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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Curiosidades Históricas XXIX - XXXV


Curiosidade Histórica XXVIII - Ibn Mucana


Ibn Mucana foi um poeta árabe que nasceu em Alcabideche (actualmente freguesia do concelho de Cascais) numa era em que esta terra pertencia aos domínios árabes do al-Andalus. Este erudito terá vivido no decurso do século XI, embora não seja possível apontar datas rigorosas para o seu nascimento e posterior falecimento.
Subsistem teorias de que, nos seus momentos áureos, ele teria deambulado pelas cortes dos Hamídidas, em Málaga (aqui terá recitado um notável poema elogioso ao rei Idris II), dos Abádidas, em Sevilha, e dos Zíridas, em Granada.
No entanto, e de acordo com tais relatos, Ibn Mucana, talvez cansado da vida ociosa e opulenta, sentiria grandes saudades da sua terra natal, pelo que regressaria a Alcabideche e ali viveria grande parte da sua vida.
Alcabideche era um meio rural que albergava inúmeros moinhos de vento, realidade que não passou despercebida nos versos deixados pelo poeta. O próprio intelectual terá inclusive trabalhado na lavoura até se tornar idoso e ficar mesmo surdo.
Os poemas de Ibn Mucana são ricos no que diz respeito à crítica social e ao recurso a metáforas. O erudito lamenta que Alcabideche não pudesse prosperar muito por causa dos colectores de impostos que cobravam altas taxas aos agricultores.
Por fim, partilhamos o seu poema mais conhecido:

"Ó tu que vives em Alcabideche, oxalá nunca te faltem
nem grãos para semear, nem cebolas nem abóboras
Se és homem decidido precisas de um moinho
que trabalhe com as nuvens sem dependeres dos regatos.
Quando o ano é bom a terra de Alcabideche
não vai além das vinte cargas de cereais.
Se rende mais, então sucedem-se,
ininterruptamente e em grupos compactos,
os javalis dos descampados.
Alcabideche pouco tem do que é bom e útil.
como eu próprio quase surdo como sabes.
Deixei os reis cobertos com os seus mantos
e renunciei a acompanhá-los nos cortejos…
Eis-me em Alcabideche colhendo silvas com uma podoa ágil e cortante.
Se te disserem: gostas deste trabalho?, responde; sim.
O amor da liberdade é o timbre de um carácter nobre.
Tão bem me governam o amor e os
benefícios de Abu Bacre Almofadar
que parti para um campo primaveril"




Legenda da Imagem: Memorial de Ibn Mucana em Alcabideche (Cascais) com a seguinte inscrição: "Se és homem decidido precisas de um moinho
que trabalhe com as nuvens sem dependeres dos regatos"

Direitos: https://cronicas-portuguesas.blogspot.com/, Memorial concebido pelo mestre António Duarte.


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Curiosidade Histórica XXIX - O talento de Pedro de Escobar


