Nota Introdutória
Recentemente, lançamos nas redes sociais uma nova rubrica intitulada "Curiosidades Históricas", iniciativa que visa abordar, de modo sucinto, algumas das temáticas mais interessantes ou originais da História da Humanidade.
Neste post, iremos publicar então 7 textos (por seu turno, relacionados com 7 temáticas distintas) que redigimos entre os dias 28 de Outubro e 8 de Dezembro de 2015.
Ao contrário de todos os outros artigos, alertamos o leitor que estes textos apenas mereceram uma investigação básica da nossa parte, até porque não era nosso objectivo pormenorizar bastante o nosso estudo, visto que tal seria maçador para os nossos leitores.
Ao contrário de todos os outros artigos, alertamos o leitor que estes textos apenas mereceram uma investigação básica da nossa parte, até porque não era nosso objectivo pormenorizar bastante o nosso estudo, visto que tal seria maçador para os nossos leitores.
Curiosidade Histórica I - O "Exército de Terracota"
O "Exército de Terracota" é considerado
Património Mundial da UNESCO. Trata-se de uma infindável colecção de
esculturas de terracota que representa o exército do primeiro imperador
chinês Qin Shi Huang (221-210 a. C.). Esta manifestação cultural foi
considerada, em simultâneo, como uma forma "sui generis" de arte
funerária, visto que aí se encontra igualmente o túmulo do governador
chinês que, de acordo com as tradições orientais daquela era, ficaria
assim protegido na posterior vida. Ou seja, aquele exército de estátuas o
acompanharia nas "aventuras do além".
As esculturas somente foram detectadas em 1974, na localidade de Xi'an, província de Shaanxi (China). A monumentalidade do espaço é inegável. Os arqueólogos confirmam que existiam mais de 8 mil soldados, 130 carruagens com 520 cavalos, e ainda 150 cavalos de cavalaria - tudo em forma de escultura. O imperador Qin Shi Huang foi um dos fundadores da China unificada e ficou igualmente conhecido por ter promovido construções gigantescas, incluindo a Grande Muralha.
Pixabay Pictures
Wikipédia
Curiosidade Histórica II - A Cidade de Tenochtitlán
A cidade de Tenochtitlán foi fundada por volta de 1325 (ou 1345, segundo
outros autores) e tornar-se-ia mesmo na capital do célebre Império
Asteca.
Assinalamos o facto da urbe ter sido erigida numa ilha do Lago Texcoco (hoje seco ou inexistente). Provida de aquedutos, canais labirínticos, calçadas, mercados, palácios nobres, templos religiosos e bairros sociais, Tenochtitlán foi mesmo designada por alguns historiadores como a "Veneza do Continente Americano". Quando os espanhóis aí chegaram (isto é, entre os anos de 1519-1521), ficaram surpreendidos com a arquitectura imprimida pelos astecas.
Pintura mural no Museu Nacional de Antropologia (Cidade do México)
Quadro da autoria de Diego Rivera
Vasco da Gama
liderou os portugueses numa saga atribulada que culminaria na descoberta
do caminho marítimo para a Índia (1498). Apesar deste prestigiante
feito, único - a nível mundial, os portugueses acabariam por sair
humilhados no âmbito de um episódio.
Ao chegarem ao reino de Calecute, o exímio navegador e representante da coroa portuguesa - Vasco da Gama - procurou agraciar, numa cerimónia solene, o soberano local com presentes de açúcar, azeite, mel, coral e bacias de rosto. No entanto, o samorim não ficou nada impressionado. Pelo contrário, achava que aquelas ofertas não eram dignas dum embaixador e que até um pobre mercador ofereceria ouro a um rei. Vasco da Gama enfureceu-se com o escárnio a que foi votado, e começou a sentir um ódio tremendo diante daquele rei e seus oficiais "pagãos" que haviam troçado do seu país e do seu Deus. Marcas profundas que, em breve, desencadeariam um conflito sangrento, embora não seja nosso propósito abordá-lo aqui. Em jeito de balanço final, esta cortesia "simplista" dos portugueses foi determinante para conquistar o apoio (político e comercial) de muitos soberanos tribais (tanto em África como no Brasil) que tutelavam comunidades muito rudimentares. No entanto, essa expressão de "generosidade" já não chegava para convencer os representantes indianos, visto que a sua região, rica em especiarias e tecidos, testemunhava uma azáfama comercial e um desenvolvimento económico e cultural muito superior às restantes terras que os portugueses haviam conhecido na era dos Descobrimentos.
