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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Esmoriz - uma terra com história multifacetada

Esmoriz é actualmente uma cidade (estatuto que detém desde 1993; antes era vila desde 1955) que pertence ao Concelho de Ovar - Distrito de Aveiro, e que alberga uma população cifrada em mais de 11 mil habitantes. 
Em termos históricos, esta localidade dá-se a conhecer ao mundo em variadas vertentes, a saber:

  • A indústria da Tanoaria. A arte de fabricar pipas ou barris que envolviam o vinho do Porto e outros produtos começa a florescer em Esmoriz nos inícios do século XX, embora já tivéssemos conhecimento anterior de tanoeiros esmorizenses que, nos séculos XVIII e XIX, exerciam este ofício em tanoarias fora da freguesia (por exemplo: em Gaia). Apesar da decadência recente deste ofício tradicional, ainda hoje restam duas ou três unidades que se dedicam a preservar este legado. É, por exemplo, o caso da Tanoaria - JOSAFER. Existe ainda na cidade um imponente monumento dedicado a este artífice.
  • A Barrinha de Esmoriz. A primeira referência documental sobre este espaço encontra-se datada para o século IX, onde é designada por Lagoa de Ovil, talvez pela sua proximidade em relação ao Castro de Ovil, este sito em Paramos. Enquanto fonte de recursos, foi acerrimamente disputada por nobres e povo, como o demonstram as inquirições de D. Dinis de 1288. No século XIII, a lagoa (que se prolongava então até Cortegaça) possuía ainda um porto de abrigo para pequenas ou modestas embarcações. Nestes tempos mais recuados, a prática pesqueira (aqui sobressaía o interesse pelas enguias, tainhas, linguados, lampreias, mugens e solhas) e a procura de madeira (para fins habitacionais), juncos, ervanços, muinha, rapilho, estrume, (para necessidades agrícolas) no meio envolvente também constituíram uma realidade frequentemente visível. Mais tarde, e depois de vários pleitos pela sua disputa (como mencionamos, a lagoa antigamente era cobiçada enquanto sítio repleto de recursos), a Barrinha tornou-se numa atracção turística, acolhendo banhistas portugueses e estrangeiros que se deliciavam nas suas águas calmas. Numa das obras de Júlio Dinis (vulto do Romantismo Português do século XIX), há referência a uma antiga ponte sobre a lagoa (da qual só restam hoje as ruínas decrépitas dos seus alicerces ou pegões, embora esteja em equação um projecto para a reconstrução duma nova passagem) que fazia a ligação entre Esmoriz e Paramos que partilham entre si este espaço natural. O seu  meio envolvente é ainda conhecido pela biodiversidade em termos de fauna (por ex.:há mais de uma centena de aves documentadas, entre as quais, podemos elencar águias, falcões, gaivotas, garças-reais, patos...) e flora (a jasione lusitânica constitui um exemplar curioso na área da vegetação). Nas últimas décadas, a Barrinha foi uma vítima fácil da praga da poluição doméstica e industrial, o que inviabilizou a prática pesqueira e os saudáveis banhos que até então maravilhavam multidões. O seu antigo cais que outrora servia para transportar as pessoas desde a Estação da CP até à Praia de Esmoriz ficou votado ao abandono e a um inevitável desaparecimento.
  • Os Palheiros. Edifícios palafíticos antigos que se "plantaram" na zona à beira-mar e que se erguiam sobre estacas. Foram construídos maioritariamente por pescadores que aí garantiam o seu alojamento (embora em condições precárias) e guardavam as redes e demais materiais de pesca. É um dos típicos cartões de visita de Esmoriz.
  • A arte Xávega. Pesca artesanal de arrasto com recurso a um extenso pano de rede (de cerco) o qual visa capturar o maior número possível de peixes. Todo este aparelho de pesca é lançado por uma embarcação ao mar, e depois puxado na praia por um tractor, ou antigamente, pelo recurso à tracção animal ou força braçal. Ressalva-se novamente o papel da actividade piscatória em Esmoriz, não sendo por isso de estranhar a existência dum outro monumento erguido relacionado sobre esta prática tradicional bastante visível em muitos dos pontos do litoral.
  • Os templos cristãos. Esmoriz é uma terra com elevada religiosidade na vertente católica. Atestam-no actualmente a Igreja Matriz (remontará nas suas origens ao século XVI, embora tivesse sido completamente reedificada em 1895), a Capela de Nosso Senhor das Febres (ou comummente conhecida como Capela/Igreja de Gondesende), a Capela de Nosso Senhor dos Aflitos (ou tradicionalmente designada como Capela da Praia) e a Capela de Nossa Senhora da Penha (esta tem as suas origens no século XVII, e apesar das suas humildes dimensões, ostenta no seu interior, um altar esplendoroso de  talha dourada no estilo barroco. O ponto alto da localidade são as Festas do Mar em honra de Nosso Senhor dos Aflitos e Nossa Senhora da Boa Viagem, as quais testemunham a presença de milhares de fiéis, correspondendo assim à festividade mais popular da localidade.
  • A rocha magmática de Gondesende. Pelos vistos, foram encontrados exemplares desta pedra cujas origens remontam há mais de 600 milhões de anos. Este lugar que faz parte de Esmoriz é ainda conhecido por albergar uma necrópole medieval, agora soterrada, que deve pertencer ao período suevo-visigótico (séculos V-VIII), isto para além da sua antiga toponímia indiciar a existência de monumentos megalíticos (nomeadamente mamoas pré-históricas) cujo rasto ou localização exacta é hoje impossível de precisar.
  • Legado cultural. Esmoriz é uma terra que acolheu poetas de notável gabarito: Florbela Espanca (embora natural de Vila Viçosa) viveu aqui cerca de 2 anos talvez por volta de 1925; Boanerges Cunha e Isabel de Sá, naturais de Esmoriz, também se destacaram na arte de compor versos. Além da poesia, a cidade dá cartas no teatro, contando actualmente com colectividades de qualidade inegável (casos do Grupo de Teatro Renascer e d'Os Arautos) que foram igualmente antecedidas no passado por outros grupos que também se dedicaram à especialidade da representação. Na música, o Grupo de Bandolins de Esmoriz expressa o talento duma vertente musical singular que tem cativado multidões.
  • Tradição Desportiva. O voleibol é o desporto por excelência, com o Esmoriz Ginásio Clube no papel duma instituição desportiva laureada com diversos títulos nas camadas jovens, além de dois campeonatos nacionais e uma taça de Portugal em séniores masculinos. O futebol conta com a participação do Sporting Clube de Esmoriz que nos seus píncaros chegou a disputar a antiga II divisão B. Por fim, destacamos o surf que atrai a adesão de praticantes portugueses e estrangeiros. Não menos importante, destacamos ainda a figura da esmorizense de nascimento Maria Joaquina Flores que, no atletismo veterano feminino, tem representado com grande categoria o nosso país nas competições internacionais (europeus e mundiais) em solo estrangeiro, coleccionando várias medalhas de ouro, prata e bronze.

Além destas premissas que tornam a história e o património de Esmoriz bastante singulares, a verdade é que esta localidade se distingue ainda pela sua majestosa praia e pelas aprazíveis esplanadas à beira-mar que convencem muitos dos turistas a visitar esta localidade. Também o Novo Parque Ambiental do Buçaquinho, um parque ambiental de lazer inaugurado no dia 25 de Abril de 2013, oferece ao visitante a possibilidade de usufruir um contacto calmo e harmonioso com a Natureza.
Como observamos, os momentos mais altos da história de Esmoriz parecem situar-se nos últimos dois ou três séculos. Todavia, isto não impede o nosso raciocínio de incutir a esta localidade raízes antigas. Possivelmente, terão existido monumentos megalíticos (cuja existência apenas foi registada pela toponímia posterior) em Gondesende. Totalmente comprovada está a presença duma necrópole (ou cemitério) dos povos bárbaros que deverá ter sido erguida e utilizada na Alta Idade Média. No período da Reconquista, detectamos imediatamente menção ao conde cristão Gundesindo, o homem que esteve na origem da designação toponímica de Gondesende. Tratou-se pois dum cavaleiro que viveu no século IX ou X (a datação não é inteiramente precisa) e que foi igualmente conhecido por ter fundado alguns mosteiros (nomeadamente o de Azevedo em S. Vicente de Pereira - Ovar, e o de Sanguedo na Vila da Feira). Sobre a origem do topónimo de Esmoriz, subsistem várias interrogações, Aires de Amorim, autor duma extensa e concisa monografia sobre a terra, menciona que tal designação adveio de Ermerico, outro nobre cristão da Reconquista cuja identidade desconhecemos por completo. Todavia, também temos de ponderar a possibilidade desta designação se ter baseado no nome do primeiro rei suevo da Galécia - Hermerico, uma personalidade que marcou uma nova era na Península Ibérica, e sobre o qual já elaboramos neste blog uma sucinta nota biográfica. 
Esmoriz é efectivamente uma pequena cidade que concilia contribuições de várias eras, o que a torna entusiasmante para quem deseja conhecer um pouco mais sobre a sua evolução ao longo dos tempos. 




Imagem nº 1 - A tanoaria é um ofício tradicional que se destacou com grande repercussão em Esmoriz.
Foto da autoria de José Fangueiro




Imagem nº 2 - Monumento de Homenagem ao Tanoeiro no centro da cidade.
Foto da autoria de Belmiro Teixeira
(Retirada de: http://www.eurekabooking.com/fr/guide/portugal/esmoriz/photos.html, veja-se ainda o site Panoramio)




Imagem nº 3 - A Barrinha de Esmoriz foi parte integrante da história da localidade.
Foto da autoria de Magda Moreira (Movimento Cívico Pró-Barrinha)



Imagem nº 4 - A lagoa visto do lado da Praia. No seu meio-envolvente, podemos testemunhar uma clara biodiversidade.
Foto da minha autoria




Imagem nº 5 - A Barrinha está habitualmente em contacto com o mar, embora exista, nos dias de hoje, um dique fusível que assegura a sua abertura ou fechamento, podendo assim interromper a sua ligação natural.
Foto da autoria de Rubim Almeida (Movimento Cívico Pró-Barrinha)



Imagem nº 6 - Exemplar dum Palheiro típico de Esmoriz (zona da Praia).
Retirada de: http://altasensibilidade.blogs.sapo.pt/56088.html, (Dâmaso Faria)





Imagem nº 7 - Monumento à Arte Xávega em Esmoriz. A actividade piscatória foi muito intensa nesta terra plantada no litoral diante do Oceano Atlântico.
Foto de Paulo Oliveira, retirada de:
 http://www.camping.de/de/pl%C3%A4tze/europa/portugal/unbekannt/esmoriz/camping_cortegaca.html




Imagem nº 8 - Igreja Matriz de Esmoriz e seu adro envolvente, o qual é coroado com um cruzeiro.
Foto da autoria de Santos Faria, retirada de: http://altasensibilidade.blogs.sapo.pt/tag/esmoriz





Imagem nº 9 - O interior da Igreja Matriz de Esmoriz, reedificada nos finais do século XIX.
Foto da autoria de Santos Faria, retirada de: http://altasensibilidade.blogs.sapo.pt/tag/esmoriz






Imagem nº 10- O exterior da Capela de Nossa Senhora da Penha, templo que vê as suas origens a remontar às décadas iniciais do século XVII.
Foto da minha autoria





Imagem nº 11 - O altar de talha dourada da Capela de Nossa Senhora da Penha.
Foto de M. Pires Bastos, Retirada de: http://artigosjornaljoaosemana.blogspot.pt/2012/11/algumas-notas-toponimicas-ovarenses.html




Imagem nº 12 - Florbela Espanca terá vivido cerca de 2 anos em Esmoriz, nos lugares da Casela e da Estrada Nova.
Retirada de: http://www.mensagenscomamor.com/poemas_e_poesias_de_florbela_espanca.htm




Imagem nº 13- Foto sobre o Centro urbano da Cidade.
Foto da minha autoria




Imagem nº 14 - Vista a partir do posto de observação sobre o Novo Parque do Buçaquinho (Esmoriz-Cortegaça).
Foto da minha autoria




Imagem nº 15 - Praia de Esmoriz.
Foto da minha autoria




Imagem nº 16 - O fluxo turístico na época balnear é considerável.
Foto da autoria de Henrique Araújo


Referências Consultadas:


  • AMORIM, Aires de - Esmoriz e a sua história. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos, 1986.
  • HENRIQUES, Pedro - Esmoriz - Desde a Idade Média até à actualidade. Uma perspectiva sobre os estudos de Aires de Amorim. Publicação Electrónica, Esmoriz, 2013. Veja-se: http://pt.scribd.com/doc/149566930/Esmoriz-Desde-a-Idade-Media-ate-a-Actualidade
  • http://visao.sapo.pt/tanoaria-o-tesouro-da-cidade-de-esmoriz=f759821, (artigo da autoria de Ricardo Marques, consultado em: 25-09-2014).
  • Edições variadas do Jornal A Voz de Esmoriz e do Malho Tanoeiro.

Nota extra - Sobre a tipologia concreta da rocha magmática encontrada em Gondesende, não conseguimos apurar ainda mais dados em específico (até porque é uma matéria que não está directamente relacionada com a nossa área de investigação histórica), embora a sua existência tem sido bastante veiculada por vários cidadãos esmorizenses.

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