Pedro de Escobar nasceu por volta de 1465 no Porto. Ele viria a ser um dos mais importantes compositores musicais portugueses na era da Renascença.
De acordo com o Jornal Público, Pedro Escobar surge associado à autoria de um "Magnificat", a mais antiga obra polifónica nacional, cujo manuscrito está guardado num códice da catedral espanhola de Tarrazona.
Apesar de não se conhecerem bem os seus primeiros anos de vida, a verdade é que viria a ingressar na corte de Isabel, a Católica, que era rainha de Espanha. Ali Pedro de Escobar ou “Pedro do Porto” terá entrado em contacto com compositores espanhóis tais como Juan de Anchieta e Francisco de Peñalosa. Assim sendo, ele fez escola da sua arte musical na corte de Madrid, tendo ficado conhecido pela alcunha de "El Portugués".
Em Espanha, Pedro de Escobar seria cantor e compositor na capela real durante 10 anos, sendo mesmo o único português a merecer semelhante honra. Em 1499, Pedro de Escobar regressa a Portugal, mas em 1507 voltará a Espanha para ser mestre de coro na Catedral de Sevilha, instruindo em particular os mais pequenos. Pedro terá permanecido em Sevilha até 1514.
Pedro de Escobar ou Pedro do Porto terá passado os últimos anos em Portugal, mais concretamente em Évora, na região do Alentejo. Em 1521, o compositor surge na documentação enquanto mestre de capela do cardeal infante D. Afonso, um dos filhos de D. Manuel I, em Évora, funções que terá desempenhado até 1528, tendo sido posteriormente substituído pelo espanhol Mateus de Aranda. Na década de 1530, e já com mais de 60 anos de idade, as suas condições sociais devem ter-se deteriorado. Tal como muitos génios da cultura daqueles tempos, acabaria por conhecer a mendicidade, problema agravado com vícios de alcoolismo. O seu falecimento terá ocorrido em Évora, pouco depois de 1535.
Do seu legado musical, podemos realçar que foram conservados até hoje um Requiem (o primeiro a ser elaborado por um compositor ibérico), um Magnificat, 7 motetes, 4 antífonas, 8 odes e 18 vilancetes.
Pedro Escobar foi um dinamizador da música sacra e erudita, tendo a sua obra motivado a inspiração de vários mestres dos séculos posteriores. As suas melodias chegaram inclusivamente até à Guatemala, ultrapassando a dimensão hispânica.





Legenda da Imagem: Requiem (ou Magnificat) da autoria de Pedro de Escobar 


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Curiosidade Histórica XXX - A Missão de Frei Guálter


Frei Guálter é actualmente considerado o padroeiro de Guimarães. Poucos conhecem talvez a sua história. Teria nascido provavelmente em finais do século XII, sendo de origem italiana (ou francesa!). Guálter aderiria, em algum momento, ao novo movimento religioso que estava a nascer pela mão de São Francisco de Assis. A ordem franciscana começava a dar então os seus primeiros passos, tendo sido aprovada pelo Papa Inocêncio III em 1209. A nova organização religiosa assumiria os votos de pobreza, castidade e obediência, dedicando-se a ajudar os outros sem exigir nada em troca. A simplicidade e a devoção seriam os elementos basilares observados pelos franciscanos.
Em 1217, há um grande capítulo geral da ordem, uma espécie de reunião entre os principais representantes do novo movimento, que determinará o envio dos primeiros irmãos para fora de Itália de forma a expandir o movimento.
Nesse mesmo ano de 1217, e juntamente com o seu amigo Frei Zacarias, irá desembarcar em terras portuguesas o célebre Frei Guálter, do qual pouco ou nada se sabe sobre o seu início de vida.
Zacarias rumou à região sul do país, onde terá criado alguns conventos em Lisboa e Alenquer, mas Frei Guálter decidiria estabelecer-se em Guimarães. Aí desde cedo, começou a difundir as suas ideias e a pregar com eloquência. Os cidadãos ficaram logo agradavelmente surpreendidos pela sabedoria do frade que se trajava de uma forma bastante simples.
Quando chegara a Guimarães, Frei Guálter instalaria a sua moradia numa choupana então edificada na encosta do Monte de Santa Catarina, isto nas imediações de uma fonte que viria a receber mais tarde a designação de Fonte Santa ou de Fonte de São Gualter. Nos primeiros tempos, a sua pequena comunidade religiosa ofereceu todo o seu amor e generosidade aos pobres, recebendo em troca algumas esmolas da população que começava a admirar o seu trabalho. Seriam os próprios vimaranenses que contribuíram imediatamente para que os frades pudessem passar a residir mais perto do burgo, num local mais próximo chamado São Francisco o Velho ou Minhotinho. O povo do burgo acorreria com dádivas para a sustentação dos frades e para a edificação dum futuro convento.
Apesar de nunca ter sido canonizado oficialmente pela Santa Sé, Frei Guálter foi responsável pela introdução de uma nova forma de viver a espiritualidade cristã em Portugal e fez parte da lista de grandes homens cujo exemplo de vida merece o respeito de qualquer um. Ele seria um místico e um homem repleto de virtudes que não veio para denunciar e humilhar os pecados dos crentes, mas para abraçar as imperfeições de todos.
Frei Guálter faleceria em Guimarães, no ano de 1259. Refira-se que esta cidade celebra, desde 1906, as “Festas Gualterianas” realizadas em seu nome. A romaria acontece sempre no primeiro fim de semana de Agosto.




