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terça-feira, 29 de julho de 2014

A Batalha de Poitiers (732) e a Sobrevivência da Cristandade

O Contexto

Moralizados pela campanha expansionista que decorreu duma forma relativamente fácil na antiga Hispânia devido às desavenças internas do reino visigodo, eis que as forças muçulmanas tentam agora alargar os seus domínios para os territórios além-Pirenéus, e por isso, o projecto de conquista do reino franco (a ancestral Gália romana) é algo que agrada aos seus líderes. 
É certo que o desaire em Covadonga não permitiu aos muçulmanos tomar conta da totalidade do território da Península Ibérica, mas também não é menos verdade que esta região montanhosa das Astúrias (tal como a província basca) não captava grandes interesses económicos, e por isso, a derrota em questão foi evidentemente minimizada.
Efectivamente, ninguém poderia colocar em causa as vitórias muçulmanas obtidas até ao momento. Desde o aparecimento do Profeta Maomé (570-632), os árabes conquistam várias terras ao Império Persa e Bizantino, tornam-se senhores da Arábia e do Médio Oriente, apoderam-se do Norte de África e chegaram mesmo a ocupar quase toda a Península Ibérica. Este período, compreendido entre os séculos VII e VIII, é catalogado como a Idade de ouro islâmica. As tropas muçulmanas estavam imparáveis, difundindo os ideais da sua religião bem como o idioma que utilizavam para fins de expressão.
Por seu turno, a Cristandade teme o pior cenário: acumulou derrotas no Oriente (em 614 perde a Cidade Santa de Jerusalém), no Norte de África (região que fora cristã no período romano e ainda na subsequente época dos vândalos) e na Hispânia. O avanço árabe é imparável em todas as frentes, e pode colocar em causa a sobrevivência da Europa Cristã.
Estava muito em jogo...




Mapa nº 1 - As conquistas muçulmanas ocorridas nos séculos VII e VIII. O Movimento parte da Arábia (na imagem, em cor alaranjada), atinge o Egípto, Líbia e Pérsia (a verde) e depois são tomados posteriormente: lugares na Índia, o Magreb e a Hispânia.



Tabela com as Forças Envolvidas


Local: Poitiers, Tours
Data: Outubro, 732
Forças Beligerantes

 

Francos Merovíngios

 

Forças Árabes/Omíadas
Comandantes/Generais
Carlos Martel
Odo da Aquitânia
Abdul Al-Rahman Al Gafiqi †
Número de Combatentes
20 000
25 000
Baixas Estimadas
1 000
10 000
Resultado:  As tropas francas aguentam a dura investida da cavalaria berbere, beneficiando ainda do conhecimento do terreno e do clima que lhes eram favoráveis. O emir muçulmano é também surpreendido, tombando na batalha. As forças islamitas não escolhem um novo líder para o substituir, pegam no espólio dos saques entretanto efectuados, e retornam à Hispânia.



