Este site foi criado com o intuito de divulgar os feitos mais marcantes no decurso da história mundial

terça-feira, 28 de abril de 2015

Egill Skallagrímsson, o poeta-guerreiro viking

Os vikings eram um povo essencialmente talhado para a arte militar, revelando igualmente um conhecimento invulgar ao nível da navegação marítima (o seu barco Drakkar/Dracar constituía um avanço inovador). Todavia, nesta sociedade de tendência belicista, denotamos a existência especial dum pequeno grupo de poetas-guerreiros: os célebres escaldos. Estes costumavam integrar a corte dos reis escandinavos ao longo da Idade Média.
A maior parte esmagadora destas composições poéticas nórdicas assentava na exaltação ou glorificação dos seus soberanos que até então se tinham evidenciado em batalhas travadas ou noutros feitos prestigiantes dignos de serem recordados para a posterioridade. Em termos característicos, a poesia escáldica albergava um número elevado de estrofes (seguindo a métrica dróttkvætt) com refrão em determinados intervalos, e pautava-se ainda pela aliteração e inclusão de figuras retóricas, uma série de perífrases e metáforas que, muitas vezes,  dificultavam a sua interpretação. Num âmbito cronológico mais preciso, podemos afirmar que esta modalidade poética foi especialmente observada em terras vikings entre os séculos IX e XIII.
Além da arte do verso, os escaldos compunham igualmente crónicas, sagas e outros testemunhos históricos, reportando assim as ocorrências mais marcantes da sua era.
Uma das personalidades que mais se evidenciou na vertente da poesia foi Egill Skallagrímsson, natural de Borg (Islândia) e cuja extensão de vida foi balizada entre os anos de 910 e 990 d. C.. Os seus versos bem como os relatos da sua vida aventurosa foram preservados na "Saga de Egil" composta habilmente por Snorri Sturluson no século XIII.  Ao contrário de muitos outros escaldos, Egill não serviria directamente a qualquer rei nórdico, e até chegaria ao ponto de se tornar fugitivo no decurso do reinado atribulado de Eric I (ou Érico) da Noruega, contudo não deixava de partilhar a mesma tipologia redactorial que marcou a cultura escandinava naqueles tempos. Sabe-se ainda que o seu primeiro poema teria sido escrito quando possuía somente três anos de idade, o que revelava, desde cedo, a sua predisposição para a escrita.
Egill revelava um temperamento bastante difícil, era portador dum perfil ousado e vingativo, pairando em cima dele a suspeita de alguns homicídios entretanto ocorridos. Na sua juventude irreverente, chegará ao ponto de matar o filho do rei Eric I da Noruega, acontecimento que o tornou alvo duma perseguição feroz. Mas Egill revelava igualmente atributos guerreiros excepcionais, derrotando em escaramuças isoladas alguns dos seus acérrimos perseguidores. Além disso, lançou uma maldição aos titulares da coroa norueguesa através duma inscrição gravada num poste em runas mágicas, constando aí a seguinte afirmação:



"Aqui cravo este poste-niðingr e declaro este nið contra o rei Eric e a rainha Gunnhildr. Eu proclamo este nið aos espíritos da terra ali, e à terra mesma, que todos se sintam perdidos, que não se sustentem ou encontrem seu lugar, não até que o rei Eric e  Gunnhildr escapem da terra".

(Notas Adicionais - este ritual de maldição envolveu ainda a utilização duma cabeça de cavalo; refira-se também que a palavra nið nos remete, neste caso, para a injúria ou amaldiçoamento logicamente destinados a um potencial inimigo).