Legenda: Imagem de São Guálter num templo cristão vimaranense.
Direitos: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura


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Curiosidade Histórica XXXI - As Linhas de Nazca


Antes da chegada de Cristóvão Colombo e dos demais navegadores europeus ao continente americano, proliferavam três grandes civilizações: os Maias que desapareceram no século IX, os Astecas e os Incas que foram destruídos pelos conquistadores espanhóis no século XVI. No entanto, os arqueólogos suspeitam de que terá existido mais uma civilização nativa que havia alcançado um desenvolvimento relevante. Falamos da cultura nazca que ainda hoje permanece envolta num grande manto de mistério.
A Civilização Nazca terá estado presente numa região que hoje corresponde a uma área do centro-sul do Peru, entre 300 a. C e 800 d. C., sendo anterior à afirmação dos Incas naquele território.
Este povo misterioso esboçou gigantescos geoglifos, isto é, figuras desenhadas ou esboçadas nos solos dos altiplanos desérticos que se situavam próximos da actual cidade de Nazca. As linhas são inúmeras, encontram-se espalhadas e é provável que exista alguma conexão entre elas que ainda estará por decifrar.
Para adensar o mistério, as linhas de Nazca chegam a incorporar formas geometricamente perfeitas de plantas, figuras humanas e animais. Estamos a falar de marcas no chão que se arrastam por mais de 450 km2 numa área deserta. Os arqueólogos já reconheceram algumas das imagens gravadas nos solos, nomeadamente árvores, condores, colibris, caracóis, pelicanos, lamas, cães, macacos, aranhas, flamingos, lagartos, etc.
Esta civilização iria desaparecer 7 ou 8 séculos antes da chegada dos espanhóis e deixaria estas gigantescas linhas como legado. Ninguém ainda conseguiu definir, com certeza, o seu significado.
Uns adiantaram a hipótese de se ter tratado de um calendário astronómico, enquanto outros apontavam para a possibilidade das linhas sinalizarem a presença de um sistema de água. Também poderão ter decorrido ali rituais ou cerimoniais religiosos, de forma a solicitar a intercessão dos seus deuses naturais (o culto seria politeísta) para que nunca faltasse água e fertilidade na região, elos fundamentais para a sobrevivência da civilização. Contudo, estas são apenas as teorias sugeridas até agora.
A civilização nazca terá ainda erguido aquedutos e reservatórios de água, abastecendo a sua comunidade com água e assegurando a irrigação das plantas. O aqueduto Cantalloc terá sido o mais importante, tendo em conta a sua dimensão. Refira-se que a civilização nazca vivia numa área extremamente seca, pelo que a necessidade de água era recorrente.
Deste povo, pouco mais se sabe. Os nazcas não terão construído um império pré-colombiano, mas deixaram provas de que assumiram uma expressão e identidade próprias.





Legenda da Imagem - Um condor representado pelas linhas nazcas no Peru.


