Os seus primeiros anos (1330-1355)
Eduardo nasceu em 15 de Junho de 1330 em Woodstock (Oxfordshire). Era o filho mais velho do rei inglês Eduardo III - soberano que ficaria conhecido por ter reivindicado as suas pretensões ao trono francês (ler o nosso artigo elaborado recentemente sobre a vida de "Joana d'Arc"), alegando que Filipe VI de França não deveria ser o herdeiro legítimo de Carlos IV, soberano falecido em 1328 que não tinha deixado descendentes masculinos. O nosso biografado era igualmente filho de Filipa de Hainault, rainha consorte de Inglaterra e esposa de Eduardo III, que ficaria conhecida pelos seus actos de bondade para com o seu povo, granjeando assim uma considerável popularidade.
No ano de 1343, Eduardo seria apontado como Príncipe de Gales, estatuto que lhe conferiu imediato prestígio. Também teria sido anteriormente "agraciado" com os títulos nobiliárquicos de Conde de Chester e Duque de Cornwall. Desde cedo, o jovem príncipe aprende as técnicas, os estratagemas e os segredos da arte militar, ensinamentos que tenciona aprimorar através de treinos árduos. Os historiadores acreditam que ele teria ingressado na nascente Ordem da Jarreteira (Order of the Garter), fundada pelo seu pai e que se destinava a formar os melhores cavaleiros daquela era.
Contando apenas com 16 anos de idade, Eduardo alcançaria o seu primeiro grande feito militar, desempenhando um papel relevante na vitória das forças inglesas encabeçadas pelo rei Eduardo III na Batalha de Crécy (26 de Agosto de 1346) que, mediante o recurso aos seus exímios arqueiros, trucidariam as tropas francesas de Filipe VI. Nesse confronto, o Príncipe de Gales liderava um dos principais corpos de infantaria que resistiu habilmente às investidas dos cavaleiros franceses. Esta seria a primeira vitória estrondosa registada pelos invasores ingleses em solo francês, permitindo assim algumas conquistas territoriais.
Efectivamente, Eduardo tornar-se-ia num dos mais prestigiados líderes ingleses que se evidenciariam na Guerra dos Cem Anos. Seria neste palco que obteria os maiores êxitos belicistas, convertendo-se numa personalidade temida pelos seus adversários.
No ano de 1355, foi designado tenente régio da Gasconha (região inserida no ducado da Aquitânia que se encontrava sobre a batuta inglesa). Nessa altura, o príncipe já contava com 25 anos de idade, e acompanhava de perto as inovações militares do seu tempo. Não será pois de estranhar que tenha privilegiado a formação de arqueiros ingleses e galeses para assim consolidar as posições conquistadas em França. A utilização em força da "cavalaria pesada" já não garantia a mesma eficácia de vitórias que se tinha verificado outrora. Eduardo já deveria ter perfeita noção desse facto, pelo menos, desde a Batalha de Crécy.
Imagem nº 1 - O Príncipe Eduardo integrou a nascente Ordem da Jarreteira, onde adquiriu vários ensinamentos sobre a arte militar. Era filho do rei inglês Eduardo III e da sua esposa Filipa de Hainault.
Ilustração do Bruges Garter Book (1453)
Retirada em simultâneo do Wikipédia
A Batalha de Poitiers (1356)
No ano de 1355, terminava uma trégua de oito anos que havia sido acordada entre a França e a Inglaterra, contudo ambas as partes não estavam muito interessadas em assinar um acordo de paz permanente. Neste âmbito, o conflito reemergiria violentamente no território francês. O rei inglês Eduardo III, sem nunca deixar de reclamar os seus direitos, voltou à carga com o seu exército, atravessando o Canal da Mancha para promover raides devastadores no Norte da França. O seu segundo filho, John of Gaunt, liderou igualmente investidas na Normandia. Por seu turno, o seu filho primogénito - Eduardo, Príncipe de Gales marchou com as suas forças desde a Aquitânia (situada no Sudoeste de França) até às regiões centrais de França.
Destas três campanhas realizadas praticamente em simultâneo, a do Príncipe Negro era indiscutivelmente a mais ousada e ameaçadora para as hostes francesas, visto que era dirigida contra posições nevrálgicas do reino.
Eduardo liderava um exército não muito numeroso, mas que se encontrava minimamente bem organizado para operar em qualquer eventualidade. Segundo algumas estimativas modernas, a sua armada seria constituída por 8000 cavaleiros (4 mil de cavalaria pesada e 4 mil de cavalaria ligeira), 3000 arqueiros e 1000 peões de infantaria, o que perfazia um total de 12 mil efectivos. No entanto, estes números apresentados são bastante discutíveis, pois existem teorias que tendem a considerar a possibilidade da força do Príncipe de Gales ter sido afinal bem inferior em termos quantitativos (há mesmo autores que se referem à eventualidade do exército em questão ter albergado apenas 6 000 homens no seu todo).
Talvez consciente das limitações do seu exército de médias dimensões, Eduardo evitou aproximar-se de regiões fortificadas, saqueando apenas as localidades mais desprotegidas.
As suas movimentações geraram uma profunda preocupação no rei João II, o Bom, que havia sucedido no trono francês a Filipe VI em 1350 e que prontamente reagiria ao reiniciar das hostilidades em 1356.