Em abono da verdade, o rei Eric também carregava um passado repleto de sombras e atrocidades que jamais lhe granjeariam qualquer resquício de popularidade. Na Noruega, exerceria uma autoridade déspota e, para reforçar a sua obsessão pelo poder, não hesitará em matar quase todos os seus irmãos, excepto Haakon que se refugiaria na Inglaterra. Daí ter recebido o apelido de "Machado Sangrento" ("Bloodaxe"), o qual atesta o fratricídio até então promovido. A sua mulher - a rainha Gunnhildr (ou Gunhilda) não escaparia sequer à reputação de bruxa, embora seja hoje discutível o seu envolvimento em actos de feitiçaria. Todavia, ocorrerá uma reviravolta inesperada no cenário político. O seu irmão Haakon regressaria às origens para reclamar o trono, e com o apoio da nobreza norueguesa (cansada dos abusos régios e da tirania verificada), forçaria Eric a programar a sua própria fuga para as ilhas britânicas. Tornar-se-ia aí rei da Nortúmbria.
Curiosamente, e no âmbito duma viagem realizada por volta do ano de 948, o nosso poeta-guerreiro islandês Egill Skallagrímsson, então um dos principais detractores do ex-soberano da Noruega, naufragaria ao largo da costa da Nortúmbria (no Nordeste da Grã-Bretanha), episódio que o obrigou a apresentar-se diante da corte de Eric instalada agora naquele estado. Sem grande surpresa, seria imediatamente detido e sentenciado à pena de morte. Neste preciso momento, Egill parecia não ter qualquer hipótese de escapar ao destino traçado até porque Eric não era, nem de perto, um homem misericordioso ou generoso. Todavia, o cativo serviu-se dos seus dotes poéticos e, na noite de véspera da execução, compôs um longo poema de louvor (designado Höfuthlausn; "O Resgate da Cabeça") que seria dedicado ao seu inimigo mortal desde então. Apesar da sua faceta frívola, Eric - o agora governante da Nortúmbria deixou impressionar-se pela recitação dos versos elogiosos de Egill que rematavam uma métrica e rima exemplares, e por conseguinte, optou por anular a decisão anterior, procedendo à libertação do seu prisioneiro. Este episódio revela-nos o verdadeiro impacto duma composição poética que foi determinante para que duas personalidades com um historial repleto de ódio e violência, não alimentassem ainda mais a sua sede mútua de vingança que sempre os norteara.
Outro notável poema de louvor da autoria de Egill intitulou-se Arinbjarnarkvitha (“Lay of Arinbjörn") e foi dedicado, em específico, ao escaldo e seu grande amigo Arinbjørn herse.
Redigiu ainda um poema de teor sentimental - o Sonatorrek - onde lamentava profundamente a morte recente de dois filhos seus (Böðvar e Gunnar), recordava igualmente o falecimento dos seus pais, e acreditava que estaria a ser castigado por Odin (principal deus da mitologia nórdica), e por isso, chega a entrar em "conflito" com este nos seus sábios versos. Contudo, Egill Skallagrímsson encerrará este extenso poema num estado de resignação, conciliação e tranquilidade totais, não deixando de reconhecer e agradecer o dom poético que Odin lhe tinha confiado. Dentro deste contexto, não é de estranhar que integrasse o grupo de berserkers mais afamados de sempre, onde se incluíam os guerreiros nórdicos mais ferozes que haviam jurado fidelidade àquela divindade viking.
Ao longo do seu historial bélico, é importante recordar que Egill terá provavelmente participado na batalha de Brunanburh ocorrida talvez em 937, servindo as hostes vitoriosas do rei de Inglaterra - Athelstan. Também este soberano anglo-saxão foi alvo dum panegírico do poeta islandês - Aðalsteinsdrápa (o "elogio de Athelstan").
Nos últimos anos da sua vida, Egill regressou à Islândia, onde se envolveu, de certo modo, na política local. Teria alcançado os 80 anos de vida, antes de adoecer com gravidade. Suspeita-se que, no seu último acto de violência, terá assassinado o seu servo que o tinha ajudado a enterrar o seu tesouro em prata, de modo a evitar que o mesmo não o viesse a espoliar mais tarde.
De acordo com Christina von Nolcken, especialista em Literatura Medieval, Egill era extremamente talentoso e versado para a escrita, tendo provavelmente convivido com outros poetas do seu tempo e encetado, de algum modo, um esforço tremendo para desenvolver capacidades intelectuais tão invulgares no século X. Simbolizava praticamente o protótipo dos escaldos que conciliavam as suas acções combativas com o peculiar dom do verso.




Sonatorrek
(Excertos em inglês do poema de Egill Skallagrímsson)


My mouth strains
To move the tongue,
To weigh and wing
The choice word:
Not easy to breathe
Odin's inspiration
In my heart's hinterland,
Little hope there.

My sorrow the source
Of the sluggard stream
Mind-meandering,
This heavy word-mead,
Poet's power
Gold-praised, that
Odin from ogres tore
In ancient time. [ . . .]

Could my sword stroke take
Vengeance on the sea-surge,
Bitter ale brewer
None can bend or break,
Could my hand kill
The crushing wave,
With god and goddess
I should grapple.

But I've no strength to subdue
The slayer of my son
Nor the boldness to beat
Down my boy's killer:
Obvious to all,
An old man, unaided,
Helpless, unhappy,
Can hold out no hope.

The rough storm has robbed me
Of my best riches,
It's cruel to recall
The loss of that kinsman,
The safeguard, the shield
Of the house has sailed
Out in death's darkness
To a dearer place. [ . . .]

Forgive his fate
And forget I will not,
Odin not Egil
Enjoys him for ever,
He has stolen my son,
The sapling growth
From my wife's womb,
The warrior-seed.

The spear-god shared
Spoil with me,
My oath was to Odin,
He gave me aid:
Now that maker of mystic
Runes only mocks me,
Voids all my victories,
That breaker of vows.

