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domingo, 5 de abril de 2015

Espártaco, o gladiador que liderou a turba de escravos revoltosos



Por volta de 109 a. C. (ou 113 a. C.?), Espártaco terá nascido algures na região da Trácia. Posteriormente, evidenciou-se como um exímio gladiador e principal mentor duma revolta servil de assinaláveis proporções. Revelava todas as qualidades naturais dum exímio guerreiro que manifestava habilidade e inteligência no manejo das armas. Contudo, são ínfimos os dados biográficos que se apuraram a seu respeito antes da eclosão da surpreendente rebelião que eternizaria então o seu nome nos anais da História.
De acordo com a tradição, a liberdade deste homem parece ter ficado comprometida quando desertou dum contingente romano (talvez dum destacamento auxiliar) ao qual servira desde então. A escravatura seria um destino inevitável para muitos daqueles que não honravam o dever de lealdade e obediência na República Romana. Foi nesse preciso momento vendido então como gladiador. Na generalidade, os gladiadores eram escravos que haviam cometido crimes ou sérias transgressões no passado. Pelo que sabemos, Espártaco acabaria por ficar confinado no ludus (escola de gladiadores) de Cápua, Sul de Itália. O seu novo modo de vida remeteu-o para uma realidade bastante humilhante, pois estava agora encurralado no estrato mais baixo da sociedade, comparável inclusive ao das prostitutas. Os combates travados nos anfiteatros eram violentos e muitas vezes fatais, os quais representavam a consolidação do poder romano sobre as demais nações e a natureza. Os gladiadores arriscavam recorrentemente a sua vida só para divertir a multidão alvoraçada que presenciava tais espectáculos belicistas que poderiam igualmente contar com a participação de terríveis leões ou feras.
Todavia, Espártaco não se resignou por muito tempo à sua nova condição social e fugiu do ludus de Cápua em 74 a. C., levando consigo mais de 70 gladiadores-escravos que também se queixavam dos maus-tratos infligidos constantemente por parte do lanista (mestre que adquiria e treinava os gladiadores). A fuga terá decorrido em moldes surreais - os revoltosos muniram-se das facas de cozinha e atacaram os guardas da escola, viabilizando assim a sua saída para o exterior do recinto. Em breve, os fugitivos acederiam a espadas, lanças, adagas e arados, armamento necessário para futuras escaramuças.
Neste contexto, começou a ser orquestrada uma grande rebelião contra os senhores de toda aquela região. Para a sua causa, Espártaco logrou reunir, ao longo da sua campanha, vários escravos e gladiadores, ao ponto de materializar uma dimensão quantitativa típica dum exército (segundo alguns estudos, poderá ter conseguido criar uma força, embora não-homogénea, que se aproximaria das 100 mil unidades; é bastante provável que se tivessem dividido em grupos/bandos). Desconhece-se quais seriam as motivações centrais dos cabecilhas desta rebelião - julga-se que procurariam a sua própria liberdade através duma eventual escapatória pelos Alpes, o que lhes obrigaria a travar batalhas para furar as linhas romanas que pudessem surgir pela frente. Contudo, a ganância, a sede de pilhagem e a violência da parte de alguns grupos de rebeldes na Região Itálica parecem acrescentar outros mobiles pouco ou nada "nobres" que poderão ter sido igualmente catalisadores deste fenómeno. Efectivamente, não é uma missão fácil enunciar os objectivos que terão motivado os revoltosos para uma campanha ousada, até porque as fontes disponíveis pautam-se pela tremenda escassez de dados em concreto. Do ponto de vista histórico, poderá ser mesmo precipitado afirmar que Espártaco desejaria cambiar ou inverter a ordem social romana, abolindo com o escravismo que assegurava a mão-de-obra essencial que serviria como base ou sustentáculo para a economia da República Romana. Não sabemos sequer se o líder máximo dos rebeldes chegou alguma vez a planear verdadeiramente uma marcha sobre Roma. O que podemos inferir é que estes servos e gladiadores revoltosos estariam descontentes com a sua posição social e tentaram mudar, pelo menos, o seu próprio futuro, desejando acabar com a exploração abusiva e desumana de que eram alvo. Estava lançado o mote para aquela que seria Terceira Guerra Servil (73 a. C. - 71 a. C.).
Espártaco era um comandante dotado de conhecimentos bélicos (nomeadamente ao nível das práticas de guerrilha), apesar de liderar uma força maioritariamente indisciplinada, mal apetrechada e pouca versada para o combate (excepção feita ao conjunto de gladiadores aderentes que estavam habituados a travar duelos). Durante três anos, e dada a sua proporção numérica, o tropel de escravos assolará a Itália Meridional, contentando-se estes com os saques e depredações violentas. Os primeiros destacamentos romanos enviados para travar a progressão do líder da revolta servil são derrotados. Alguns generais e dois cônsules latinos sofreram na pele a raiva do adversário: Clódio Glabro, Públio Varínio, Fúrio, Cossínio, Lêntulo, Gélio são os nomes dos oficiais romanos que testemunharam o sabor da derrota. Muito provavelmente, estas forças de cariz punitivo foram derrotadas pela sua limitada composição, ou até mesmo pela falta de visão táctica dos seus comandantes que terão presumivelmente subestimado em demasia o adversário. Mas também aqui há-que reconhecer o devido mérito de Espártaco que soube arquitectar emboscadas e até ataques pouco convencionais que causavam sérios estragos nas tropas romanas, evitando em simultâneo a batalha em campo aberto que lhe poderia ser fatal dada a superioridade técnica e organizacional das forças latinas envolvidas nas acções de contra-insurgência. Depois de mais de dois anos de intensos combates, Espártaco tornara-se numa grande ameaça à estabilidade da República. A fama dos seus feitos ecoavam por toda a Itália, mas a reacção enérgica do estado romano não se faria esperar mais...
No ano de 71 a. C., o cenário até então favorável a Espartaco e seus seguidores muda seriamente de figura. Marco Crasso, poderoso patrício e general romano, encabeçará um numeroso exército (8 legiões, 40 mil homens) que abafará com sucesso as inúmeras revoltas até então verificadas. As legiões de Pompeu, regressadas após abafarem uma revolta de Quinto Sertório na Hispânia, também desempenharão um papel determinante na luta contra as turbas de escravos que semeavam a instabilidade nos domínios romanos. Marco Crasso começou a vencer batalhas diante dos bandos rebeldes, sendo que muitos desertaram prontamente. Espártaco veio em seu socorro e até repeliu parcialmente os romanos, mas o fim da rebelião era uma questão de tempo. Crasso queria apressar a vitória até porque não queria que Pompeu, general romano prestigiado e seu rival pessoal, lhe roubasse a vitória e acumulasse mais prestígio. Determinado, o general romano força o grosso das tropas rebeldes a recuar até ao extremo sul da Itália, onde aí desferiu a ofensiva final. Espártaco terá combatido até à última gota de sangue, juntamente com cerca de 50 mil escravos que morreram na batalha. Todos os outros líderes rebeldes também tinham sucumbido ao longo dos últimos três anos de guerra - foram os casos de Criso, Enomau, Casto e Gannico. Os prisioneiros (6 mil ao todo) que foram entretanto capturados, seriam crucificados ao longo da Via Ápia (de Cápia até Roma), de forma a dissuadir futuros aventureiros de práticas semelhantes. Por seu turno, os romanos nesta derradeira batalha só terão perdido cerca de mil homens, um número quase insignificante de baixas.
Roma tinha triunfado mais uma vez, e logo tomou precauções que visaram o reforço das medidas de segurança nas escolas de luta. Espártaco havia caído em desgraça, tombando em combate junto de muitos dos seus companheiros. Mesmo assim, a sua fama seria perpetuada, dada a coragem que evidenciou ao desafiar o poder militar romano que tinha praticamente a fama de "invencibilidade" naquele tempo.
Se a sua revolta (uma das maiores de sempre em termos de adesão de servos) representou um grito pela liberdade (conforme alguns escritores, romancistas e correntes ideológicas tentaram indiciar mais tarde), nunca o saberemos verdadeiramente, pois não há informações suficientes daquela era que validem qualquer uma das teorias até então apresentadas. O que sabemos é que, durante o levantamento, alguns grupos de escravos rebeldes terão degenerado para o banditismo e brutalidade totais, tornando toda a equação bastante discutível.
Apesar da ausência das tão necessárias evidências históricas, muitos foram os que posteriormente associaram Espártaco (do latim Spartacus) à causa da liberdade e à maior das guerras justas então travadas. Um deles foi Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA, que se referiu a ele como um exemplo singular de sacrifício e luta pela liberdade.








