, Primeiro Imperador da China Unificada, foi um dos vultos que não aceitou a sua herança filosófica. Este reinaria entre 247 a.C. e 221 a. C., tendo sido responsável pela unificação territorial chinesa que ditaria o fim de vários estados independentes. Seria o mentor do projecto inicial de construção da Grande Muralha da China, e ainda sonharia com a imortalidade, enviando mesmo emissários para inúmeras regiões de forma a descobrir o elixir ou a fórmula mágica que lhe garantisse a eternidade. No entanto, Qin Shi Huang acabará por se resignar num determinado momento com a inevitabilidade do seu fim, mas mesmo assim, quis garantir uma passagem segura e triunfante para o além, ao ser sepultado juntamente com a sua mulher (e as concubinas) e com um exército de terracota composto por 8 mil unidades. No seu tempo, imperou o legalismo, isto é, as leis tinham de controlar implacavelmente os indivíduos, existindo penalidades cruéis para todos os que desobedecessem. Por outras palavras, a tirania voltaria a ser uma realidade, pelo que os pensamentos humanistas de Confúcio foram proibidos durante o reinado de Qin Shi Huang. No entanto, a dinastia de Han, iniciada mais tarde a 206 a. C., voltaria a recuperar os ensinamentos de Confúcio, fazendo inspirar os seus princípios no esboço de idealização da sociedade chinesa.
A sua filosofia irá perdurar por milénios, sendo ainda seguida ou estudada por milhões nos dias de hoje.
Deixamos, por fim, algumas das afirmações mais célebres que foram atribuídas a este pensador que sugeriu um caminho alternativo para aquela civilização oriental:

“A vingança perpetua o ódio”

“Nunca faça apostas. Se você sabe que vencerá o outro, você é um trapaceiro … E se não sabe, você é um tolo”.

“Dê um peixe para um homem e ele comerá um dia. Ensine-o a pescar e ele comerá por toda vida”

“Aquele que busca garantir o bem-estar dos outros já garantiu o seu próprio bem-estar”.

“Não responda a uma palavra raivosa com outra do mesmo teor. É a segunda, a sua palavra, que certamente os levará ao confronto”

“A ignorância é a noite da mente, mas uma noite sem lua e sem estrelas”.

“Quando um país é bem governado, pobreza e miséria são coisas que envergonham; quando um país é mal governado, o que envergonha são a riqueza e as honras”

“Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos”.

“Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem”.

“Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade”

“Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo”

“Se você tem uma laranja e troca com outra pessoa que também tem uma laranja, cada um fica com uma laranja. Mas se você tem uma ideia e troca com outra pessoa que também tem uma ideia, cada um fica com duas”




Legenda - Estátua de Confúcio, um dos grandes pensadores da Antiguidade.
Imagem retirada de: https://heiwaki.wordpress.com/


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Curiosidade Histórica XXXIX - Boudica, a Rainha Guerreira dos Celtas


