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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Papa Bento IX, a personificação da incompetência e o maior pesadelo da Igreja Romana



Ao longo da sua história, a Igreja Católica conheceu líderes credíveis e inteiramente dedicados à sua causa, mas também foi representada por elementos que se pautaram pela mediocridade. Nesta última vertente, Bento IX parece ter superado todos os recordes negativos.
Bento, com o nome inicial de nascimento - Theophylactus, era oriundo de Túsculo e as suas origens remontam aos inícios do século XI, embora tenha nascido em data incerta (talvez algures entre 1012-1020?). Era filho de Alberico III, conde daquela cidade italiana. Por aqui, observamos imediatamente que esta personalidade havia nascido no seio da alta nobreza romana, conhecendo assim as manobras obscuras inerentes ao poder político daquela era. A influência e riqueza da sua importante família constituíram um vector determinante para que fosse o sucessor do falecido pontífice João XIX (1024-1032). Segundo alguns historiadores, o novo Papa eleito, Bento IX não possuía qualquer formação prévia para poder ocupar um cargo que exigia elevada responsabilidade. Como se não sabe ao certo a sua data de nascimento, não sabemos qual seria realmente a sua idade quando se tornou Papa pela primeira vez. Se os cálculos estimados não andarem muito longe da realidade, Bento IX teria entre 12 a 20 anos de idade quando ocupou a cadeira de São Pedro. No imediato, todos estes ingredientes começam a favorecer a imagem dum Papa ambicioso, cruel, imoral e sem escrúpulos para alcançar os seus objectivos. Em pouco tempo, atrairá a implacável crítica de muitos dos seus detractores que começam a apontar-lhe o dedo, acusando-o do envolvimento em assassinatos, orgias, estupros (ainda hoje se debate o grau de veracidade destas violentas acusações lançadas contra o Papa Bento IX)... O seu primeiro pontificado duraria cerca de 12 anos, desde Outubro de 1032 até Setembro de 1044, altura em que é forçado a sair de Roma. Foi sucedido por Silvestre III, o qual ocuparia o lugar por muito pouco tempo até porque não tardaria a ser acusado de ter chegado ao cargo pela via do suborno. 
Novamente, e através de tanta intriga no seio do poder papal, começou a surgir a possibilidade de Bento IX, rival de Silvestre III, recuperar o seu estatuto anterior. Bento IX reúne forças e apoios importantes no exterior, e consegue mesmo iniciar um segundo pontificado, o qual seria praticamente tão breve como o do seu antecessor - durou apenas cerca de um mês (Abril a Maio de 1045). Bento nunca escondera o seu vício pelo álcool, e terá sido sob a influência deste que tomou a decisão mais absurda, e simultaneamente, inédita da história da Igreja Romana - vendeu o cargo de Papa ao sacerdote italiano João Graciano, ofício que seria agora preterido pelo matrimónio que ansiosamente procurava. Foi até hoje o único sumo pontífice que ousou colocar à venda o seu ofício. O comportamento de Bento era arrepiante, fora um erro inqualificável permitir que tal homem ocupasse uma posição de grandiosa importância. Não reunia pois conhecimento, postura e vocação para representar a Cristandade, mas os conluios da época materializaram este cenário absolutamente terrível. 
Como se não bastasse, Bento IX arrependeu-se depois da transacção realizada (ou seja, desistiu da ideia do casamento) e exigiu de novo o cargo ao qual havia renunciado, e assim sendo, iniciaria o seu terceiro e derradeiro pontificado, o qual se estenderia entre Outubro de 1047 e Julho de 1048. Efectivamente, João Graciano (tinha adoptado a designação de Gregório VI) havia antes renunciado ao trono papal, quando fora sistematicamente acusado de ter comprado o cargo de pontífice a Bento IX. O sucessor de João Graciano seria o Papa Clemente II, um homem que procurava finalmente travar os actos de simonia (transacções de cargos eclesiásticos), contudo faleceria alguns meses depois de ter assumido o papado. Foi neste pretexto de indefinição que Bento IX teria uma terceira oportunidade à frente da Santa Sé, mas a oposição interna voltaria a ser enorme, e claro o seu pontificado durou novamente pouco tempo. Acabou expulso pelas tropas germânicas que instalaram Dâmaso II, o qual teve um curtíssimo pontificado.
Depois seguiu-se Leão IX (1049-1054), um Papa empenhado que se preocupou seriamente com a abominável simonia, o não cumprimento do celibato (nicolaísmo) e pelo retorno ao cristianismo primitivo. Assim, a Igreja começava a demarcar-se dos últimos anos negros que deixaram danos irreversíveis à sua imagem.
O Papa Bento IX foi excomungado em 1049, e talvez terá falecido em 1056 (há também a teoria de que teria morrido apenas em 1085!). Desconhece-se se a excomunhão que pendia sobre ele foi posteriormente levantada. Não sabemos se este ex-pontífice terá demonstrado arrependimento pelos actos pouco dignos que cometera, ou se chegou a desistir das suas pretensões à cadeira de São Pedro. Certo é que ele ficou na história como o único Papa que vendeu o seu próprio cargo, foi ainda o único a ter mais do que um pontificado (teve 3!) e tornou-se igualmente num dos primeiros a renunciar ao cargo.
Como estamos a abordar uma era bastante recuada, é necessário salientar que os testemunhos existentes pautam pela sua escassez, e muitas vezes, pela ausência de imparcialidade. Não descartamos a possibilidade de algumas das acusações que recaíram sobre Bento IX tivessem sido exageradas pelos seus detractores, não obstante a sua incapacidade gritante para liderar os destinos duma instituição religiosa universal - a Igreja Católica, cuja credibilidade foi colocada em causa no seu malogrado pontificado.
Assim sendo, não é de estranhar que São Pedro Damião, Doutor da Igreja nesse século XI (1007-1072), se tenha referido a este Papa como alguém que se regozijava na imoralidade, sendo visto como “um demónio do inferno dissimulado de sacerdote”. Contudo, São Pedro Damião não foi a única personalidade prestigiada a veicular estas duras palavras contra Bento IX. Logicamente, as críticas difundiram-se facilmente perante tantos escândalos que se haviam vivido na altura.
Paradoxalmente, personalidades obscuras como Bento IX motivaram, em breve, o surgimento do movimento revolucionário da Reforma Gregoriana (iniciada na segunda metade do século XI), a qual, entre muitos objectivos, procurou combater definitivamente a imoralidade no seio da Igreja e terminar com as influências nefastas exteriores das poderosas famílias romanas e dos imperadores germânicos, de forma a garantir uma maior credibilização, autonomia e controlo eficiente das mais diversas questões internas. Assim, a instituição universal começou a traçar um novo trilho que se afastaria, embora de forma ainda gradual, daqueles tempos anteriores mais dúbios, e procuraria assim afirmar uma nova supremacia mundial.




Imagens: A primeira ilustração representa o Papa Bento IX, autor - Artaud de Montor (1772–1849) in Wikipédia. A segunda imagem representa a pedra sepulcral de Bento IX, retirada de: http://www2.fiu.edu/~mirandas/biosunknowndate1012-1024.htm. Por fim, a terceira e última imagem corresponde ao retrato de Leão IX, responsável por trazer mais serenidade e harmonia à Igreja, foi retirada a partir de: http://kirchensite.de/index.php?myELEMENT=95043.



Referências Consultadas:



Nota extra:

Apesar das múltiplas e incríveis acusações (aceita-se que algumas possam ter sido completamente inventadas pelos cronistas da época, embora não todas...) que se balançavam contra Bento IX, não é menos verdade que este sumo pontífice tomou ainda uma ou outra decisão aceitável - por exemplo, em 1038, colocaria a conceituada abadia de Monte Cassino sob a protecção papal, e procurou obrigar Bretislav, Duque da Boémia, a fundar um mosteiro como gesto de penitência pelo facto de se ter apropriado indevidamente das relíquias de São Adalberto de Praga. 
Há ainda a eventualidade de Bento IX ter terminado os seus últimos dias enquanto monge da abadia de Grottaferrata (localizada próximo de Roma), o que poderá indiciar uma mudança do seu estilo de vida, contudo esta derradeira possibilidade não está sequer confirmada.
Sobre o seu padrinho, João Graciano, que se tornou no pontífice Gregório VI, é verdade que este comprou o cargo pontifício a Bento IX, todavia Graciano terá tomado tal decisão e adiantou assim a soma exigida para que o controverso Bento (que queria na altura casar-se!) se afastasse definitivamente dos assuntos da Santa Sé, e assim tentou iniciar, embora sem sucesso, um novo ciclo na Igreja, todavia a sua inadmissível acção simoníaca (pois comprou o cargo pontifício!) constituiu motivo suficiente para determinar um curto e atribulado pontificado. 

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