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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Vlad Tepes Draculea, a personificação da crueldade e figura inspiradora da lenda do Conde Drácula

Vlad Tepes Draculea evidenciou-se nos finais da Idade Média como um príncipe cruel, maquiavélico e destrutivo. Foi temido pelos seus inimigos, nomeadamente por parte dos expansionistas otomanos que encontraram muita resistência deste futuro príncipe e dos seus leais súbditos.
Nascera por volta de 1431, e era filho de Vlad Dracul, governador militar da Transilvânia e ainda membro da Ordem do Dragão, organismo religioso-militar instituído em 1387 para travar a cruzada contra os turcos. Aliás, o seu pai ganharia a designação de Dracul (dragão) ao entrar naquele instituto e legaria tal expressão nominal ao seu filho (embora este fosse denominado de Draculea, isto é, filho do dragão).
Entre 1436-1437, Vlad Dracul, o então pai de Vlad Tepes Draculea, torna-se príncipe da região romena da Valáquia, residindo no palácio da capital provincial - Tirgoviste. Em 1442, e talvez por motivos de obediência política, o então príncipe valaquiano envia os dois filhos - Draculea e Radu (irmão mais novo) como reféns ao Sultão Murad II. O primeiro seria libertado em 1448, enquanto o segundo permaneceu na posse dos turcos até 1462, embora Radu se tivesse convertido ao Islão e começasse a gozar de certas mordomias em Istambul (isto é, na recém-conquistada Constantinopla).
Este período obscuro passado no cativeiro terá pesado na formação do carácter psicológico de Vlad Tepes Draculea que passou a revelar uma postura mórbida, pessimista e drástica. Durante este período, o seu pai (deposto por Vladislav II que apoderava-se assim o trono da Valáquia) e o seu irmão mais velho Mircea são assassinados, o que confirma a elevada instabilidade política que se vivia nos domínios romenos. Tudo indica que o mentor desta tramóia tivesse sido o regente húngaro - João Corvino (1446-1453) que evidentemente estava bastante interessado nas manobras de influência exercidas sobre a região da Valáquia, enfrentando assim os turcos que também mantinham posições diplomáticas e políticas na região.
João Corvino teria apoiado Vladislav II porque não perdoara o acordo firmado pelo anterior príncipe valaquiano Vlad Dracul com o sultão turco, e para além demais, ficaria revoltado quando soube que fora acusado por Dracul e seu filho Mircea de ter fugido covardemente da inglória batalha de Varna (1444), na qual os turcos muçulmanos destroçaram as tropas cristãs húngaras. Estes foram os principais motivos que levaram  o responsável húngaro a legitimar as acções de Vladislav II que assim sucederia no trono daquele principado, com as duas principais personalidades anteriores a serem alvo duma morte cruel (Mircea foi mesmo cegado e enterrado vivo).
Apoiado inicialmente pelos turcos, o jovem Vlad Tepes, agora com 17 anos, ambiciona a recuperação do trono daquela importante província romena, e vingar assim a morte de seu pai e do seu irmão mais velho. Contudo, ao fim de dois meses dum primeiro reinado efémero (1448) é derrotado por Vladislav II (este apoiado pelas tropas húngaras), mas a vingança pessoal e política apenas tinha sido adiada, pois efectivamente em Julho de 1456 teve a oportunidade de eliminar aquele príncipe usurpador, o qual entretanto já tinha perdido a protecção húngara (Vladislav II tinha sido acusado de seguir uma política pró-otomana). Recuperados definitivamente os direitos sobre a Valáquia, Vlad Tepes Draculea inicia o seu maior reinado - este segundo mandato irá perdurar por 6 anos (desde 1456 até 1462), e será nesta precisa conjuntura, que cometerá as mais diversas atrocidades.




Imagem nº 1 - Vlad Tepes Draculae, o Empalador, e Príncipe da Valáquia por 3 vezes (1448, 1456-1462 e 1476).