Neste âmbito, o Príncipe Eduardo tem conhecimento de que um poderoso exército francês liderado pelo rei João já tinha atravessado o rio Loire para assim o enfrentar imediatamente. Esta notícia causou uma profunda apreensão nos destacamentos ingleses que receavam agora a iminente chegada dum adversário numericamente superior. Eduardo não estava inicialmente predisposto a travar uma batalha em campo aberto, talvez porque respeitava seriamente a capacidade militar do seu oponente. Por isso mesmo, o exército inglês ruma agora a Sul num ritmo apressado, contudo o "comboio" que transportava a respectiva bagagem não permitia uma retirada mais acelerada. Sabendo destas intenções, os franceses movem-se rapidamente, logrando interceptar as tropas do Príncipe Negro a 5 km a este de Poitiers.
Forçado a um confronto que não desejava, Eduardo não tem outra opção senão escolher meticulosamente a posição em que deseja concentrar as suas forças para o engajamento final. Decide então instalar-se numa ladeira (ou aclive), encontrando-se esta protegida à esquerda por um pântano e um curso de água, enquanto que, à frente das suas linhas, existia uma longa e quase improvisada "sebe" (ou antes um espesso bosque) com uma única "brecha" que seria salvaguardada por quatro cavaleiros. No flanco direito, que se encontrava mais exposto, Eduardo decidiu colocar aí o seu vagão (o veículo que transportava então a bagagem das suas tropas), talvez com o intuito de o utilizar como uma espécie de barreira.
Apesar do local proporcionar vantagens do ponto de vista defensivo, o Príncipe Negro ainda manifestava uma enorme hesitação em travar a batalha. Na madrugada de 19 de Setembro de 1356, Eduardo tentou uma retirada discreta, contudo os franceses, detectaram novamente os movimentos, e passaram agora ao ataque. O filho do rei Eduardo III não tem outra hipótese senão recompor rapidamente as suas forças e enfrentar as investidas do adversário. Insistir numa fuga, provavelmente desorganizada, faria com que os seus homens fossem perseguidos violentamente, cenário que culminaria decerto numa derrota humilhante. Dentro deste contexto, o Príncipe de Gales colocou à frente os seus arqueiros (localizados mesmo atrás da vasta "sebe") e mandou ainda desmontar todos os seus cavaleiros com excepção feita a uma pequena força de reserva que ficaria no vulnerável flanco direito.
À semelhança da batalha de Crécy, travada dez anos antes, os franceses estão igualmente em clara vantagem numérica. Ao todo, o exército do rei João II incorpora nas suas fileiras cerca de 40 mil homens repartidos por quatro divisões (cada uma talvez composta por cerca de 10 mil efectivos). Apenas um dos quatro batalhões mantém os seus cavaleiros montados, enquanto todos os outros tiveram que desmontar. Todavia, esta estratégia não surtiu o efeito desejado, porque retirou mobilidade e factor surpresa às forças francesas.
O primeiro batalhão francês, constituído então pela cavalaria pesada, avançou finalmente sobre as linhas inglesas, subindo a mencionada inclinação topográfica. O seu objectivo passava por perfurar triunfantemente pela brecha da "sebe", procurando semear o pânico e o terror nos soldados do Príncipe Eduardo. No entanto, os seus planos sairiam frustrados, visto que os exímios arqueiros ingleses alvejariam muitos dos cavaleiros franceses que seguiam na ofensiva. Outros tombariam na luta corpo-a-corpo.
Por seu turno, os arqueiros franceses que estavam posicionados atrás desta força de cavalaria nem sequer tiveram tempo de abrir fogo sobre o adversário.
Entretanto segue-se um segundo contingente que, liderado pelo delfim Carlos (futuro Carlos V de França), procura carregar sobre as posições inglesas. A carnificina terá sido bem mais evidente durante esta segunda tentativa dos franceses em desalojar os adversários da sua posição cimeira. Os arqueiros ingleses, devidamente posicionados no terreno, voltaram a ser cruciais para assim debilitar os argumentos do adversário. No entanto, há a mencionar que os franceses, apesar das elevadas baixas sofridas devido à incessante "chuva de flechas", chegaram desta vez com aceitável ímpeto ao cume da elevação, onde estiveram perto de quebrar as linhas do oponente, cenário agitador que obrigou o Príncipe Eduardo a recorrer à sua força de reserva (cavalaria) que aliviou a pressão então exercida pelos soldados do filho primogénito do rei D. João II. O engajamento foi sangrento, mas os ingleses conseguiriam suportar esta segunda investida do adversário, bem mais dura do que a anterior.
Enquanto os franceses procuravam encetar um terceiro ataque, os ingleses tentaram recuperar as flechas que tinham cravado nos corpos dos inimigos, agora autênticos cadáveres que jaziam no solo. Talvez este procedimento seja justificado pela escassez de setas que agora ameaçava a posição dos arqueiros do Príncipe Negro.
O terceiro batalhão francês comandado pelo jovem Filipe, Duque de Orleães e segundo filho do rei D. João II, irá acobardar-se durante o seu ataque, abandonando de forma inglória o campo de batalha.
Com apenas um batalhão ao seu dispor, o rei francês D. João II decidiu avançar com todos os homens que lhe restavam. Semelhante opção é tomada pelo príncipe Eduardo que ordena igualmente um ataque total da sua armada. Neste preciso momento, a diferenciação numérica entre as duas forças já seria praticamente nula. A luta volta a ser intensa com ambos os lados a sofrerem consideráveis baixas. Muitos dos arqueiros ingleses são obrigados a recorrer a facas para lutar corpo-a-corpo com o oponente. Entretanto, Eduardo concede instruções para que a sua força de reserva (cavalaria) tente contornar um dos flancos do adversário, procurando assim atacá-lo depois na retaguarda. Esta acção estratégica terá sido decisiva, "catapultando" os ingleses para o triunfo final. Apesar da bravura evidenciada, D. João II, rei de França, acabou por ser render juntamente com a sua guarda-real. Muitos dos nobres franceses que o acompanhavam na investida tiveram pior sorte, acabando massacrados nos combates travados.
