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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Balduíno IV, o jovem rei leproso de Jerusalém


Um Contexto Atribulado


A Segunda Cruzada (1147-1149) conduzida pelos reis Luís VII de França e Conrado III do Império Sacro Romano Germânico havia sido um fracasso completo, com um cerco que satiricamente só durou praticamente uma semana em torno de Damasco. A descoordenação foi tremenda até ao ponto da expedição não ter procurado sequer punir Zengi, o atabeg de Mossul e Alepo responsável pela queda do condado cristão de Edessa em 1144, motivo pelo qual se pregou a Segunda Cruzada. Desde então, o espírito de jihad começou a crescer. Depois de Zengi, veio seu filho Nur ad-Din, mas também em breve, surgiria Saladino, um dos sultões mais bem sucedidos de sempre na História do Islão. A situação dos estados cristãos do Levante/Palestina já era bem distinta daquela em que se evidenciaram grandes nomes da estratégia militar como Godofredo de Bulhão, Balduíno I, Boemundo de Taranto, Raimundo de St. Gilles, entre outros responsáveis pela criação e expansão dos domínios latinos no Oriente. A realidade a partir de meados e da segunda metade do século XII, remete-nos para as intrigas internas na luta pelo poder em Jerusalém. Os barões divergiam constantemente, a ideia de estabilidade correspondia a um cenário meramente virtual. O ascendente estava agora do lado da facção muçulmana. A última vitória cristã (a qual constituiu um momento isolado) de digno registo tinha acontecido no reinado de Balduíno III que, em 1153, tomou a cidade portuária de Ascalona, empreendimento militar em que também terá participado o templário português D. Gualdim Pais. Mas depois os desaires acentuaram-se com Amalrico I que promoveu algumas invasões ao Egipto (1163-1169) sem lograr uma única conquista determinante, apesar da destruição e dos saques que terão ocorrido. Aliás, seria neste palco de guerra que Saladino começou a dar as suas primeiras grandes provas juntamente com o seu tio Shirkuh. Dada a decadência da dinastia fatímida, e após a morte do último califa, Saladino apoderou-se do Egipto, tornando-se então no novo sultão, o que decerto desagradou ao até então seu mestre Nur ad-Din que o havia incumbido de apenas travar a invasão cruzada ao Egipto. A relação entre ambos será tensa no final. Entretanto, Nur ad-Din falece em 1174, e Saladino, graças ao prestígio que já possuiria, também acabará por se apoderar gradualmente da Síria. Ao tornar-se senhor deste império aiúbida (Síria e Egipto), Saladino tornava-se num soberano poderoso, tendo ao seu dispor armadas que poderiam atingir os 100 mil homens. Além disso, promovia uma união mais estabilizada no Islão, podendo agora tirar proveito do declínio das forças cristãs no Levante.
Foi realmente neste contexto inglório que Balduíno IV teve de se mover, desenvolvendo todo o tipo de esforços para procurar evitar aquilo que aparentava ser inevitável - a queda da Cidade Santa - Jerusalém, a qual havia sido conquistada em 1099 pelos cruzados de Godofredo de Bulhão e que agora estava em iminente perigo de cair em mãos muçulmanas.



Imagem nº 1 - Juntamente com o seu tio Shirkuh, Saladino foi bem sucedido nas campanhas do Egipto derrotando os cruzados invasores. Devido ao desaparecimento iminente da dinastia fatímida, tornar-se-ia sultão do Egipto, e com o falecimento de Nur-ad-Din, apoderou-se aos poucos da Síria, criando o império aiúbida, o que o oficilizaria como o soberano mais poderoso do Levante. Saladino foi igualmente um génio na vertente militar, além de exibir uma postura cavaleiresca, mesmo diante dos seus adversários.



Mapa nº 1 - O Império Aiúbida (1171-1246), a vermelho, incorporava vários territórios o que sufocaria as possessões litorais dos Estados Cruzados do Levante, estas representadas a cor verde.
Retirado do Wikipédia (autor colectivo - Arab League)