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Curiosidade Histórica XXXII - As visões lendárias de Nostradamus


Nostradamus ou Michel de Nostredame nasceu no ano de 1503 em Saint-Rémy-de-Provence, na França. Ele foi médico, mas ficaria universalmente famoso pelas suas profecias.
De acordo com o Canal História, Nostradamus começou a ter uma série de visões do futuro. Ele viu guerras, confrontos políticos, doenças terríveis e líderes inesperados que definiriam o destino do mundo.
Segundo algumas interpretações, Nostradamus poderá ter previsto a eclosão de grandes conflitos mundiais como vieram, por exemplo, a ser as duas Grandes Guerras do século XX. Nostradamus afirmou também que um momento de grande violência irá coincidir com o aparecimento de um cometa no céu, aludindo possivelmente ao embate de um asteróide contra o planeta Terra. Nostradamus adiantou ainda que veríamos a água a subir e a terra a afundar, descrição que poderá ser hoje interpretada como uma referência ao aquecimento global e ao degelo dos glaciares.
Nostradamus acreditava que um dia as pessoas se poderiam comunicar com os animais, fazendo com que a sua relação fosse mais estreita.
Por outro lado, alegou que as pessoas no futuro poderiam passar a viver mais de 200 anos, acreditando nas teses da fonte da juventude eterna. O visionário francês admitiu que o Vulcão Vesúvio voltará a entrar em erupção, causando estragos inqualificáveis.
Muitos acreditam que Nostradamus previu a morte de reis como Henrique II de França, a eclosão da Revolução Francesa e, mais tarde, já no século XX, a ascensão do nazismo.
Segundo essas interpretações, ele foi responsável por estes versos que foram, mais tarde, associados ao nascimento de Hitler (então oriundo de famílias humildes) e daquele regime totalitário e terrível na Alemanha que afectou dramaticamente o mundo inteiro.

“Das profundezas do Oeste da Europa,
Uma criança pequena nascerá de pessoas pobres,
Aquele que, pela sua língua, seduzirá uma grande tropa;
Sua fama aumentará em direcção ao reino do Oriente".

"O primeiro do III fará pior do que Nero.
Ele será também valente para derramar o sangue humano.
Ele fará construir fornos.
A prosperidade terá fim e esse novo chefe será a causa de grandes escândalos."

Outros presumem que Nostradamus antecipou a revolução francesa, e a vitória da burguesia e do povo sobre as classes privilegiadas através dos seguintes versos:

"Da população escravizada, canções, cantos e demandas
Enquanto os príncipes e os senhores estarão presos nas prisões.
Estes no futuro serão idiotas sem cabeça
Recebidos como oração divina".

Michel de Nostradame ou Nostradamus foi uma das personalidades mais enigmáticas da História Mundial. As suas visões experienciadas no século XVI contêm relatos intrigantes. Ao todo, terá escrito cerca de mil profecias na sua célebre obra “As Centúrias”.
Nostradamus faleceria em 1566, mas as suas profecias vão aparentemente até ao ano de 3797.
Quanto às suas visões que passaram para a escrita, é necessário referir que as mesmas são, em grande parte, expressas em linguagem metafórica e podem ser alvo de múltiplas interpretações, cenário que não confirma do ponto de vista científico se Nostradamus viu mesmo algo do que viria a acontecer no futuro. Aliás, tal desafiaria todos os princípios da lógica. Contudo, há algumas profecias que decerto ainda hoje dão que falar porque vieram a assemelhar-se a acontecimentos que ocorreriam bem depois da época em que Michel de Nostradame havia vivido.
Nostradamus e a sua vida constituem, sem dúvida, um quebra-cabeças para os investigadores.




Legenda - Retrato do médico e visionário Michel de Nostradame


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Curiosidade Histórica XXXIII - O Terramoto de Lisboa (1755)