O rei de França seria mesmo detido e enviado como prisioneiro para Inglaterra. Desde logo, os franceses comprometeram-se a pagar um elevado resgate e procederam inclusive ao envio de reféns (como garantes do futuro cumprimento financeiro do resgate exigido) para assim lograrem a libertação do seu soberano em 1360 (isto é, quatro anos depois da batalha de Poitiers). Contudo, quando D. João II regressou ao reino francês, logo constatou que o seu tesouro real encontrava-se esgotado de recursos, gorando a possibilidade dum pagamento imediato da verba acordada (fixada em 3 milhões de coroas). Ao ter ainda conhecimento de que, algum tempo depois, o seu filho Luís de Anjou (o então principal refém no âmbito do acordo firmado) tinha escapado de Londres, o rei D. João II entregou-se aos ingleses, num acto invulgar de honra e de respeito máximo pelo anterior tratado celebrado, tendo adoecido e morrido poucos meses depois em Londres (ano de 1364).
Em jeito de balanço, esta vitória do Príncipe de Gales, ao início inesperada, representou um duro golpe nas aspirações do partido francês que, durante os próximos anos, perderia o seu principal representante político e se afundaria em acérrimas divisões internas. Não podemos igualmente negar o mérito de Eduardo que não hesitou em derrotar um exército oponente de proporções numéricas bem superiores. A facção inglesa preservaria o seu ascendente, pelo menos, por mais algum tempo.
Tabela nº 1 - As estatísticas inerentes à Batalha de Poitiers (1356).
A Batalha de Nájera (1367)
No ano de 1362, Eduardo iria casar-se com Joana de Kent e tornar-se-ia ainda, por incumbência do seu pai (o rei de Inglaterra - Eduardo III), príncipe da Aquitânia e Gasconha (regiões do sudoeste de França submetidas à influência inglesa; deteve oficialmente este título entre 1362 e 1372). Era inegável o prestígio que tinha alcançado na Guerra dos Cem Anos, servindo a facção inglesa com o seu inolvidável carisma, além de demonstrar os seus dotes de liderança militar.
O conflito da Guerra dos Cem Anos encontrava-se novamente pausado desde a Paz de Brétigny firmada em 1360. Apesar da frequente instabilidade, este cenário de interrupção das hostilidades em solo francês permaneceria até ao ano de 1368, ano em que o acordo é quebrado.
Entretanto, uma Guerra Civil irrompe no reino de Castela (durará entre os anos de 1366 e 1369), onde D. Pedro (acabado de ser deposto) e o seu meio-irmão D. Henrique se tornam pretendentes rivais ao trono. Nesta conjuntura, os partidos inglês e francês não hesitaram em envolver-se no conflito, procurando retirar dividendos políticos, militares, económicos e diplomáticos.
Bertrand du Guesclin colocou-se do lado de D. Henrique, enquanto que D. Pedro solicitou auxílio a Eduardo, Príncipe de Gales.
Efectivamente, o Príncipe Negro partiu da Aquitânia com a sua armada, rumando a Castela. Nas suas fileiras, contava igualmente com o contributo de individualidades conceituadas tais como Sir John Chandos e John de Gaunt.
As movimentações de ambos os exércitos, envolvidos naquela disputa política, iriam culminar na batalha de Nájera, travada em 3 de Abril de 1367 na região da "Rioja" (actual Norte de Espanha).
As tropas franco-castelhanas, comandadas por D. Henrique e Bertrand du Guesclin, são numericamente superiores às forças adversárias que combinavam efectivos castelhanos e ingleses que seriam liderados por D. Pedro e Eduardo, Príncipe de Gales. Segundo estimativas conhecidas, os franco-castelhanos seriam cerca de 60 mil ao todo, enquanto os anglo-castelhanos teriam nas suas fileiras 28 mil combatentes.
Respeitando demasiado a eficácia dos arqueiros ingleses, os comandantes franceses mais experimentados avisaram Bertrand du Guesclin para evitar uma batalha em campo aberto, sugerindo, em alternativa, que se cortassem as linhas de abastecimento às forças do Príncipe Eduardo. No entanto, esta movimentação foi infrutífera, visto que os arqueiros ingleses souberam reposicionar-se no terreno, dizimando boa parte da cavalaria inimiga. Os infantes anglo-castelhanos foram também superiores no choque derradeiro travado com os soldados franco-castelhanos. É plausível que estes últimos tivessem perdido rapidamente a sua organização, acabando por se dispersar. Neste contexto, D. Henrique conseguiu escapulir-se a tempo, mas o comandante francês Bertrand du Guesclin acabou por ser capturado, sendo libertado posteriormente mediante o pagamento dum elevado resgate.
D. Pedro recuperaria o trono de Castela (pelo menos, para já!), mas jamais saldaria as despesas da armada do Príncipe Negro. Por seu turno, os contingentes franceses que "sobreviveram" aos combates regressaram ao seu instável reino de mãos a abanar, profundamente abalados por mais uma derrota sofrida, desta feita, em solo castelhano.