Ordenou a execução ou castigo extremo dos boiardos (eram assim designados os nobres mais poderosos do Leste Europeu) e suas respectivas famílias de Tirgoviste que não haviam sido leais a seu pai e irmão, os quais, como vimos, tinham sido depostos e assassinados. Dentro deste contexto, mandou empalar os mais velhos em estacas, enquanto os outros tiveram de marchar desde a capital até Poenari num longo e esgotante percurso. Os que sobrevivessem a esta árdua jornada, tinham ainda de trabalhar duramente na construção duma fortaleza junto ao rio Arges (hoje o edifício é conhecido sob o nome de "Castelo Drácula"). Muitos faleceram no decurso deste dramático processo. 
Vlad Tepes demonstrava criatividade ao nível das execuções - ele mandava empalar, esfolar, cozer, decapitar, cegar, estrangular, enforcar, queimar, assar, esquartejar, crucificar, esfaquear ou enterrar vivas as pessoas. Também mandava cortar narizes, ouvidos, órgãos sexuais e membros. Contudo, o seu método favorito passava pelo empalamento de pessoas em estacas (daí ter sido conhecido como o Príncipe Empalador). Desgraçados por esta sentença foram, por exemplo, os mercadores saxões (estrangeiros) da Transilvânia que ignoraram as suas leis de comércio.
Não é fácil encontrar equilíbrio e lógica no pensamento de Vlad Tepes, contudo é provável que agisse de tal forma para garantir o máximo de ordem e evitar qualquer tipo de rebelião, incutindo para isso o medo como arma para impor o seu domínio. Provavelmente, não desejava ter o mesmo destino de seu pai e irmão mais velho. Todavia, Draculea nutria igualmente antipatia pelos pobres e mendigos porque os encarava como potenciais ladrões. Mais uma vez, o instinto mais violento do príncipe veio ao de cima, convidando os pobres e doentes da Valáquia para uma grande festa na corte principesca, contudo tudo não passou dum ardil maquiavélico, pois depois da refeição mandou fechar as saídas do salão e consequentemente atear fogo, queimando assim todos os convidados deste banquete, no mínimo, surreal.



Imagem nº 2 - Vlad mandava empalar aqueles em quem não confiava.



No decurso do seu segundo reinado, procurou equilibrar as relações diplomáticas com turcos e húngaros, contudo começará a aproximar-se dos segundos. Inevitavelmente, os conflitos com os turcos, outrora aliados da sua família, iniciam-se em 1462. Vlad parece ser bem sucedido inicialmente, conquistando algumas vitórias, o que parece ter irritado o poderoso sultão Maomé II que se viu obrigado a lançar uma invasão de larga escala para conquistar definitivamente a Valáquia. Sem aliados, Vlad é obrigado a recuar e procura refúgio na capital provinciana - Tigorviste, mas sem antes destruir todas as suas próprias vilas e envenenar os poços que se encontravam ao longo do caminho. O objectivo era tornar a penetração turca na missão mais penosa possível, mesmo que tal implicasse acções menos ortodoxas, pois assim as forças invasoras não acederiam aos tão necessários bens alimentares. O príncipe da Valáquia também dava cartas na vertente psicológica, procurando desmoralizar o inimigo. Quando o Sultão turco chegou, totalmente exausto e saturado, à capital do principado, teve ainda de visualizar os restos mortais de mais de 20 000 cativos turcos que haviam sido executados por empalamento nas estacas, num episódio que figurou na história como a "Floresta do Empalador". Maomé II chocado por vislumbrar tal cenário horrendo e aterrorizante, decidiu retirar-se temporariamente dos assuntos inerentes à província da Valáquia. Tinha pois provado da pior cortesia possível, somente concretizada pela mente perversa de Draculae.
Contudo, o imperador otomano não se afastaria por muito tempo, pois voltaria em breve a intrometer-se na luta pelo poder, apoiando Radu, irmão mais novo de Vlad Tepes Draculae, na disputa pelo trono do principado. A situação deteriora-se com esta nova campanha militar: os avanços do poderoso inimigo são agora inegáveis e a perseguição torna-se feroz. Vlad refugia-se no Castelo Poenari junto ao rio Arges e a partir daí procurará resistir ao assédio das forças turcas comandadas pelo seu irmão. Contudo, o resultado do cerco começará a pender favoravelmente para as forças sitiadoras. Para não cair nas mãos dos turcos, a mulher de Vlad comete suicídio, atirando-se das ameias superiores da fortaleza e caindo fatalmente no rio. Já o príncipe, que não era homem para atentar contra a sua própria vida, armou um plano para fugir da fortaleza, recorrendo a uma passagem secreta que lhe dava acesso a uma montanha próxima. Ali com a ajuda de alguns aldeões consegue escapar e alcançar a Transilvânia, onde encontrará o novo rei da Hungria - Matias Corvino (1458-1490), o qual ficaria nos anais da história pela sua eficaz arte militar. Todavia, o soberano magiar, como desconfiava duma eventual traição ou deslealdade de Vlad, decidiu mantê-lo cativo por alguns anos. Mas ambos acabariam, em breve, por firmar um compromisso, visto que o deposto príncipe da Valáquia recuperará o apoio húngaro para liderar uma nova campanha de forma a garantir o reclamado trono, aproveitando o vazio de poder derivado do falecimento recente do seu irmão - Radu que tinha sido colocado anteriormente pelos interesses turcos.
Em 1476, voltará pela terceira vez, a ocupar o cargo de Príncipe da Valáquia, mas desta feita, reinará por muito pouco tempo, tendo provavelmente morrido em batalha contra os turcos que apoiavam agora outro pretendente ao trono - Basarab Laiota cel Batrân. Contudo, desconhecem-se ainda as circunstâncias exactas da morte do nosso biografado (há teorias de que fora traído no campo de batalha ou teria sido atingido acidentalmente ao ser confundido com um soldado turco; outra fonte menciona que teria sido morto em combate pelas forças otomanas). Sabe-se que neste seu último mandato, as forças húngaras e moldavas, sentindo que o seu dever estava cumprido quando o recolocaram no trono, abandonaram a região e deixaram Vlad à sua própria sorte, podendo este apenas confiar nalguns pequenos destacamentos, insuficientes para suportar a nova invasão turca que foi lançada imediatamente, e a qual culminaria na morte do príncipe em Dezembro de 1476. Muitos plebeus estavam igualmente fartos das depredações e atrocidades de Draculea, e por isso, optaram por não auxiliá-lo neste momento crítico. Por isso mesmo, a ideia de traição na batalha decisiva, talvez travada perto de Bucareste, não é de todo descabida, embora se desconheçam pormenores concretos.
De acordo com a tradição antiga, os restos mortais do príncipe romeno foram enterrados na ilha monasterial de Snagov, existindo mesmo uma tumba lapidada com o seu nome, contudo uma introspecção arqueológica em 1932 determinou que apenas se detectaram ali meros ossos de animais, mistério que evidentemente contribuiu para a criação dum mito ou lenda que atingiria proporções mundiais. Vlad não ressuscitou evidentemente (como inferem erroneamente os filmes criativos que se inspiraram em torno da sua reputação aleivosa), apenas se desconhece pois a localização exacta do seu enterramento.
É actualmente considerado um herói nacional da Roménia e um dos mais temíveis líderes da resistência face ao avanço imparável turco no Leste Europeu. Constantinopla havia caído em 1453, mas Vlad Tepes Draculea revelou ser uma pedra no sapato para os planos expansionistas dos otomanos que não tiveram vida facilitada no que diz respeito ao controlo do principado da Valáquia, o qual ficou marcado por um longo período de instabilidade política, social e económica no decurso do século XV. 



