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quarta-feira, 22 de abril de 2015

São José Vaz, o Apóstolo e Asceta Português do Sri Lanka

Durante a era da expansão e colonização europeias (séculos XV-XVIII), decorreu, em simultâneo, a missionação ou catequização dos gentios. Um processo complexo que procuraria estender a fé de Jesus Cristo aos quatro cantos do mundo. 
O célebre percurso de José Vaz até pode não ser do conhecimento de todos, mas não restam dúvidas de que foi um dos principais responsáveis pela conversão de milhares de pessoas ao Cristianismo no Oriente.
No ano de 1651, José Vaz nasceria na localidade indiana de Benaulim, situada em Goa, território pertencente ao Império Português. Seria um dos seis filhos do casal cristão Christopher Vaz e Maria de Miranda. 
Desde logo, realizou os seus estudos primários no colégio de Sancoale, onde terá aprendido a língua de Camões. Frequentou posteriormente a Universidade dos Jesuítas em Goa, onde estudou Humanidades e Retórica, e ainda a Academia de São Tomás de Aquino, na qual aprofundou Filosofia e Teologia.  A sua formação cultural era pois elevada. 
Em 1676, foi ordenado padre pelo Arcebispado de Goa. Terá igualmente fundado naquela região uma escola de latim para os seminaristas.
Por alguns anos, desempenhou ainda as funções de vicário em Canara (ou Kanara) onde pregou, ouviu confissões, visitou doentes e ajudou os mais carenciados.
O sacerdote português poderia sentir-se tentado em seguir uma vida acomodada ou até iniciar uma carreira proveitosa e influente no mundo eclesiástico, mas não foi esse o caminho escolhido por José Vaz que optou por ir em socorro dos pobres e de todos aqueles que eram perseguidos, deixando para trás eventuais regalias derivadas do seu privilegiado estatuto. 
A sua vocação para a missão pastoral logo se revelou quando teve conhecimento das condições desumanas ou chocantes em que viviam os habitantes católicos do Ceilão (actual Sri Lanka). A miséria abundava na ilha, e como se não bastasse, a chegada dos holandeses ao território viabilizou uma perseguição cruel por parte dos calvinistas (protestantes) que tencionavam eliminar a religião católica naquele espaço. Não era sequer permitida qualquer manifestação pública inerente à fé católica. Muitos sacerdotes foram detidos, outros seriam expulsos da ilha e até houve aqueles que não escaparam a um cruel assassinato. Todavia, estas contrariedades não foram suficientes para demover José Vaz de rumar à ilha, intenção que concretizará no ano de 1687, desembarcando em Jaffna, localidade situada no norte do Ceilão.
Chegado àquela região insular, José Vaz agiu discretamente, disfarçado de mendigo e vivendo incógnito, para assim celebrar missas e administrar sacramentos (nomeadamente baptismos) por toda a ilha, mas sempre priorizando a máxima cautela. Segundo a tradição, o missionário usava vestes bastante rudimentares, pedia esmola às portas das famílias cristãs, e só quando conquistava a sua confiança, é que se atrevia a revelar a sua identidade e a verdadeira actividade que desempenhava. Mas o disfarce não perduraria por muito tempo. Em breve, seriam veiculados rumores sobre a natureza religiosa das acções que imprimia em Jaffna (onde sempre servira a população com gestos de humildade e benignidade) o que motivou a atenção imediata das autoridades holandesas. José Vaz consegue ludibriar os seus perseguidores, e acabará assim por chegar ao reino budista de Kandy no interior da ilha, o qual se mantinha independente apesar da invasão holandesa e que albergava um número considerável de católicos. Mesmo assim, o missionário natural de Goa não escapou à detenção porque logo suspeitaram que seria um espião ao serviço dos portugueses. Esteve preso durante seis anos (ou dois anos, segundo outros registos) até que o rei de Kandy, o budista Vimaladharma Surya II, reconhecera o seu elevado grau de espiritualidade bem como as suas intenções inofensivas, concedendo ainda autorização total para as missões pastorais que pudesse vir a realizar no seu reino. Neste seu ciclo vivido em Kandy, José Vaz privilegiaria novamente o diálogo, o altruísmo, o ascetismo oriental e a solidariedade cristã. Através dos seus conhecimentos em torno das línguas portuguesa, tâmil e cingalesa, traduziria o Evangelho e outros textos cristãos de modo a serem lidos naqueles idiomas pela população (embora o elevado analfabetismo fosse um sério entrave aos seus projectos), factor determinante que potenciou a conversão de muitos gentios. Convenceu ainda alguns notáveis cingaleses a aderir à fé cristã, o que fez com que o seu apostolado fosse reconhecido por muitos.
No ano de 1697, rebentou uma epidemia de varíola, e José Vaz terá conseguido salvar a vida de milhares de pessoas em Kandy, ora cuidando dos enfermos ora ensinando os princípios básicos de higiene de modo a evitar contágios arrasadores.
Nunca deixaria de zelar pela defesa dos direitos dos católicos na ilha inteira. Humildemente, recusaria em 1705 a oportunidade de se tornar bispo e primeiro Vicário Apostólico de Ceilão, preferindo manter a sua posição de simples missionário. Não era a glória material ou proveniente de estatuto que entusiasmava José Vaz, mas sim a vontade de servir gratuitamente o seu povo.
Após sérios problemas de saúde, o nosso biografado morreria a 16 de Janeiro de 1711. Estima-se que terá convertido à fé católica milhares de pessoas, e promovido a construção dum número considerável de igrejas e capelas. Outros missionários chegariam entretanto à ilha para manter intacta a sua herança. José Vaz seria sempre recordado carinhosamente pela comunidade cristã do Sri Lanka que, embora constituindo actualmente uma minoria, nunca deixaria de prestar o reconhecimento da coragem exibida por aquele vulto.
No dia 21 de Janeiro de 1995, seria beatificado pelo Papa João Paulo II durante uma visita deste ao Sri Lanka, e em 14 de Janeiro de 2015, o Sumo Pontífice Francisco canonizaria José Vaz numa cerimónia realizada na cidade de Colombo (Sri Lanka), enaltecendo a sua dedicação aos pobres e a sua contribuição para a divulgação dos ensinamentos do Evangelho no Oriente. 





Imagem nº 1 - José Vaz, o santo que arriscou a sua vida na divulgação do Catolicismo e no socorro prestado aos mais necessitados.





Imagem nº 2 - Estátua de madeira de São José Vaz num altar do Sri Lanka.
Foto: Alan Holdren / ACI Prensa



"Como nos ensina a vida de José Vaz, a autêntica adoração de Deus leva, não à discriminação, ao ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do bem-estar de todos (...) O seu amor indiviso a Deus abriu-o ao amor do próximo; gastou o seu ministério em favor dos necessitados, sem olhar quem fosse e onde estivesse (...) Por causa da perseguição religiosa em curso, vestia-se como um mendigo, cumpria os seus deveres sacerdotais encontrando secretamente os fiéis, muitas vezes durante a noite (...) Deixou-se consumir pelo trabalho missionário e morreu, exausto, aos 59 anos de idade, venerado pela sua santidade (...) São José sabia como oferecer a verdade e a beleza do Evangelho num contexto plurirreligioso, com respeito, dedicação, perseverança e humildade. Este é, também hoje, o caminho para os seguidores de Jesus”


Papa Francisco (Janeiro de 2015)
Texto extraído do site Agência Ecclesia



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