Efectivamente, o Príncipe Eduardo somaria mais uma tremenda vitória que enriqueceria o seu já prestigiado currículo militar. Crécy, Poitiers e Nájera constituíram as três batalhas em que logrou infernizar a vida aos franceses e seus aliados.
Pelo que apuramos, o Príncipe Negro terá recebido um magnífico rubi que lhe fora presumivelmente oferecido pelo rei castelhano D. Pedro (foi a única forma exibida pelo soberano de expressar a sua gratidão). Eduardo permaneceria, por mais quatro meses, no reino de Castela, mais concretamente em Valladolid. Contudo, começou a sentir-se mal. O calor abafado, resultante do Verão Peninsular, terá provocado os primeiros sintomas duma doença mortal (talvez disenteria) em Eduardo que acabaria por se sentir forçado a deixar rapidamente o território castelhano.
Apesar da vitória anglo-castelhana em Nájera (1367), o rumo dos acontecimentos irá inverter-se drasticamente nos anos seguintes, de tal modo que, em 1369 e na sequência da batalha de Montiel, D. Henrique assassinará o seu meio-irmão D. Pedro, usurpando-lhe o trono. O novo rei castelhano não hesitará em retribuir o apoio até então concedido pelos seus aliados franceses.
Como se não bastasse, Carlos V tinha ascendido ao trono francês em 1364, revelando ser um monarca bem mais competente no panorama belicista, impingindo as primeiras derrotas relevantes à facção inglesa no âmbito da Guerra dos Cem Anos.
A era de sucesso do Príncipe Negro estava a chegar ao fim...
Contando apenas com 16 anos de idade, Eduardo alcançaria o seu primeiro grande feito militar, desempenhando um papel relevante na vitória das forças inglesas encabeçadas pelo rei Eduardo III na Batalha de Crécy (26 de Agosto de 1346) que, mediante o recurso aos seus exímios arqueiros, trucidariam as tropas francesas de Filipe VI. Nesse confronto, o Príncipe de Gales liderava um dos principais corpos de infantaria que resistiu habilmente às investidas dos cavaleiros franceses. Esta seria a primeira vitória estrondosa registada pelos invasores ingleses em solo francês, permitindo assim algumas conquistas territoriais.
Efectivamente, Eduardo tornar-se-ia num dos mais prestigiados líderes ingleses que se evidenciariam na Guerra dos Cem Anos. Seria neste palco que obteria os maiores êxitos belicistas, convertendo-se numa personalidade temida pelos seus adversários.
No ano de 1355, foi designado tenente régio da Gasconha (região inserida no ducado da Aquitânia que se encontrava sobre a batuta inglesa). Nessa altura, o príncipe já contava com 25 anos de idade, e acompanhava de perto as inovações militares do seu tempo. Não será pois de estranhar que tenha privilegiado a formação de arqueiros ingleses e galeses para assim consolidar as posições conquistadas em França. A utilização em força da "cavalaria pesada" já não garantia a mesma eficácia de vitórias que se tinha verificado outrora. Eduardo já deveria ter perfeita noção desse facto, pelo menos, desde a Batalha de Crécy.
Imagem nº 1 - O Príncipe Eduardo integrou a nascente Ordem da Jarreteira, onde adquiriu vários ensinamentos sobre a arte militar. Era filho do rei inglês Eduardo III e da sua esposa Filipa de Hainault.
Ilustração do Bruges Garter Book (1453)
Retirada em simultâneo do Wikipédia
Imagem nº 2 - O exército inglês liderado pelo rei Eduardo III triunfa na batalha de Crécy (1346) diante das forças francesas de Filipe VI. O Príncipe Eduardo, com apenas 16 anos de idade, liderava um dos contingentes de infantaria que também desempenhou um papel valoroso no confronto.
Quadro da autoria de Yezhov
Retirado de: http://www.armchairgeneral.com/
A Batalha de Poitiers (1356)
No ano de 1355, terminava uma trégua de oito anos que havia sido acordada entre a França e a Inglaterra, contudo ambas as partes não estavam muito interessadas em assinar um acordo de paz permanente. Neste âmbito, o conflito reemergiria violentamente no território francês. O rei inglês Eduardo III, sem nunca deixar de reclamar os seus direitos, voltou à carga com o seu exército, atravessando o Canal da Mancha para promover raides devastadores no Norte da França. O seu segundo filho, John of Gaunt, liderou igualmente investidas na Normandia. Por seu turno, o seu filho primogénito - Eduardo, Príncipe de Gales marchou com as suas forças desde a Aquitânia (situada no Sudoeste de França) até às regiões centrais de França.
Destas três campanhas realizadas praticamente em simultâneo, a do Príncipe Negro era indiscutivelmente a mais ousada e ameaçadora para as hostes francesas, visto que era dirigida contra posições nevrálgicas do reino.
Eduardo liderava um exército não muito numeroso, mas que se encontrava minimamente bem organizado para operar em qualquer eventualidade. Segundo algumas estimativas modernas, a sua armada seria constituída por 8000 cavaleiros (4 mil de cavalaria pesada e 4 mil de cavalaria ligeira), 3000 arqueiros e 1000 peões de infantaria, o que perfazia um total de 12 mil efectivos. No entanto, estes números apresentados são bastante discutíveis, pois existem teorias que tendem a considerar a possibilidade da força do Príncipe de Gales ter sido afinal bem inferior em termos quantitativos (há mesmo autores que se referem à eventualidade do exército em questão ter albergado apenas 6 000 homens no seu todo).