Os primeiros anos e a ascensão ao trono da Cidade Santa


Balduíno nasceu em 1161 em Jerusalém. Era filho de Amalrico I, rei de Jerusalém, e de sua esposa Inês de Courtenay. Aos 9 anos de idade, Balduíno viria a ser educado por Guilherme de Tiro (será arcebispo de Tiro a partir de 1175), historiador que nos deixaria um vasto e notável testemunho sobre aquele período que vivenciara. Foi este mesmo tutor que desvendou que a criança sofria de lepra, o que motivou a procura de médicos, cristãos e até muçulmanos, e de tratamentos para curar ou atenuar o avanço gradual da doença. Todavia, tais esforços de pouco ou nada valeram, pois Balduíno jamais se livraria daquela terrível doença, a qual em breve lhe iria ceifar todas as energias, causando-lhe uma morte lenta e dolorosa. O príncipe não iria viver muitos anos, embora ainda tivesse tempo para marcar a sua própria página na história.
De acordo com o historiador Carlos de Ayala Martínez, Balduíno era um jovem voluntário, culto e cuidadosamente educado pelo seu preceptor Guilherme, arcebispo de Tiro desde 1175. 
A morte de Amalrico I, rei de Jerusalém, em 1174, abriu as portas de sucessão a Balduíno que tinha, na altura, 13 anos de idade. Foi coroado como Balduíno IV. Todavia, nos primeiros tempos houve lugar a dois pequenos períodos de regência em que Miles de Plancy (este acabaria assassinado) e Raimundo III de Tripoli procuraram auxiliar o ainda jovem adolescente nos assuntos do reino. 





Imagem nº 2 - Guilherme de Tiro, enquanto tutor, descobre os primeiros sintomas de lepra no jovem Balduíno de 9 anos, depois deste ter brigado com outras crianças.
Gravura contida num manuscrito medieval da Estoire d'Eracles (século XIII).



O reinado do jovem leproso


Balduíno IV sabia que a doença não lhe permitiria usufruir dum reinado duradouro, pelo que uma das suas prioridades passou por assegurar uma sucessão segura, procurando casar a sua irmã Sibila, de forma a que pudesse ser sucedido por um sobrinho. Dentro deste contexto, Sibila contrairá o seu primeiro matrimónio com Guilherme de Montferrat, conde de Jaffa e Ascalona, do qual resultará o nascimento dum filho - também ele herdeiro do nome "Balduíno" (seria o quinto com esta designação). É claro que a sucessão seria assegurada, mas o futuro Balduíno V teria um governo bastante precoce, e nem o seu futuro padrasto Guido de Lusignan (com quem Sibila se casaria pela segunda vez) estaria ao nível exigido dos acontecimentos, revelando uma visão política desastrosa, factos que não impedirão a queda do reino cristão de Jerusalém em 1187 face às tropas da nova estrela que se reerguia no Oriente - o sultão aiúbida Saladino.
Voltando ao reinado de Balduíno IV (1174-1185), não podemos ignorar os esforços deste em construir novas fortalezas e reestruturar outros edifícios defensivos. Para alcançar esta finalidade, dispôs do fundamental auxílio dos templários. Aliás, mesmo com o agravamento dos sintomas da doença, a verdade é que Balduíno sempre intentara demonstrar carácter e discernimento no decurso do seu governo. Como prova disso, ele procurou rodear-se duma boa equipa de conselheiros, onde estavam presentes o leal arcebispo Guilherme de Tiro (seu anterior educador) e o seu primo, o Conde de Tripoli e ex-regente de Jerusalém - Raimundo III. Mesmo assim, as intrigas cortesãs continuavam a existir, o que desgastou mais o seu estado de saúde.



Os conflitos diante do sultão Saladino


O crescimento militar das hostes lideradas por Saladino preocupavam a corte cristã de Jerusalém, pelo que Balduíno IV decidiu romper as tréguas com o sultão aiúbida que haviam sido firmadas pelo seu anterior regente Raimundo de Tripoli. Os avanços de Saladino (já dono do Egipto) na Síria eram claros. Balduíno optou pois por promover raides junto a Damasco, o que obrigou o sultão a abandonar o cerco a Alepo e a recuar para uma posição defensiva. Hoje é unânime concluir que esta decisão fora tomada com sabedoria, pois o rei de Jerusalém sabia que não tinha elementos suficientes para proceder a um ataque frontal em Alepo contra o poderoso exército de Saladino, mas poderia fazê-lo recuar diante daquela cidade que ainda não lhe tinha caído nas mãos, através duma provocadora ofensiva contra Damasco, cidade basilar que já era controlada por Saladino desde 1174. Em 1176, Balduíno programou novas incursões no vale de Bekaa, Síria e Líbano, e as suas forças travaram inclusive um ataque dum sobrinho de Saladino. Não se tratavam pois de campanhas de grande envergadura (os cristãos do Levante nem dispunham de meios militares para tal naquela altura), mas eram suficientes para incomodar o sultão aiúbida. No palco belicista, o jovem leproso Balduíno ostentava uma maturidade inegável, e talvez essa característica individual tenha constituído o principal motivo para a sobrevivência, embora que precária, dos territórios cruzados durante o seu reinado que perduraria até 1185.
Além destas operações, o rei de Jerusalém procurou uma parceria com o Império Bizantino de forma a encetar uma invasão ao Egipto, onde Saladino assentava o seu nevrálgico poder. A campanha seria comprometida com o adoecimento e consequente falecimento de Guilherme de Montferrat (marido da sua irmã Sibila), o que igualmente terá contribuído para o agravamento do estado de saúde de Balduíno que teve de colocar de lado tais planos tão ambiciosos. Novamente, se abordou a possibilidade duma nova regência, até que Balduíno apresentasse algumas melhorias. O Conde Filipe da Flandres que veio em peregrinação com o seu próprio destacamento militar, e que até era primo do rei leproso de Jerusalém, recusou a regência. Todavia, a morte de Guilherme de Montferrat deixaria Sibila viúva, o que constituiria uma excelente oportunidade para quem desejasse aceder ao poder em Jerusalém, após o falecimento de Balduíno IV que ocorreria inevitavelmente em breve. Há disputas e mau-estar entre os barões dos estados cruzados.
Como se não bastasse, a descoordenação entre os cristãos era outra realidade inegável. Em Outubro de 1177, o conde da Flandres pegou numa parte considerável das forças e lançou uma campanha contra o castelo muçulmano de Harim. A ele também se juntaram Raimundo III, conde de Tripoli e anterior regente do reino de Jerusalém, e Boemundo III, príncipe de Antioquia. Aproveitando um potencial cenário de enfraquecimento militar na Cidade Santa, Saladino planeou, a partir do Egipto, uma invasão ao reino de Jerusalém. Era a sua primeira tentativa de recuperar o controlo muçulmano sobre a Cidade Santa, quando esta predispunha naquele momento de limitadas forças.



A Batalha de Montgisard (1177)



Saladino julgava que o rei leproso de Jerusalém, reduzido ao seu leito de doente crónico, não seria uma ameaça aos seus planos. O sultão procede à invasão com uma armada de 26 000 homens que transportava a sua própria bagagem de assédio militar, e empreende os seus primeiros ataques em Ramla, Lydda e Arsuf.
Talvez subestimando a capacidade de reacção do adversário, autoriza que os seus efectivos pudessem combater e pilhar por uma área considerável. Todavia, Saladino, que viria a marcar mais tarde o seu nome numa página de ouro em que só estariam incluídos os grandes estrategas militares do Medievo, tinha acabado de cometer um erro crasso - consentindo aquilo que se traduziria numa exagerada dispersão e consequente desorganização das suas tropas.
Por seu turno, as forças cristãs que assentavam em 375 cavaleiros (80 seriam templários), e em poucos milhares de soldados de infantaria (talvez menos do que 4 mil infantes; aliás houve mesmo membros da burguesia urgentemente integrados neste destacamento). À frente deste pequeno exército estava Balduíno IV, um rei que teve forçosamente de deixar os seus aposentos, nos quais procurava recuperar o fôlego absorvido pela lepra, para sair a cavalo, situação em que tirou proveito das suas escassas energias e, por conseguinte, reuniu a força possível para ir de encontro ao poderoso inimigo. Muitos julgavam que o rei ("meio morto" por causa da evolução da lepra) não iria aguentar as incidências da batalha e que provavelmente tombaria devido à exigência desgastante da campanha. Com Balduíno, estavam outros barões: Reinaldo de Chatillon (um cristão fanático que viria a dedicar-se à cruel pirataria),  Balduíno de  Ibelin e seu irmão Balian de Ibelin, Reginaldo de Sídon e Joscelin III de Edessa, além da presença do grão-mestre templário - Odo de Saint Amand.
Saladino subestimara estas movimentações, acreditando que as forças cristãs eram insuficientes para o travarem, e por isso, o sultão continua a marcha em direcção a Jerusalém, prevendo que esta lhe caísse com maior ou menor dificuldade. Grave erro, do qual Saladino teria aprendido uma enorme lição, para que no futuro, pudesse ser considerado um dos soberanos mais vitoriosos de sempre. Logicamente, as forças muçulmanas encontram-se dispersas quando estão já próximas da cidade de Ramla, sendo que havia uma colina denominada de Montgisard, onde as tropas de Balduíno se concentraram para lançar um ataque surpresa contras as forças muçulmanas.
A partir do topo da colina, o exército cristão ficou aterrorizado ao avistar o poderoso exército de Saladino que ia ao seu encontro. A desmoralização começou a apoderar-se das hostes cristãs, mas Balduíno, apercebendo-se da situação desesperante, tomou um passe em frente, e mesmo com a sua agravada doença, desceu do cavalo e pediu ao Bispo de Belém para que erguesse a relíquia da Vera Cruz (a cruz onde se julga que Jesus Cristo havia sido crucificado) diante de todos. O rei prostrou-se com dificuldade no chão diante da relíquia sagrada, orando emocionadamente a Deus para que este lhes concedesse a vitória. Levantando-se depois da meditação, Balduíno exortou as suas tropas, que encorajadas pelo seu jovem rei, aplaudiram a sua nobreza e consentiram em lançar uma intensa carga sobre o inimigo. As forças muçulmanas, embora em número bastante superior, estavam desorganizadas ou fragmentadas. O impacto intempestivo da carga cristã causou pânico nos contingentes muçulmanos que não tiveram definitivamente qualquer possibilidade de se reagrupar ou reorganizar, o que era essencial para imprimirem uma coesão necessária. Como se não bastasse, o trem ou bagagem de armamento transportada pelos muçulmanos acabaria por ficar atolada num rio da região, onde os terrenos lamacentos ou pantanosos impediram que os invasores recorressem às ferramentas aí contidas.
Saladino procurou reagrupar a sua guarda-pessoal de mamelucos enquanto seu sobrinho Taqi ad-Din liderava o ataque que seria praticamente aniquilado pelos cristãos. Taqi ad-Din consegue sobreviver às incidências, mas o seu filho, que o acompanhava, acaba por tombar em combate. Muitos elementos da guarda-pessoal de Saladino deram corajosamente a sua vida pela do sultão que só conseguiu escapar com recurso a um camelo de corrida.
Por seu turno, as fontes tendem a elevar a coragem de Balduíno que teria liderado a carga cristã com as mãos enfaixadas, de forma a cobrir as suas feridas. Por um lado, é difícil imaginar que um soberano, cujo corpo se encontrava em estado avançado de hanseníase agressiva, pudesse ter forças para comandar o ataque, mas por outro, a ter acontecido, e embora o risco tivesse sido enorme, a verdade é que o seu exemplo terá motivado os soldados restantes.
As tropas cristãs perseguiram as forças de Saladino até ao anoitecer, e depois retiraram-se rumo a Ascalona. Por seu turno, a armada destroçada do sultão egípcio teve de enfrentar um retorno penoso que se prolongou por 10 dias carregados de intensas chuvas. Como se não bastasse, os beduínos do deserto não hesitaram em atacá-los de forma a pilhar os bens que ainda podiam transportar com eles. De acordo com as crónicas, apenas um décimo da força de Saladino conseguiu sobreviver (dos 27 mil inicialmente estimados, entre 2 500 a 3 000 soldados terão conseguido escapar), contudo alertamos que esta previsão pode ser encarada como exagerada, e é possível que tivessem até existido mais sobreviventes, contudo é inegável que o número de baixas das forças muçulmanas foi inegavelmente elevado. No que diz respeito às tropas de Balduíno, é possível que o número de baixas rondasse o um milhar (num total de cerca de 4 mil efectivos que incorporavam o seu exército, ou até menos do que isso).
A Batalha de Montgisard foi apenas fundamental para que Balduíno IV, no decurso do seu reinado, conservasse intactos o reino cristão de Jerusalém e demais possessões latinas do Levante. Dez anos depois, em 1187, Saladino aplicaria, devido à sua genialidade militar, uma estrondosa derrota às forças do futuro rei de Jerusalém Guido de Lusignan na Batalha de Hattin, o que se traduziria na queda de várias terras controladas pelos cristãos, entre as quais Jerusalém.




Imagem nº 2 - Balduíno decide deixar o seu leito de doente, reúne as poucas forças disponíveis e marcha em direcção ao inimigo, tentando interceptá-lo antes da chegada a Jerusalém. 





Imagem nº 3 - O enfrentamento final das tropas em Montgisard. Dum lado, o jovem rei leproso e corajoso Balduíno, do outro, Saladino, o sultão mais poderoso do seu tempo.
Quadro da autoria de Charles Philippe Larivière (1798-1876)



Imagem nº 4 - A carga final das tropas cristãs que aproveitam a desorganização das forças muçulmanas. Na gravura, veja-se o Bispo de Belém a transportar a Vera Cruz, de forma a motivar os soldados a combater pela causa religiosa.
Retirada de: http://www.deviantart.com/art/Battle-of-Montgisard-168630488, (Giacobino).






O Sofrimento e Morte do Rei


A vitória em Montgisard afastou por alguns anos, não muitos como já referimos, o sultão egípcio de tentar uma nova invasão à Terra Santa. Todavia, a saúde de Balduíno sairia mais debilitada após aquele intensivo e desgastante confronto. Seria uma questão de tempo até perder os olhos e o uso dos seus membros, o que parece acontecer definitivamente em 1183. A lepra corroía impiedosamente o corpo das suas vítimas, causando dores inimagináveis aos seus portadores.
Balduíno desejava abdicar: terá escrito a Luís VII, rei de França, pedindo que este enviasse um barão conceituado que substituísse a sua "mão fraca" que poderia estimular uma nova ousadia por parte dos muçulmanos que estavam sempre atentos à situação dos acontecimentos. Todavia, esta solicitação não terá sido atendida como Balduíno desejara. Procurou então arranjar um casamento entre sua irmã e "viúva" Sibila (Guilherme de Montferrat já havia falecido) com o duque Hugo de Borgonha, mas novamente a intenção não foi concretizada. Aquela acabaria sim por contrair um novo matrimónio com Guido de Lusignan, um homem nada consensual entre os barões do reino e que estava longe de possuir uma visão política adequada às necessidades do reino. Balduíno preferiu, contra a sua vontade, reinar até ao fim, enquanto a doença o devorava interiormente, além da angústia que deveria sentir com estas tensões internas que pareciam comprometer o futuro e a viabilidade dos estados cristãos no Levante.
Em 1183, Balduíno, mesmo incapacitado, foi transportado numa maca para o campo de batalha, procurando resgatar os nobres aprisionados que tinham sido alvo dum ataque surpresa por parte dos muçulmanos. Nesse mesmo ano, opta por nomear como rei associado o seu sobrinho Balduíno V (filho de Sibila no seu primeiro casamento com Guilherme de Montferrat) que só contava com 5 anos de idade, embora o rei leproso confiasse a Raimundo III de Tripoli a regência até que a criança alcançasse a maioridade. Esta decisão não foi bem digerida por Guido de Lusignan que se sentia excluído do trono. Ainda em 1183, Balduíno, devido ao seu estado deteriorante, não consegue evitar que Saladino se apodere finalmente de Alepo, o que permitirá a este último tornar-se senhor indiscutível da Síria.
No dia 16 de Março de 1185, Balduíno, com apenas 24 anos de idade, libertou o último fôlego de sofrimento, o qual se havia intensificado nos últimos 2 anos que o deixaram praticamente imobilizado. A lepra acabou, desde cedo, por anunciar a sua morte a breve-médio prazo, mas a dignidade e a sua bravura mereceram inclusive o respeito do seu rival Saladino. Balduíno IV nunca havia utilizado a sua doença para fugir às responsabilidades enquanto soberano, nem mesmo quando já não dispunha de energias... O seu corpo seria sepultado na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
O seu falecimento gerou, a breve prazo, graves problemas de sucessão. A ainda criança Balduíno V, oficialmente já co-rei desde 1183 (embora com o apoio dum regente), falece em 1186 com apenas 9 anos de idade. É sucedido por Guido de Lusignan (ou Guy de Lusignan), um rei sem visão estratégica, que ainda não soube impor a sua autoridade sobre o súbdito Reinaldo de Chatillon, o qual se dedicou a vários actos de pirataria contra caravanas muçulmanas, principal motivo que originou a quebra das tréguas firmadas recentemente entre cristãos e muçulmanos, e uma nova invasão por parte de Saladino em 1187, esta totalmente bem sucedida.
Os derradeiros anos antes da Batalha de Hattin e da consequente queda da Cidade Santa, testemunharão no lado cristão, como menciona Carlos de Ayala Martínez, "as funestas consequências da luta partidária num contexto da progressiva perda da autoridade do monarca". A arrogância de algumas linhagens nobiliárquicas, obcecadas pelas parcelas e fontes do poder, acabariam por minar as bases de coesão do reino de Jerusalém. 




Imagem nº 5 - Balduíno IV, tal como mais tarde Ricardo Coração de Leão, seriam os únicos reis que conseguiriam enfrentar com mestria e bravura o temível e prestigiante sultão do Egipto - Saladino.
Retirada de: http://king-baldwin.livejournal.com/, (artista - HAL).




Imagem nº 6 - No filme "Kingdom of the Heaven", procurou recriar-se o vulto do rei leproso aquando do seu sepultamento.




Referências Consultadas:


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