Corria a manhã do dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, no ano de 1755, quando um violento terramoto se abateu sobre Lisboa (embora se julgue que o seu epicentro se localizasse no Banco de Gorringe - área do Oceano Atlântico), afectando também duramente as regiões de Setúbal e do Algarve e não poupando ainda outras zonas do país.
Mas foi na capital onde o terramoto atingiu uma maior intensidade com muitos especialistas contemporâneos a acreditar que naquele dia se atingira o grau 9 da Escala de Richter (esta apenas desenvolvida mais tarde no ano de 1935).
O Terramoto começou por provocar a queda de edifícios bem como fissuras no solo, e claro não havia qualquer plano para atenuar a tragédia que acontecia de forma inesperada.
Depois do terramoto, veio um maremoto ou tsunami com ondas que terão chegado praticamente aos 20 metros. O maremoto varreu o Terreiro do Paço.
A catástrofe implicou a destruição de cerca de 10 mil edifícios, incluindo alguns conceituados como o Teatro da Ópera, o palácio do duque de Cadaval, o palácio real, igrejas notáveis, edifícios seculares, etc.
Apesar de tudo, foi possível salvar-se a tempo os documentos do Arquivo da Torre do Tombo, embora o mesmo não tenha acontecido com as bibliotecas dos Dominicanos e dos Franciscanos que foram arrasadas pelo cataclismo.
O número de mortes provocadas por este terramoto (seguido de maremoto) ainda hoje é motivo de discussão. As estimativas mais antigas apostam para o falecimento de entre 10 a 15 mil pessoas, contudo estudos modernos acreditam que tal número poderá pecar por escasso, podendo o número de vítimas mortais ter chegado, na pior das hipóteses, até aos 90 mil.
As consequências desta tragédia só não foram maiores porque Sebastião José de Carvalho e Melo, Secretário de Estado do rei D. José I, agiu a tempo e com a frieza necessária. O homem que ficaria conhecido pelo estatuto de "Marquês de Pombal" procurou restituir a ordem e adoptou, em simultâneo, a política de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Mandou providenciar socorros e distribuir alimentos de forma a impedir a fuga da população, e puniu severamente aqueles que se dedicavam aos furtos das habitações semi-destruídas.
De acordo com as informações concedidas pelo estudioso João Tomás dos Anjos, o Marquês de Pombal não se ficaria por aqui, começando mesmo a gizar a reconstrução da cidade de Lisboa. Para isso contaria com a colaboração de Manuel da Maia, engenheiro-mor do reino, e Eugénio dos Santos, arquitecto responsável pela nova planta adoptada, e assim se reergueria uma nova urbe sobre os escombros da antiga. Lisboa assumiria a partir de agora a imagem de uma cidade nova e ordenada com grandes praças e avenidas largas e rectilíneas, além de prédios com a mesma altura.




Legenda - Ilustração datada posteriormente do século XIX que alude ao cataclismo de 1755.


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Curiosidade Histórica XXXIV - "Atrocidades das Invasões Francesas"


As três invasões francesas de Portugal decorreram entre os anos de 1807 e 1811, causando o caos na sociedade e economia nacionais. A entrada das forças francesas trouxe consigo o pior lado da guerra, nomeadamente uma imensidão de furtos, massacres e atrocidades. Velhos, crianças, mulheres, camponeses, clérigos e muitos habitantes desarmados morreriam durante este período bélico.
No entanto, a segunda invasão francesa que teve lugar em 1809 e que fora então comandada pelo general Soult, provocou sérios estragos nas regiões norte e centro do país, isto depois de uma entrada por Trás-os-Montes.
Quando em finais de Março, se deu a batalha pela conquista do Porto, o marechal Soult liderava uma força de 40 mil homens. Desde cedo, as forças francesas começaram por furar a resistência então improvisada em barricadas dispersas pelas ruas. A um determinado momento, os invasores conseguem capitalizar os seus esforços, provocando a debandada de muitos milicianos e populares. Seria nesse contexto que aconteceria o trágico desastre da Ponte das Barcas (29 de Março de 1809), um velho meio de passagem que não aguentou com o impacto inesperado da multidão que fugia desesperadamente para Gaia. A ponte colapsou porque não suportaria tanto peso ou pressão sobre si. As estimativas do número de mortes poderão situar-se em cerca de 4000, sendo que certamente muitas crianças e mulheres morreriam afogadas no rio Douro.
Ainda no âmbito da segunda invasão, os franceses começaram, nos primeiros tempos, por controlar a região norte e uma parte aceitável do centro de Portugal, reprimindo qualquer momento rebelde.
Uma das histórias dramáticas aconteceria também na Freguesia de Mozelos, em Santa Maria da Feira. A 11 de Maio de 1809, foram encontrados três soldados franceses mortos na região, e os invasores agiram logo em forma de represália, fuzilando sete habitantes inocentes de Mozelos, incluindo o padre João Sá Rocha, tendo sido pendurados os cadáveres nos ramos de um pinheiro secular que existia próximo do lugar do Picoto, como forma de aviso para todos aqueles que ousassem emboscar as forças francesas. O Pinheiro em questão ficou conhecido como o “Pinheiro das Sete Cruzes” em alusão às sete vítimas da vingança francesa encetada, sendo que a alusão ao pinheiro se encontra até no brasão da vila em questão. Foi ainda edificada no local, em jeito de memória, uma pequena ermida em 1885.
Os soldados franceses deixaram-se, muitas vezes, levar pelos piores instintos, e daí os excessos resultantes.
Apesar de todos estes males, devemos reconhecer, por outro lado, que os franceses contribuíram, pelo menos, para a difusão dos ideais liberais da sua Revolução ocorrida em 1789.