Quadro da autoria de Veloso Salgado - 1898
Curiosidade Histórica IV - O Enigma de Fusang
Um dos maiores enigmas da História Oriental é, sem dúvida, o mistério que gira em torno da identidade e localização de Fusang. "Fusang" é a denominação atribuída à recôndita terra que teria sido avistada pelo viajante e monge budista chinês Hui Shen no ano de 499 d. C. As suas descrições em torno desta aventura (que viriam a ser reportadas ao imperador chinês) adensaram ainda mais a controvérsia. Hui Shen refere que Fusang se encontrava a 20 000 li a este de Dahan (isto é, a este da China), sendo que esse território se caracterizava, ao nível da flora, pela existência de várias plantas comestíveis e frutos de cor vermelha ou púrpura (como por exemplo: amoras). O lugar seria rico em cobre, mas também possuiria vestígios de ouro e prata. As tribos nativas de Fusang revelariam alguma organização social com a presença de um imperador (ou de um chefe local) que assumiria a liderança. Estas comunidades produziriam ainda papel através das fibras do súber das plantas. As suas casas ou cabanas eram todas feitas de madeira. Os habitantes recorreriam ainda a cavalos, búfalos e servos para transportar as mercadorias. De acordo com o referido missionário, não existiria, pelo menos, à primeira vista, qualquer culto religioso em Fusang. As descrições pecam pelo facto de serem bastante vagas, impossibilitando uma conclusão segura. Muitos dos estudiosos que se debruçaram sobre esta narrativa, teorizaram que Hui Shen teria visitado regiões localizadas no extremo oriental da Rússia tais como a ilha de Sakhalin, a Península de Kamchatka ou as Ilhas Kuril, ou até mesmo territórios a leste do Japão. Todavia, esta opinião não é consensual entre os investigadores, e os mais entusiastas alegam mesmo que a distância, cifrada em 20 000 li, corresponderia, naquela altura, a mais de 8 mil quilómetros percorridos, trajecto que poderia ser seguido numa rota que partisse desde a China até à região da Califórnia ou inclusive à Colúmbia Britânica (mediante passagem pelos oceanos Índico e Pacífico). Outros autores não descartam ainda a possibilidade da terminologia "Fusang" se encontrar inserida na mitologia chinesa de modo a referenciar uma árvore simbólica existente a este, isto é, no lugar onde se levantaria o Sol.
Mapa de cariz teórico retirado de: http://www.slideshare.net/JudyMJohnson/5-many-peoples-3rd-century-asian-traveler-to-americashan-hai-jing
Curiosidade Histórica V - A Erupção Fatal do Vesúvio
Corria o ano de 79 d. C. Pompeia era uma das cidades romanas que granjeava uma notável efervescência comercial no sul da região itálica, visto que atracavam aí diversos barcos com mercadorias que provinham de outros portos do Mar Mediterrâneo. A urbe albergava ainda templos, termas, canais, anfiteatros e construções defensivas. Ninguém fazia prever que a população, orgulhosa dos seus pergaminhos históricos, iria ser acossada por uma catástrofe de dimensões nunca antes vistas. No dia 24 de Agosto do mencionado ano, rebentou uma inesperada erupção no vulcão do Monte Vesúvio. Este expeliu lava, pedras pomes e rochas, além de ter provocado a formação de uma nuvem letal de cinzas que libertaria uma fumaça asfixiante. Muitos cidadãos de Pompeia e de Herculano (cidade vizinha) foram terrivelmente surpreendidos pelo acontecimento; outros não conseguiram fugir, mesmo correndo apressadamente. A erupção durou dois dias, causando um desfecho trágico para muitos habitantes que tombaram por motivos de incineração, sufoco, projecção de pedras, ou temperaturas bastante elevadas. De acordo com estimativas modernas, julga-se que, ao todo, terão morrido cerca de 16 mil pessoas.
Quadro - "A Destruição de Pompeia e Herculano" - da autoria de John Martin
Curiosidade Histórica VI - O Flautista Hipnotizador de Hamelin
Reza a lenda de que, no ano de 1284, a povoação germânica de Hamelin foi infestada por uma terrível praga de ratos, cenário que preocupou a comunidade local que temia a letal propagação de pestes (conhecidas pelo seu efeito dizimador). Dentro deste contexto, apareceria na localidade um desconhecido que estava disposto a resolver o problema, desde que fosse devidamente recompensado pelos seus serviços - proposta que foi prontamente aceite pelo povo de Hamelin. Assim sendo, aquele sinistro homem sacou de uma flauta e começou a tocá-la, logrando cativar e/ou até hipnotizar as ratazanas, pelo seu som peculiar, até ao rio Weser, onde aquelas acabariam por morrer afogadas. Segundo a narração lendária, o flautista que havia então cumprido o seu dever, retornaria para exigir a sua recompensa, contudo a comunidade de Hamelin voltou atrás na palavra e não desejou sequer gratificá-lo. O homem, traído pelo não-cumprimento do acordo, ficaria sedento de vingança, e regressaria pouco tempo depois à localidade. De novo, voltaria a tocar flauta, tendo atraído, desta feita, todas as crianças da localidade (130 ao todo!) a segui-lo, enquanto a restante comunidade estaria a ouvir missa na Igreja local. Aquelas nunca mais foram vistas, deixando-se levar pelo "encantamento manipulador" do flautista. No entanto, subsistem versões que sugerem que as crianças morreram afogadas (tal como os ratos) no rio Weser; ou que até teriam voltado à sua terra, quando os aldeões, temendo pela sorte dos seus filhos, consentiram em pagar a verba que estava em falta com o flautista. Esta história assume claramente uma natureza lendária, mas os investigadores questionam se não terá ocorrido uma tragédia em Hamelin nos finais do século XIII que justificasse a criação e divulgação de tal mito. Há autores que acreditam que o flautista personificaria a Morte, morte essa que poderia ter vitimado várias crianças num determinado acontecimento atroz (peste, acidente grave, deslizamento de terras, depredação de um bando de malfeitores?). Também não está descartada a hipótese de inúmeras crianças da localidade terem antes emigrado, sendo neste caso o flautista - um agente recrutador - que as levaria para fins de peregrinação ou realização de campanhas militares.
Gravura presente em Hamelin (ilustração datada para o ano de 1592).
Curiosidade Histórica VII - O Herói Americano da Pérsia
Ao contrário do que muitos julgam, nem sempre os americanos foram mal vistos na Pérsia (actual Irão). No início do século XX, a realidade era, por exemplo, bastante diferente, com muitas pessoas a admirarem a emancipação dos ideais de liberdade nos Estados Unidos. Influenciados pelo espírito luminoso da civilização ocidental, núcleos revoltosos emergiriam na Pérsia contra a tirania do Xá, denunciando em simultâneo a nefasta exploração do território por parte da Rússia czarista e da Inglaterra, interessados por exemplo no monopólio do tabaco. Entre os anos de 1905 e 1909, rebentaria então a Revolução Constitucional da Pérsia que pugnaria por um regime mais democrático através da introdução dum documento oficial que estabelecesse as leis de Estado que deveriam ser seguidas por todos. Em 1906, seria mesmo estabelecida a primeira constituição do Irão, o que representou um recuo forçado por parte do regime. Descontente com estas incidências, e em simultâneo, apoiado por representantes religiosos fanáticos, o Xá da Pérsia estava disposto a conspirar contra qualquer constituição, alegando que esta seria um ultraje à religião do Profeta que deveria determinar os destinos da nação. Devido a este braço de ferro, estalariam novas revoltas e a Pérsia seria fustigada por uma sangrenta guerra civil. A uma determinada altura, as forças fundamentalistas do regime vigente reivindicaram um claro ascendente, causando muitas baixas nas forças revolucionárias. Muitos periódicos foram imediatamente encerrados. Grande parte dos grupos revolucionários refugiou-se num dos seus últimos bastiões - Tabriz. Nessa terra, professava Howard Baskerville, um jovem missionário norte-americano (natural do Estado do Nebraska) que, seguindo a sua vocação cristã, tentaria a sua sorte na longínqua Pérsia. Baskerville assumia igualmente o papel de professor de história, inglês e geometria na Escola Presbiteriana de Tabriz. Ao ver a cidade cercada pelas forças do regime tirânico, não hesitou em largar os livros e pegar em armas, dirigindo uma centena de voluntários que tentaria auxiliar na defesa da urbe. Baskerville amava os ideais de liberdade, e por causa dessas suas convicções, acabaria por tombar nos combates, quando tinha apenas 24 anos de idade. A sua morte não fora em vão porque Tabriz acabaria por resistir ao cerco. As unidades revolucionárias dali partiriam para entrarem triunfantes na capital Teerão, salvaguardando o novo sistema constitucional. Todavia, o sonho de modernização da Pérsia foi sol de pouca dura, muito devido ao facto da Rússia e da Inglaterra temerem a perda das suas regalias económicas no território. Ainda assim, e apesar do seu posterior fracasso geral, a revolução deixaria como legado o nascimento da primeira constituição e a instauração do majlis (parlamento) que, apesar de eventuais limitações, ainda permanecem no actual Irão, herdeiro dos desígnios persas. Por seu turno, Howard Baskerville foi sepultado num cemitério cristão de Tabriz diante da presença de milhares de pessoas. Na cerimónia de funeral, Hassan Taqizadhed descreveu-o desta forma: "A jovem América, na pessoa do jovem Baskerville, deu o seu sacrifício para a jovem Constituição do Irão..."
Retrato do missionário presbiteriano Howard Baskerville; Busto na Casa Constitucional de Tabriz.
Howard chegaria a Tabriz em 1907, e faleceria nos combates de 1909. |
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