A Batalha


Abdul al-Rahman al-Gafiqi era, na altura, o governador do al- Andalus, e tinha então a ambição de expandir os domínios muçulmanos para além dos Pirenéus.
Ao saber destas intenções, o duque Odo da Aquitânia pediu imediatamente ajuda militar ao reino franco merovíngio. Carlos Martel, na altura mordomo do palácio (detinha na realidade um poder superior ao dos soberanos merovíngios), aceita prestar auxílio, desde que o mencionado nobre aceitasse a soberania franca sobre o seu ducado que era sobejamente conhecido pelas pretensões autonomistas. Firmados os termos desta nova aliança entre os dois responsáveis cristãos, estava na altura de preparar as forças para uma batalha que prometia ser sangrenta. Carlos apropriou-se mesmo dos direitos eclesiásticos para financiar as suas forças que procurariam, a todo o custo, salvaguardar a integridade do reino franco que seria alvo duma invasão.
O exército islâmico atravessa os Pirenéus e entraria na zona sul da antiga Gália. Inicialmente, os soldados de al-Gafiqi derrotam facilmente os cristãos na batalha do rio Garona, a norte de Bordéus, causando sérias baixas nos destacamentos do duque da Aquitânia.
Carlos Martel, alarmado pela primeira derrota cristã em solo franco, reúne o maior número possível de combatentes e dirige-se agora ao encontro do seu inimigo, escolhendo o local que achava mais conveniente para o enfrentamento decisivo. Este general cristão era conhecedor da arte militar, tendo estudado as tácticas gloriosas de Alexandre, o Grande e dos mais notáveis comandantes do Império Romano. As suas tropas, altamente disciplinadas, estavam equipadas com as melhores armaduras. Elas lutariam desmontadas e formariam uma apertada formação defensiva, não cedendo espaços ao adversário.
Por seu turno, al-Gafiqi está confiante, tinha conseguido somar triunfos no início da campanha e acreditava que a antiga extensão territorial do Império Romano do Ocidente iria cair totalmente aos seus pés. Alguns historiadores acreditam mesmo que este excessivo optimismo terá traído o discernimento do emir muçulmano nos momentos chave da batalha que se avizinhava. As suas forças assentavam sobretudo na cavalaria bastante móvel que já tinha proporcionado, num passado recente, inúmeros triunfos.
Aproximadamente, a 12 Km a norte de Poitiers, os dois exércitos encontram-se finalmente. Os efectivos cristãos estão concentrados num terreno elevado da floresta, de forma a dificultar, ao máximo, o assédio da força invasora. Os soldados francos dispõem-se em forma dum largo quadrado, cobrindo todos os lados e possuindo espadas, lanças e escudos. A batalha começa e promete durar alguns dias. As escaramuças iniciais ditam as primeiras baixas de ambos os lados, todavia o emir, talvez tentado pelas riquezas da vizinha cidade de Tours, decide arriscar um assalto frontal. A cavalaria muçulmana teve que subir a colina para efectuar variadas cargas, contudo as linhas francas aguentam a dureza do ataque e mantêm-se firmes. Entretanto, difundem-se notícias de que uma força de francos teria lançado um contra-ataque ao acampamento muçulmano que estaria completamente vulnerável, dado que a cavalaria berbere estava em acção na respectiva elevação topográfica. Para além disso, transmitia-se a versão de que os soldados cristãos estavam a apoderar-se do espólio que os muçulmanos tinham adquirido quando passaram triunfantemente pela região de Bordéus. De imediato, a cavalaria muçulmana desiste de efectuar novas cargas e dirige-se ao acampamento. É neste preciso momento que as forças invasoras perdem completamente a sua organização, começando a sofrer pesadas baixas devido aos ataques do exército de Carlos Martel que já conhecia bem o terreno. O próprio emir al-Gafiqi é surpreendido e acaba por ser morto em combate. As tropas muçulmanas, incapazes de reeleger um novo líder que as reorganizassem, decidiram abandonar a campanha, retornando à Hispânia com os tesouros que tinham obtido.
Por seu turno, Carlos Martel ganhou o estatuto de herói no Mundo Cristão, ele que viria a ser avô do célebre Carlos Magno, o futuro e notável imperador carolíngio. Depois de muitos desaires recentes, a Cristandade poderia finalmente respirar de alívio.



Imagem nº 1 - A cavalaria muçulmana não consegue furar as linhas defensivas da organizada infantaria franca.
Quadro da autoria de Charles Stauben apresentado em 1837 (imagem extraída do Wikipédia)



Imagem nº 2 - Estátua de Carlos Martel (viveu entre 688-741), o vencedor da batalha de Poitiers. 



Referências Consultadas:


Notas Extra:

1 - Novamente não há grandes consensos quando ao número de combatentes presentes de ambos os lados, como em relação à quantidade de baixas dos mesmos.

2- A bandeira "merovíngia" utilizada poderá ser meramente ficcional (foi retirada de: https://www.flickr.com/photos/yire_shalom3000/5995204220/, Oren) já que não conseguimos detectar mais nenhuma para esta dinastia franca bastante antiga. Já a outra representará presumivelmente o al-Andalus e foi extraída a partir de: http://althistory.wikia.com/wiki/Al-Andalus_(Muslim_World)

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