Talvez consciente das limitações do seu exército de médias dimensões, Eduardo evitou aproximar-se de regiões fortificadas, saqueando apenas as localidades mais desprotegidas.
As suas movimentações geraram uma profunda preocupação no rei João II, o Bom, que havia sucedido no trono francês a Filipe VI em 1350 e que prontamente reagiria ao reiniciar das hostilidades em 1356.
Neste âmbito, o Príncipe Eduardo tem conhecimento de que um poderoso exército francês liderado pelo rei João já tinha atravessado o rio Loire para assim o enfrentar imediatamente. Esta notícia causou uma profunda apreensão nos destacamentos ingleses que receavam agora a iminente chegada dum adversário numericamente superior. Eduardo não estava inicialmente predisposto a travar uma batalha em campo aberto, talvez porque respeitava seriamente a capacidade militar do seu oponente. Por isso mesmo, o exército inglês ruma agora a Sul num ritmo apressado, contudo o "comboio" que transportava a respectiva bagagem não permitia uma retirada mais acelerada. Sabendo destas intenções, os franceses movem-se rapidamente, logrando interceptar as tropas do Príncipe Negro a 5 km a este de Poitiers.
Forçado a um confronto que não desejava, Eduardo não tem outra opção senão escolher meticulosamente a posição em que deseja concentrar as suas forças para o engajamento final. Decide então instalar-se numa ladeira (ou aclive), encontrando-se esta protegida à esquerda por um pântano e um curso de água, enquanto que, à frente das suas linhas, existia uma longa e quase improvisada "sebe" (ou antes um espesso bosque) com uma única "brecha" que seria salvaguardada por quatro cavaleiros. No flanco direito, que se encontrava mais exposto, Eduardo decidiu colocar aí o seu vagão (o veículo que transportava então a bagagem das suas tropas), talvez com o intuito de o utilizar como uma espécie de barreira.
Apesar do local proporcionar vantagens do ponto de vista defensivo, o Príncipe Negro ainda manifestava uma enorme hesitação em travar a batalha. Na madrugada de 19 de Setembro de 1356, Eduardo tentou uma retirada discreta, contudo os franceses, detectaram novamente os movimentos, e passaram agora ao ataque. O filho do rei Eduardo III não tem outra hipótese senão recompor rapidamente as suas forças e enfrentar as investidas do adversário. Insistir numa fuga, provavelmente desorganizada, faria com que os seus homens fossem perseguidos violentamente, cenário que culminaria decerto numa derrota humilhante. Dentro deste contexto, o Príncipe de Gales colocou à frente os seus arqueiros (localizados mesmo atrás da vasta "sebe") e mandou ainda desmontar todos os seus cavaleiros com excepção feita a uma pequena força de reserva que ficaria no vulnerável flanco direito.
À semelhança da batalha de Crécy, travada dez anos antes, os franceses estão igualmente em clara vantagem numérica. Ao todo, o exército do rei João II incorpora nas suas fileiras cerca de 40 mil homens repartidos por quatro divisões (cada uma talvez composta por cerca de 10 mil efectivos). Apenas um dos quatro batalhões mantém os seus cavaleiros montados, enquanto todos os outros tiveram que desmontar. Todavia, esta estratégia não surtiu o efeito desejado, porque retirou mobilidade e factor surpresa às forças francesas.
O primeiro batalhão francês, constituído então pela cavalaria pesada, avançou finalmente sobre as linhas inglesas, subindo a mencionada inclinação topográfica. O seu objectivo passava por perfurar triunfantemente pela brecha da "sebe", procurando semear o pânico e o terror nos soldados do Príncipe Eduardo. No entanto, os seus planos sairiam frustrados, visto que os exímios arqueiros ingleses alvejariam muitos dos cavaleiros franceses que seguiam na ofensiva. Outros tombariam na luta corpo-a-corpo.
Por seu turno, os arqueiros franceses que estavam posicionados atrás desta força de cavalaria nem sequer tiveram tempo de abrir fogo sobre o adversário.
Entretanto segue-se um segundo contingente que, liderado pelo delfim Carlos (futuro Carlos V de França), procura carregar sobre as posições inglesas. A carnificina terá sido bem mais evidente durante esta segunda tentativa dos franceses em desalojar os adversários da sua posição cimeira. Os arqueiros ingleses, devidamente posicionados no terreno, voltaram a ser cruciais para assim debilitar os argumentos do adversário. No entanto, há a mencionar que os franceses, apesar das elevadas baixas sofridas devido à incessante "chuva de flechas", chegaram desta vez com aceitável ímpeto ao cume da elevação, onde estiveram perto de quebrar as linhas do oponente, cenário agitador que obrigou o Príncipe Eduardo a recorrer à sua força de reserva (cavalaria) que aliviou a pressão então exercida pelos soldados do filho primogénito do rei D. João II. O engajamento foi sangrento, mas os ingleses conseguiriam suportar esta segunda investida do adversário, bem mais dura do que a anterior.
Enquanto os franceses procuravam encetar um terceiro ataque, os ingleses tentaram recuperar as flechas que tinham cravado nos corpos dos inimigos, agora autênticos cadáveres que jaziam no solo. Talvez este procedimento seja justificado pela escassez de setas que agora ameaçava a posição dos arqueiros do Príncipe Negro.