Imagem nº 3 - O Príncipe da Valáquia semeava o terror nos seus inimigos e incutia os maiores castigos àqueles que ousassem enfrentar o seu poder.



Imagem nº 4 - Vlad Tepes a liderar, ao longe e com a espada erguida, a resistência romena face aos exércitos turcos que desejavam controlar a província da Valáquia.



Outras histórias reais sobre o seu perfil perverso:


1- Quando estava a cumprir pena no cativeiro, o preferido passatempo de Draculea assentava na apanha, tortura, esfolamento, decapitação e empalamento (recorrendo a paus) de pássaros e ratos. Em liberdade, mandava fazer o mesmo com os humanos.

2- Uma vez, chegaram dois embaixadores turcos. Vlad Tepes Draculea ordenou que retirassem os seus chapéus, contudo aqueles recusaram-se a fazê-lo porque era um costume tradicional do seu povo. O príncipe valaquiano ordenou que fossem devolvidos a Constantinopa (agora nas mãos dos turcos) com os pregos cravados nas suas cabeças.

3- Também é conhecida uma carta sua enviada ao seu derradeiro aliado - o rei húngaro Matias Corvino, na qual constava o seguinte teor:

"Eu matei camponeses homens e mulheres, velhos e jovens, que viviam em Oblucitza e Novoselo, onde o Danúbio desemboca no mar, até Rahova, que está localizado perto Chilia, do baixo Danúbio até lugares como Samovit e Ghighen. Nós matamos 23.884 turcos, sem contar aqueles que nós queimamos em casas ou os turcos cujas cabeças foram cortadas por nossos soldados ... Assim, sua alteza, deverá saber que eu quebrei a paz com ele (sultão Maomé II do Império Otomano)"

4- Apesar das infinitas atrocidades, não encontramos, pelo menos, registo de que Draculea ingerisse o sangue das suas vítimas. Talvez, nunca tivesse pensado nessa ideia...



Referências Consultadas:


1 comentário:

  1. Substancial e e criativo relato sobre um dos grandes homens da guerra no fim do medievo do leste europeu. Com tais magistrais e atrozes descrições, certamente o Príncipe filho do dragão ganhou fama e ar místicos aqui no contemporâneo!

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