I'll make offerings to Odin,
Though not in eagerness,
I'll make my soul's sacrifice,
Not suffer silently:
Though this friend has failed me,
Fellow of gods,
To his credit he comforts me
With compensation.

That wolf-killer, that warrior
God, well seasoned in war
Bestowed a bounty
Not to be bettered:
To my art he added
One other gift,
A heart that held
Not craft only: hatred!

The end is all.
Even now
High on the headland
Hel stands and waits,
Life fades, I must fall
And face my own end
Not in misery and morning,
But with a man's heart.






Imagem nº 1 - Egill Skallagrímsson (910-990 d. C.), o poeta-guerreiro ou escaldo que imprimiu brilhantismo na poesia nórdica.
Manuscrito do Séc. XVII, extraído a partir de:
https://en.wikipedia.org/wiki/Egill_Skallagr%C3%ADmsson





Referências Consultadas:

quarta-feira, 22 de abril de 2015

São José Vaz, o Apóstolo e Asceta Português do Sri Lanka

Durante a era da expansão e colonização europeias (séculos XV-XVIII), decorreu, em simultâneo, a missionação ou catequização dos gentios. Um processo complexo que procuraria estender a fé de Jesus Cristo aos quatro cantos do mundo. 
O célebre percurso de José Vaz até pode não ser do conhecimento de todos, mas não restam dúvidas de que foi um dos principais responsáveis pela conversão de milhares de pessoas ao Cristianismo no Oriente.
No ano de 1651, José Vaz nasceria na localidade indiana de Benaulim, situada em Goa, território pertencente ao Império Português. Seria um dos seis filhos do casal cristão Christopher Vaz e Maria de Miranda. 
Desde logo, realizou os seus estudos primários no colégio de Sancoale, onde terá aprendido a língua de Camões. Frequentou posteriormente a Universidade dos Jesuítas em Goa, onde estudou Humanidades e Retórica, e ainda a Academia de São Tomás de Aquino, na qual aprofundou Filosofia e Teologia.  A sua formação cultural era pois elevada. 
Em 1676, foi ordenado padre pelo Arcebispado de Goa. Terá igualmente fundado naquela região uma escola de latim para os seminaristas.
Por alguns anos, desempenhou ainda as funções de vicário em Canara (ou Kanara) onde pregou, ouviu confissões, visitou doentes e ajudou os mais carenciados.
O sacerdote português poderia sentir-se tentado em seguir uma vida acomodada ou até iniciar uma carreira proveitosa e influente no mundo eclesiástico, mas não foi esse o caminho escolhido por José Vaz que optou por ir em socorro dos pobres e de todos aqueles que eram perseguidos, deixando para trás eventuais regalias derivadas do seu privilegiado estatuto. 
A sua vocação para a missão pastoral logo se revelou quando teve conhecimento das condições desumanas ou chocantes em que viviam os habitantes católicos do Ceilão (actual Sri Lanka). A miséria abundava na ilha, e como se não bastasse, a chegada dos holandeses ao território viabilizou uma perseguição cruel por parte dos calvinistas (protestantes) que tencionavam eliminar a religião católica naquele espaço. Não era sequer permitida qualquer manifestação pública inerente à fé católica. Muitos sacerdotes foram detidos, outros seriam expulsos da ilha e até houve aqueles que não escaparam a um cruel assassinato. Todavia, estas contrariedades não foram suficientes para demover José Vaz de rumar à ilha, intenção que concretizará no ano de 1687, desembarcando em Jaffna, localidade situada no norte do Ceilão.
Chegado àquela região insular, José Vaz agiu discretamente, disfarçado de mendigo e vivendo incógnito, para assim celebrar missas e administrar sacramentos (nomeadamente baptismos) por toda a ilha, mas sempre priorizando a máxima cautela. Segundo a tradição, o missionário usava vestes bastante rudimentares, pedia esmola às portas das famílias cristãs, e só quando conquistava a sua confiança, é que se atrevia a revelar a sua identidade e a verdadeira actividade que desempenhava. Mas o disfarce não perduraria por muito tempo. Em breve, seriam veiculados rumores sobre a natureza religiosa das acções que imprimia em Jaffna (onde sempre servira a população com gestos de humildade e benignidade) o que motivou a atenção imediata das autoridades holandesas. José Vaz consegue ludibriar os seus perseguidores, e acabará assim por chegar ao reino budista de Kandy no interior da ilha, o qual se mantinha independente apesar da invasão holandesa e que albergava um número considerável de católicos. Mesmo assim, o missionário natural de Goa não escapou à detenção porque logo suspeitaram que seria um espião ao serviço dos portugueses. Esteve preso durante seis anos (ou dois anos, segundo outros registos) até que o rei de Kandy, o budista Vimaladharma Surya II, reconhecera o seu elevado grau de espiritualidade bem como as suas intenções inofensivas, concedendo ainda autorização total para as missões pastorais que pudesse vir a realizar no seu reino. Neste seu ciclo vivido em Kandy, José Vaz privilegiaria novamente o diálogo, o altruísmo, o ascetismo oriental e a solidariedade cristã. Através dos seus conhecimentos em torno das línguas portuguesa, tâmil e cingalesa, traduziria o Evangelho e outros textos cristãos de modo a serem lidos naqueles idiomas pela população (embora o elevado analfabetismo fosse um sério entrave aos seus projectos), factor determinante que potenciou a conversão de muitos gentios. Convenceu ainda alguns notáveis cingaleses a aderir à fé cristã, o que fez com que o seu apostolado fosse reconhecido por muitos.
No ano de 1697, rebentou uma epidemia de varíola, e José Vaz terá conseguido salvar a vida de milhares de pessoas em Kandy, ora cuidando dos enfermos ora ensinando os princípios básicos de higiene de modo a evitar contágios arrasadores.
Nunca deixaria de zelar pela defesa dos direitos dos católicos na ilha inteira. Humildemente, recusaria em 1705 a oportunidade de se tornar bispo e primeiro Vicário Apostólico de Ceilão, preferindo manter a sua posição de simples missionário. Não era a glória material ou proveniente de estatuto que entusiasmava José Vaz, mas sim a vontade de servir gratuitamente o seu povo.
Após sérios problemas de saúde, o nosso biografado morreria a 16 de Janeiro de 1711. Estima-se que terá convertido à fé católica milhares de pessoas, e promovido a construção dum número considerável de igrejas e capelas. Outros missionários chegariam entretanto à ilha para manter intacta a sua herança. José Vaz seria sempre recordado carinhosamente pela comunidade cristã do Sri Lanka que, embora constituindo actualmente uma minoria, nunca deixaria de prestar o reconhecimento da coragem exibida por aquele vulto.
No dia 21 de Janeiro de 1995, seria beatificado pelo Papa João Paulo II durante uma visita deste ao Sri Lanka, e em 14 de Janeiro de 2015, o Sumo Pontífice Francisco canonizaria José Vaz numa cerimónia realizada na cidade de Colombo (Sri Lanka), enaltecendo a sua dedicação aos pobres e a sua contribuição para a divulgação dos ensinamentos do Evangelho no Oriente. 





