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terça-feira, 22 de julho de 2014

Al-Mutâmid, o rei-poeta de Sevilha

Com as invasões muçulmanas à Península Ibérica no ano de 711 d. C., instaurou-se uma nova cultura assente num idioma e credo distintos. O domínio muçulmano irá estender-se até 1492, ano da queda do reino de Granada às mãos dos réis católicos de Espanha.
Durante todo este período, houve igualmente eruditos que se destacaram no campo literário, embora tenha existido talvez um que se tenha evidenciado com maior notoriedade. Trata-se de Muhammad al-Mutâmid, nascido em Beja no ano de 1040. Terá governado nominalmente Silves, claramente um pólo de cultura nos tempos do al-Andalus, antes de suceder, em 1069, a seu pai no reino taifa de Sevilha. Todavia, acabaria por ser destronado pela corrente almorávida de Ibn Tāshufīn, conhecendo o exílio no interior de Marrocos, mais concretamente em Agmat, onde passará os derradeiros dias da sua existência (falecerá em 1095). Se antes tivera acesso a um passado auspicioso, eis que agora deparar-se-ia com a miséria e vários dramas pessoais.
O contraste entre a glória e o desterro inspiraram a veia que al-Mutâmid nutria pela poesia. Ainda hoje os seus textos são recordados. 
Célebre foi ainda a relação íntima que protagonizou com Ibn Ammar, poeta reputado que conhecera em Silves, mas essa grande amizade (que alguns investigadores suspeitaram ter chegado ao ponto dum relacionamento de cariz homossexual) acabaria por terminar em tragédia. As insanáveis desavenças e intrigas que ocorreram mais tarde fizeram com que o próprio al-Mutâmid, na altura ainda rei de Sevilha, o matasse na própria cela com recurso a um machado. 
Al-Mutâmid foi ainda um patrono das artes (promoveu o estudo das Ciências, Filosofia, Música e Letras), e enquanto rei, usufruiu igualmente dos prazeres da vida.



Evocação de Silves 
(Poema célebre da autoria de al-Mutâmid)

Eia, Abú Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim.

Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.

Ali moravam guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis!

Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado

Brancas e morenas que produziam na minha alma 
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!

Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo
do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!

O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.

As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.

Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.




Imagem nº 1 - Al-Mutâmid, um rei que privilegiou a cultura no al-Andalus.




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