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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A Lenda do Galo de Barcelos


Contexto: O Galo de Barcelos nos dias de hoje


O "Galo de Barcelos" constitui uma das principais tradições mitológicas de Portugal, além de se traduzir num valioso cartão-de-visita do artesanato luso. Como o nome nos indica, o produto conhece as suas raízes históricas no município de Barcelos, localizado no Distrito de Braga. 
São inúmeros os cidadãos portugueses e turistas estrangeiros que não hesitam em adquirir um exemplar, visto que rapidamente se rendem à originalidade e simbolismo do produto.
Sobre o peculiar formato do moderno "Galo de Barcelos", podemos salientar os seguintes traços característicos: o seu corpo preto (com bordas multicoloridas), a sua crista vermelha, os seus corações vermelhos (símbolos do amor; circundados por bolinhas brancas que nos remetem figuradamente para a paz), o trevo de quatro folhas (símbolo da sorte), folhas verdes (que imitam as das oliveiras) e miosótis coloridos (símbolo silvestre). Podem existir casos de exemplares que não assimilem todos estes pormenores artísticos. No entanto, facilmente podemos concluir que, duma forma geral, o pequeno "Galo de Barcelos", confeccionado em barro e com uma essência multicolorida, apresenta a sua cabeça bem erguida e demonstra inclusive um certo ar viril de desafio. Talvez seja esta postura elegante e orgulhosa do galo que logra despertar a curiosidade e o espanto daqueles que, pela primeira vez, se deparam com esta tradição enraizada no Norte de Portugal.





Imagem nº 1 - O "Galo de Barcelos" é um dos produtos mais prestigiantes do artesanato português, transportando consigo uma grande dose de simbolismo, superstição e mitologia.




A Lenda do Galo de Barcelos



Como já tínhamos mencionado, há uma lenda que se encontra associada ao "Galo de Barcelos" e que terá assim justificado a existência deste produto artesanal. Dentro deste contexto, iremos agora proceder à respectiva narração.
Tudo terá começado com a ocorrência dum grave crime que prontamente fez alarmar os habitantes de Barcelos. O criminoso ainda não tinha sido capturado, o que causou perturbação e receio na população local. Num certo dia, apareceu um galego que logo suscitou suspeitas e desconfianças. As autoridades decidiram prendê-lo, ignorando os seus juramentos de inocência e a sua versão de que estava apenas de passagem no âmbito duma peregrinação rumo a Santiago de Compostela, onde tencionava aí cumprir uma promessa. O réu alegava ainda em sua defesa que era um fervoroso devoto do Santo (São Tiago) e que nutria semelhante adoração por São Paulo e Nossa Senhora. Todavia, os seus argumentos foram, num primeiro momento, ignorados.
O homem acabou por ser condenado à forca, mas mesmo assim, procurou confrontar o juiz que o havia sentenciado à pena capital.  Esta sua solicitação acabou por ser viabilizada. Quando o levaram à residência do magistrado, decorria um banquete, onde estavam presentes familiares e amigos do oficial de justiça. O galego reafirmou a sua inocência, e perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:


 "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem!"


