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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

As incongruências da nova teoria de Michael Paulkovich

Recentemente, saiu no conceituado jornal britânico Daily Mail uma reportagem sobre as conclusões duma investigação levada a cabo pelo historiador Michael Paulkovich, alegando o mesmo que nos 126 textos históricos antigos que analisou, não encontrou qualquer menção a Jesus Cristo, e por isso concluiu que o Messias dos Cristãos foi uma figura mítica totalmente forjada para alimentar uma falsa crença.
Todavia, e apesar de não estar a par do estudo deste autor (o que confesso ser uma clara falha da nossa parte), esta conclusão parece-nos bastante precipitada e desprovida até do ponto de vista científico. 
Assim sendo, apresentamos os seguintes argumentos que indiciam (ou até provam!) a existência de Jesus de Nazaré (e para evitar discussões teológicas, não vamos citar os evangelhos, porque isso depende da perspectiva ou convicção pessoais de cada um):


  • Tácito (56-117 d. C.), historiador romano conceituado e de orientação religiosa pagã, refere-se à execução de Jesus Cristo pelo procurador Pôncio Pilatos, e ainda cita perseguições ferozes no seu tempo aos cristãos. A obra de Tácito é tida como bastante credível.
  • Flávio Josefo (37-100 d. C.), historiador judeu que nasceu poucos anos depois da crucificação de Jesus Cristo, recordando este como um homem sábio e capaz de feitos admiráveis.
  • Suetónio (69-122 d.C.), historiador romano oficial da corte de Adriano que é duro com os cristãos, acusando-os de seguirem uma superstição perigosa e maligna inspirados em Cristo. 
  • Talo (séc. I d. C.) foi um historiador samaritano que também se terá referido a Jesus de Nazaré, de acordo com citações dispersas de autores posteriores, mas a obra de Talo perdeu-se com o avançar do tempo, e por isso, não é possível conhecer exactamente o seu conteúdo nem propor uma datação específica para os seus textos primitivos.
  • Mara Bar-Serapião (séc. I d. C.), filósofo estoico sírio, o qual numa carta sua redigida por volta do ano 70 d. C., censurou os atenienses de condenaram Sócrates à morte, os habitantes de Samos de queimarem Pitágoras e os judeus de lograrem a execução do seu sábio rei - Jesus. Todas elas decisões desastrosas no entender deste erudito porque as três personalidades em questão revelavam um conhecimento vasto, enriquecedor ou até invulgar.
  • Referências nos talmudes judaicos que se referem a actos de magia de Jesus e sua condenação/execução posterior.
  • A existência de códices gregos e egípcios (gnósticos) datados para os séculos III e IV d. C. que também se referem a esta personalidade mundial.
  • O Cristianismo só conheceu uma expansão tremenda nos tempos posteriores à execução de Jesus de Nazaré. É muito provável que durante a sua existência, a sua influência ainda só se concentrasse essencialmente na Judeia/Médio Oriente, antes da mesma progredir rumo ao Ocidente. Nos primeiros tempos, foram muitos os que tentaram abafar o Cristianismo que constituía uma ameaça à ideologia e ao paganismo romanos.
  • A escassez de documentos para a época duma determinada personalidade não é suficiente para determinar a inexistência dos factos, sobretudo quando estamos a abordar uma época bastante antiga (estamos a falar de acontecimentos ocorridos há 2 mil anos!), onde o analfabetismo era quase total (por isso, os registos escritos eram quase nulos, e nem havia a preocupação generalizada de arquivar os documentos e demais testemunhos; e aqueles manuscritos ou códices que terão existido, a maior parte esmagadora desses raros exemplares sumiu nos dois milénios subsequentes). Além disso, Jesus terá conseguido captar a admiração das classes populares, pobres e analfabetas, e não os poderosos líderes e principais escribas do seu tempo, o que pode justificar perfeitamente a falta de testemunhos redigidos que se lhe referem.
  • Embora ainda não provada cientificamente, está reclamada a potencial descoberta do arqueólogo e historiador Ronald Stewart que garante ter achado moedas clandestinas para o séc. I d. C. (logo após a morte de Jesus), onde se cunhavam (à mão) imagens da vida de Cristo. A primeira moeda oficialmente reconhecida que cunhou Jesus ainda é, até ver, grega e surgiu apenas nos finais do séc. VII d. C. Para além desta investigação, também existem outras introspecções arqueológicas em curso que poderão trazer mais novidades em breve sobre este período remoto, as quais prometem abrir mais luzes sobre o conhecimento até então adquirido.



Em suma, Michael Paulkovich poderá ter motivos para estranhar que a difusão dos feitos de Jesus não tivesse sido tão elevada no seu tempo, mas isso não é, de modo algum, suficiente para invalidar a sua existência, porque há claramente testemunhos (parciais ou imparciais, cristãos ou não-cristãos) que se, não são exactamente da época da personalidade, são imediatamente posteriores, numa altura em que o Cristianismo clandestino se expandia, mesmo com as perseguições terríveis que eram promovidas pelo Império Romano. Seria apenas em 313 d. C., com o édito de Milão do imperador Constantino, que a crença cristã passaria a ser tolerada no Império, podendo assim a Igreja firmar o novo ciclo legal da sua história. Até esta data, os coliseus encheram-se de vários mártires que eram devorados pelos leões famintos, ou torturados ou crucificados de forma horrenda pelos romanos, de forma a intimidar e dissuadir todos aqueles que seguiam a prática cristã que tinha de ser abafada e eliminada de todas as formas possíveis e imaginárias.
Evidentemente, o carácter transcendental da vida de Jesus Cristo motiva várias interpretações dependendo das convicções de cada um (as quais devem ser prontamente respeitadas!) e aqui é evidente que poderá haver um choque entre a crença religiosa e o rigor científico (entre o Jesus messiânico e o Jesus historico), mas não foi essa questão que abordamos aqui, pois reconhecemos que é um ponto sensível que dá azo à múltiplas reflexões, mediante a visão subjectiva de cada um.
O que este artigo procurou vincar é que Michael Paulkovich, o qual deve ser evidentemente respeitado enquanto historiador e autor de vários artigos e estudos, não terá grandes argumentos para solidificar a conclusão que agora apresenta, pois efectivamente há fontes antigas que mesmo assim foram preservadas ao fim de quase 2 milénios que se referem a Jesus Cristo. Se, mesmo assim, pelo seu prisma de observação, concluirmos que Jesus de Nazaré então não existiu, então que acontecimentos poderemos nós dar então como certos há dois mil anos atrás?




Imagem nº 1 - A vida de Jesus Cristo ainda motiva várias discussões entre historiadores e arqueólogos. Na obra "No Meek Messiah", Paulkovich chegou a uma conclusão polémica, a qual promete alimentar ainda mais toda esta temática.



Referências Consultadas:


2 comentários:

  1. Desde sempre, o ensino de história foi orientado pela nossa cultura cristã a favorecê-la. Isto não é novidade para ninguém. A religião jamis deveria ter-se envolvido com a história, pois são de naturezas absolutamente diversas. O resultou isto?
    “A verdade histórica é a mais ideológica de todas as verdades científicas [...]Os termos de subjetivo e de objetivo já não significam nada de preciso desde o triunfo da consciência aberta [...]. A verdade histórica não é uma verdade subjetiva, mas sim uma verdade ideológica, ligada a um conhecimento partidário”. (ARON cit. por Marrou, s/ data, p. 269)

    Se a fé nunca dependeu da história, porque fazem tanta questão desta última? Por que insistem em preservar essa bruma que envolve os primeiros séculos do cristianismo? Não devia ser assim. No entanto, quando fazemos uma aproximação dos fatos com fatos e não com ideias, é possível outra conclusão.

    http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

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  2. Desde sempre, o ensino de história foi orientado pela nossa cultura cristã a favorecê-la. Isto não é novidade para ninguém. A religião jamis deveria ter-se envolvido com a história, pois são de naturezas absolutamente diversas. O resultou isto?
    “A verdade histórica é a mais ideológica de todas as verdades científicas [...]Os termos de subjetivo e de objetivo já não significam nada de preciso desde o triunfo da consciência aberta [...]. A verdade histórica não é uma verdade subjetiva, mas sim uma verdade ideológica, ligada a um conhecimento partidário”. (ARON cit. por Marrou, s/ data, p. 269)

    Se a fé nunca dependeu da história, porque fazem tanta questão desta última? Por que insistem em preservar essa bruma que envolve os primeiros séculos do cristianismo? Não devia ser assim. No entanto, quando fazemos uma aproximação dos fatos com fatos e não com ideias, é possível outra conclusão.

    http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

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