Boudica ou Boadiceia é, para a maior parte dos nossos leitores, um nome desconhecido mas a história de bravura e coragem desta mulher pode ser equiparável às provas de resiliência de um Viriato, líder dos Lusitanos, e de Vercingetórix, chefe dos Arvernos da Gália, que procuraram enfrentar heroicamente as legiões romanas que, na altura, representavam um Império praticamente imparável nos seus desígnios expansionistas.
Boudica era uma rainha celta das ilhas Britânicas. O seu marido era Prasutagos, rei dos Icenos (povo estabelecido na região de Norfolk) e um dos vultos mais influentes do arquipélago. Contudo, este soberano teve que aceitar uma aliança com o Império Romano que começava a afirmar-se paulatinamente naquele domínio insular. Prasutagos foi mesmo obrigado a nomear o Imperador Romano (que, na altura, seria Nero) como co-herdeiro juntamente com as suas duas filhas. Todavia, a sua morte trouxe discórdia e tumultos. Os romanos entraram rapidamente pelo território, saqueando várias vilas celtas.
Chegados à tenda ou moradia real dos celtas, os romanos esperavam que Boudica consentisse a passagem de testemunho. Contudo, a rainha viúva terá rasgado diante deles o manuscrito que lhe havia sido entregue. Os romanos ordenaram que Boudica fosse amarrada, açoitada e chicoteada em público diante do seu povo. Como se não bastasse, ao seu lado, estavam também agrilhoadas em cima de mesas as suas duas filhas que foram violadas, em simultâneo, por soldados romanos.
Em breve, Caio Suetónio Paulino, governador dos romanos na região, iria também fazer uma campanha na ilha de Mona, onde se registaria, em particular, a captura e execução de muitos druidas celtas, cujos rituais misteriosos e macabros (que envolviam sacrifícios humanos) pareciam inquietar as forças de Roma. No entanto, estes sacerdotes eram venerados pelo povo bretão, pelo que tais acontecimentos indignaram ainda mais os celtas.
De acordo com o Canal História, Boudica acabaria por ser libertada pouco tempo depois pelos romanos que a tinham humilhado a todos os níveis. E este seria um erro do qual os romanos se iriam arrepender porque subestimaram a sua capacidade de reacção.
Alta, de cabelos avermelhados e com uma voz grossa, Boudica não se dava por derrotada. Em breve, iria fazer uso dos privilegiados contactos que mantinha com outras tribos celtas da Britânia. Uma nova rebelião iria estar em marcha nos anos de 60 e 61 d. C.
Ela reuniria um exército capaz de grandes façanhas. Dentro deste contexto, as suas forças ocuparam e pegaram fogo a cidades controladas pelos romanos, nomeadamente Camulodunum (actual Colchester; vários soldados romanos foram mortos e o templo dedicado ao antigo imperador Cláudio foi destruído), Londinium (actual Londres que havia sido abandonada previamente pelo líder romano Caio Suetónio porque considerava que não tinha meios militares suficientes para proteger a urbe) e Verulamium (antiga cidade romana situada a sudoeste de St Albans em Hertfordshire). Julga-se que os romanos terão perdido entre 70 a 80 mil homens durante estas três incursões triunfantes de Boudica e seus aliados.
Caio Suetónio foi naturalmente pressionado a agir até porque os romanos não poderiam permitir mais humilhações. A batalha decisiva iria travar-se numa zona central de Inglaterra ("English Midlands"), embora se desconheça a localização em concreto.
Boudica tinha conseguido criar uma confederação de forças ou tribos celtas que poderia estimar-se em cem mil ou até duzentos mil homens, dado que os seus recentes sucessos encorajaram mais resistentes a aderir à sua causa.
Por seu turno, os romanos comandados por Caio Suetónio apenas apresentariam uma força de dez mil homens, mas segundo o Canal História, terão sido os primeiros a chegar ao local do enfrentamento e naturalmente posicionaram-se num ponto mais elevado que viabilizaria uma abordagem mais favorável. A área encontrava-se ainda coberta por uma densa mancha florestal.
Quando Boudica chegou perto do epicentro onde se travaria o conflito, logo desconfiou de movimentações do inimigo, e por isso, aproveitou para dirigir um último discurso aos seus homens, o qual viria a ser registado pelo historiador romano Tácito:

“Agora não como uma mulher descendente de nobres ancestrais, mas como uma das pessoas que estou vingando a perda da liberdade, o meu corpo açoitado, a castidade ultrajada de minhas filhas. A luxúria romana foi tão longe que nem as nossas próprias pessoas, nem mesmo a idade ou a virgindade são deixadas impolutas. Mas o céu está do lado de uma vingança justa; uma legião que ousou lutar pereceu; os demais se escondem no acampamento ou pensam ansiosamente em fugir. Eles não sustentarão nem o barulho e o grito de tantos milhares, muito menos, a nossa carga e os nossos golpes. Se vocês pesarem bem a força dos exércitos e as causas da guerra, verão que nesta batalha vocês devem conquistar ou morrer. Esta é a decisão de uma mulher; quanto aos homens, eles podem viver e ser escravos”.