O terceiro batalhão francês comandado pelo jovem Filipe, Duque de Orleães e segundo filho do rei D. João II, irá acobardar-se durante o seu ataque, abandonando de forma inglória o campo de batalha.
Com apenas um batalhão ao seu dispor, o rei francês D. João II decidiu avançar com todos os homens que lhe restavam. Semelhante opção é tomada pelo príncipe Eduardo que ordena igualmente um ataque total da sua armada. Neste preciso momento, a diferenciação numérica entre as duas forças já seria praticamente nula. A luta volta a ser intensa com ambos os lados a sofrerem consideráveis baixas. Muitos dos arqueiros ingleses são obrigados a recorrer a facas para lutar corpo-a-corpo com o oponente. Entretanto, Eduardo concede instruções para que a sua força de reserva (cavalaria) tente contornar um dos flancos do adversário, procurando assim atacá-lo depois na retaguarda. Esta acção estratégica terá sido decisiva, "catapultando" os ingleses para o triunfo final. Apesar da bravura evidenciada, D. João II, rei de França, acabou por ser render juntamente com a sua guarda-real. Muitos dos nobres franceses que o acompanhavam na investida tiveram pior sorte, acabando massacrados nos combates travados.
O rei de França seria mesmo detido e enviado como prisioneiro para Inglaterra. Desde logo, os franceses comprometeram-se a pagar um elevado resgate e procederam inclusive ao envio de reféns (como garantes do futuro cumprimento financeiro do resgate exigido) para assim lograrem a libertação do seu soberano em 1360 (isto é, quatro anos depois da batalha de Poitiers). Contudo, quando D. João II regressou ao reino francês, logo constatou que o seu tesouro real encontrava-se esgotado de recursos, gorando a possibilidade dum pagamento imediato da verba acordada (fixada em 3 milhões de coroas). Ao ter ainda conhecimento de que, algum tempo depois, o seu filho Luís de Anjou (o então principal refém no âmbito do acordo firmado) tinha escapado de Londres, o rei D. João II entregou-se aos ingleses, num acto invulgar de honra e de respeito máximo pelo anterior tratado celebrado, tendo adoecido e morrido poucos meses depois em Londres (ano de 1364).
Em jeito de balanço, esta vitória do Príncipe de Gales, ao início inesperada, representou um duro golpe nas aspirações do partido francês que, durante os próximos anos, perderia o seu principal representante político e se afundaria em acérrimas divisões internas. Não podemos igualmente negar o mérito de Eduardo que não hesitou em derrotar um exército oponente de proporções numéricas bem superiores. A facção inglesa preservaria o seu ascendente, pelo menos, por mais algum tempo.
Local: Proximidades de
Poitiers
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Data: 19 de Setembro de
1356
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Forças Beligerantes
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Reino da França
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Reino de Inglaterra
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Comandantes/Generais
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D. João II, Rei de França (PG)
Delfim Carlos
Príncipe Filipe
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Eduardo, Príncipe de Gales
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Número de Combatentes
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40 000
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12 000
(outros sugerem 6 000)
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Baixas Estimadas
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Mais de 5 000
(entre mortos e capturados)
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1 000
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Resultado: Apesar da clara
inferioridade numérica, as forças inglesas comandadas pelo Príncipe Negro
suportarão as múltiplas investidas dos batalhões franceses, conseguindo ainda
triunfar no engajamento final, momento que permitiu a captura do rei D. João
II de França. Mais uma vez, os arqueiros ingleses foram determinantes neste
processo bélico.
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Imagem nº 3 - A vitória na Batalha de Poitiers (travada em 1356) constituiu o principal feito militar de Eduardo, o Príncipe de Gales.
Retirada de: http://www.bbc.co.uk/arts/yourpaintings/paintings/the-battle-of-poitiers-19-september-1356-22080
Imagem nº 4 - Encurralado no fim pelo inimigo, o rei francês D. João II e a sua guarda pessoal acabaram por se render às forças inglesas.
Imagem nº 5 - Estátua do Príncipe Negro em Leeds (Reino Unido).
Foto da autoria de Nicola e Pina Europa in Panoramio
A Batalha de Nájera (1367)
No ano de 1362, Eduardo iria casar-se com Joana de Kent e tornar-se-ia ainda, por incumbência do seu pai (o rei de Inglaterra - Eduardo III), príncipe da Aquitânia e Gasconha (regiões do sudoeste de França submetidas à influência inglesa; deteve oficialmente este título entre 1362 e 1372). Era inegável o prestígio que tinha alcançado na Guerra dos Cem Anos, servindo a facção inglesa com o seu inolvidável carisma, além de demonstrar os seus dotes de liderança militar.
O conflito da Guerra dos Cem Anos encontrava-se novamente pausado desde a Paz de Brétigny firmada em 1360. Apesar da frequente instabilidade, este cenário de interrupção das hostilidades em solo francês permaneceria até ao ano de 1368, ano em que o acordo é quebrado.
Entretanto, uma Guerra Civil irrompe no reino de Castela (durará entre os anos de 1366 e 1369), onde D. Pedro (acabado de ser deposto) e o seu meio-irmão D. Henrique se tornam pretendentes rivais ao trono. Nesta conjuntura, os partidos inglês e francês não hesitaram em envolver-se no conflito, procurando retirar dividendos políticos, militares, económicos e diplomáticos.
Bertrand du Guesclin colocou-se do lado de D. Henrique, enquanto que D. Pedro solicitou auxílio a Eduardo, Príncipe de Gales.