Legenda: O Desastre da Ponte das Barcas em 1809.
Direitos da Foto - Retirada da Página da Rádio Portuense


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Curiosidade Histórica XXXV - Bernardim Ribeiro, o introdutor do bucolismo e das sextinas poéticas


Bernardim Ribeiro nasceu por volta de 1482, possivelmente na Vila do Torrão em Alcácer do Sal. Ele viria a ser um dos mais proeminentes escritores portugueses, inserindo-se na corrente artística e intelectual do Renascimento. Tal como Sá de Miranda, Garcia de Resende e Gil Vicente, Bernardim Ribeiro foi também um poeta palaciano.
Pouco se sabe sobre a sua vida. Discute-se se terá chegado a frequentar a Universidade de Lisboa, entre 1507 e 1511, e até a eventualidade de ter sido escrivão da câmara porque existe referência ao seu nome na documentação, contudo não se sabe se é o próprio ou se é apenas uma outra pessoa que também se designava nominalmente da mesma forma.
De acordo com a Página Infopédia da Porto Editora, a obra de Bernardim Ribeiro resume-se a doze composições inseridas no Cancioneiro Geral, a saber: cinco éclogas, a sextina "Ontem pôs-se o Sol", a novela "Menina e Moça" (então dividida em três composições em verso), o romance “Ao longo de uma ribeira” e ainda duas cantigas.
Bernardim Ribeiro debruça-se sobre o próprio Eu e aborda temas ou sentimentos como a Esperança, o Cuidado, a Mudança e até o Tempo.
Sabemos que as suas obras foram editadas, em 1554, na oficina de um hebreu emigrado denominado de Abraão Usque, em Ferrara, na Itália. Como podemos constatar, Bernardim Ribeiro também terá estado em Itália de forma a beber das ideias e dos pensamentos renascentistas que então ali proliferavam.
De acordo com o investigador literário Hélder Macedo, os textos benardinianos encerram "uma meditação mística pessimista em torno do amor humano e da saudade". Bernardim Ribeiro inspira-se em Giovanni Boccaccio, poeta italiano do século XIV, procurando uma vertente autobiográfica e bucólica, recorrendo também a inúmeros anagramas.
O amor que muitas vezes se pode repercutir em tons melancólicos ou trágicos, surge de mãos dadas com a solidão, exponenciando os mais diversos sentimentos pessoais. A nostalgia amorosa e o fatalismo do sofrimento estão bastante presentes nos textos deste poeta que chegou a frequentar a corte portuguesa, fazendo parte de uma elite intelectual restrita.
Bernardim Ribeiro terá falecido por volta de 1552. Ele seria considerado o precursor do bucolismo em Portugal, tendo sido possivelmente o primeiro a escrever na forma poética de sextina na língua portuguesa.





Legenda - Uma das principais obras de Bernardim Ribeiro.
Direitos - Imagem retirada algures do Google