Ainda antes do início do enfrentamento, a rainha guerreira celta libertou uma lebre num ritual dedicado à Deusa Andraste (divindade céltica da guerra e da vitória) de forma a invocar a sua ajuda e protecção. Acreditava-se que o animal mostraria a direcção a seguir para o triunfo.
Boudica ordenou um ataque frontal contra as posições romanas. Suetónio tinha exigido rigor táctico e disciplina aos seus homens, evitando a dispersão e qualquer tentação de partir para o saque. As forças de Roma lançaram dardos contra o exército celta que avançava diante de si.
Os romanos contavam com uma clara vantagem em armaduras e armas, tirando naturalmente proveito disso. A entrada da sua cavalaria, com homens munidos de lanças, fragilizou ainda mais as forças de Boudica que prontamente se desorganizaram.
Os celtas poderiam ter mais efectivos mas a verdade é que contavam nas suas fileiras com muitas mulheres, velhos degastados e jovens inexperientes. Além disso, estavam mal equipados.
Tácito menciona que os celtas perderam 80 mil soldados na batalha, enquanto os romanos teriam sofrido apenas 400 baixas. Teorias mais recentes refutam estes números que parecem não corresponder à realidade. É certo que os celtas sofreram uma carnificina (na ordem das dezenas de milhares de baixas), mas os romanos acusaram igualmente baixas relevantes, embora tenham vencido claramente a batalha e terminado com a rebelião.
Boudica sobreviveria à batalha, mas tal como Cleópatra (mais tarde), cometeria suicídio pouco tempo depois (talvez por auto-envenenamento) para não cair nas mãos dos romanos que se afirmaram doravante na Britânia (excepção feita à região da Escócia que concentraria os bastiões de vários clãs tribais).




Legenda - Boudica, a Rainha Guerreira dos Celtas viveu entre 30 e 61 d. C.


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Curiosidade Histórica XL - O Farol da Civilização


No ilhéu de Pharos, ao largo de Alexandria (cidade fundada por Alexandre, o Grande), nasceria, por volta de 285 a. C., uma das estruturas mais espectaculares da civilização egípcia, embora na altura sob a égide helenística. Aliás, os sucessos das campanhas militares de Alexandre, o Grande na Pérsia e no Egipto ditaram a criação de novas dinastias. No Egipto, os faraós da dinastia ptolemaica (de origem macedónica; região grega) seriam agora os senhores incumbidos de gerir este território.
Ptolomeu I Sóter, antigo general que havia servido Alexandre, o Grande, assumiria o governo do Egipto entre os anos de 305 a. C. e 283 a. C., e demonstraria ser um grande patrono das artes e das letras. Ele patrocinaria a fundação da célebre Biblioteca de Alexandria, um dos primeiros grandes pilares culturais da história. Também sabemos que seria responsável por projectar e financiar, num primeiro plano, a construção do primeiro grande farol (aliás, a designação deste equipamento adviria do nome da ilha “Pharos”) em Alexandria que serviria de orientação para as embarcações que por ali passavam. A sua construção iria durar 12 anos e Ptolomeu I não teria muito mais tempo para acompanhar a sua evolução.
Aliás, a mesma só ganhou forma no reinado seguinte com o seu filho Ptolomeu II Fidadelfo (liderou o Egipto entre 283 a. C. e 246 a. C.), o qual continuaria também a dinamizar a Biblioteca de Alexandria, encarregando Demétrio de Faleros e outros homens de recolher livros por todo o mundo, chegando a albergar dezenas de milhares de volumes.
Em relação ao farol, a sua torre terá atingido uma altura impressionante, estimada entre 103 e 118 metros, e acredita-se que a sua luz seria observável até 53 km de distância.
A construção compreendia três estágios: a primeira, quadrada; a segunda, octogonal; e a terceira, cilíndrica, dispondo de mecanismos que assinalavam a passagem do Sol, a direcção dos ventos e as horas.
No seu topo, figurava ainda uma estátua de Poseidon, deus da mitologia grega responsável pelos mares.
A iluminação era viabilizada através de chamas (ou acendimento de uma pequena fogueira) à noite, e de espelhos planos que reflectiriam a luz solar durante o dia, orientando assim os navios que rumavam nas imediações.
É justo realçar o papel de Sóstrato de Cnido, arquitecto e engenheiro do período helenístico, que desenhou o farol e que acreditava na exequibilidade desta imponente estrutura.
O primeiro grande exemplo percursor dos faróis reivindicava assim particularidades especiais.
A estrutura seria uma das mais altas da Antiguidade e resistiria durante cerca de um milénio. No início do século XIV, o farol acabaria por colapsar diante de dois terramotos (1303 e 1323).





Legenda: O Farol de Alexandria, uma das Sete Grande Maravilhas do Mundo Antigo.