Efectivamente, o Príncipe Negro partiu da Aquitânia com a sua armada, rumando a Castela. Nas suas fileiras, contava igualmente com o contributo de individualidades conceituadas tais como Sir John Chandos e John de Gaunt.
As movimentações de ambos os exércitos, envolvidos naquela disputa política, iriam culminar na batalha de Nájera, travada em 3 de Abril de 1367 na região da "Rioja" (actual Norte de Espanha).
As tropas franco-castelhanas, comandadas por D. Henrique e Bertrand du Guesclin, são numericamente superiores às forças adversárias que combinavam efectivos castelhanos e ingleses que seriam liderados por D. Pedro e Eduardo, Príncipe de Gales. Segundo estimativas conhecidas, os franco-castelhanos seriam cerca de 60 mil ao todo, enquanto os anglo-castelhanos teriam nas suas fileiras 28 mil combatentes.
Respeitando demasiado a eficácia dos arqueiros ingleses, os comandantes franceses mais experimentados avisaram Bertrand du Guesclin para evitar uma batalha em campo aberto, sugerindo, em alternativa, que se cortassem as linhas de abastecimento às forças do Príncipe Eduardo. No entanto, esta movimentação foi infrutífera, visto que os arqueiros ingleses souberam reposicionar-se no terreno, dizimando boa parte da cavalaria inimiga. Os infantes anglo-castelhanos foram também superiores no choque derradeiro travado com os soldados franco-castelhanos. É plausível que estes últimos tivessem perdido rapidamente a sua organização, acabando por se dispersar. Neste contexto, D. Henrique conseguiu escapulir-se a tempo, mas o comandante francês Bertrand du Guesclin acabou por ser capturado, sendo libertado posteriormente mediante o pagamento dum elevado resgate.
D. Pedro recuperaria o trono de Castela (pelo menos, para já!), mas jamais saldaria as despesas da armada do Príncipe Negro. Por seu turno, os contingentes franceses que "sobreviveram" aos combates regressaram ao seu instável reino de mãos a abanar, profundamente abalados por mais uma derrota sofrida, desta feita, em solo castelhano.
Efectivamente, o Príncipe Eduardo somaria mais uma tremenda vitória que enriqueceria o seu já prestigiado currículo militar. Crécy, Poitiers e Nájera constituíram as três batalhas em que logrou infernizar a vida aos franceses e seus aliados.
Pelo que apuramos, o Príncipe Negro terá recebido um magnífico rubi que lhe fora presumivelmente oferecido pelo rei castelhano D. Pedro (foi a única forma exibida pelo soberano de expressar a sua gratidão). Eduardo permaneceria, por mais quatro meses, no reino de Castela, mais concretamente em Valladolid. Contudo, começou a sentir-se mal. O calor abafado, resultante do Verão Peninsular, terá provocado os primeiros sintomas duma doença mortal (talvez disenteria) em Eduardo que acabaria por se sentir forçado a deixar rapidamente o território castelhano.
Apesar da vitória anglo-castelhana em Nájera (1367), o rumo dos acontecimentos irá inverter-se drasticamente nos anos seguintes, de tal modo que, em 1369 e na sequência da batalha de Montiel, D. Henrique assassinará o seu meio-irmão D. Pedro, usurpando-lhe o trono. O novo rei castelhano não hesitará em retribuir o apoio até então concedido pelos seus aliados franceses.
Como se não bastasse, Carlos V tinha ascendido ao trono francês em 1364, revelando ser um monarca bem mais competente no panorama belicista, impingindo as primeiras derrotas relevantes à facção inglesa no âmbito da Guerra dos Cem Anos.
A era de sucesso do Príncipe Negro estava a chegar ao fim...
Local: Nájera (actual
Norte de Espanha)
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Data: 3 de Abril de 1367
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Forças Beligerantes
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Reino de Castela
(Apoiado pela França)
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Reino de Castela
(Apoiado pela Inglaterra)
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Comandantes/Generais
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Henrique Trastâmara (futuro Henrique II)
Bertrand du Guesclin (PG)
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Pedro de Castela
Eduardo, Príncipe de Gales
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Número de Combatentes
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60 000
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28 000
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Baixas Estimadas
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7 000
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200
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Resultado: A batalha será travada duma forma rápida com
o ascendente a favorecer imediatamente as forças anglo-espanholas lideradas
pelo rei castelhano D. Pedro e pelo Príncipe Negro. Temendo o pior, Henrique
Trastâmara retirou-se da batalha, enquanto Bertrand du Guesclin foi capturado
(depois libertado mediante pagamento dum elevado resgate). No entanto, o desfecho
desta batalha não impediu que Henrique fosse bem-sucedido dois anos mais
tarde (1369), acabando por matar o seu meio-irmão, facto que lhe permitiu
ficar com o trono castelhano.
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Tabela nº 2 - As estimativas avançadas para Batalha de Nájera (1367).
Imagem nº 6 - A Batalha de Nájera (1367) terminou com a vitória das forças anglo-castelhanas lideradas pelo soberano castelhano D. Pedro e pelo Príncipe de Gales - Eduardo.
Imagem nº 7 - Eduardo, o Príncipe Negro, evidenciou-se na Guerra dos Cem Anos e na Guerra Civil Castelhana, liderando com distinção as suas hostes no campo de batalha.
Retirada de: http://www.examiner.com/article/the-black-prince
Imagem nº 8 - O rubi que D. Pedro de Castela terá alegadamente oferecido ao Príncipe Eduardo, como forma de recompensar os seus serviços prestados. No entanto, e apesar deste majestoso presente, o soberano castelhano não logrou saldar os altos custos inerentes ao esforço de guerra desenvolvido pela armada do seu aliado inglês.