Imagem nº 1 - José Vaz, o santo que arriscou a sua vida na divulgação do Catolicismo e no socorro prestado aos mais necessitados.





Imagem nº 2 - Estátua de madeira de São José Vaz num altar do Sri Lanka.
Foto: Alan Holdren / ACI Prensa



"Como nos ensina a vida de José Vaz, a autêntica adoração de Deus leva, não à discriminação, ao ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do bem-estar de todos (...) O seu amor indiviso a Deus abriu-o ao amor do próximo; gastou o seu ministério em favor dos necessitados, sem olhar quem fosse e onde estivesse (...) Por causa da perseguição religiosa em curso, vestia-se como um mendigo, cumpria os seus deveres sacerdotais encontrando secretamente os fiéis, muitas vezes durante a noite (...) Deixou-se consumir pelo trabalho missionário e morreu, exausto, aos 59 anos de idade, venerado pela sua santidade (...) São José sabia como oferecer a verdade e a beleza do Evangelho num contexto plurirreligioso, com respeito, dedicação, perseverança e humildade. Este é, também hoje, o caminho para os seguidores de Jesus”


Papa Francisco (Janeiro de 2015)
Texto extraído do site Agência Ecclesia



Referências Consultadas:

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Jovem Mártir que acalmou a ira dos leões