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Curiosidade Histórica XLI - Ibn Firnas, o Primeiro Aviador Humano


O mundo antigo estava recheado de lendas de homens que sonhavam em descobrir uma forma de voar, desafiando assim os céus. Na mitologia helénica, é bem conhecida a história de Ícaro que voara tão perto do Sol, tendo esta estrela feito derreter a cera que segurava as suas asas, fazendo-o cair no mar e causando o seu afogamento fatal. No entanto, tratava-se apenas de uma lenda.
Segundo algumas teorias alternativas, egípcios e chineses teriam também testado pequenos objectos voadores (não tripulados e de feição rudimentar), embora sem resultados conclusivos.
Não obstante, a história iria mudar quando um sábio em Córdova (na altura, uma das principais urbes da Espanha Muçulmana) decidiu fazer o impossível.
Abbas Ibn Firnas nascera em Ronda (Málaga), talvez por volta de 810 d. C., tendo ainda vivido no Emirado de Córdova que era, na época, um dos grandes centros da cultura muçulmana. Inspirando-se nos mais diversos conhecimentos, Ibn Firnas foi poeta, médico, filósofo, engenheiro e inventor.
De acordo com alguns relatos secundários, Ibn Firnas terá testemunhado uma tentativa de Armen Firman, um presumível acrobata que, em 852 d. C., recorreu a um traje de seda com hastes reforçadas com madeira e a um manto solto para se lançar do topo de um minarete da grande mesquita em Córdova. O aventureiro detinha conhecimentos básicos de voo, e apesar da sua tentativa ter falhado, a sua engenhoca voadora serviu ao menos para atenuar o impacto da sua queda no solo. Armen Firman sairia deste episódio com alguns ferimentos. Curiosamente, outros historiadores alegam que a alusão a Armen Firman é fictícia, podendo este acontecimento ter antes constituído uma primeira tentativa de Ibn Firnas que não correu bem.
Independentemente das versões apresentadas, Ibn Firnas queria superar este registo, tendo aprofundado os seus estudos. Em 875 d. C. (mais de 20 anos volvidos) chegaria o seu momento, tendo criado a sua própria máquina voadora. Ele construiu um par de asas de seda e madeira e costurou penas de verdade. Tentava assim imitar um grande pássaro voador. Ele pulou de um vale e terá planado por alguns minutos (segundo os testemunhos recolhidos, terão sido cerca de dez minutos), surpreendendo a multidão.
Apesar do sucesso em torno do seu voo, o erudito teve sérias dificuldades em controlar a velocidade, tendo sofrido uma aterragem in extremis que lhe causou sérios ferimentos. Ibn Firnas viveria por mais doze anos (faleceria em 887), chegando imediatamente à conclusão que era necessário criar um mecanismo que permitisse retardar a descida dos voos e assegurar uma aterragem mais estável.
Além de ter sido oficialmente o primeiro aviador humano (ou percursor do paraquedismo), Ibn Firnas foi ainda responsável pelas invenções do relógio de água (clepsidra), de planisférios de vidro, de uma esfera armilar (que simulava os movimentos dos astros) e de tabelas astronómicas inovadoras, entre outras.
Em sua memória, existe hoje uma cratera na Lua baptizada com o seu nome, além de uma importante ponte em Córdova.




Legenda: Ibn Firnas voou com sucesso em Córdova, ao imitar o formato de um enorme pássaro. Estátua presente em Bagdade (Iraque)
Direitos da Imagem: Retirada da Plataforma Pinterest


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Curiosidade Histórica XLII - Nikola Tesla, o Génio que nunca ganhou um Nobel