Retirada de: http://www.englishmonarchs.co.uk/black_prince.htm
Últimos anos (1370-1376)
Depois de abandonar a disputa castelhana, Eduardo voltou à Aquitânia, onde ordenou a cobrança de impostos para cobrir os elevados custos da expedição realizada então na Península Ibérica. Tal gesto granjeou-lhe imediata impopularidade, culminando mesmo numa rebelião apoiada pelos nobres da Aquitânia e da Gasconha que se encontravam descontentes com a gestão do Príncipe Negro.
Bertrand du Guesclin, acabado igualmente de sair do conflito peninsular, juntou-se com a sua armada aos revoltosos. No dia 4 de Dezembro de 1370, o nobre francês derrota um importante destacamento inglês em Pontvallain (no vale do Loire). Nesse ano (embora um pouco antes - a 2 de Outubro), Bertrand fora mesmo nomeado Condestável de França. A estrondosa derrota que sofrera em Nájera não tinha significado o fim da sua carreira militar, antes pelo contrário... Ele continuaria a ser um aliado de peso de Henrique II de Trastâmara (vencedor da Guerra Civil Castelhana) e ainda concretizaria campanhas bem sucedidas na Bretanha, servindo assim o rei francês Carlos V.
Em jeito de retaliação, Eduardo terá destruído, em grande parte, a cidade de Limoges, causando a morte de cerca de 3000 habitantes, contudo o impacto desta acção atroz terá sido nulo em termos estratégicos.
Um ano depois, em 1371, e talvez devido a uma recaída do seu estado de saúde, o Príncipe Negro decidiu regressar ao seu país natal - a Inglaterra. Aí viveria os seus últimos anos de vida.
Eduardo morreria em 8 de Junho de 1376, contando na altura com 45 anos de idade. Como já referimos anteriormente, julga-se que ele teria sido vítima duma doença algo prolongada (possivelmente disenteria) talvez contraída durante a sua campanha em "Espanha". Acompanhado por cerimónias de grande esplendor, o seu corpo foi sepultado na Catedral de Canterbury. O seu filho Ricardo iria suceder, no trono inglês, ao avô Eduardo III que faleceria em 1377.
Assim sendo, o Príncipe Eduardo nunca chegaria a ser rei de Inglaterra, porém os seus feitos belicistas relevaram o seu prestígio ao mais alto nível. Foi, sem dúvida, um dos comandantes ingleses mais bem sucedidos na Guerra dos Cem Anos, deixando também a sua marca na Guerra Civil Castelhana. Em seu torno, nasceria posteriormente a lenda do Príncipe Negro, talvez pela armadura negra que envergava, além do carácter frívolo (e por vezes, cruel) que demonstrava no campo de batalha.
Imagem nº 9 - A efígie de Eduardo na Catedral de Canterbury (Kent). O Príncipe viveria neste mundo entre os anos de 1330 e 1376.
Notas-extra:
1 - Apesar de ter sido nomeado como Príncipe de Gales, acredita-se que nunca terá pisado os seus pés naquele principado.
2 - Julgamos que o Príncipe Negro seria certamente bem mais reconhecido pelos historiadores caso os seus feitos militares tivessem conhecido consequências políticas mais duradouras. Efectivamente, as suas meritórias vitórias foram comprometidas a breve (no caso da Guerra Civil Castelhana) e a longo prazo (no caso da Guerra dos Cem Anos). Os seus feitos militares não impediram que Henrique Trastâmara usurpasse definitivamente o trono castelhano em 1369, ou que, mais tarde, Carlos VII, rei de França entre 1422-1461, expulsasse os ingleses do seu território (à excepção do porto de Calais), saindo como inequívoco vencedor de uma das guerras mais cruéis da Idade Média. Contudo, seria injusto da nossa parte ignorar a prestigiante carreira militar de Eduardo que ficou assim bem patente no século XIV.
Referências Consultadas:
- ADAMS, Simon - Poitiers (1356) in 1001 Battles that changed the Course of History. Dir. R. G. Grant. Londres: Quintessence Editions, 2011.
- GRANT, R. G. - Najera (1367) in 1001 Battles that changed the Course of History. Dir. R. G. Grant. Londres: Quintessence Editions, 2011.
- http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/black_prince.shtml, (Artigo do BBC History, consultado em 15-09-2015).
- http://www.englishmonarchs.co.uk/black_prince.htm, (Consultado em 15-09-2015).
- http://www.britannica.com/biography/Edward-the-Black-Prince, (Artigo da autoria de Ivan Peter Shaw, consultado em 15-09-2015).
- http://www.luminarium.org/encyclopedia/blackprince.htm, (Consultado em 15-09-2015).
- http://www.history.ac.uk/richardII/black_prince.html, (Consultado em 15-09-2015).
- http://soawargamesteam.blogspot.pt/2008/04/poitiers-battleday-froissarts-hedge.html, (Recomendamos a visualização das imagens deste artigo que se referem, mais concretamente, à "sebe" ou pequeno "bosque" que servira de "barreira" natural e protectora para as tropas inglesas na batalha de Poitiers, site consultado em 15-09-2015).
- Os brasões de armas, utilizados nas tabelas e que são identificativos das nações envolvidas nos conflitos mencionados, foram retirados da Página do Wikipédia.
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