San Mamés nasceu numa prisão de Cesareia da Capadócia (actual Kayseri, cidade da Turquia) por volta de 259 d. C. Os seus pais - Teodóto e Rufina (esta grávida) tinham sido detidos pelas suas convicções cristãs, e muito em breve, acabariam por perecer sem usufruírem sequer da oportunidade de testemunharem o crescimento do seu filho. 
Apesar das origens humildes, a criança seria cuidada por uma patrícia e viúva romana abastada, de seu nome Ammia (ou Amia), que lhe ensinará os caminhos da educação cristã, porém acabaria igualmente por falecer quando Mamés tinha 15 anos, deixando-lhe como herança os haveres da sua fazenda. Novamente órfão, o rapaz decidiu repartir os bens pelos mais necessitados, retirando-se para o campo onde se dedicava à pastorícia e à leitura e meditação da Sagrada Escritura.
De modo a forçar o jovem a abjurar da fé cristã, o governador romano de Cesareia da Capadócia enveredou pelo caminho das ameaças e das inenarráveis torturas, tão frequentes naquela era de intolerância religiosa. Só era permitida a adoração dos deuses romanos. De acordo com a tradição lendária, San Mamés logrou escapar ao penoso cativeiro, através da ajuda dum anjo, e refugiou-se num monte próximo, onde voltou a praticar as actividades inerentes à pastorícia, embora por muito pouco tempo.
De facto, seria novamente capturado e, desta feita, enfrentaria mesmo o inadiável martírio, visto que teimava em não renunciar à fé cristã. Estávamos no ano de 275 d.C., quando o levaram para um circo romano, onde seriam soltados leões para assim o devorarem impiedosamente. Segundo a narração lendária mais veiculada, San Mamés terá conseguido amansar os animais, postura que decerto enfureceu os responsáveis romanos que se encontravam sedentos de carnificina. Mas estes últimos ordenaram que, logo depois, fosse cravado um tridente no abdómen do mártir, o que causou naturalmente um enorme derrame de sangue. Mamés ainda conseguiu dar alguns passos, mas acabaria por sucumbir às insondáveis dores que lhe foram infligidas. Temeroso sobre potenciais milagres vindouros por parte do santo, o prefeito romano ordenou a decapitação do cadáver.
A fama da sua santidade e a história do seu martírio divulgaram-se prontamente pela Ásia Menor, mas alcançariam igualmente a Itália, a França e a Península Ibérica. Muitos são os crentes que pedem a sua intercessão ante Deus, e que suplicam pela cura das doenças intestinais e de outros órgãos do abdómen, além de ossos fracturados e hérnias. É ainda o protector dos gados, das colheitas e das lactantes. A sua festa é celebrada a 7 de Agosto em Espanha (ou a 17 de Agosto, no caso concreto do martirológio católico internacional), e o seu nome estará associado ao facto de ser sido amamentado por outra pessoa que não a sua mãe natural.
Esta foi uma biografia sucinta que realizamos sobre um santo que terá padecido nos anos do imperador Aureliano (270-275 d.C.). Assumimos que o conteúdo até então reunido remete-nos para a conotação mítica ou lendária, o que não permite esclarecer, com toda a certeza ou rigor científico, sobre se estes feitos corresponderam ou não à realidade dos factos. O que podemos afirmar é que San Mamés terá sido um dos inúmeros mártires cristãos que não foram poupados no coliseu, anfiteatros e circos romanos. A perseguição ao Cristianismo só terminaria em 313 d. C. com o Édito de Milão promulgado por Constantino I que promoveria assim a liberdade de culto de todas as religiões.





Imagem nº 1 - Representação de San Mamés em cima dum leão. Uma clara alusão à narração lendária, na qual teria amansado os leões que se preparavam para o devorar no circo romano.
O seu martírio terá sido consubstanciado a partir dum tridente que lhe foi espetado no abdómen quando tinha apenas 16 ou 17 anos de idade.



Nota-extra - O culto a San Mamés - São Mamede (em Português) também conheceu a sua própria tradição  e difusão em Portugal.



Referências Consultadas:


domingo, 5 de abril de 2015

Espártaco, o gladiador que liderou a turba de escravos revoltosos



Por volta de 109 a. C. (ou 113 a. C.?), Espártaco terá nascido algures na região da Trácia. Posteriormente, evidenciou-se como um exímio gladiador e principal mentor duma revolta servil de assinaláveis proporções. Revelava todas as qualidades naturais dum exímio guerreiro que manifestava habilidade e inteligência no manejo das armas. Contudo, são ínfimos os dados biográficos que se apuraram a seu respeito antes da eclosão da surpreendente rebelião que eternizaria então o seu nome nos anais da História.
De acordo com a tradição, a liberdade deste homem parece ter ficado comprometida quando desertou dum contingente romano (talvez dum destacamento auxiliar) ao qual servira desde então. A escravatura seria um destino inevitável para muitos daqueles que não honravam o dever de lealdade e obediência na República Romana. Foi nesse preciso momento vendido então como gladiador. Na generalidade, os gladiadores eram escravos que haviam cometido crimes ou sérias transgressões no passado. Pelo que sabemos, Espártaco acabaria por ficar confinado no ludus (escola de gladiadores) de Cápua, Sul de Itália. O seu novo modo de vida remeteu-o para uma realidade bastante humilhante, pois estava agora encurralado no estrato mais baixo da sociedade, comparável inclusive ao das prostitutas. Os combates travados nos anfiteatros eram violentos e muitas vezes fatais, os quais representavam a consolidação do poder romano sobre as demais nações e a natureza. Os gladiadores arriscavam recorrentemente a sua vida só para divertir a multidão alvoraçada que presenciava tais espectáculos belicistas que poderiam igualmente contar com a participação de terríveis leões ou feras.
Todavia, Espártaco não se resignou por muito tempo à sua nova condição social e fugiu do ludus de Cápua em 74 a. C., levando consigo mais de 70 gladiadores-escravos que também se queixavam dos maus-tratos infligidos constantemente por parte do lanista (mestre que adquiria e treinava os gladiadores). A fuga terá decorrido em moldes surreais - os revoltosos muniram-se das facas de cozinha e atacaram os guardas da escola, viabilizando assim a sua saída para o exterior do recinto. Em breve, os fugitivos acederiam a espadas, lanças, adagas e arados, armamento necessário para futuras escaramuças.
Neste contexto, começou a ser orquestrada uma grande rebelião contra os senhores de toda aquela região. Para a sua causa, Espártaco logrou reunir, ao longo da sua campanha, vários escravos e gladiadores, ao ponto de materializar uma dimensão quantitativa típica dum exército (segundo alguns estudos, poderá ter conseguido criar uma força, embora não-homogénea, que se aproximaria das 100 mil unidades; é bastante provável que se tivessem dividido em grupos/bandos). Desconhece-se quais seriam as motivações centrais dos cabecilhas desta rebelião - julga-se que procurariam a sua própria liberdade através duma eventual escapatória pelos Alpes, o que lhes obrigaria a travar batalhas para furar as linhas romanas que pudessem surgir pela frente. Contudo, a ganância, a sede de pilhagem e a violência da parte de alguns grupos de rebeldes na Região Itálica parecem acrescentar outros mobiles pouco ou nada "nobres" que poderão ter sido igualmente catalisadores deste fenómeno. Efectivamente, não é uma missão fácil enunciar os objectivos que terão motivado os revoltosos para uma campanha ousada, até porque as fontes disponíveis pautam-se pela tremenda escassez de dados em concreto. Do ponto de vista histórico, poderá ser mesmo precipitado afirmar que Espártaco desejaria cambiar ou inverter a ordem social romana, abolindo com o escravismo que assegurava a mão-de-obra essencial que serviria como base ou sustentáculo para a economia da República Romana. Não sabemos sequer se o líder máximo dos rebeldes chegou alguma vez a planear verdadeiramente uma marcha sobre Roma. O que podemos inferir é que estes servos e gladiadores revoltosos estariam descontentes com a sua posição social e tentaram mudar, pelo menos, o seu próprio futuro, desejando acabar com a exploração abusiva e desumana de que eram alvo. Estava lançado o mote para aquela que seria Terceira Guerra Servil (73 a. C. - 71 a. C.).