Nikola Tesla nasceu em 10 de Julho de 1856 na aldeia de Smiljan (terra hoje pertencente à Croácia, mas que outrora pertencia ao Império Austro-Húngaro). Ele era filho de um sacerdote ortodoxo, mas desde cedo, seria educado no sentido de desenvolver a memória e o raciocínio. Durante a infância, a criança admitiu ter visto flashes de luz que apareciam inesperadamente diante dos seus olhos. Dizia-se ainda que ele concentrava em si o dom da memória fotográfica, capaz de reter com total precisão diversos momentos que havia vivido ou presenciado em contextos particulares.
No ano de 1873, iria dedicar-se ao estudo de Engenharia Eléctrica, no Instituto Politécnico de Graz na Áustria, onde estudaria principalmente física e matemática. Em 1880, formar-se-ia finalmente na Universidade de Praga, e no ano seguinte, entra para a companhia telefónica de Budapeste, onde começou a sua carreira de engenheiro electricista.
De acordo com o site e-biografia, Nikola Tesla viria a ser, ao longo da sua carreira de cientista e engenheiro electricista, um verdadeiro génio, sobretudo nos campos da electrotécnica e da radio-electricidade. Ele registaria cerca de 40 patentes nos Estados Unidos e mais de 700 no mundo inteiro. A ele se atribuem diversas invenções, a saber: a lâmpada fluorescente, o motor de indução (utilizado em indústrias e em vários electrodomésticos), o controlo remoto, a Bobina Tesla, a transmissão via rádio (embora Marconi tenha aprofundado os seus estudos e tivesse ficado com os louros desta invenção), o sistema de ignição utilizado nas partidas dos carros, a corrente alternativa, a descoberta do campo magnético rotativo, o aproveitamento de energia das quedas do Niágara, foi ainda responsável pela criação da primeira mega-estrutura hidroeléctrica no mundo, desenvolveu uma máquina de terramotos (de modo a sincronizar e amplificar as vibrações através de uma frequência) que quase destruiu um bairro inteiro em Nova Iorque, terá sido o primeiro homem a aperceber-se de ondas de rádio captadas a partir do espaço, tornou-se num investigador pioneiro das tecnologias do radar e do raio-X, etc.
Nikola Tesla acreditava ainda ser possível prever comunicações inter-planetárias e por satélites, antecipava futuramente a ideia da criação de uma energia eléctrica wireless grátis para todo o planeta através de uma torre que seria construída perto de Nova Iorque, embora o projecto tivesse sido abandonado pouco tempo depois por dúvidas levantadas pelos investidores.
Em 1884, e depois de já trabalhar na Companhia Continental Edison, em Paris, será agora convidado a operar directamente na firma de Thomas Edison (1847-1931) situada em Nova Iorque, cidade em que viveria o resto da sua vida (por quase 60 anos). Nos primeiros tempos, Tesla aprimorou algumas das invenções de Edison (nomeadamente os dínamos), mas em breve, os dois colidiriam em torno das questões inerentes ao uso da corrente contínua. Dentro deste contexto, Tesla aplicou algumas das suas ferramentas para viabilizar o uso da corrente alternada, uma forma eficiente de transmitir energia a grandes distâncias, mas perigosa em casos de acidente. Por exemplo, a corrente alternada de Tesla é a que hoje corre nos fios de alta tensão do planeta e chegou a ser utilizada nas condenações de humanos sentenciados à cadeira eléctrica. Por seu turno, Edison considerava a corrente de Tesla como “assassina” e bastante arriscada, preferindo um modelo de electricidade bem mais moderado.
Outra história conhecida relata-nos que Thomas Edison teria convidado Tesla para resolver um problema na corrente contínua de geradores e motores, tendo prometido uma recompensa de 50 mil dólares (o que nos dias de hoje corresponderia a muito mais dinheiro). Tesla terá resolvido a situação, contudo Edison recusou pagar-lhe a verba prometida, respondendo mesmo: “Tesla, você não entende o humor americano”!
A rivalidade e os ódios entre ambos irão ganhar contornos claros nos próximos anos. Temendo o crescimento do rival, Edison chegou a recorrer a uma campanha que pretendia descredibilizar as inovações de Tesla. Edison teve mesmo a desumana ideia de electrocutar animais para tentar convencer o público dos perigos da corrente alternada teorizada por Tesla.
Ambos queriam implementar os seus modelos de electricidade nos Estados Unidos e depois difundir pelos outros países do mundo.
No ano de 1915, Tesla terá mesmo recusado dividir o Prémio Nobel da Física com Edison (sendo que este também não queria partilhar com o seu antigo funcionário e agora rival), tendo sido o galardão entregue a um outro pesquisador, embora a organização tenha desmentido posteriormente a versão da recusa inicial por parte dos dois inventores. Não sabemos se esta foi uma explicação genuína e verdadeira por parte da entidade que atribui aquele prémio prestigiante a nível internacional, mas a verdade é que os boatos da sua rejeição alimentada pela discórdia entre aqueles dois vultos permaneceram até aos dias de hoje!
Independentemente das versões difundidas, a verdade é que nenhum dos dois viria a ganhar qualquer Prémio Nobel durante as suas vidas.
Nikola Tesla viria a falecer, com 86 anos de idade, em Nova Iorque no dia 7 de Janeiro de 1943.





Legenda: Retrato do Génio Inventor Nikola Tesla (1856-1943).
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