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terça-feira, 15 de julho de 2014

A defesa de Roma e o saque da basílica de São Pedro (ano de 846)

Corriam os anos de 845 e 846, a Cidade de Roma encontrava-se num momento próspero: houve um incremento das trocas comerciais, uma diminuição da pobreza e as colheitas tinham sido abundantes. 
No trono de São Pedro estava sentado o Papa Sérgio II (844-847), natural de Roma, e cuja falta de temperamento o fazia variar entre a boa disposição e o mau feitio. Para além disso, Sérgio rendia-se facilmente aos prazeres da mesa, engrandecendo os recheados banquetes que lhe eram proporcionados. Sofria ainda da doença da gota, o que não facilitava a sua condição. Por isso, delegava as suas tarefas no seu irmão Bento, o qual ganhara fama de usurpador e de estar envolvido em manobras obscuras. Mas apesar da passividade de Sérgio, a verdade é que ele teria de enfrentar uma ameaça real em breve: os sarracenos preparavam-se para atacar Roma com uma frota de 73 navios composta por uma força que poderia situar-se nos 11 mil homens.
Inicialmente, os mensageiros que trouxeram esta mensagem não foram levados em conta, dado que os responsáveis da Santa Sé suspeitavam que seria antes mais uma vulgar expedição de pirataria destinada a um ponto do litoral da região itálica, e por isso, nunca dirigida a esta grande cidade do Ocidente. 
Sérgio e os oficiais que o rodeiam mudam de ideias poucos dias antes do desembarque das tropas muçulmanas em Gaeta, mas o sumo pontífice não demonstra grande habilidade diplomática e militar, preferindo as orações destinadas a Deus que, no seu entender, lhe assegurariam a vitória. Aliás, se os sarracenos ousassem degradar a Basílica de São Pedro, que ficava situada no exterior dos imponentes muros romanos, acreditava-se na altura que Deus agiria imediatamente, castigando com fúria aqueles que profanassem aquele lugar sagrado. 
Os muçulmanos tomam a cidade portuária de Gaeta no dia 23 de Agosto de 846, semeando a morte e a destruição de templos cristãos. Era uma questão de poucos dias até que os invasores chegassem aos portões de Roma. 
Aquando da aproximação destes no dia 28 de Agosto, e de acordo com a tradição, Sérgio terá subido aos muros para incentivar a guarnição de forma a superar este terrível assédio que se fazia prever. 
Entretanto, as portas abriram-se para que a modesta e desorganizada milícia papal marchasse para enfrentar o inimigo, mas depressa foi esmagada, nesta batalha desigual, pelo indiscutível poderio da cavalaria muçulmana. Como se não bastasse, a Basílica de São Pedro (como referimos, estava situada fora das muralhas), completamente desprotegida, fora inevitavelmente saqueada: o seu altar sagrado foi reduzido à destruição, muitas relíquias desapareceram, nomeadamente a célebre cruz em ouro de Constantino, e até o túmulo de São Pedro foi vandalizado. Também a Basílica de São Paulo sofreu sérios danos. Os francos, saxões, frísios, francos, lombardos e demais "estrangeiros" (leia-se não romanos) que residiam no exterior da Cidade bem tentaram defender estes lugares até ao último homem, mas o esforço teria sido em vão, perante a superioridade numérica do invasor.
Ao constatar estes trágicos desenvolvimentos, Sérgio terá desmaiado e foi então cautelosamente transportado do alto dos muros para uma casa mais segura, onde seria alvo de atenção médica. Aliás, ele jamais se perdoaria no que diz respeito à sua impotência em conseguir proteger aqueles lugares sagrados.
Entretanto, e depois de terem cometido pilhagens nas capelas e edifícios públicos, os sarracenos passaram a concentrar a sua pressão nos muros e portões da cidade. Eles desejavam pois penetrar em Roma, ideia que atormentava as populações aí residentes. Nos mosteiros, os frades até se auto-flagelavam de forma a obter o perdão de Deus e a posterior ira divina contra os sitiantes. Assustadas, as crianças choravam e gritavam de medo. 
A guarnição não iria aguentar muito mais tempo. O Papa não tinha preparado bem a defesa de Roma, e o Imperador Lotário que pretendia tomar conta dos assuntos da Santa Sé não se predispôs sequer em enviar um exército de auxílio. 
Quando o pior já se fazia prever, eis que a chegada das tropas dos duques Guido de Spoleto, numa primeira fase, e Sérgio de Nápoles (representados por Cesário, o bravo), já numa posterior etapa, reverte o panorama mais pessimista, conseguindo expulsar as forças muçulmanas (estas foram apanhadas desprevenidas com a chegada destes reforços), embora com alguma dificuldade. Estas últimas retiraram-se então em direcção ao mar, deixando para trás avultados estragos materiais e humanos, e transportando consigo inúmeros tesouros.
Efectivamente, esta vitória pírrica das tropas cristãs originaria diversas reflexões. O estado traumatizante a que tinha chegado a Basílica de São Pedro, levou o pontífice posterior, Leão IV (847-855), um homem mais determinado e vocacionado para a liderança, a restaurar e a reforçar as muralhas da cidade, envolvendo agora este espaço sagrado que outrora esteve à mercê dos sitiadores. Para além disso, reorganizaram-se as tropas defensivas e construíram-se novas torres de vigilância. Também a basílica de São Pedro foi recuperada. 
Os muçulmanos voltariam em 849 com o mesmo intuito de atingir Roma, mas desta vez, nem sequer chegaram ao seu destino, visto que foram derrotados na célebre batalha naval de Ostia, sendo que um terrível temporal fez com que muitos navios fossem engolidos pelo mar.



Imagem nº 1 - O Papa Sérgio II teve de garantir a defesa de Roma no ano de 846, contando ainda com o auxílio de outros senhores da região.
Quadro: Wikipédia.



Imagem nº 2 - A Batalha de Ostia decorreu posteriormente em 849 e traduziu-se numa vitória conclusiva das forças cristãs já no pontificado de Leão IV.


Referências Consultadas:

Notas extra:

1- De acordo com o romance histórico, é referido que o Príncipe Siconulf de Benevento (que manteria uma rivalidade com o duque local - Radelchis) teria enviado alguns homens em 846 para ajudar a libertar Roma do assédio sarraceno. Esta hipótese não foi por nós confirmada.

2- Como não encontramos qualquer imagem inerente ao assédio de Roma (846), optamos por exibir um quadro que retratasse a também decisiva batalha de Ostia (849).

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