Espártaco era um comandante dotado de conhecimentos bélicos (nomeadamente ao nível das práticas de guerrilha), apesar de liderar uma força maioritariamente indisciplinada, mal apetrechada e pouca versada para o combate (excepção feita ao conjunto de gladiadores aderentes que estavam habituados a travar duelos). Durante três anos, e dada a sua proporção numérica, o tropel de escravos assolará a Itália Meridional, contentando-se estes com os saques e depredações violentas. Os primeiros destacamentos romanos enviados para travar a progressão do líder da revolta servil são derrotados. Alguns generais e dois cônsules latinos sofreram na pele a raiva do adversário: Clódio Glabro, Públio Varínio, Fúrio, Cossínio, Lêntulo, Gélio são os nomes dos oficiais romanos que testemunharam o sabor da derrota. Muito provavelmente, estas forças de cariz punitivo foram derrotadas pela sua limitada composição, ou até mesmo pela falta de visão táctica dos seus comandantes que terão presumivelmente subestimado em demasia o adversário. Mas também aqui há-que reconhecer o devido mérito de Espártaco que soube arquitectar emboscadas e até ataques pouco convencionais que causavam sérios estragos nas tropas romanas, evitando em simultâneo a batalha em campo aberto que lhe poderia ser fatal dada a superioridade técnica e organizacional das forças latinas envolvidas nas acções de contra-insurgência. Depois de mais de dois anos de intensos combates, Espártaco tornara-se numa grande ameaça à estabilidade da República. A fama dos seus feitos ecoavam por toda a Itália, mas a reacção enérgica do estado romano não se faria esperar mais...
No ano de 71 a. C., o cenário até então favorável a Espartaco e seus seguidores muda seriamente de figura. Marco Crasso, poderoso patrício e general romano, encabeçará um numeroso exército (8 legiões, 40 mil homens) que abafará com sucesso as inúmeras revoltas até então verificadas. As legiões de Pompeu, regressadas após abafarem uma revolta de Quinto Sertório na Hispânia, também desempenharão um papel determinante na luta contra as turbas de escravos que semeavam a instabilidade nos domínios romanos. Marco Crasso começou a vencer batalhas diante dos bandos rebeldes, sendo que muitos desertaram prontamente. Espártaco veio em seu socorro e até repeliu parcialmente os romanos, mas o fim da rebelião era uma questão de tempo. Crasso queria apressar a vitória até porque não queria que Pompeu, general romano prestigiado e seu rival pessoal, lhe roubasse a vitória e acumulasse mais prestígio. Determinado, o general romano força o grosso das tropas rebeldes a recuar até ao extremo sul da Itália, onde aí desferiu a ofensiva final. Espártaco terá combatido até à última gota de sangue, juntamente com cerca de 50 mil escravos que morreram na batalha. Todos os outros líderes rebeldes também tinham sucumbido ao longo dos últimos três anos de guerra - foram os casos de Criso, Enomau, Casto e Gannico. Os prisioneiros (6 mil ao todo) que foram entretanto capturados, seriam crucificados ao longo da Via Ápia (de Cápia até Roma), de forma a dissuadir futuros aventureiros de práticas semelhantes. Por seu turno, os romanos nesta derradeira batalha só terão perdido cerca de mil homens, um número quase insignificante de baixas.
Roma tinha triunfado mais uma vez, e logo tomou precauções que visaram o reforço das medidas de segurança nas escolas de luta. Espártaco havia caído em desgraça, tombando em combate junto de muitos dos seus companheiros. Mesmo assim, a sua fama seria perpetuada, dada a coragem que evidenciou ao desafiar o poder militar romano que tinha praticamente a fama de "invencibilidade" naquele tempo.
Se a sua revolta (uma das maiores de sempre em termos de adesão de servos) representou um grito pela liberdade (conforme alguns escritores, romancistas e correntes ideológicas tentaram indiciar mais tarde), nunca o saberemos verdadeiramente, pois não há informações suficientes daquela era que validem qualquer uma das teorias até então apresentadas. O que sabemos é que, durante o levantamento, alguns grupos de escravos rebeldes terão degenerado para o banditismo e brutalidade totais, tornando toda a equação bastante discutível.
Apesar da ausência das tão necessárias evidências históricas, muitos foram os que posteriormente associaram Espártaco (do latim Spartacus) à causa da liberdade e à maior das guerras justas então travadas. Um deles foi Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA, que se referiu a ele como um exemplo singular de sacrifício e luta pela liberdade.