Como é natural, irromperam risos e comentários trocistas à mesa. O apelo do condenado não seria, para já, tido em conta pelo juiz que ainda se encontrava convicto da sua decisão. No entanto, e por algum motivo, ninguém tinha ousado tocar no galo. 
Quando o homem estava para ser enforcado, o galo "assado" ergueu-se na mesa e cantou, deixando todos perplexos. Reconhecendo o seu erro, o juiz foi a correr para a forca, onde evitou a tempo a execução, ordenando a libertação imediata do acusado.
O galego foi-se embora em paz, mas voltaria alguns anos mais tarde, para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor a Virgem Maria e a São Tiago, monumento que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos. 
Não sabemos se esta lenda popular conhece algum fundo de verdade no que diz respeito a alguns pormenores da sua narração. É lógico que um galo morto jamais cantaria a uma mesa (e daí ser um relato de natureza mitológica!), mas não deixa de ser um elemento curioso o facto do Cruzeiro do Senhor do Galo (talvez datado dos inícios do séc. XVIII) ser um monumento real que se encontra intimamente conotado com a lenda. Por isso, interroga-mo-nos se o galego era uma personagem totalmente ficcional (e assim sendo, a narração seria somente fruto da imaginação popular) ou se a sua existência era afinal real, embora nesta última eventualidade, a história tenha sido moldada ou alterada pelos boatos deturpadores dos habitantes ao longo dos últimos séculos. 
Não obstante, esta lenda não deixa de ser uma das mais fascinantes de Portugal e talvez até da Europa, pois concilia crenças religiosas (efectua menção à célebre e milenar peregrinação que se destinava a Santiago de Compostela), a ineficácia duma justiça que outrora não tinha em conta a presunção de inocência, o clima de insegurança que chegou a marcar as eras mais antigas, a tradição rural da criação de gado/avicultura (e daí o surgimento do "galo")... 
Em jeito de conclusão, o "Galo de Barcelos", como elemento marcante do artesanato e mitologia nacionais, deve ser conservado e valorizado, pois não deixa de ser parte integrante do nosso diversificado património.





Imagem nº 2 - De acordo com a lenda, um peregrino galego terá sido o bode expiatório dum grave crime que teria ocorrido em Barcelos. Segundo a narração mitológica, o canto dum "galo morto e assado" terá impedido ou até interrompido o seu processo de execução.




Imagem nº 3- O Cruzeiro do Senhor do Galo situa-se no Museu Arqueológico de Barcelos. Em termos pictóricos, a escultura exibe um homem (que deveria então corresponder ao mencionado galego) com uma corda amarrada ao pescoço (surge assim retratado o cenário preparatório da forca). Por baixo, está outra figura (crê-se que seja a do apóstolo São Tiago, pelo qual o galego nutria uma especial devoção visto que ia em peregrinação até Compostela) que procura suster as plantas dos pés do homem. Em cima da coluna, encontra-se a Cruz com Cristo crucificado, mas na sua base inferior pode ser observado um galo (o célebre "Galo de Barcelos").




Notas-extra:


1 - A lenda poderá remontar à Era Medieval ou à Idade Moderna, embora não existam dados concretos que permitam identificar, com rigor e precisão, a sua origem cronológica.

2 - O "Galo de Barcelos" atingiu o expoente máximo do seu reconhecimento durante o século XX. Esta peça artesanal do Minho foi promovida pela política cultural e folclórica do Estado Novo. A sua difusão internacional ocorreu, pela primeira vez, em Genebra no âmbito da "Exposição de Arte Popular Portuguesa" realizada em 1935. Um ano mais tarde, esta exposição repete-se em Lisboa, alcançando um tremendo sucesso. Nas décadas de 50 e 60, o Galo de Barcelos transformou-se num símbolo do turismo nacional e ícone da identidade de uma nação. O seu impacto começou a ser cada vez mais evidente. Após a revolução de 1974, o produto adapta-se à nova realidade de um país que oferece ao mundo o privilégio da "Liberdade". Na actualidade, o Galo de Barcelos ainda se configura como um símbolo de identidade nacional que mantém assim o seu elevado impacto turístico. 

3 - A descrição que foi efectuada, na parte inicial do artigo, sobre os traços característicos desta peça artesanal, corresponde aos ditames do seu "fabrico" moderno que se tornou bastante popular pelas mãos de António Ferro (Secretariado de Propaganda Nacional). No entanto, esta não teria sido a confecção original ou primitiva do Galo de Barcelos que chegou a conhecer uma criação artística distinta (embora seguramente não tão conhecida ou divulgada) e que também esteve fortemente conotada com a lenda.

4 - Em termos supersticiosos, conhecemos igualmente casos de pessoas que compram este produto artesanal porque acreditam que o mesmo lhes poderá trazer sorte e felicidade às suas vidas.



Referências Consultadas:

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