Nota-extra - Quando atingiu Módena, Espártaco poderia ter conseguido escapar pelos Alpes, mas não se consegue compreender porque é que não o fez! Não seria esse o seu objectivo? O que é que o motivou a dar meia volta para trás, embora nunca tivesse visado directamente Roma? Interrogações que ainda hoje permanecem por esclarecer.


Legendas - A primeira imagem representa um torneio de gladiadores e foi extraída de: http://historiaespetacular.blogspot.pt/2012/10/a-revolta-de-espartaco.html. A segunda gravura apresenta-nos um retrato de Espártaco e foi retirada directamente de: http://www.elmundo.es/magazine/2004/273/1103135968.html. A terceira imagem é um quadro da autoria de Hermann Vogel (1882) que nos mostra a morte de Espártaco no campo de batalha e foi extraída de: http://en.wikipedia.org/wiki/Spartacus. Por fim, temos um mapa que nos esclarece o trajecto seguido por Espártaco e suas forças revoltosas na região Itálica, e que foi extraído de: https://www.cupofjoephoto.com/romans-16-wikiwand.html.


Referências Consultadas:


2 comentários:

  1. Tenho o livro e tal como o "Quo Varia" evidencia as atrocidades que eram cometidas pelos então, Imperadores Romanos, especialmente, Nero, que tinham particular ódio aos cristãos, talvez por estes devido a sua passividade não reagindo aos ataques e submetendo-se humildemente às humilhações e torturas, seriam uma afronta!!!

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