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quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Renascimento Carolíngio (sécs. VIII-IX)

No Panorama Cultural

Após a queda do Império Romano, em 476 d. C., como reflexo das invasões bárbaras, decorreram tempos menos produtivos do ponto de vista cultural. As devastações e os conflitos que se seguiram não permitiram ainda a estabilidade necessária para que as luzes da sabedoria fossem desenterradas ou reavivadas com esplendor. A Cristandade parecia ter perdido a chama da era romana e tornava-se agora refém da sua própria sombra, incapaz de se reinventar rumo a um futuro mais próspero. Esta parece ter sido a difícil realidade "europeia" entre os séculos V e VII, embora aceitamos que possam existir excepções a esta regra.
Este cenário mais obscuro começa a mudar, e de que maneira, com a ascensão de Carlos Magno (vive entre 742-814) ao poder. Torna-se rei dos francos em 768, e atingiria mais tarde o apogeu, quando fora coroado imperador pelo Papa Leão III no ano de 800, dominando já várias regiões: Aquitânia, Borgonha, Neustria, Austrásia, Baviera, Alamania, Franconia (e outras anexações fronteiriças)... O seu novo império seria mantido até 843, ano em que o Tratado de Verdun previu a sua divisão tripartida.
Para além dos sucessos das suas inúmeras campanhas militares contra lombardos, ávaros, saxões, frisões e eslavos (incursões essenciais para a defesa e expansão do Cristianismo), Carlos Magno revelou ser um visionário no plano cultural, preocupando-se com a educação e a moralidade do seu povo. A intelectualidade deveria ser pois um meio civilizacional para assegurar um destino risonho a qualquer nação. O imperador cristão desejava mesmo trazer professores estrangeiros (italianos, irlandeses, anglo-saxões...) de grande nomeada para construir a sua própria "Academia do Palácio", confluindo assim as contribuições eruditas de várias culturas distintas em simultâneo. Evidentemente, também o clero construiu novas escolas catedralícias, monásticas e presbiteriais, colaborando com o novo projecto desenvolvido pelo soberano. Estes mesmos estabelecimentos também estavam abertos aos leigos que as desejassem frequentar, postura considerada original (ao longo da Idade Média, praticamente só o clero é que tinha acesso à cultura, mas neste reinado, abriu-se uma curiosa excepção para os laicos que ambicionassem aprender).
Para além da questão do ensino, houve igualmente um importante estímulo nos sectores da arquitectura, escultura, pintura (frescos e iluminuras) e escrita (surge o modelo da letra carolina).
Neste período, o Império reveste-se dos maiores génios da época: Alcuíno, Eginhard, Rábano Mauro, Paulo Diacro, Jean Scott (ou João Escoto Erígena); o que se traduz num apogeu cultural. Os grandes pólos eram: Fulda, Luxeuil e Tours. É também nesta altura que muitas obras antigas (do período greco-romano) são copiadas e traduzidas pelos monges, um importante gesto de preservação e divulgação dos pensamentos mais sonantes de grandes vultos da literatura clássica.




Mapa nº 1 - O Império de Carlos Magno.



Imagem nº 1 - Possível retrato do Imperador Carlos Magno.



Imagem nº 2 - Busto-relicário medieval de Carlos Magno existente em Aachen.



Imagem nº 3 - Exército carolíngio em pleno combate contra os inimigos do Império e da Igreja.
Retirada de: http://judyferro.com/blog/?p=18, (presente na obra "Carolingian Cavalryman AD 768-987" por David Nicolle).


Perfil de Carlos Magno

Carlos Magno foi um grande líder militar da Idade Média. Expandiu os seus domínios, sobretudo em duas frentes: a leste conquista a Saxónia e a Caríntia e impõe derrotas aos povos pagãos - ávaros e eslavos; a sul, adquire domínios na região itálica, apropriando-se mesmo da Lombardia em 774. Todas estas campanhas granjearam-lhe, mais tarde, os estatutos de Imperador, Patrício dos Romanos e Protector da Santa Sé, visto que foi responsável pela difusão do Cristianismo. Recuperou a glória imperial que já havia sido testemunhada no Império Romano. Para além disso, enriqueceu, em parte, a economia estatal porque, ao alargar o seu território, conseguiu impor novos impostos sobre as populações agora submetidas ao seu poder.
Com amargura, não conseguiu concretizar o sonho de tomar a Península Ibérica, na altura dominada maioritariamente pelos muçulmanos, isto sem falar dos imprevisíveis montanheses bascos (vascões) que, com as suas emboscadas, causaram sérias baixas nas suas tropas (em Roncesvales - 778, a retaguarda do exército carolíngio foi mesmo varrida, tendo mesmo tombado em combate o conde Rolando, importante vassalo de Carlos Magno). Mesmo assim, as forças cristãs conseguiriam, mais tarde, chegar até Barcelona que cairá entre 800 e 801 d. C. (feito que se deve a Luís, o Pio - filho de Carlos Magno que o tinha enviado), gerando assim a Marca Hispânica.
Mas Carlos Magno não foi apenas mais um grande soberano medieval que somou variados e elogiosos triunfos no campo belicista, até porque a sua genialidade propagou um notável eco na vertente cultural. A necessidade de criar um povo mais astuto fazia parte dos objectivos prioritários do seu reinado.
Carlos era dotado, poderoso, dinâmico e com uma inteligência avançada para a época em que vivia, até porque grande parte dos soberanos eram, nesta altura, iletrados e não davam grande importância às questões educacionais. Aliás, ele julgava que era imperioso garantir uma melhor preparação dos funcionários imperiais e tentar fazer com que o clero franco abandonasse a ignorância e o relaxamento. O estudo da Bíblia e dos livros litúrgicos, bem como a compreensão das sete artes liberais constituíam os campos de aprendizagem. Foram promovidos jogos literários, discussões filosóficas e debates teológicos, conservando assim os pensamentos do passado. Os mosteiros enriquecerão também as suas próprias bibliotecas e assegurarão a cópia de vários códices.
O imperador recorreu à vassalagem da aristocracia e ao contributo fiel da Igreja de forma a conseguir impor o seu domínio até aos confins do seu vasto reino, contudo esta missão esteve longe de se tornar acessível, visto que as estruturas política e comercial ainda eram excessivamente rudimentares; para além disso, não haveria sequer o sentimento de unidade nacional e de coordenação legislativa. Por outro lado, a pobreza abundava num império essencialmente rural que dependia do cultivo das terras para alcançar a sua subsistência.
O seu filho e sucessor, Luís, o Pio, ainda manterá os domínios herdados de seu pai, mas o Império iria conhecer a desagregação com os três filhos deste último (Lotário, Carlos e Luís) que assinariam o Tratado de Verdun (843), cada um recebendo a sua correspondente herança territorial dum Império em fase de desmembramento.
Carlos Magno não conseguiria resolver todos os problemas que se verificavam no Império, mas sinalizou um rumo, não só inovador como inspirador, que se pautaria pelo primado da intelectualidade, pilar que hoje é considerado fundamental para o desenvolvimento de qualquer civilização.
De acordo com muitos eruditos, Carlos Magno é considerado actualmente o "Pai da Europa".


Statue de Charlemagne, à Paris (4e arrondissement).

Imagem nº 4 - Estátua do Imperador Carlos Magno em Paris.
Retirada de: http://www.cosmovisions.com/textCarolingiens.htm, ( a foto é da autoria de Serge Jodra).


Referências Consultadas:


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