No decurso da nossa visita ao Castro de Ovil, ocorrida no dia 13 de Junho de 2015, e que foi exemplarmente conduzida pelo arqueólogo Jorge Salvador, tivemos a oportunidade de recolher algumas anotações sobre a pertinência histórica deste povoado pré-romano. Dada a sua relevância para a história local, consideramos que seria interessante a publicação destes apontamentos.
Na Idade do Ferro, as povoações do noroeste da Península Ibérica viviam em castros, isto é, aldeias fortificadas e situadas em colinas de onde poderiam usufruir duma vantajosa visibilidade.
O Castro de Ovil situa-se no lugar do Monte que, por seu turno, se insere na Freguesia de Paramos (Município de Espinho, Distrito de Aveiro). De acordo com as balizas cronológicas avançadas pelo referido arqueólogo, este sítio conhece as suas origens no século IV a. C., e terá sido povoado até ao primeiro quartel do séc. I d. C. Julga-se que o seu abandono poderá estar directamente relacionado com a consolidação da ocupação romana na Hispânia.
No seu próprio sentido de configuração, o povoado estaria protegido a Norte e a Nordeste por fossos profundos (difíceis de trepar ou escalar) e pela ribeira de Rio Maior que, localizada a Sul, constituiria um obstáculo natural a potenciais intrusos. Estas especificidades asseguravam as condições mínimas de defesa, sobretudo na eventualidade de existirem bandos de salteadores que estivessem dispostos a assolar a zona.
No interior do castro propriamente dito, destacavam-se as estruturas circulares (revestidas de xisto e argamassa) que outrora serviram de habitações indígenas. Algumas possuíam à sua frente um vestíbulo.
Em termos económicos, esta comunidade pré-romana deveria garantir a sua auto-sustentabilidade através da recolecção, caça, pesca (proximidade de cursos de água tais como a ribeira de Rio Maior, a lagoa de Ovil - actual Barrinha de Esmoriz/Lagoa de Paramos, e o mar), agricultura (embora incipiente) e criação de gado (talvez caprino).
O seu culto religioso seria essencialmente politeísta, talvez assente na veneração de deuses ou elementos ligados à Natureza (por exemplo, poderia ser o caso do Sol: o arqueólogo Jorge Salvador confidenciou-nos que terão existido gravuras inscritas em pedra que remetiam para uma eventual adoração daquela estrela central e nevrálgica do nosso Sistema Solar; caso se confirme esta leitura, então estaremos perante uma adoração de características animistas). Sabemos ainda que os indígenas recorriam à incineração dos seus mortos.
Segundo uma estimativa avançada para o local, terão vivido, no auge da sua ocupação, cerca de 200 pessoas. A esperança média de vida deveria rondar, na época, os 35 anos. É evidente que estes números de pendor demográfico carecem de sustentação científica, mas parecem ser, à primeira vista, minimamente realistas.
Naquele espaço arqueológico, foram ainda recolhidos milhares de fragmentos de materiais antigos (cerâmicas indígenas, potes, panelas, talhas, vasos de suspensão, alguidares; cossoiros, pesos de tear, pesos de rede, pedaços de barro, escórias de fundição, mós de vaivém; objectos de adorno pessoal - contas de colar em pasta vítrea ou fíbulas em bronze; ponta de uma lança em ferro para fins bélicos). No entanto, não foram detectados vestígios romanos o que indicia muito provavelmente o abandono do castro numa altura precedente à chegada dos soldados de Roma àquela região em concreto.
Curiosamente, e pese a sua inequívoca antiguidade, o Castro de Ovil só seria finalmente (re)descoberto e identificado pelos investigadores contemporâneos em 1981.
Situada próxima deste sítio arqueológico, encontramos as ruínas da extinta Fábrica de Papel "Castelo" (fundada em 1836 e desactivada posteriormente em 1975), envolvidas por um espaço verdejante envolvente que tornou agradável e convidativa a nossa digressão.
Imagem nº 1 - O primeiro núcleo habitacional do Castro que tivemos a oportunidade de visitar.
Foto da nossa autoria
Imagem nº 2 - Os alicerces de mais uma estrutura/habitação circular com o seu respectivo vestíbulo.
Foto da nossa autoria
Imagem nº 3 - O Castro de Ovil situa-se numa escarpa e foi erguido na Idade do Ferro.
Foto da nossa autoria
Imagem nº 4 - As ruínas da antiga Fábrica do Papel situam-se nas imediações do Castro de Ovil.
Foto da nossa autoria
Nota-extra - Há outros estudos que remetem as origens do Castro de Ovil para o século II a. C. (ou até para o século III a. C.). Também é importante assinalar que os achados até então recolhidos confirmam a existência dum artesanato autóctone.
Referências Consultadas:
- http://portal.cm-espinho.pt/pt/turismo/visitar-e-desfrutar/o-que-ver/locais-tipicos-e-historicos/estacao-arqueologica-castro-de-ovil/, (Consultado em: 17-06-2015).
- http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=731, (Artigo da autoria de Carlos Ruão, e actualização de Anouk Costa; Site SIPA, consultado em: 17-06-2015).
- http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10061.pdf, (Documento da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Coordenação de Vítor Oliveira Jorge, consultado em: 17-06-2015).
- http://www.campoaberto.pt/wp-content/uploads/2014/03/espacos.pdf, (Consultado em: 17-06-2015).
- Testemunho do arqueólogo Jorge Salvador (conhecedor assíduo do sítio arqueológico) no decurso da visita guiada realizada a pedido das entidades Campo Aberto (Porto) e Movimento Cívico Pró-Barrinha (Esmoriz)
Sem comentários:
Enviar um comentário