Nota-extra - Quando atingiu Módena, Espártaco poderia ter conseguido escapar pelos Alpes, mas não se consegue compreender porque é que não o fez! Não seria esse o seu objectivo? O que é que o motivou a dar meia volta para trás, embora nunca tivesse visado directamente Roma? Interrogações que ainda hoje permanecem por esclarecer.


Legendas - A primeira imagem representa um torneio de gladiadores e foi extraída de: http://historiaespetacular.blogspot.pt/2012/10/a-revolta-de-espartaco.html. A segunda gravura apresenta-nos um retrato de Espártaco e foi retirada directamente de: http://www.elmundo.es/magazine/2004/273/1103135968.html. A terceira imagem é um quadro da autoria de Hermann Vogel (1882) que nos mostra a morte de Espártaco no campo de batalha e foi extraída de: http://en.wikipedia.org/wiki/Spartacus. Por fim, temos um mapa que nos esclarece o trajecto seguido por Espártaco e suas forças revoltosas na região Itálica, e que foi extraído de: https://www.cupofjoephoto.com/romans-16-wikiwand.html.


Referências Consultadas:


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Leandro Vale, o recatado "Legionário do Teatro"

Leandro Vale nasceu em Travanca de Lagos, freguesia do concelho de Oliveira do Hospital, a 18 de Agosto de 1940. Um vulto que se pautaria pela simplicidade humana, mas que alcançaria feitos prestigiantes no Mundo do Teatro. Foi actor, encenador, radialista, escritor, dramaturgo e jornalista, em suma, um promotor da cultura portuguesa a todos os níveis.
Regressando então à nossa sinopse biográfica, Leandro frequentou o Conservatório de Lisboa, e evidenciou-se posteriormente na promoção nevrálgica da actividade teatral fora dos grandes centros urbanos. Em 1955, seria um dos fundadores do CITAC - Circulo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra. Trabalharia igualmente, durante vários anos, no Teatro Experimental do Porto. Nesta sua vida inteiramente luminosa, Leandro Vale teve um papel determinante no desenvolvimento das artes cénicas na região de Trás-os-Montes (a sua obra foi visível em Bragança e Torre de Moncorvo; por exemplo, aí chegou a dinamizar grupos de idosos para a arte teatral). Depois do 25 de Abril de 1974, esteve ainda nas origens do Centro Cultural de Évora.
Ao longo de meio ano, chegou a servir a televisão portuguesa com um programa semanal difundido na RTP Açores. Participou ainda na produção cinematográfica, nomeadamente na longa metragem "A Sombra dos Abutres" do realizador Leonel Vieira.
Mas foi mais concretamente na vertente do Teatro onde Leandro marcou pela diferença. Ao todo, redigiu 180 peças, das quais 102 chegaram a ser representadas em palco. Uma estatística que distingue bem o seu dinamismo e a vontade de colaborar para o crescimento desta arte da representação. Esteve ainda presente no Festival Internacional de Teatro de Havana dirigindo uma companhia de Holguin, com uma peça de que foi autor – "La Obscuridad Transparente", texto baseado no julgamento dos cinco de Miami. 
Em termos de preferências políticas, Leandro esteve sempre conotado aos ideais do Partido Comunista, revelando-se como um militante de esquerda. Contudo, sempre soube separar as águas quando se tratava do desempenho profissional.
Imagem1Publicou várias obras: "8 Dias nos 80 de Fidel" (crónica de viagem aquando da sua participação como convidado especial nos oitenta anos do então líder histórico cubano Fidel Castro), "Escritos do Palco" (Colectânea de sete textos teatrais), "História do Pouca Terra e da Formiga Rabiga" e "Cuba Meu Amor" (um livro de poemas publicado com o apoio da Embaixada de Cuba em Lisboa)...
A carreira de Leandro Vale nunca se equiparou a uma sede incessante pelo protagonismo, mas traduziu-se sim na missão nobre e altruísta de se aprestar à difusão das artes, isto é, de cultivar nos cidadãos, das mais diversas faixas etárias, um gosto especial pela nossa cultura. Neste âmbito, Leandro sempre defendera que as companhias de teatro deveriam ser mais apoiadas pelo Estado, de modo a alimentar a sua produção intelectual.
Este foi o filme da vida ou até uma longa peça de teatro cujas cortinas se encerraram para os derradeiros aplausos dos seus admiradores no dia 2 de Abril de 2015, data em que Leandro Vale juntamente com Manoel de Oliveira (realizador e cineasta português) fecharam os olhos para o mundo terreno e rumaram aos Campos Elísios. Todavia, ambos deixaram um legado valioso que continuará a iluminar e inspirar muitos que decerto lhes sucederão tanto no cinema como no teatro.
Foram 74 anos de vida, e 60 de carreira... Assim viveu com distinção - Leandro, o "legionário do teatro" no Portugal profundo!








Afirmações Célebres:

 "Emoções...Temos de encarar a situação vista por 2 ângulos: pelo lado profissional que nos dá muito gozo quando vemos o público estar connosco e nós passarmos para o lado do público. Por outro lado temos que dominar as emoções para que o vedetismo não suba à cabeça..."

Leandro Vale


"VIDA... A vida não é tão difícil como por vezes nos parece ser. Não terá grandes complicações se nós pensarmos que é uma passagem bem curta para podermos sonhar. Portanto o melhor será termos os pés bem assentes na Terra e sonharmos através dessa segurança, estando sempre preparados para mudar de caminho em qualquer esquina sem mentirmos a nós próprios"

Leandro Vale


"Por não querermos deixar passar em claro estes dois aniversários, decidimos chamar o Leandro de volta a Coimbra, para lhe agradecermos o facto de num tempo difícil, ele e o pequeno grupo que o acompanhou, ousarem criar na escolástica Academia, um grupo de teatro alternativo vinte anos antes do 25 de Abril (...) Naturalmente que o cidadão, o actor, o dramaturgo, o director de teatro e o amigo, é merecedor de muito mais, mas esta homenagem sendo singela, é organizada com muita amizade, porque a ideia é todos abraçarmos o Leandro e dar-lhe os parabéns pelas muitas lutas que tem travado".

(Carlos d'Abreu no âmbito da homenagem prestada em 2014 pelo CITAC a Leandro Vale, seu co-fundador),



Nota extra - A colaboração de Leandro Vale alcançou inclusive a cidade de Esmoriz (terra onde neste preciso momento é redigido este artigo electrónico), onde manteve uma excelente relação com o Grupo de Teatro Renascer. João Gomes, presidente dessa colectividade teatral fundada em 1992, recorda-nos as notáveis virtudes humanas de Leandro e o seu apoio impulsionador ao teatro na terra da Tanoaria. Ele seria aí patrono de diversos festivais, concedeu ensinamentos aos jovens actores e ainda cedeu bastante material permitindo assim o crescimento daquela modalidade cultural em Esmoriz.



Legendas - A primeira imagem foi directamente extraída  a partir de: http://www.portugalfantastico.com/products/leandro-vale-actor-encenador-radialista-escritor-e-jornalista/. A segunda imagem é um retrato da autoria do pintor Acácio de Carvalho e foi retirada de: http://aviagemdosargonautas.net/2015/04/03/aqui-jaz-o-leandro-vale-por-soares-novais/. A terceira fotografia é da autoria de Paulo Patoleia.



Referências Consultadas: