Contexto
Omar Khayyam (1048-1131) não foi o único génio proveniente da Pérsia Medieval. No início do século XIII, nasceria naquela região mais uma intelectualidade ímpar. O seu nome era Maulana Jalaluddin Rumi.
Tal como Omar Khayyam, Rumi deixou igualmente um legado brilhante na poesia através das suas reflexões e sentimentos profundos. No entanto, a obra de Maulana Rumi é dotada de uma particularidade, visto que ele dedicaria, muito do seu tempo, ao estudo da teologia e do mundo espiritual. Além disso, e apesar de ambos partilharem uma origem persa, a verdade é que Rumi teve a necessidade de partir cedo rumo à Anatólia, onde viveria os momentos centrais da sua vida.
Os poemas de Rumi alcançariam uma grande difusão em várias regiões do Oriente – Irão, Afeganistão, Tadjiquistão, Turquia…
A sua obra é hoje praticamente conhecida em todos os continentes, e o seu prestígio é indubitavelmente reconhecido pelos grandes círculos intelectuais modernos.
Imagem nº 1 - A civilização medieval islâmica deixou-nos nomes de grandes poetas, matemáticos, filósofos e cientistas.
Retirada de: http://www.islamawareness.net/Maths/science_and_math.html
Retirada de: http://www.islamawareness.net/Maths/science_and_math.html
Juventude e o início da sua “carreira teológica”
Rumi nasceu em 30 de Setembro de 1207, na região de Balj (actual Afeganistão). A sua mãe era Mumina Khatun, enquanto o seu pai era Bahaduddin Walad. Este último exercia o papel de teólogo, jurista e místico, conservando alguma influência no meio popular. Todavia, as invasões violentas dos mongóis (1215-1220) perpetradas na extensa região da Ásia Central, forçaram esta família e um grupo de discípulos a procurarem outras paragens mais seguras localizadas a oeste. A sua caravana percorreria várias terras muçulmanas (Bagdade, Meca, Medina, Alepo, Damasco, Malatya, Erzincan, Sivas, Kayseri e Nidge) até que, por fim, os viajantes se instalariam permanentemente em Konya (cidade que corresponde hoje a uma região central da “Turquia Asiática”). Durante este longo trajecto, e apesar da sua idade menor, o nosso biografado teve a oportunidade de trocar as primeiras impressões com um leque de eruditos. Um deles terá sido o poeta persa sufi Farid al-din Attar que, em Nishapur, lhe confiou uma cópia da sua obra “Asrar Nameh” (“Livro dos Segredos"), além de prever a ascensão espiritual da criança nos tempos vindouros.
Em Konya, destino final do seu percurso, a sua família foi recebida com respeito, tal como muitas outras que haviam chegado a esta terra da Anatólia com o intuito de escaparem às derradeiras depredações mongóis que tinham varrido várias cidades orientais da Pérsia.
Naturalmente influenciado pelas práticas de seu pai, Rumi aderiria ao Sufismo (modo de adoração peculiar na religião islâmica que assume uma natureza mística, contemplativa e ascética), tentando adquirir vários conhecimentos sobre o mundo espiritual. Ele seria ainda discípulo de Sayyed Burhan ud-Din Muhaqqiq Termazi, amigo próximo de Bahaduddin, pai de Rumi, que forneceria, durante nove anos, vários ensinamentos ao jovem.
No ano de 1231, o então honrado místico Bahaduddin Walad acabaria por falecer, transmitindo a “liderança dos assuntos espirituais” ao seu filho que, na altura, contava com 24 anos. Dentro deste contexto, Maulana Rumi assumirá o papel de mestre/professor religioso e, deste modo, pregará eloquentemente nas mesquitas de Konya.
Imagem nº 2 - Rumi, Mestre Sufi, reunido com os seus seguidores.
Retirada da Página do Wikipédia
Amadurecimento, Influências e Obra
Entre os anos de 1240 e 1244, Rumi fundou então um círculo importante de seguidores em Konya. Algumas fontes salientam que, naquela época, já contaria com cerca de 10 mil crentes ou estudantes na sua madrasa ou escola teológica, nomeadamente pedreiros, merceeiros, tecelões, chapeleiros, carpinteiros, alfaiates, encadernadores, etc.
A sua comunidade sufi dedicar-se-ia à aprendizagem espiritual, à meditação e ainda a inúmeras práticas de altruísmo dirigidas aos mais pobres.
No ano de 1244, Rumi conhece o dervixe Shams-e-Tabrizi que provinha de uma estadia curta em Bagdade. Este encontro inesperado acabaria por mudar a vida de Rumi para sempre. Desde logo, Rumi nutriria uma grande afeição por Shams, e inspirado por este, abraçaria finalmente a arte da poesia, versando o seu amor pela Humanidade. Estas duas personalidades marcariam inclusive uma era na história do Sufismo. No entanto, em 1248, Shams desaparece misteriosamente sem deixar rasto. Suspeita-se que terá sido assassinado por discípulos de Rumi que sentiam inveja da sua excessiva proximidade para com o mestre.
Apesar de não ter assumido certezas absolutas quanto ao destino de Shams, Rumi muito sofreu com o seu desaparecimento. O nosso biografado viajou, durante dois anos, rumo a paragens distanciadas (por exemplo: Damasco), na ilusão de reencontrar o seu amigo, caso este ainda estivesse vivo. Aceitando, por fim, a dura realidade de que poderia nunca mais voltar a ver Shams, Rumi iria dedicar-lhe, em jeito de homenagem, a sua famosa obra poética Diwan-e Shams-e Tabrizi, escrita em língua persa e que incluiria rubaiatas (estrofes de quatro versos) e ghazals (odes). O seu novo livro iria conter cerca de 45 mil versos!
Rumi regressaria novamente a Konya para continuar a ministrar os ensinamentos sufis. A ele se atribui a criação da dança espiritual dos dervixes giróvagos (ao som de flautas e tambores), o que granjeou prestígio à Orden Mevleví nos séculos posteriores. Aliás, o Sufismo preconizava expressões musicais e movimentos associados como forma de consolidar uma relação directa, íntima e contínua com Deus.
Entretanto, Rumi desenvolveria uma nova grande amizade, desta feita, com Husamedín Chelebi, sendo que este último o incentivaria a redigir um trabalho místico. Aceitando o desafio que lhe foi proposto, o nosso biografado compôs uma obra determinante – o “Masnavi”. Enquanto Rumi pronunciava oralmente os seus pensamentos (inseridos especialmente na vertente espiritual), Husamedín anotava-os cuidadosamente, gerando assim uma colectânea marcante do Sufismo composta por seis volumes.
Imagem nº 3 - Retrato de Maulana Rumi, sábio que daria cartas na Poesia e Teologia Sufi.
Retirada de: http://fractalenlightenment.com/pt/35253/spirituality/6-quotes-from-rumi-to-inspire-devotion-and-creative-love
A Morte de um Génio
No dia 17 de Dezembro de 1273, Maulana Rumi deixaria este mundo que tão amava, sucumbindo a uma enfermidade. Seria enterrado em Konya, terra que prontamente o acolheu quando a sua família fugia da Pérsia então fustigada pelas investidas mongóis. A sua tumba é, ainda nos dias de hoje, visitada por muitos sufis, muçulmanos e uma infinidade de admiradores que não olvidaram o seu legado.
A obra de Rumi seria posteriormente traduzida para diversos idiomas (russo, alemão, turco, árabe, francês, italiano, espanhol) e inspiraria inclusive muitos artistas. A sua popularidade ultrapassou fronteiras nacionais e étnicas. Os seus versos ensinam-nos que o amor é o sentimento mais belo que deve ser cultivado pela Humanidade, e que o caminho até Deus se faz através da simplicidade, da bondade e da pureza.
Imagem nº 4 - O túmulo de Maulana Rumi num Mausoléu situado em Konya (actual Turquia).
Retirada da Página do Wikipédia
Poemas da autoria de Maulana Rumi (1207-1273)
“Se queres a Lua,
Não te escondas da noite.
Se queres uma rosa,
Não fujas dos espinhos.
Se queres amor,
Não te escondas de ti mesmo”.
“Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
E reflecte, como a mina de rubis,
Os raios de Sol para fora de ti.
A viagem conduzirá a teu ser,
Transmutará teu pó em ouro puro”.
“Não professo religião alguma,
A minha religião é o amor,
Cada coração é meu templo”.
“Ontem eu era inteligente,
Queria mudar o mundo.
Hoje eu sou sábio,
Estou a mudar a mim mesmo”.
“Não temos nada além do amor,
Não temos antes, princípio nem fim,
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!”.
“Não se lamente.
O que se perde
Retorna de outra forma”
Imagem nº 5 - Mais um poema da autoria de Rumi sobre a natureza humana e o aperfeiçoamento espiritual.
Imagem nº 6 - "A Vida é um balanço entre segurar e deixar partir" - Rumi.
Retirada de: http://www.suficomics.com/rumi-quotes/
Notas-Extra:
1. Rumi deixou descendência. Sabemos que Veled (também conhecido como Walad) foi o seu filho mais velho.
2. O seu apelido de “Rumi” poderá estar relacionado com o facto da sua terra de residência - Konya - se situar, na altura, no Sultanato de Rum (região que, durante muito tempo, tinha sido bizantina ou romana, antes de ser conquistada definitivamente pelos turcos seljúcidas). Já em relação ao seu primeiro nome, optamos pela designação de "Maulana", mas também existem notas biográficas que se referem a ele como "Mevlana", "Mawlana" ou "Moulana".
3. O dervixe é um religioso muçulmano que segue uma vida pobreza e austeridade. A sua acção enquadra-se nas práticas do Islamismo Sufista.
4. De acordo com uma notícia da BBC, Rumi era o poeta mais “vendido” nos Estados Unidos da América no decurso dos últimos anos. A sua obra causou igualmente um grande impacto no Ocidente.
Referências Consultadas:
- http://www.thefamouspeople.com/profiles/rumi-20.php#OTqSYjdT5yP8I0hV.99, (Consultado em: 25-03-2016).
- http://www.rumi.net/about_rumi_main.htm, (Consultado em: 25-03-2016).
- https://www.poets.org/poetsorg/poet/jalal-al-din-rumi, (Consultado em: 25-03-2016).
- http://www.onelittleangel.com/wisdom/quotes/rumi.asp, (Consultado em: 25-03-2016).
- http://www.poemhunter.com/mewlana-jalaluddin-rumi/biography/, (Consultado em: 25-03-2016).
Mais um pequeno apontamento:
ResponderEliminarComo dissemos, a terra de nascença de Rumi é Balj - Afeganistão. No entanto, este topónimo também surge designado como Balkh.
E também achamos importante realçar que a quantificação do número de versos em torno da obra de Rumi tem sido bastante discutível. Já observamos referência a 45 mil versos da sua autoria, mas as desproporções podem ir desde os 4500 até aos 70 000 versos. De qualquer das formas, Rumi deixou-nos uma quantidade considerável de poemas que se traduziram naturalmente num número quase infindável de versos.
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